sábado, 10 de julho de 2021

A conta chegou para a caserna

Por Murillo Victorazzo

Antes mesmo da vitória nas eleições de 2018, alguns militares já se incomodavam com o discurso de Bolsonaro de que encheria a Esplanada dos Ministérios de militares. Eleitoralmente, no rastro da equivocada histeria antipolítica, ele aproveitava o tolo senso comum de que basta ter patente para ser honesto e competente. Um antigo fetiche nacional, mesmo que fatos não confirmem.
 
Mas os militares não ávidos por boquinhas e distantes do círculo mais próximo do candidato sabiam dos riscos que a promessa significava às Forças Armadas como instituição de Estado. 

Nenhuma corporação é pura, muito menos capaz de gerir qualquer área. A autoimagem de que são o oráculo da moralidade e melhores preparados do que civis especializados, que tantos dos seus têm consigo, é enganosa e perigosa. Militar é preparado para o que a Constituição indica, o que já não é pouco e merece todo respeito. Eu sou um orgulhoso filho de militar.

A partir do momento em que seis mil fardados aceitam embarcar na canoa de um governo, as benesses mas acima de tudo os males dele inevitavelmente respingarão na caserna. Tornam-se sujeitos políticos; entram no radar das fiscalizações. E onde há poder e muito dinheiro, a tentação aumenta. Oportunidades não faltarão. É quando se separa o joio do trigo: os militares dos picaretas de farda.
 
Nessas horas, lembro do meu velho pai, comandante fuzileiro naval, avesso a proselitismo político e mamatas de gabinetes, que dizia: " Eu sou comandante no quartel. Militar é formado para ali ficar". A conta chegou. 

Não adiante agora soltarem nota vitimista, em tom de ameaça velada, com críticas a generalização que não houve. A culpa é de quem permitiu essa promiscuidade institucional fomentada pelo bolsonarismo.