quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Eleições deprimentes

Por Matias Spektor* (Folha de S.Paulo, 05/09/2012)

O que é melhor para o Brasil, vitória republicana com Romney ou reeleição democrata com Obama? Em Brasília, ouvem-se três respostas. "Não importa". Segundo essa visão, a coloração partidária da Casa Branca não garante nada. Afinal, o PT fez negócio com a direita americana e teve problemas com a esquerda, enquanto o PSDB fez negócio com a esquerda e teve problemas com a direita. Para o Brasil, tanto faria um quanto o outro.

"Não tem como saber agora". Nesta leitura, as promessas de campanha, vagas demais, não são guia de intenções futuras. Como os republicanos estão cindidos em temas como Irã, Afeganistão e as revoltas árabes, não dizem nada substantivo sobre o tema. Obama, por sua vez, não revela grandes planos de política externa. Assim, o futuro das relações entre Brasil e Estados Unidos será definido em função das pressões do momento.

"Romney é pior". A campanha republicana já avisou que, se eleito, o candidato fará sua primeira visita internacional a Israel. Também chamou a Venezuela de pária. Em um e outro caso, há potencial de dor de cabeça para Brasília. De quebra, Romney chamou para a campanha antigos assessores de Bush que, durante sua passagem pelo poder, deixaram os Estados Unidos e o mundo muito pior do que os encontraram.

Há elementos de verdade em todas essas respostas. O que elas ignoram são os custos que virão independentemente de quem vença as eleições. O problema não tem a ver com um e outro candidato, mas com a intensa polarização entre os partidos que lideram.

O clima de Washington está mais polarizado hoje do que em qualquer momento do passado recente, e isso é péssimo para o Brasil. Significa que o próximo presidente americano terá espaço de manobra ínfimo para negociar.

As chances de uma rodada de liberalização comercial são mínimas, assunto que impacta diretamente os níveis de emprego e renda do brasileiro, além da inflação e das contas públicas. Será quase impossível completar com êxito a revisão do Direito do Mar, um tema espinhoso, mas crucial para o pré-sal, o submarino de propulsão nuclear e os projetos existentes para o Atlântico Sul.

A ausência de uma coalizão centrista em Washington também complica os rumos da economia internacional. A competição partidária predatória dificulta a tarefa de tirar a maior economia do planeta do atoleiro em que se encontra. Perdem todos os brasileiros.

Assim, o dissenso dentro dos Estados Unidos tem impacto global. O ocupante da Casa Branca perde a capacidade de oferecer concessões e barganhar. Acuado em casa, perde os meios para mostrar flexibilidade no estrangeiro. A diplomacia americana tende a ficar mais caprichosa e menos disciplinada. O debate fica deprimente.

Por isso, não há candidato bom para o Brasil. Menos pior será aquele que, ao longo de quatro anos, aspire a restaurar o centro de convergência que se perdeu.

* Matias Spektor é professor de relações internacionais da FGV-Rio. Trabalhou na ONU antes de completar seu doutorado na Universidade de Oxford.