sábado, 29 de junho de 2013

Os falsos intelectuais e o "ópio do povo"

Por Murillo Victorazzo

Bastou a população brasileira se animar com o time do Felipão para velhos clichês sobre ela voltarem à tona, mesmo que o presente os desminta. Passivo, alienado, ópio do povo...Expressões assim surpreendentemente ainda encontram eco em setores desta própria população, que, com alta dose de uma esquizofrenia presunçosa, aponta o dedo para o espelho como se o que visse não fosse ela mesmo.

Nada é mais bobo, papinho de "intelectualóide" incapaz de separar as coisas (as aspas e o sufixo são necessários porque o intelectual verdadeiro procura discernir e entender em vez de julgar com preconceitos), do que se dizer indignado com comemorações por vitórias da seleção brasileira de futebol em meio ao turbilhão dos dias juninos.

Esse mesmo povo que criticam está nas ruas há 15 dias em gigantescos protestos por todos os cantos do território nacional, com consequências já visíveis. Parlamentares arregalam os olhos, governos procuram respostas com urgência, popularidades despencam. Mas, quando para pra ver um jogo, os bobões se "revoltam", voltam com a ladainha um pouco fora de moda de que brasileiro é isso ou aquilo. Lamento informa-lhes, mas torcer pelo país dentro das quatro linhas não impede ninguém de criticar o que há de errado fora delas.

A Copa deveria ser no Brasil? Esta pergunta não cabe mais agora, a uma ano dela. Deveríamos ter protestado contra a construção de estádios com dinheiro público e superfaturamentos antes deles serem finalizados. Agora, já feitos, só nos resta pressionar por investigações, CPIs. Derrotas não significarão mais dinheiro para a educação ou prisão de mensaleiro. Muito menos mudará o local da competição. Ela será aqui, independente de sucessos ou não da equipe canarinho.

Discursos como esses são, antes de mais nada, ultrapassados. Remetem-nos à ditadura militar, quando muitos opositores do regime afirmavam torcer contra a seleção na Copa de 1970 porque o ditador da época, general Médici, usaria o triunfo a seu favor. Podia fazer algum sentido em um ambiente obscuro como aquele, mas em uma democracia, não. O tempo provou ser tal raciocínio equivocado para o Brasil de hoje.

Só como exemplo, em 2002, o time canarinho foi pentacampeão mundial e, três meses depois,o candidato do governo Fernando Henrique, José Serra, não só perdeu  com folga para o oposicionista Lula como teve dificuldades até para passar para o segundo turno. Por quê? Porque o país vivia em recessão, desemprego, crise energética. A sensação de corrupção era perene. O petista, à época, representava um não ao sistema sociopolítico. Nada que o futebol pudesse anestesiar.

Esses metidos a "cult" ou niilistas radicais devem pensar que cérebro é como memória de computador, com capacidade limitada de informações, ou um jogo de soma zero, no qual mais de algo implica em menos do pretensamente oposto. Uma visão pateticamente binária. Cometem, aliás, um grave erro de análise, pois, caso os protestos diminuam com o fim da Copa das Confederações, eles, sim, estarão fazendo o jogo dos governantes. Nossos problemas vão muito além dos absurdos que envolvem o torneio e a FIFA.

No fundo, pessoas assim mostram uma arrogância cega, incapaz de conhecer o povo a qual, querendo ou não, pertencem. Apenas externam velhos preconceitos e complexo de vira-lata. Pensam ser melhores, mas são intelectualmente mais superficiais do que muitos dos que menosprezam. Sim, amo samba, amo futebol, assisto a novelas e sei que podem me chamar de tudo menos de alienado, massa de manobra e outros blá blá blás...