domingo, 6 de junho de 2021

O capitão indisciplinado de sempre

Por Murillo Victorazzo

Bolsonaro insuflou a quebra de regras militares para seu proveito político. Pressionou para não punirem Pazzuelo, como até Mourão disse defender. O Alto Comando capitulou. Abriu-se a caixa de pandora. Não bastasse, em sua “live” semanal, minimiza as punições da corporação, afirmando que quase nunca alguém lá é punido. Aquele ex-capitão que adora se dizer militar, supostamente defensor da ordem, avacalha as Forças Armadas como nenhum presidente civil fez. Incentiva assim a indisciplina. 

Não chega, claro, a surpreender. Basta conhecer seu grave histórico de oficial medíocre envolvido em transgressões sérias - de garimpagem ilegal à autoria de plano para jogar bomba no Guandu como protesto por melhores salários. 

Se fosse outro - assim como com Jango, em 1964, acusado de estimular a quebra de hierarquia de marinheiros e praças fuzileiros, reunidos em um sindicato a despeito da proibição do ministro da Marinha, um dos estopins para o golpe - ele e sua turma de generais de pijama estariam gritando pela deposição do presidente por desestabilizar o Exército. 

Bolsonaro, como todo populista, se aproveita das instituições que tanto esgarça, com palavras e atos, para não sofrer o que defende aos outros. É o paradoxo da democracia. O tempo ainda explicará melhor como as Forças Armadas se permitiram a se submeter a alguém que vai flagrantemente de encontro ao valores que dizem defender. Hipocrisia, a típica boquinha que tanto muitos deles adoram e tosca histeria ideológica ajudam a esclarecer.