quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Ator frequente da política nacional, o imponderável volta a entrar em cena

Por Murillo Victorazzo

Gerações após gerações, os brasileiros se viram diante de tragédias ou fatos imponderáveis que alteraram, de repente, o curso mais previsível do país. Nossa História é repleta de casos assim. Mortes surpreendentes de líderes impactaram profundamente a alma e o xadrez político da nação. João Pessoa, Vargas, Tancredo foram os mais significativos. Outros, como Jânio e Collor, com seus atos inesperados e espantosos, colocaram não suas vidas, mas as das instituições democráticas em xeque. O primeiro não só as debilitou como abriu espaço para a ruptura total três anos depois. A morte precoce do jovem presidenciável Eduardo Campos entra, agora, para a impressionante lista.

Gostassem ou não de Campos, é inegável que ele era um dos principais líderes políticos do Brasil. Um dos maiores nomes da nova geração. Perdendo ou ganhando em outubro, os debates sobre o rumos do país passariam obrigatoriamente por ele e pelo partido que presidia nos próximos anos. Muitos inclusive arriscavam a afirmar que sua candidatura agora era, antes de tudo, um "laboratório" para 2018.

Neto de Miguel Arraes, um dos símbolos da resistência à ditadura militar, o pernambucano tinha no sangue o gosto pela articulação e pelo debate. Sem entrar no julgamento de defeitos e virtudes de sua personalidade, ou se era o melhor nome para a Presidência, aliava tal dom vindo de berço com a uma prática de gestão que sinalizava, pelo menos, ter algo de bom. Sua reeleição como governador em 2010, quando, ao conquistar 83% dos votos, tornou-se o recordista proporcional de voto daquela eleição, era um indício.

Neste momento, qualquer assertiva eloquente sobre as consequências para o pleito é arriscada. Mas não se pode negar que o destino aparenta ter colocado no colo da ex-senadora Marina Silva a chance de tornar a disputa ainda mais acirrada. Ela, que, no turbilhão das manifestações de 2013, despontava como principal beneficiária da onda de indignação ética.

Ao ter o registro de seu partido negado pelo TSE, Marina optou por se entrincheirar no PSB, aceitando ser vice do todo poderoso do partido e deixando órfã essa parcela do eleitorado. Campos via nela a força motriz para aglutinar em torno de si esse sentimento. Por mais que tentasse, sua trajetória impedia que se colasse nele a imagem do outsider. Até que ponto ela conseguiria transferir votos pra ele até outubro, agora, ficará no terreno das suposições. O contrafactual não encontra espaço na História.

A tragédia pode alçar Marina novamente à condição de depositária das esperanças dos que não viam em nenhum dos três postulantes credibilidade suficiente para sedimentar a "nova política". Alguns arriscam que a comoção tem potencial de reforçar ainda mais seu nome. Não se sabe, até pelas contradições internas da aliança do PSB com a Rede e toda consequente repercussão nos palanques regionais. Certeza apenas do aumento da imprevisibilidade da eleição.

De todo modo, caso se confirme sua candidatura e as expectativas sobre ela, Aécio Neves certamente terá um caminho mais árduo rumo ao segundo turno. E a presidente Dilma, trabalho ainda maior para se reeleger.  Tucanos e petistas compartilham do susto e da preocupação com o novo cenário. De alijada do processo eleitoral à presidente. Por que não? Marina, assim, encarnaria a frase atribuída a Tancredo Neves: "A presidência é destino".

Mais do tudo, porém, mais do que a perda do Eduardo Campos político, a morte inesperada e estúpida de um pai de cinco filhos, ainda aos 49 anos e na linha ascendente de sua trajetória profissional, sempre deverá ser motivo de tristeza, choque e comoção. Todos perplexos com as "pegadinhas" da vida e da História. De novo.