quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

A sanha em aparelhar

Por Murillo Victorazzo

Orçamento, não é de hoje, é produto de choques de prioridades e interesses. Bolsonaro certamente não é o primeiro a priorizar bases eleitorais. Distingue-se, porém, pelo contexto. Pressionar o Congresso a abrir espaço para aumento salarial de uma categoria, em meio a perdas econômicas disseminadas em toda a população, é por si só dar brecha para a bola de neve que já se inicia, com outros setores do serviço público, alguns há mais tempo defasados, ameaçando greve e demissões. 

É impressionante sua capacidade de criar crises. Mas é ainda pior quando os beneficiados são as polícias federal e rodoviária. Além de buscar cooptá-las, estimula policiais militares e civis a pressionarem governadores. Sinaliza que sua sanha em instrumentalizar forças de segurança só aumentará em ano eleitoral. Não é necessário repetir os riscos e objetivos desse retrocesso.

 O privilégio dado é nefasto moralmente, economicamente e institucionalmente.

Bolsominions e seu mito não entendem o que é liderar

Por Murillo Victorazzo

Sim, os "bolsominons", como é conhecida a militância fiel do presidente da República, estão achando normal um chefe de Estado ficar se exibindo risonho, de férias, nas praias catarinenses, enquanto, no Nordeste, um estado do país supostamente comandado por ele afunda na tragédia de dezenas de mortos e milhares de desabrigados. Apenas porque liberou nada mais que uns protocolares milhões de reais e sobrevoou por umas horas a região semanas atrás, antes de a situação degringolar para o triste quadro atual.

Esperar que montasse na Bahia um gabinete de crise com sua presença, eu sei, seria esperar demais de Bolsonaro. Mas choca a falta de compreensão dele e de seus simpatizantes do papel de liderança - e da empatia inerente a ela- em momentos em que são mais exigidas. Ignoram o sentido imagético de governar. São incapazes de notar a necessidade de enviar uma mensagem tão propagada na caserna que ele tanto diz representar: se não na linha de frente da batalha, voltar já ao quartel (Planalto), porque o comandante sou eu.

Adestramento ideológico infantiliza, e Bolsonaro é apenas um deslumbrado com as benesses do poder, sem ainda não ter entendido o seu significado. Isso que dá eleger alguém que só sabe vociferar contra a miragem do comunismo, estimular descrença nas instituições e vomitar falsos moralismos.