domingo, 29 de março de 2020

Continue assim, bolsominion

Por Murillo Victorazzo

Depois de até Trump prorrogar por um mês o isolamento social, apenas nos resta uma recomendação:

Vai, bolsominion, continue fazendo contorcionismo retórico pra defender seu mito. Logo você, que afirmava não ter político de estimação.Continue com exaltações falaciosas e descontextualizadas ao “direito de trabalhar” e correlações econômicas rasas, sendo, muitas vezes, vulgar com os críticos, julgando até suas situações profissionais.

Continue achando que é o grande "funcionário do mês", que são você e ele os preocupados com o trabalhador, quando quem o está é quem sabe da vontade e necessidade de todos de trabalhar, mas, reconhecendo não ser "tudólogo", gosta de ouvir técnicos na área (do próprio governo aliás) e tem o discernimento de entender estes dias atípicos, os riscos, diretos e indiretos, à saúde das pessoas ou de terceiros, em grupo de risco, e a dificuldade operacional de separá-los. E que, portanto, compete justamente ao governo minimizar, neste período, as dificuldades econômicas da população com politicas públicas, e não estimulando irresponsavelmente o medo de perder o emprego.

Continue mentindo que pedir pra ficar em casa é defender isolamento social a longo prazo, por meses a fio. Ou ser vagabundo. Continue falando em nome do “povo”, quando não passam, no máximo, de cerca de um terço da população (nada a ver com votação momentânea na eleição). Continue achando normal a disfuncionalidade de um presidente agir contra o que prega seu Ministério da Saúde.

Continue fingindo que os mais renomados especialistas em saúde, os principais líderes mundiais e todas as instâncias federativas e institucionais, à esquerda e à direita, estão errados. Certo apenas o Messias. Continue ignorando o perigo que é pensar assim. A História te cobrará a fatura.

quarta-feira, 25 de março de 2020

Um pronunciamento deplorável. Uma aposta dobrada

Por Murillo Victorazzo

Qualquer pessoas com o mínimo de racionalidade sabe dos riscos de uma longa paralisia na economia nacional, inclusive também para vidas de muitas pessoas. Até quando manter a "quarentena" é o dilema de governantes do mundo inteiro - todos, à esquerda ou à direita, em consenso sobre o isolamento total nestas duas ou três primeira semanas, momento, segundo ESPECIALISTAS, fundamental para evitar o colapso dos sistemas de saúde. Mas o pronunciamento de Bolsonaro foi tudo menos um chamado à nação sobre como lidar com o futuro. 

Bolsonaro apenas estimulou o "liberou geral já", desautorizando na prática seu próprio ministro da Saúde. Somente mostrou seu caráter cínico, divisivo e vitimista, acusando outros (suas cortinas de fumaça de sempre) de disseminar histeria, quando OMS e ONU alertam sobre o potencial risco de uma pandemia que já obrigou o COI adiar em um ano um evento do tamanho das Olimpíadas! 

Fez ainda comparações e indagações falaciosas; atacou governadores - em contraste com declarações pela manhã e ontem ( nesta quarta, tem reunião agendada com os do Sudeste...); provocou indiretamente um médico respeitado de forma gratuita, descontextualizando sua fala. Teve tempo até para deduções sem sentido sobre sua saúde, voltando a usar termos irresponsáveis como "resfriadinho". Incrivelmente nada sobre como o Estado ajudará empresas e trabalhadores a mitigar a situação - e olha que há medidas em discussão, boas ou não, suficientes ou não, que poderiam ser citadas.

Tudo oposto ao visto nos pronunciamentos de líderes mundiais, que sabem serenar ânimos sem minimizar riscos e agredir adversários em CADEIA NACIONAL de TV. Os que, no passado, isto fizeram já estavam nas cordas do ringue, é bom ele recordar. Um discurso de deputado do baixo clero, não de chefe de Estado.

O "homem comum", "apolítico", é um animal essencialmente político - e da pior espécie. Entre atos aparentemente insanos, incapacidade de se expressar, visão tosca de mundo e frases chocantes, Bolsonaro calcula egocentricamente seus atos: sem o confronto, teorias da conspiração, ataque a instituições e alvos como obsessão, não sobrevive. Todos estão errados, são imorais e esquerdistas, e o "sistema" quer derrubá-lo. 

É impossível o diálogo com um presidente assim. Dobrou a aposta. E age desta forma porque sabe que entre 25 e 30% da população (suficiente para ir ao segundo turno em 2022) sempre baixarão bovinamente a cabeça, vendo comunismo em todos os cantos e perguntando: "E o PT"?