segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Safra interessante em 2014

Por Anderson Baltar  (Rádio Arquibancada, 21/10/2013)

A safra de sambas para o Carnaval 2014 está definida. E, num primeiro olhar, ainda muito baseado na forma como os hinos como foram apresentados nas quadras, posso dizer que teremos um CD do Grupo Especial muito interessante – aliás, como há alguns anos não víamos. Depois de uma terrível década, os sambas estão numa curva ascendente de qualidade. Pelo menos metade das escolas têm composições interessantes e que podem crescer muito a partir da gravação e dos exaustivos ensaios que estenderão até março.

O que teria motivado essa situação? Cito alguns aspectos. O primeiro, e mais óbvio, foi a redução sensível da quantidade de enredos de qualidade ou entendimento duvidosos. Sim, sei que enredo se julga na avenida. Mas, até o momento, o que temos é o argumento, baseado nas sinopses. E, não se iluda: se o argumento é falho, a chance do enredo ter uma sobrevida é quase mínima. Não por acaso, as escolas que largam atrás no quesito samba-enredo têm enredos de construção e elaboração no mínimo contestada.

Não tem mistério: quando o compositor sabe do que tem que falar e, acima de tudo, vê que aquela sinopse está dentro da sua verdade e, mais do que tudo, da verdade da escola, a inspiração floresce na hora. Samba bom nasce no sentimento genuíno, na frase que sai do fundo do coração, como os sambas do Salgueiro e da Mocidade Independente de Padre Miguel deixam claro na primeira audição. São testemunhos de fé, de amor, inspirados por argumentos que tocam fundo no alma dos compositores e dos componentes da escola.

A verdade é uma só: enredo bom causa ansiedade no compositor. Ele sai da quadra com a sinopse embaixo do braço ansioso para se juntar com os parceiros. Leva para cama e a lê antes de dormir. Batuca no intervalo do trabalho pensando no refrão, anota até no canhoto da conta de luz que acabou de pagar. Acorda de madrugada pensando na melodia. E, em sua maioria, os enredos de 2014 propiciaram esse frisson gostoso nos poetas das escolas.

Outro aspecto que não pode ser deixado de lado é que o carnaval sempre é ditado pelos parâmetros criados pela campeã. E a vitória da Vila Isabel em 2013 teve o dom de propiciar a redenção do quesito samba-enredo. Por mais importante que seja no julgamento (dele dependem, no mínimo, outros cinco quesitos), o samba estava sendo deixado de lado há muitos anos. O importante era o visual, o barracão, as surpresas que os gatos-mestres da Cidade do Samba estavam aprontando. Com a antológica obra de Martinho da Vila, Arlindo Cruz, André Diniz e parceiros, o samba-enredo foi recolocado em seu lugar. Como fio condutor de um desfile e maior estimulante para a consagração de uma escola.

Não citei Martinho e Arlindo gratuitamente. Nenhum dos dois é novato na seara carnavalesca, muito pelo contrário. Mas, justamente o sucesso da parceria fez despertar em muitos compositores da MPB o interesse pelo samba-enredo. Na minha visão, uma janela aberta para a revitalização do gênero e uma possibilidade para a volta da popularização.

Tivemos Pedro Luis, Jorge Aragão e até Francis Hime nas disputas de samba. Carlos Caetano e Péricles, reconhecidos no meio do pagode, chegaram às finais. E dois dos 12 sambas são assinados por nomes de peso na música popular: o da Imperatriz, de Elymar Santos, que promete ser o arrasta-quarteirão da temporada; e o de Dudu Nobre, da Mocidade, que vai brigar para ser um dos grandes sambas do carnaval. Dudu, é bom que se diga, não caiu de paraquedas. Irmão da porta-bandeira Lucinha, tem histórico nas escolas mirins, mas nunca havia encarado o desafio de disputar samba em sua escola de coração. E estreou de forma magnífica.

Muita gente torceu o nariz, mas vejo com ótimos olhos esse movimento. Se as escolas continuarem julgando as obras ao invés do nome, esse intercâmbio será ótimo para o gênero samba-enredo, que se revitalizará, e também para os compositores das escolas, que passarão a ter portas abertas para o chamado mercado “do meio de ano”.

Análise da safra

Apesar de ser um tanto prematuro, faço aqui a minha primeira análise da safra. Cabe lembrar que ouvi oito sambas ao vivo e os outros quatro só conheço de gravação.

- Salgueiro e Mocidade, na minha opinião, têm os melhores sambas do ano. São os mais completos no que diz respeito a enredo, qualidade de letra e, principalmente, empatia com a identidade da escola. Ambos são feitos para se cantar batendo forte no peito e com os olhos marejados.

- Portela, mais uma vez, traz um samba de muita qualidade e estrutura diferenciada. O enredo é maravilhosamente descrito e, na final, a melodia já entrou na quadra totalmente encaixada com a bateria. Foi algo mediúnico, poucas vezes visto.

- União da Ilha, Imperatriz e Mangueira prometem sacudir a avenida. A Ilha, finalmente, escolheu um bom samba e ouviu a voz da comunidade. Com uma bateria renovada e o ótimo trabalho plástico dos últimos anos, tem tudo para fazer um carnaval memorável. A Imperatriz tem o refrão do ano e deverá viver um momento histórico – a consagração total do público, rara em sua trajetória. O samba da Mangueira tem refrões explosivos e promete conduzir o arrasta-povo que só a verde e rosa sabe fazer.

- São Clemente e Império da Tijuca têm sambas agradáveis e de qualidade. Teoricamente, as duas brigam pela permanência no grupo e, pelo visto, a disputa será acirrada inclusive no samba-enredo. A escola de Botafogo partiu para uma linha mais lírica e o povo da Formiga vem com um samba valente – ideal para abrir desfile.

- Vila Isabel é o samba que mais pode surpreender. Depois da consagração do carnaval passado, pouca gente prestou atenção na composição de Arlindo Cruz, André Diniz, Bocão e sua turma. O samba tem ótima letra e melodia interessante. Quando o efeito “Festa no Arraiá” passar, creio que este samba começará a ser melhor notado. Não é todo dia que um craque faz gol de bicicleta; esse foi um tento com toque na saída do goleiro. Não tão impactante, mas também importante.

- Beija-Flor, Tijuca e Grande Rio têm os sambas mais fracos da safra. Não por acaso, os três enredos mais complicados.

Para encerrar, um pedido

Que as assessorias de imprensa das escolas não encarem isso como crítica, até porque eu tenho certeza de que sua área de atuação nas quadras é bem limitada – fui assessor e sei bem disso. Há muitos entraves dentro das agremiações e muitos dirigentes ainda não entendem – ou não querem entender – a importância do trabalho da imprensa nas quadras. O fato é que as condições de trabalho precisam melhorar. É frustrante chegar para transmitir e, salvo raríssimas exceções, encontrar áreas mal localizadas e apertadas, com poucos pontos de luz e sem internet de qualidade.

Jornalista está na quadra para trabalhar. Não está para comer e beber – sei que muita gente pensa isso da imprensa e, infelizmente, alguns colegas dão razão a esse tipo de comentário. O jornalista só quer ter condições mínimas de trabalhar. Com a internet e a popularização das redes sociais, o público potencial do carnaval só multiplica e as pessoas, onde quer que estejam, querem saber de tudo em tempo real.

Frustra um pouco saber que, em alguns momentos, não conseguimos suprir essa demanda de informações por fatores que fogem à nossa área de atuação, mas poderiam ser minimizados com procedimentos simples. Basta apenas reservar um lugar digno, com algumas mesas e pontos de luz. E, se possível, internet para todos. Qualquer local de grandes eventos no mundo tem sala de imprensa. As quadras, que a cada dia mais se transformam em casas de show, precisam se adaptar a esta realidade.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Credibilidade dos EUA é a principal afetada pelo embate da dívida

Por Patrícia Campos Mello (Folha de S.Paulo, 17/10/2013)

O Partido Republicano dos Estados Unidos foi derrotado na novela da paralisação do governo e da elevação do limite do endividamento. A oposição pôs uma arma contra a cabeça do presidente Barack Obama e ameaçou conduzir o país para o calote, caso democratas não aceitassem reverter vários pontos da lei de reforma da saúde, a chamada "Obamacare".

A extorsão não funcionou, e os republicanos foram pressionados a recalcular a rota de forma humilhante ontem. Segundo pesquisa do Instituto Gallup feita entre 3 e 6 de outubro, mesmo antes do recuo, a popularidade do partido de oposição havia caído estrepitosamente: só 28% dos americanos viam favoravelmente o partido, diante de 38% em setembro.

Mas como admitiu ontem Jay Carney, o porta-voz da Casa Branca, não há vencedores no embate. Entre mortos e feridos, quase ninguém se salvou. A aprovação dos democratas está em 43%. E os Estados Unidos, como país, saíram com a credibilidade chamuscada.

É a segunda vez em pouco mais de dois anos que o governo americano chega perto de dar um calote. A pergunta geral é: será que dá para confiar em um país assim tão disfuncional, em que um partido pode tomar o outro como refém e ameaçar não pagar as contas?

A China tripudiou: pediu uma economia global "desamericanizada" para que "a comunidade internacional possa se proteger dos efeitos do turbilhão da política doméstica dos EUA". A agência de classificação de risco Fitch disse que "atitudes políticas temerárias podem aumentar o risco de um calote americano".

E o pior é que o acordo, aprovado no final da noite de ontem, apenas adia em alguns meses o próximo embate sobre a elevação do teto da dívida. Os americanos estão brincando com fogo.

Como disse o megainvestidor Warren Buffett, sobre a possibilidade de o teto da dívida não subir: "O mero fato de se cogitar a ideia [de um calote] é totalmente irresponsável, e deveria ser banido do arsenal dos dois partidos". E concluiu: "Credibilidade é como virgindade: pode ser preservada, mas não recuperada facilmente".

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

A Economist e o Brasil

Por Gabriela Ferigato  (Do Observatório da Imprensa, reproduzindo matéria do portal Imprensa, 08/10/2013) Título original: "Pensei muito nos textos para não ser injusta com o Brasil"

“O Brasil estragou tudo?” O questionamento feito na última edição da revista inglesa The Economist pairou no ar e despertou a atenção de muitos. Se em 2009, o veículo mostrava em sua capa a imagem do Cristo Redentor, alusão para a economia brasileira, como um foguete prestes a decolar, hoje o sentimento não é tão otimista. Quatro anos depois, a publicação reproduziu a mesma abertura, mas dessa vez mostrou o monumento como uma aeronave desgovernada, com a chama apagada e prestes a cair.

Com o título “Has Brazil Blown it? (traduzido literalmente para “O Brasil estragou tudo?”), a edição, distribuída na América Latina, conta com uma reportagem especial de 14 páginas e foi produzida pela jornalista irlandesa Helen Joyce, correspondente da revista no Brasil. A matéria evidencia o baixo crescimento da economia brasileira. O mesmo país que sinalizava um futuro promissor ao registrar crescimento de 7,5% em 2010 estagnou, desde 2011, em um desenvolvimento anual de 2%. Entre as consequências, de acordo com a reportagem, está o afastamento de investidores estrangeiros. Apesar das críticas, que não são poucas, existe um otimismo a longo prazo.

Helen, que atua na Economist desde 2005 e como correspondente brasileira desde 2010, afirma que o principal desafio de um jornalista estrangeiro é ser justo e, segundo ela, foi o que ela tentou ao máximo nessa edição: “É sempre difícil falar de Brasil. É muita coisa positiva e negativa na mesma proporção. Tem muita coisa para melhorar, mas também teve progresso nos últimos anos. Sempre há os dois lados”.

A repercussão da matéria gerou muitos comentários e opiniões, até mesmo da presidente Dilma Rousseff que, em seu perfil no Twitter, disse que “Eles [The Economist] estão desinformados. O dólar estabilizou, a inflação está sob controle e somos o único grande país com pleno emprego”. Helen ressalta que a matéria teve um grande retorno, mas que a maioria dos julgamentos foi baseada na imagem de capa: “Ninguém mandou uma crítica bem estruturada”.

Confira a entrevista exclusiva à Imprensa:

Por que a reprodução da capa de 2009 neste momento?
Helen Joyce – Nós temos uma agenda para reportagens especiais que são combinadas um ano antes, então eu já sabia que essa matéria sairia nessa edição e já tinha feito um planejamento. Fiz as viagens, realizei a maioria das entrevistas em julho deste ano e, em agosto, mandei tudo para Londres e começamos um processo, que durou quase um mês, de confirmação de dados, edição e escolha de imagens. Não é uma ideia recente, ela foi arquitetada faz um tempo.

A reportagem foi uma proposta sua ou uma solicitação dos editores?
Joyce.– Todo ano a editora do escritório de reportagens especiais manda um e-mail para todos os jornalistas da revista pedindo sugestões de ideias. Eu disse que o Brasil mudou muito nos últimos quatro anos e que queria escrever uma matéria sobre isso. Em julho de 2012, fui à sede em Londres para explicar os principais pontos e ela gostou. Quando a lista de temas foi fechada, no fim do ano passado, o meu relatório estava lá.

A ideia de reproduzir a mesma capa de 2009, com outro foco, foi uma sugestão sua?
Joyce.– Não, eu não sabia que seria assim, só vi depois. A The Economist tem uma reputação em capas fortes. A imagem precisa capturar a atenção dos leitores. Temos uma equipe de especialistas e eles sempre têm ideias assim. Muita gente acha que temos aberturas diferentes apenas quando se trata de Brasil, e que difere do tratamento dado ao restante do mundo. Não é assim. Sempre usamos sátiras, imagens fortes etc para outros países também.

Qual foi a recepção dos leitores?
Joyce.– Recebi vários comentários. As pessoas que gostaram muito da última capa não gostaram dessa e vice e versa. No geral, acho que não leram a matéria, que foram mais pela imagem. O que sempre acontece. Recebemos algumas queixas sobre usar a imagem do Cristo Redentor, por ser religioso e até relacionado com blasfêmia. Isso aconteceu também em 2009. Ninguém mandou uma crítica bem estruturada. Recebi comentários de pessoas falando para eu olhar para o meu país, o que não faz sentido, porque nós escrevemos sobre ele. Eu escrevo sobre o Brasil, porque sou a correspondente daqui. Ninguém disse que sou pessimista ou otimista demais. Quando lerem, verão que sou os dois, ao mesmo tempo.

Quais foram os principais problemas citados na reportagem?
Joyce – É sempre difícil falar de Brasil, mas tentei ser muito equilibrada na matéria. Existem muito prós e contras aqui. É muita coisa positiva e negativa na mesma proporção. Eu passei muito tempo pensando nos textos para não ser injusta. Cheguei aqui em julho de 2010 e o grande desafio de ser correspondente estrangeiro é exatamente ser justo. Tem muita coisa para melhorar, mas também teve progresso nos últimos anos. Sempre há os dois lados. Entre as coisas negativas existe o processo de licenciamento ambiental, um sistema ineficiente para escolher o governo, uma incrível diferença entre setor privado e público, uma burocracia ruim etc. Em todos esses pontos utilizei muitos dados e fontes públicas, como o Banco Mundial e o governo brasileiro. Tudo o que eu disse eu posso comprovar. Temos um processo rígido de confirmação de dados e eu passei, no mínimo, duas semanas falando com nossos pesquisadores em Londres, que pediram fonte para tudo.

Qual é a principal mudança do que foi publicado em 2009 para hoje?
Joyce.– O sentimento do mercado externo. A opinião dos estrangeiros mudou totalmente, mas para pior. Em 2009, houve um grande otimismo, talvez exagerado, que agora acho que seja de menos. Eu li um relatório de um grande banco em 2009, não posso dizer qual, mas que explicava três cenários para os próximos anos e, no pessimista, indicava um crescimento de 5% por ano. O mundo inteiro achou que o Brasil chegou a um crescimento sustentável, de, no mínimo, 4 a 5% por ano. Agora é um sonho perdido. Ele não cresceu.

Existe um otimismo a longo prazo?
Joyce – O Brasil ainda tem muitos pontos fortes. Isso não mudou nos últimos anos. É um dos raros países que tem essa possibilidade de crescimento. Mas por que não está crescendo? Acredito que por erros internos. Em geral as razões para o baixo crescimento estão dentro do próprio Brasil. O agronegócio, por exemplo, é um dos pontos fortes. É uma grande fonte de crescimento. Na semana passada eu conversei com a [ex-senadora] Marina Silva, que é uma das pessoas mais interessadas no meio ambiente, e ela falou que temos terras e que a nossa produção pode crescer muito mais, sem danos ambientais.

Você credita o governo de Dilma Rousseff como um dos principais motivos para o baixo desenvolvimento do País?
Joyce – Sim, infelizmente. O maior erro, em minha opinião e dos meus editores, é que ela perdeu a confiança do mercado sem necessidade. Que acho que foi um erro enorme.

O que você responde ao comentário da presidente Dilma em sua conta no Twitter, onde ela diz: “Eles [The Economist]estão desinformados. O dólar estabilizou, a inflação está sob controle e somos o único grande país com pleno emprego.”?
Joyce – Ela respondeu sobre coisas que não dissemos. Não falamos que a inflação está fora do controle, apenas que é alta e nem que o dólar está desestabilizado. Não sei por que ela disse isso. A Dilma afirmou que somos desinformados, mas em que ponto? Ela não apontou um dado incorreto ou alguma informação que não procede.

Você acha que a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos oferecerão ajuda para a recuperação do Brasil ou trarão mais dívida?
Joyce – Acho que os eventos não serão relevantes para a economia. Pode ser ótimo em outros sentidos, mas para a economia não será relevante. É possível a construção de mais estádios, o país é rico o suficiente para isso. Mas realmente querem isso? Acho que terão estádios caros e alguns sem utilização – que será um desperdício. O Brasil tem muito potencial em turismo, mas ainda não recebe muitos, pelo custo e distância.

Quais os investimentos e os projetos futuros da The Economist no Brasil?
Joyce – Eu sou a única correspondente, mas não por falta de interesse, mas sim por recursos financeiros. Há muita curiosidade por parte dos estrangeiros. Eles não conhecem muito, mas querem passar a conhecer. Tem muito interesse e desconhecimento ao mesmo tempo, o que é bom para o jornalista. Podemos escrever qualquer coisa sobre o Brasil que teremos audiência. Eu vou sair do país no fim deste ano. Geralmente o correspondente fica um período de três a quatro anos, que eu já fiquei. Teria gostado de ficar um pouco mais. Vou voltar para Londres. Meu sucessor vai chegar no começo de janeiro e vai morar em São Paulo e poderá escolher se vai trabalhar em casa ou em um escritório separado.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

SEPE: O GLOBO compra o discurso do prefeito

Por Murillo Victorazzo

Qualquer sindicato, em maior ou menor número, tem, entre seus integrantes, pessoas ligadas a partidos. É normal, pois defesa de classe é luta política, no sentido mais verdadeiro e nobre da palavra e, ao contrário do que alguns desejam, não inventaram na democracia ocidental outra plataforma para tentar se fazer representar nos locais onde se debatem políticas públicas, o Legislativo .

Não se entende, portanto, por que O GLOBO faz questão de dar tanto destaque à ligação de membros do sindicato dos professores (SEPE) com PSOL. Parece uma espécie de defesa indireta do discurso cínico do prefeito Eduardo Paes, que tenta desqualificar a greve e as manifestações dos professores como se fossem uma espécie de retaliação da legenda pela derrota ano passado e palanque para 2014. 

Se apenas por tais ligações elas forem ilegítimas ou "políticas", todas as outras, no passado e no futuro (e a História do país está repleta de exemplos de atos semelhantes que também descambaram para a violência da polícia), mereceriam o mesmo estigma. Até em governos do PT, funcionários públicos filiados à CUT chegaram a fazer paralisações. 

Sindicatos têm inúmeros problemas, mas, ruim com eles, pior sem eles, pelo menos para seus trabalhadores - especialmente os de uma classe cuja importância é inversamente proporcional ao seu reconhecimento. Para o establishment político estadual e seus simpatizantes na imprensa, certamente não.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Cabral e o lixo da História

Por Murillo Victorazzo

Em um estado administrado anteriormente por Chagas Freitas, Leonel Brizola, Moreira Franco, Marcelo Alencar, Anthony e Rosinha Garotinho, ser considerado o melhor governador das últimas décadas não seria uma tarefa tão árdua.

Por esta razão, entendia-se por que Sérgio Cabral, apesar de seu caráter duvidoso e da estagnação em  áreas de seu governo, havia sido alçado a este posto por grande parte da população e reeleito no primeiro turno com folgada votação três anos atrás.

O equilíbrio financeiro do estado, algumas obras e principalmente as UPPs, inegavelmente um avanço em política de segurança mesmo com os problemas expostos nos últimos meses, eram seus trunfos.

Porém, ligações com empreiteiros, o deslumbramento yuppie com as mordomias do poder, a confusão entre o público e o privado e a arrogante resposta às manifestações de junho fizeram sua popularidade merecidamente despencar nas últimas pesquisas.

Como se tudo isto não bastasse, agora, Cabral avaliza que a PM parta para cima dos professores municipais em greve. E, ao criticar a ocupação da Câmara dos Vereadores por estes, parece querer transformar as vítimas em algozes. Tudo para defender seu pupilo, o prefeito Eduardo Paes.

Seus aliados preferem alertar que a derrota de seu grupo político ano que vem significará a volta de Garotinho ou a ascensão do senador petista Lindberg Farias. É verdade, e este é o drama dos fluminenses, que cansados vão às ruas sem em quem mais acreditar.

Mas, caso tal retrocesso ocorra, a culpa será unicamente dele, que terá jogado no lixo o voto de confiança que os fluminenses lhe deram quando reduziu os índices de violência. E em outro lixo, o da História, poderá acabar, lado a lado de seus medíocres antecessores.

Assim como o prefeito, que prefere desqualificar a greve com alusões ao PSOL, quem manda bater em quem ensina não merece outro fim.