terça-feira, 30 de março de 2010

Lula, os mais ricos e sua popularidade

Por Murillo Victorazzo
A última pesquisa DataFolha, publicada no domingo 28, mostra que a popularidade do governo Lula bateu novo recorde: 76% o consideram bom/ótimo, 20%, regular e apenas 4% de ruim/péssimo. No entanto, um detalhe da pesquisa, ainda mais impressionante mas que não foi tão divulgado, é a estratificação desses número: entre os que ganham mais de 10 salários mínimos, a aprovação ao governo chega a 70%, e, entre os que têm nível superior, a 68%.
Esse números mostram que é uma falácia o argumento preconceituoso de que governo Lula só teria aprovação entre os beneficiados do Bolsa Família e os "analfabetos" - enfim , a "gentinha" que uma parcela das classes A e B dita instruída (se fosse mesmo, saberiam analisar racionalmente e moderadamente o assunto) parece achar menos inteligente e menos cidadã do que ela.
Qualquer administração que consegue alcançar esses percentuais merecerá uma análise histórica de grande destaque. Ter mais de dois terços das classes mais ricas e instruídas foi, é e será sempre para poucos. Estes extratos sócio-econômicos constumam ser os mais críticos e exigentes, levando em consideração aspectos muito mais amplos em sua avaliação.
Mas acima de tudo tais dados fortalecem a máxima do marketeiro do ex-presidente norte-americano Bill Clinton, James Carville: é a economia, estúpido! Um governo é aprovado essencialmente quando a população sente seu bolso mais cheio. Inflação controlada, crescimento econômico, aliado a fortalecimento do mercado interno e projetos de transferência de renda, levam, ao mesmo tempo, à queda na concentração de renda e melhoria na vida de todas as classes.

Aprovar não siginifica achar que tudo foi perfeito, longe disso. Erros em política externa e, principalmente, casos de corrupção são criticados e notados. Colocando na balança, porém, para 70% de pessoas que têm todo tido de acesso à informação e independem de "esmolas" estatal, o saldo é positivo.
A falta de uma rejeição mais enfática ao governo petista no tocante a questões éticas também pode ser explicada. Exceto entre os que têm interesses ou rejeições prévias, ideológicas e pessoais, a população, de modo geral, sente que o PT, desgraçadamente para nós, assim como não tinha o monopólio da ética, como queriam vender até 2002, também não tem o monopólio da ladroeira. Lembremos, por exemplo, que também o PSDB surgiu, em 1988, com o discurso da ética, justificando sua dissidência do PMDB como forma de se diferenciar de Orestes Quércia e demais banda podres do partido. Seria um partido social-democrata moderno. Mas, no poder, também meteu a mão na lama.

Não se trata de minimizar os crimes cometidos, mas tentar entender por que a população (de todas as classes), após sofrer com casos de corrupção por mais 500 anos, muitos vindo de setores da atual oposição, analisa um governo pragmaticamente: estou com dinheiro no bolso, o governo é bom.
Ademais, a preponderância da economia nessas avaliações acontece em qualquer país e época. Barack Obama não venceu pelos erros de George W. Bush no Iraque, mas principalmente por causa da gigantesca crise econômica que os Estados Unidos começavam a sentir em 2008. E por esta mesma razão, ele vê, com um ano de governo, sua popularidade cair fortemente. Do mesmo modo, Bush , embora tenha vencido a Guerra do Golfo não conseguiu se reeleger um ano após o conflito. Apesar de nada comparada à atual, a recessão da época impulsionou a vitória de Clinton.

Achar ainda que a classe pobre aprova Lula apenas por ser ele "um deles" tampouco encontra base nos fatos. É lógico que sua origem o ajuda a receber um apoio mais enfático, mas qual seria então a razão de suas derrotas para FHC em 94 e 98? O operário "gente nossa" perdeu no primeiro turno em ambas ocasiões. O motivo? O Plano Real, a economia, é claro. Do mesmo modo, entre 2004 e 2005, em meio à uma economia ainda travada, o metalúrgico presidente tinha índices que não chegavam nem perto a estes.

Enfim, pode-se aprovar, reprovar, mas desde que sem rótulos e paixões eloquentes semelhantes a de um Fla x Flu. Apenas com dados e racionalidade, sabendo que niguém é anjo ou demônio, sem maniqueísmos, conhecendo as nuances que a política exige é que se consegue - e se deve - tentar entender o cenário.