domingo, 28 de março de 2021

A Ernesto só restou a tradicional cantilena bolsonarista

 Por Murillo Victorazzo

A entediante narrativa bolsonarista se repete. Em qualquer setor, quando, em crises, tornam-se nítidas, com consequências práticas para a população, a disfuncionalidade decorrente do extremismo desse governo, seus membros, ao se verem no corner, apelam para a mesma cantilena: o "sistema corrupto" e/ou da "ameaça comunista". Assim agiu, nesta semana, Pazuello. Hoje age Ernesto Araújo.
 
O chanceler templário caiu, porque é o pior chanceler da história desse país. Alpinista profissional e lunático, impôs - como desejava Bolsonaro - a política externa mais inepta já imposta ao Itamaraty. Desprovida de estratégia , apenas com obsessões e (pseudo)teorias exageradamente à direita. Achincalhou até mesmo a perigosa prática do bandwagoning - quando um país se alinha automaticamente a uma superpotência, experimentado por breves períodos por Dutra, Castello Branco e Collor. Alinhou-se submissamente a um governante de plantão. Política externa é pensava a médio e longo-prazo, deveria ser óbvio dizer.
 
Afirmando não ter "viés ideológico", o tem em doses inéditas, incomparavelmente maiores do que as das por tantos criticadas gestões petistas na "Casa do Barão". Independente de simpatias políticas, Celso Amorim e cia, assim como os demais anteriores, articulavam a inserção do Brasil no mundo papel,  através da busca de liderança regional ( ainda que complacentes com  regimes vizinhos) e postura proativa em assuntos que naturalmente somos global players. Estimulavam nossos soft powers para esses fins. Tinham principalmente noção da importância do multilateralismo para países com poucos recursos de poder como o Brasil. Agregava. 

O oposto de hoje, quando se destrói pontes, com desmonte de tradições que perpassavam governos de diferentes espectros, do PT à ditadura militar, variando apenas a ênfase. E, por favor, sem essa de "defesa da liberdade": quem exalta parceria com Arábia Saudita, discursa enaltecendo ex-ditadores paraguaio e chileno e se cala, por exemplo, sobre Mianmar não pode falar de Venezuela.

Ernesto caiu atirando como gosta sua seita, portando-se - calculadamente - como vítima de senadores ladrões e da China. Fala o que as redes sociais do seu agora ex-chefe gosta de ouvir, não importa o que digam centenas de diplomatas, acadêmicos que estudam a área há décadas ( em unanimidade crítica) e tantos do setor produtivo. bastante conveniente para quem, escanteado por seus próprios pares, só restará, a curto-prazo, alguma "boquinha" internacional ( que não precise de aval legislativo) e, a médio, a carreira política. 

Tenham certeza: seja na cúpula ou na população, quando se perde a razão ou não se tem conhecimento necessário, tira-se a carta rasa e hipócrita da ética.