segunda-feira, 27 de julho de 2009

Com emoção e saudades, o fim de um tabu

Por Murillo Victorazzo
Crises crônicas, turbulência eleitoral, diretoria e técnico recém-saídos e uma sequência de quatro jogos sem vencer. Nesse cenário, o Flamengo partira para mais uma partida. Dessa vez em um campo no qual nunca vencera em jogos oficiais, a Vila Belmiro do Santos, cujo treinador, o renomado Wanderley Luxemburgo, faria apenas seu segundo jogo pelo clube
Não bastasse tais dificuldades, o jogo tinha outro simbolismo: era a milésima partida do time em Campeonatos Brasileiros, sendo o rubro-negro o primeiro time a chegar a esse feito. Se sempre fora difícil jogar na casa santista, mais ainda seria no jogo de ontem, em que pese as fragilidades do anfitrião.
Figura querida e admirada por todos no clube - seja atletas, funcionários ou torcida -, tanto por sua personalidade como pelo seu invejável currículo como jogador, Andrade recebeu a ingrata incumbência de dirigir interinamente o time diante desse turbilhão.
Ótimo volante dos anos 80, prata da casa rubro-negra, participou do maior time da história flamenguista, tendo sido campeão mundial e da Libertadores, em 1981. Dos seus cinco títulos de campeão brasileiro, quatro, 1980, 82,83,87, foram vestindo o manto mais querido do país (um foi, com perdão da má palavra, pelo rival Vasco, em 1989. Pecado perdoado!). É, ao lado de Zinho, o jogador que mais vezes venceu a competição mais importante do país.
No time de 1987, Andrade foi companheiro e amigo de Zé Carlos, goleiro que, se não está entre os melhores da história, também se destacava por sua simpatia e profissionalismo, sendo muito respeitado na Gávea. Zé Grandão, como era chamado, ganhou também a Copa do Brasil de 1990 pelo clube. Quis o destino, infelizmente, que um câncer o levasse, aos 47 anos, justamente numa semana tão tumultuada para seu time e seu amigo.
Andrade e o Flamengo, assim, entraram na Vila Belmiro de luto e pressionados. Após um primeiro tempo equilibrado, o Santos abriu o placar aos 21 minutos do segundo tempo. Mas Adriano empatou aos 32 e, aos 42, o jogador santista Pará fez contra, sacramentando uma histórica e importante vitória.
De virada, o Flamengo ganhava não só três pontos como alguns dias de tranquilidade. Como é marca do Flamengo, é na dificuldade e perante o ceticismo que as vitórias vêm. Andrade, no final, não segurou o choro ao lembrar de seu amigo Zé Grandão e dedicou-lhe a vitória. Um gesto que expressou o quão humano é, em meio a um futebol cada vez mais mecânico e mercantilizado. E uma vitória que deixou clara a estrela de um campeão.
De um campeão só? Provavelmente não. É claro que futebol é técnica e tática, mas, há momentos em que dá para acreditar em algo que extrapola a razão. Se, como já disseram, por mais cartesiano que seja, todo brasileiro tem uma pitada de candomblé, não se poderia duvidar que as mãos do campeão Zé Carlos, que salvaram o Mengo em diversas ocasiões, ajudou a levar, dessa vez lá de cima, seu amigo, seu clube e sua torcida a quebrarem um incômodo tabu e amenizar a crise.
O choro de um verdadeiro rubro-negro como Andrade, a lembrança de Zé Grandão e a vitória suada provavelmente levaram outros muitos flamenguista às lágrimas. Lágrimas de uma nação que, por alguns minutos, lembrou, nostalgicamente, de uma década e de um time inesquecíveis. E que, angustiada, espera a volta de melhores dias. Obrigado, Andrade! Obrigado, Zé Carlos!

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Quando o fotojornalismo diz tudo...

E agora, José? Como diria Raul Gil, "pega o seu banquinho e saia de mansinho"...
(foto: Roberto Stuckert Filho/ O Globo)


Por dentro do judô brasileiro e cubano

Tive o prazer de cobrir inúmeras provas do judô, com ou sem atletas brasileiros, durante o RIO 2007. Embora nunca a tenha praticado, sempre admirei essa tradicional luta de origem japonesa. Nos Jogos, assisitindo de perto, com atenção, e em entrevistas e papos informais com os judocas, acabei por conhecer melhor as nuances e escolas do judô. Exatos dois anos atrás fiz, então, uma pequena matéria pelo site http://www.rio2007.org.br/, sobre as escolas brasileiras e cubanas do esporte.
RIO 2007 mostra forca do judô cubano e brasileiro
Por Murillo Victorazzo
As competições de judô do XV Jogos Pan-americanos Rio 2007 se encerraram neste domingo, no Pavilhão 4A do Complexo do Rio Centro. Após 12 provas, Cuba foi o pais que mais conquistou vitórias, com cinco medalhas de ouro, seguidos dos donos da casa, o Brasil, com quatro. Já os Estados Unidos levaram subiram ao lugar mais alto do pódio três vezes. No total, cubanos e brasileiros viram suas bandeiras serem hasteadas, cada um, 13 vezes e os americanos, seis. Tais resultados mostram que as escolas cubana e brasileira de judô dominas atualmente as Américas.

Para a medalhista de ouro cubana na categoria ate 48 kg, Yanet Bermoy, o segredo do sucesso de Cuba é muito treinamento e disciplina. Yanet acrescenta que o judô para os cubanos serve também para extravasar as dificuldades do dia a dia. "Nós treinamos muito todos os dias. Perseguimos sempre nossos objetivos. Além disso, o judô é um meio de esquecermos os problemas do lado de fora", conta ela.

O brio e a forca física dos cubanos são outros diferenciais levantados pelos adversários. A medalhista de prata brasileira Daniela Polzin, também da categoria ate 48 kg, conta que a maior virtude do judô de Cuba é a fibra com que lutam. "Elas são muito aguerridas. Lutam com muita pegada e atacam toda hora. Hoje, para nós, brasileiros, não há mais dificuldade técnica, mas ainda esbarramos no aspecto físico", explica Daniela.

Opinião semelhante tem o argentino Miguel Albarracin, campeão da categoria ate 60kg. Usando como exemplo os atletas que subiram ao pódio com ele, o cubano Yosmani Pike, prata, e o brasileiro Alexandre Lee, bronze, Miguel ressalta a forca mental e física dos atletas de Cuba. "Pike, por exemplo, tem uma resistência física muito forte. Lee é muito técnico, com muitos deslocamentos que resultam em pontos", afirma Miguel.

Polzin, no entanto, faz questão de frisar que a escola brasileira é eclética, com atletas de diversos estilos - seja o japonês, com um judô mais limpo, ou do leste europeu, com mais pegada. "Conseguimos mesclar as escolas. Os judocas brasileiros estão se adaptando a todos os tipos ", diz ela, admitindo a disputa com Cuba para ser o melhor judô do continente: "Já tem um tempo que os cubanos são os nossos grandes rivais no dojô".

O treinador da equipe masculina de judô de Cuba, Justo Barreto, faz coro com a brasileira. Ele considera os judocas brasileiros os mais difíceis de vencer: "Os brasileiros têm uma ótima escola. Creio que, junto com Cuba, é o melhor judô das Américas".

A americana Jeanette Rodriguez, bronze na mesma categoria que Daniela e Yanet, concorda com os cubanos e brasileiros, mas assegura que o judô americano está crescendo, como podem mostrar os resultados do RIO 2007. "Temos pesquisado as escolas de outros paises, como Cuba e Brasil. Nosso nível técnico, nossa maneira de pegar, tem melhorado a cada ano, com mais competições e treinamento. O judô como um todo esta crescendo nos Estados Unidos", assegura Jeanette.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Democracia pode parecer piada. Mas não é. Que o digam os americanos

Por Murillo Victorazzo
Não são poucos os que, ao irem a Nova York, já viram na Times Square, no centro de Manhatan, aquele "Naked Cowboy" com seu violão tirando fotos com turistas. Vestido com chapéu e botas brancas, usando apenas uma cueca, Robert Burck tornou-se uma figura turística da cidade. Já chegou, inclusive, a sair em fotos e filmes pelo mundo todo. Nesta terça-feira, 21, segundo o site UOL Tablóide, o cowboy loirão, de 38 anos, anunciou sua candidatura à Prefeitura da "Big Apple".
No Brasil, muitos políticos ou candidatos entraram para história por seus exotismos. Uma candidatura similar a essa, por sinal, motivaria muitos a dizerem: "Este país não é sério, mesmo". Por sua origem, seus vestuários ou formação, boa parcela da sociedade os vê como sinal da avacalhação da política nacional. Seria uma triste especificidade nossa. Não é.
Um país como os Estados Unidos, cujo um dos presidentes mais marcantes e populares era um ator de segunda categoria de Hollywood, tal anúncio não chega a ser visto como escárnio. Tida como exemplo de democracia historicamente estável, o Tio Sam sabe que qualquer cidadão tem o direito de se candidatar ao cargo que desejar.

Para ser um bom político, não é necessário ser um gerente. Liderança, sensibilidade política e capacidade de se cercar por bons auxiliares não são necessariamente adquirida nos bancos universitários. Nem vocabulários e ternos bonitos significam competência.
O "Naked Cowboy", certamente, não será levado a sério nem é páreo em uma disputa cujo favorito é o atual prefeito,  o milionário Michael Bloomberg. Tampouco aqui se pretende considerá-lo assim. Certamente será motivo de piadas. E piadas fazem bem à política, o que é bem diferente de levar a política como piada.

Provavelmente, porém, os norte-americanos não o verão como sinal de uma suposta decadência de sua democracia. Salvo os donos de mentalidade obtusa, achincalarão o candidato, mas não o regime e suas instituições. O complexo de vira-latas não tem espaço por lá. Eles entendem melhor a essência da democracia - com seus defeitos e virtudes. Sabem que, como dizia Winston Churchill, a democracia é o pior dos regimes, exceto os outros.




domingo, 19 de julho de 2009

Nas calçadas, a cultura popular

Estava ainda na sucursal Rio da revista ISTOÉ quando ganhava força uma agradável moda de se homenagear personalidades de nossa cultura popular com estátuas nas calçadas e praças do Rio de Janeiro. Fugia ao cansativo busto formal em pedestais e às figuras militares e políticas. Sugeri, por isso, uma matéria sobre esse assunto, que saiu na edição nº1777, de 22/10/03. Desde então, mais personalidades, como o jornalista Zózimo Barroso do Amaral, entre outros, ficaram eternizado de modo semelhante. Que bom que se arejou a cabeça dos responsáveis pela cidade, que notaram que uma nação se faz, antes de tudo, por sua cultura. (foto: ISTOÉ on line)
Eles merecem
Por Murillo Victorazzo
Uma concepção diferente das tradicionais estátuas para cultuar personalidades em praça pública está virando moda no Rio de Janeiro. Os ídolos são retratados com expressões descontraídas e situações reais, muitas vezes em tamanho natural. Os pedestais foram praticamente excluídos. No lugar de figuras militares e aristocráticas, entram os senhores da cultura popular brasileira.
O pioneirismo é de Noel Rosa, que desde 1996 pode ser visto bebendo cerveja e fumando em uma mesa de bar no boulevard 28 de Setembro, evidentemente em Vila Isabel. Pixinguinha chegou ao centro do Rio em 1997 e, no ano passado, Carlos Drummond de Andrade se incorporou à paisagem de Copacabana.
Nos próximos meses chegará a vez de Braguinha ser eternizado. A escultura de bronze de um dos maiores autores de marchinhas de Carnaval está pronta, com 600 quilos e 2,20 m de altura. Ela reproduza simpatia do artista, mostrando-o andando, de braços abertos e saudando o povo. Ficará na avenida Princesa Isabel, perto da praiade Copacabana, que o compositor, hoje com 97 anos, apresentouao mundo como “princesinha do mar”.
Para aumentar a galeria de homenageados, até o fim do ano o Morro da Mangueira ganhará uma estátua de Cartola, com 500 quilos e a mesma altura de Braguinha. O fundador da mais tradicional escola de samba carioca estará para sempre sentado em uma pedra que representa o morro. “Resgatar ícones dessa envergadura por meio das artes plásticas é criar empatia com a massa”, afirma o artista plástico Otto Dumovich, que esculpiu Cartola e Braguinha. Ele também é o autor da réplica de Pixinguinha instalada na travessa do Ouvidor.
Inaugurada para celebrar o centenário de nascimento do compositor, a obra que retrata o autor de Carinhoso tocando saxofone é uma exceção entre as outras de Dumovich por estar num pedestal.
O artista plástico paraibano Joás Pereira, que esculpiu a estátua de Noel Rosa, retratou em dezembro do ano passado o escritor Otto Lara Resende em pé, lendo ao lado de uma mesa, no largo que leva seu nome no bairro do Jardim Botânico. Dois meses antes, como parte dos festejos pelo centenário de nascimento de Carlos Drummond de Andrade, o artista plástico mineiro Leo Santana fixou a réplica em tamanho natural do poeta em um banco no trecho da praia que ele costumava frequentar.
A moda das estátuas também chegou a Búzios, na região dos Lagos. Para inaugurar a recuperação da orla central do balneário mais badalado do País, na praia da Armação, há pouco mais de dois anos foi instalada uma réplica da atriz Brigitte Bardot. A partir de uma foto da época em que a estrela pisou em Búzios, nos anos 60, a escultora Cristina Motta, a pedido da prefeitura, reproduziu um dos maiores símbolos sexuais da história do cinema. “A estátua tornou-se um marco para a cidade. Nada mais justo, pois foi ela quem tornou Búzios famosa no mundo”, diz Isac Tillinger, secretário municipal de Turismo.

Guanabara: beleza e poluição

Em junho de 2003 colaborei em uma matéria sobre desastres ambientais na revista ISTOÉ (edição nº1757). Assinada pela repórter Darlene Menconi, a matéria mostrava a gravidade dos despejos de lixos tóxicos no rio Tietê e outros lugares, problema que afetava a vida de cinco milhões de brasileiros.
Meu box chamava a atenção para o polêmico Programa de Despoluição da Baía da Guanabara, projeto que até então não havia se concretizado, tendo sido alvo até de CPI na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Lamentável que seis anos depois, quase nada mudou. E com um agravante: parece que tanto o programa quanto as denúncias foram apagados com o tempo.
Paisagem mutante na baía de Guanabara
Por Murillo Victorazzo
No verão de 2000, o Rio de Janeiro assistiu, impotente, ao seu pior desastre ambiental. Um vazamento na refinaria Duque de Caxias, da Petrobras, lançou nas águas da Baía de Guanabara, o maior cartão-postal da cidade, 1,3 mil toneladas de óleo combustível. A mancha negra atingiu áreas de proteção ambiental, matou animais e peixes.
Não foi o único acidente. Nas águas da Baía de Guanabara são despejadas, todos os anos, cinco mil toneladas de óleo e 465 toneladas diárias de carga orgânica doméstica, o equivalente a um estádio do Maracanã repleto. As 55 indústrias fluminenses, os terminais de combustível, os postos de gasolina, os estaleiros e os navios agravam a dose de poluentes.
Por conta desse volume, a despoluição da baía é o mais ambicioso projeto de recuperação ambiental do País. Começou nos anos 90, com recursos nacionais e de organismos americanos e japoneses. Seu objetivo era reduzir para um décimo a carga orgânica industrial jogada na baía e cortar pela metade o esgoto lançado. A previsão era concluir em cinco anos a primeira fase da obra, construindo linhas de esgotos na rua e estações de tratamento. Nove anos se passaram, gastaram-se US$ 800 milhões (R$ 2,4 bilhões) e falta cumprir um terço das metas.
A previsão de término da despoluição agora passou para o final de 2004. Estima-se que as águas da Guanabara já consumiram quase R$ 13 bilhões ao longo dos últimos anos. Pelos atrasos e denúncias de irregularidades, a despoluição virou alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembléia Legislativa do Rio. O programa de despoluição também será analisado pela força-tarefa criada no Ministério Público Federal para apurar e remediar os danos provocados ao meio ambiente e aos recursos hídricos do Rio de Janeiro.

Heroína colombiana (a boa)

O RIO 2007 propiciou-me conhecer melhor esportes pouco difundidos no Brasil e atletas que, embora tenham pouca visibilidade, chamaram-me a atenção pela garra e volta por cima. A ciclista colombiana Maria Luiza Calle foi uma delas. Tive contato com ela no Velódromo do Rio, dia 17/07, após sua vitória na prova de perseguição individual:
Depois do susto em Atenas 2004, ciclista colombiana prossegue em sua volta por cima
Por Murillo Victorazzo (www.rio2007.org.com.br)
Aos 38 anos, a ciclista Maria Luiza Calle Willians é uma das mais respeitadas atletas da Colômbia. Nesta terça-feira, seu prestígio certamente deve ter aumentado. Ratificando seu favoritismo na prova de perseguição individual feminina do RIO 2007, ela, além de levar o bicampeonato, quebrou o recorde pan-americano.
Após a vitória, Maria Luiza era a imagem da satisfação consigo mesma. E não é para menos. Este ano, ela já havia sido medalha de bronze na mesma prova na Copa do Mundo de Los Angeles, e prata na prova de scratch, no Mundial de Palma de Mallorca, Espanha. Em 2006, levou o ouros na prova do scratch no Mundial, em Bordeaux, França, e a prata na perseguição individual na Copa do Mundo de Los Angeles, ambas em 2006.
Mas a carreira dela, nos últimos anos, não foi só alegria. Após levar o bronze na prova de corrida por pontos nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004, Maria teve sua medalha retirada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), acusada de doping. Em outubro de 2005, ela reconquistou o bronze ao conseguir mostrar que era inocente. O remédio tomado, segundo ela, era para dor-de-cabeca. "Senti muita tristeza, principalmente por não poder fazer nada naquele momento. Mas a verdade apareceu e o ouro no RIO 2007 é o prosseguimento da minha volta por cima", diz Maria Luiza.
Um sinal da popularidade da atleta na Colômbia foi o telefonema do presidente Álvaro Uribe, durante a entrevista coletiva após a entrega da medalha. "Ele me deu parabéns por estar dando esta felicidade ao nosso país e disse que os colombianos estão me esperando de braços abertos", contou.
Com 18 anos e em seus primeiros Jogos, a medalhista de bronze da prova, Dalila Rodriguez, é outra que admira Maria Luiza ."É uma honra poder subir ao pódio com ela. Maria é um exemplo", diz a cubana.
Casada e formada em administração de empresas agropecuárias, Maria Luiza treina ciclismo há dez anos no Velódromo Martin Emilio Rodrigues, de Medellin, sua cidade natal. Ela conta que começou a praticar o esporte incentivada pelo pai. "Eu e meu pai gostávamos de correr de bicicleta. Ele me estimulou, e eu comecei a levar a sério", diz. O semblante sereno na conquista do ouro é o mesmo que teve no momento angustiante por qual passou.
Quem confirma esta característica da ciclista é Jose Julian Velasquez, seu treinador, presente em todas essas conquistas e no susto do suposto doping."Maria Luiza é muito tranqüila. E foi com a tranquilidade de quem tinha certeza de que não havia feito nada errado que ela lutou até recuperar sua medalha olímpica", conta ele, revelando o segredo do sucesso da colombiana: "Ela é muito profissional e ama o ciclismo, além de ter uma força mental e física impressionante".

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Vácuo no jornalismo brasileiro

Muito já se discutiu e muito ainda se discutirá a respeito do fim da obrigatoriedade do diploma para exercício do jornalismo. Há justiças e injustiças no debate, porém uma coisa é inegável: do jeito que o STF lida com o assunto, a classe jornalística encontra-se em um vácuo júridico. Parece que os nobres ministros não perceberam a importância do que decidiram, com reflexos não apenas na vida dos milhares de jornalistas ou estudantes do curso, mas da imprensa em si, que, afinal de contas, é tida como o "Quarto Poder".

Decisão do STF causa indefinição sobre registro profissional de jornalistas

Por Daniella Dolme (do site Última Instância, 15/07/2009)

Há quase um mês, o STF (Supremo Tribunal Federal) acabou definitivamente com a obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão. No entanto, acabou criando uma indefinição que ainda não foi esclarecida: se o registro profissional no Ministério do Trabalho, o Mtb, ainda é necessário.

De acordo com a assessoria de imprensa do Ministério do Trabalho, a decisão dos ministros ainda está sendo analisada para que se verifiquem os possíveis desdobramentos que ela irá acarretar ao registro —como ele será empregado e quais serão as mudanças. Enquanto isso, não haverá um pronunciamento oficial a respeito do assunto.

Como a decisão do Supremo ainda não foi publicada no Diário Oficial, não existe comunicado do Ministério do Trabalho sobre o assunto. O Ministério do Trabalho informa que, desde a decisão do Supremo, os profissionais que possuem diploma conseguem o registro. Mas, os que não são formados e eventualmente solicitarem o Mtb, terão o pedido suspenso enquanto aguarda-se a definição sobre qual diretriz será seguida.

A assessoria de imprensa do STF informou que ainda não tem data prevista para que a decisão seja publicada. Os votos dos ministros serão publicados no site do Supremo, assim que forem entregues. Até agora, somente dois foram encaminhados: do ministro Cezar Peluso e de Carlos Ayres Britto.

Para o advogado João Piza, especialista em direito público e ex-presidente da seccional paulista da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), com o novo entendimento votado no Supremo não é preciso comprovar “absolutamente nada” para ser um profissional da imprensa. “Passou na rua, quer ser jornalista, a rigor não há nem a exigência de qualquer curso superior, aliás, nem de curso primário”, enfatiza.

Entretanto, para a advogada cível do jornal Folha de S.Paulo, Taís Gasparian, a decisão, na prática, não vai alterar o cenário atual. Segundo ela, há dois anos e meio já estava sendo levada em conta uma liminar que permitiu a contratação de jornalistas que não tenham diploma e, portanto, o Mtb já não era exigido.

Sendo assim, Taís afirma que fica a critério da empresa contratante decidir a exigência do diploma ou não para selecionar o profissional que fará parte da equipe. “Para você exercer o cargo de administração de empresas, você não precisa ser necessariamente administrador, você pode ser advogado, médico, pode ser o que for. Depende do que interessa para a empresa que está contratando”, exemplifica a advogada.

Procurado pela reportagem de Última Instância, o advogado do jornal O Estado de S. Paulo, Manoel Alceu, preferiu não se pronunciar a respeito do assunto enquanto não sair o acórdão e não forem definidas, em reuniões internas, o posicionamento do veículo.

Alvo de críticas e elogios, a decisão do Supremo ainda gera dúvidas e incertezas para os profissionais que já atuam na área e para os estudantes prestes a ingressar no mercado de trabalho. O advogado e mestre em filosofia do direito João Ibaixe Jr classifica a não exigência do diploma como uma “lacuna do direito”. “É quando uma determinada norma não trata de um determinado problema social e fica um espaço vazio, um vácuo, como, por exemplo, ocorreu também com a revogação da Lei de Imprensa e agora nessa questão do diploma”, explica.

Já o advogado João Piza, que defendeu a obrigatoriedade do diploma no Supremo, analisa que a decisão vem em desfavor da profissão de jornalista. “Ela confunde liberdade profissional e liberdade de imprensa com pré-requisito de conhecimento técnico para exercício profissional”, diz.

Para ele, que fez a sustentação oral na Corte pela Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), o único benefício restringe-se aos donos de empresas de telecomunicações, que agora não precisarão “negociar e pagar salários de um profissional preparado especificamente para exercer a profissão de jornalista”.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Vive la France: uma relação que dá samba?

Por Murillo Victorazzo
Presente às cerimônias comemorativas dos 22o da Queda da Bastilha, em Paris, o ministro da Defesa, Nélson Jobim deu mostras do intuito do governo brasileiro de realmente aprofundar as ditas relações estratégicas com a França. A preferência dada à sua indústria bélica no prometido processo de modernização das Forças Armadas brasileiras é o sinal mais concreto dessa política. Primeiro, os quatro submarinos para a Marinha; depois, ao que tudo indica, como Jobim deixa crer na matéria abaixo, os 36 caças para a FAB.
Por outro lado, também a França, pelo menos na retórica, mostra-se bastante interessada nessa relação. Tem sido ela o país europeu que mais parece convergir com os anseios da diplomacia brasileira. Em entrevista ao Globo, no último domingo, o embaixador francês no Brasil, Antoine Pouillieute, repetiu o apoio dado pelo presidente Nicolás Sarkozy à candidatura brasileira a uma vaga permantente no Conselho de Segurança da ONU.
Sarkozy, por sinal, foi o mais incisivo membro do G-8 a defender uma participação mais ativa dos países emergentes nas grandes discussões sobre o mundo. Destaque para a declaração conjunta dele com o presidente Lula, semana passada, defendendo uma rápida institucionalização do G-14, uma espécie de fusão do G-8 (Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, França, Canadá, Itália, Japão e Rússia) com o G-5 (Brasil, China, Índia, México e África do Sul) mais o Egito.
Emblemáticas também são a declaração de Poullieute de que "a Amazônia não é um problema mundial", ressaltando a soberania brasileira nessa questão (não esqueçamos que o assunto é de interesse direto da França, que tem território na região, a Guiana Francesa), e a vinda do líder francês a Brasília para participar das cerimônias do 7 de setembro. É esse pano de fundo que nos leva a matéria abaixo:
Jobim sinaliza vantagem da França em disputa por caças
Por Ana Carolina Dani (Folha de São Paulo, 14/07/2009)
O ministro da Defesa, Nelson Jobim disse ontem, em Paris, que o critério da transferência de tecnologia será fundamental para decidir o país que vai vencer a concorrência para a aquisição pelo Brasil de 36 caças do projeto FX-2. Jobim deu a entender que, por este aspecto, a França teria uma posição privilegiada nas discussões.
"Há uma disposição política do governo francês para a transferência de tecnologia. É uma decisão política tanto do presidente Nicolas Sarkozy quanto do presidente Lula. Existe disposição total dos franceses em caminhar nesse sentido", disse em entrevista na residência do embaixador do Brasil na França, José Maurício Bustani.
Segundo Jobim, a disposição da França em compartilhar tecnologia foi decisiva para a assinatura dos contratos de compra de quatro submarinos do tipo Scorpène, um de propulsão nuclear e 51 helicópteros militares que serão fabricados no Brasil.O ministro está em Paris para discutir com autoridades francesas a parceria estratégica entre Brasil e França na área de defesa, firmada no ano passado durante visita de Sarkozy ao Brasil.
Jobim também vai conhecer a linha de montagem do Rafale e voar em um modelo do caça francês, construído pela empresa Dassault, que está na disputa do projeto FX-2. Suécia e EUA também estão na concorrência.Segundo Jobim, a decisão final deve ser divulgada em agosto ou setembro, após análise do laudo que está sendo concluído pela FAB (Força Aérea Brasileira).
Sobre uma possível vantagem do candidato francês, ele disse não ter nenhum "a priori" sobre o assunto, mas concluiu dizendo que "o único país do mundo que tem tecnologia própria para avião, para submarinos de propulsão nuclear e com capacidade de transmissão é a França".

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Talese e Di Franco: lições de Mestres

Em artigo no "Globo", jornalista Carlos Alberto Di Franco, diretor do Master em Jornalismo e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, aproveita as provocativas declarações do papa do new journalism, ícone do jornalismo literário - ou da "literatura da realidade", como prefere -, Gay Talese, em sua visita ao Brasil, a respeito do jornalismo impresso atual, para colocar o dedo na ferida sobre que tipo de jornalismo os meios impressos deveriam praticar diante das novas tecnologias. É para ser posto em destaque em todas as redações e salas de aula das faculdades de comunicação:
A magia do jornalismo
Por Carlos Alberto Di Franco (artigo publicado em O Globo, 13/07/2009)
Gay Talese, um dos fundadores do New Journalism (novo jornalismo), uma maneira de descrever a realidade com o cuidado e o talento de quem escreve um romance, foi a grande estrela da Festa Literária Internacional de Paraty. Sua crítica da mídia pode parecer radical e ultrapassada. Mas não é. Na verdade, Talese é um enamorado do jornalismo de qualidade. E a boa informação, independentemente da plataforma, reclama talento, rigor e paixão. Segundo Talese, a crise do jornalismo está intimamente relacionada com o declínio da reportagem clássica.
“Acho que o jornalismo e não o Times, está sendo ameaçado pela internet”, disse Talese à revista Época. “E o principal motivo é que a internet faz o trabalho de um jornalista parecer fácil. Quando você liga o laptop em sua cozinha, ou em qualquer lugar, tem a sensação de que está conectado com o mundo. Em Pequim, Barcelona ou Nova York…Todos estão olhando para uma tela de alguns centímetros. Pensam que são jornalistas, mas estão ali sentados, e não na rua. O mundo deles está dentro de uma sala, a cabeça está numa pequena tela, e esse é o seu universo. Quando querem saber algo, perguntam ao Google. Estão comprometidos apenas com as perguntas que fazem. Não se chocam acidentalmente com nada que estimule a pensar ou a imaginar. Às vezes em nossa profissão, você não precisa fazer perguntas. Basta ir às ruas e olhar as pessoas. É aí que você descobre a vida como ela realmente é vivida.”
A crítica de Talese, algo precipitada e injusta com o jornalismo digital, é um diagnóstico certeiro da crise do jornalismo impresso. Os jornais perdem leitores em todo o mundo. Multiplicam-se as tentativas de interpretação do fenômeno. Seminários, encontros e relatórios, no exterior e aqui, procuram, incessantemente, bodes expiatórios. Televisão e internet são, de longe, os principais vilões. Será? É evidente que a juventude de hoje lê muito menos. No entanto, como explicar o estrondoso sucesso editorial do épico “O Senhor dos Anéis” e das aventuras de Harry Potter? Os jovens não consomem jornais, mas não se privam da leitura de obras alentadas.
O recado é muito claro: a juventude não se entusiasma com o produto que estamos oferecendo. O problema, portanto, está em nós, na nossa incapacidade de dialogar com o jovem real. Mas não é só a juventude que foge dos jornais. A chamada elite, classes A e B, também tem aumentado a fileira dos desencantados. Será inviável conquistar toda essa gente para o mágico mundo da cultura impressa? Creio que não. O que falta, estou certo, é realismo e qualidade.
Os jornais, equivocadamente, pensam que são meio de comunicação de massa. E não são. Daí derivam erros fatais: a inútil imitação da televisão, a incapacidade para dialogar com a geração dos blogs e dos videogames e o alinhamento acrítico com os modismos politicamente corretos. Esqueceram que os diários de sucesso são aqueles que sabem que o seu público, independentemente da faixa etária, é constituído por uma elite numerosa, mas cada vez mais órfã de produtos de qualidade.
Num momento de ênfase no didatismo e na prestação de serviços - estratégias úteis e necessárias-, defendo a urgente necessidade de complicar as pautas. O leitor que precisamos conquistar não quer o que pode conseguir na TV ou na internet. Ele quer qualidade informativa: o texto elegante, a matéria aprofundada, a análise que o ajude, efetivamente, a tomar decisões.
A receita de Talese demanda forte qualificação profissional. “A minha concepção de jornalismo sempre foi a mesma. É descobrir as histórias que valem a pena ser contadas. O que é fora dos padrões e, portanto, desconhecido. E apresentar essa história de uma forma que nenhum blogueiro faz. A notícia tem de ser escrita como ficção, algo para ser lido com prazer. Jornalistas têm de escrever tão bem quanto romancistas”. Eis um magnífico roteiro e um formidável desafio para a conquista de novos leitores: garra, elegância, rigor, relevância.
O nosso problema, ao menos no Brasil, não é de falta de mercado, mas de incapacidade de conquistar uma multidão de novos leitores. Ninguém resiste à matéria inteligente e criativa. Em minhas experiências de consultoria, aqui e lá fora, tenho visto uma florada de novos leitores em terreno aparentemente árido e pedregoso. O problema não está na concorrência dos outros meios, embora ela exista e não pode ser subestimada, mas na nossa incapacidade de surpreender e emocionar o leitor.
Os jornais, prisioneiros das regras ditadas pelo marketing, estão parecidos, previsíveis e, conseqüentemente, chatos. A revalorização da reportagem e o revigoramento do jornalismo analítico devem estar entre as prioridades estratégicas. É preciso seduzir o leitor com matérias que rompam com a monotonia do jornalismo declaratório. Menos Brasil oficial e mais vida. Menos aspas e mais apuração. Menos frivolidade e mais consistência.
Além disso, os leitores estão cansados do baixo-astral da imprensa brasileira. A ótica jornalística é, e deve ser, fiscalizadora. Mas é preciso reservar espaço para a boa notícia. Ela também existe. E vende jornal. O leitor que aplaude a denúncia verdadeira é o mesmo que se irrita com o catastrofismo que domina muitas de nossas pautas.
Perdemos a capacidade de sonhar e a coragem de investir em pautas criativas. É hora de proceder às oportunas retificações de rumo. Há espaço, e muito, para o jornalismo de qualidade. Basta cuidar do conteúdo. E redescobrir uma verdade constantemente reiterada pelo jornalista Ruy Mesquita: o bom jornalismo é “sempre artesanato.”

sábado, 11 de julho de 2009

Seis meses de Obama: sinais esperançosos de vanguarda

Por Murillo Victorazzo
Ele foi eleito, ano passado, presidente da maior potência mundial sob um desejo de mudança e a esperança de um novo modo de se fazer política como, não é arriscado dizer, nunca se viu. Por sua origem, pelo que representa na luta contra preconceitos e como símbolo do american dream e por suas idéias, contrastantes com os oito anos do fundamentalismo neoconservador de George W.Bush, a administração de Barack Obama, que completa quase seis meses, está sendo e continuará a ser monitorado por atentos e ansiosos olhos da opinião pública norte-americana e mundial. (foto: O Globo on line)
De certo, os mais idealistas, em algum grau, se decepcionarão com ele, posto que a realpolitik cobra um preço caro àqueles que nela entram. A expectativa é tão grande que qualquer degrau abaixo que ele descer será visto como frustração. No entanto, em que pese algumas indefinições práticas sobre o que será feito da economia norte-americana e da política externa daquele país, algumas sinalizações merecem aplausos.
Não surpreende que a popularidade de Obama internamente tenha tido alguma queda, como mostram as recentes pesquisas. Um governo é principalmente avaliado por sua condução na economia. E, neste aspecto, o ambicioso plano de reestruturação financeira e os estímulos fiscais demoraram, caso venham dar certo, a render frutos. Ademais, para a parcela mais à direita dos republicanos, qualquer intervenção estatal soa como sacrilégio à religião do livre-mercado.
No front externo, porém, é que aparecem algumas mudanças - ainda que algumas apenas retóricas ou incipientes - que parecem dar razão àqueles que veem Obama como, não só uma novidade, mas uma liderança de vanguarda de fato. Os "liberals" norte-americanos certamente estão angustiados com mudanças menos radicais ou lentas. Os "falcões", por outro lado, vendem o discurso que o democrata está baixando a guarda para os inimigos dos interesses nacionais dos Estados Unidos. É sempre assim: qualquer moderação propicia críticas provenientes de ambos os lados.
Não deixam de ser auspiciosas as mudanças de posições do novo governo democrata em três áreas. Aqui na América Latina, Obama, ao praticar a "política das mãos esticadas", parece complicar o discurso antiamericano de Chávez. Ao mostrar-se disposto ao diálogo, impede a velha retórica do "imperialismo", que o líder venezuelano ameaçou usar logo que o presidente hondurenho Manuel Zelaya foi deposto.
Chávez tentou acusar os Estados Unidos de participação no golpe, mas ao repudiá-lo com veemência, Obama chamou para si o papel de legítimo defensor da democracia. Principalmente, reconhecendo que os Estados Unidos "nem sempre estiveram do lado certo" na região. A recusa da secretária de Estado, Hillary Clinton, em receber o governo golpista e a valorização dada pelo país à OEA são emblemáticas. Tais posturas favorecem uma aproximação com os países da região que historicamente sempre foi zona de influência norte-americana.
Infelizmente alguns mais radicais não percebem que estender a mão não significa aliar-se ao inimigo. Ao contrário, retira dele a retórica do Davi contra o Golias unilateralista. Assim também é no delicado Oriente Médio. Ao discursar para os iranianos, sinalizando querer criar laços de diálogos, algo inimaginável antes, é um pequeno, porém esperançoso passo. De novo, complica a retórica de "vítima" do presidente iraniano. Quanto mais Obama mostrar-se multilateralista, mais obrigará Mahmoud Ahmadinejad a dar algum passo convergente.
Muito embora Ahmadinejad tenha acusado os Estados Unidos de fomentarem as manifestações contrárias a sua fraudulenta reeleição, foi nítida a cautela com que Obama atuou no caso. Evitou acusar a fraude, explicitando principalmente o temor pela escalada de violência e restrição aos direitos individuais do povo iraniano. Fica-se a imaginar a virulência complicadora que seria o discurso caso o neoconservadorismo ainda morasse na Casa Branca. Uma posição que só acirraria os ânimos na conturada relação entre os dois países e que favoreceria o iraniano.
Não há dúvida que uma atitude mais invasiva dos Estados Unidos ajudaria apenas Ahmadinejad a trazer para si uma parte do eleitorado oposicionista. Não esqueçamos que, até agora, não se pôs em dúvida o regime islâmico em si, e o dedo invasor do "imperialismo" mexeria com os brios nacionalistas e religiosos da população iraniana.
Por último, esta semana, outra sinalização de que um líder com pensamentos oxigenado, apesar das restrições que o arcabouço político interno dos Estados Unidos lhe põe, era fundamental nas discussões sobre meio-ambiente. Ao contrário de Bush, que sempre negou a gravidade da questão e a relegou a segundo plano, recusando-se a ratificar o Protocolo de Kyoto, Obama vem fazendo dela parte fudamental de sua agenda.
A lei enviada ao Congresso e aprovada na última semana de junho, que impõe metas na emissão de gases do efeito estufa, é uma vitória de Obama e de seu país. O objetivo é cortar as emissões (tendo como base o que foi registrado em 2005) em 17% até 2020, introduzir um sistema de comércio de créditos de carbono e forçar a mudança do uso de combustíveis fósseis para fontes renováveis.
Como não poderia deixar de ser, a direita republicana foi a principal opositora à lei, com o argumento retrógrado e ardiloso de que tirará empregos dos norte-americanos. Um raciocínio, no mínimo, raso, incapaz de ver alguns palmos à frente de seus olhos obtusos. Infelizmente, a vanguarda não é unânime nem mesmo no Partido Democrata, como mostra o apertado placar de votação entre os deputados.
Na última semana, Obama mostrou no campo externo igual viés. Legitimado pela atuação interna, ele fez com que a reunião do G-8 com o G-5, em Áquila, Itália, marcasse uma mudança significativa no papel representado pela maior potência do mundo. Refletindo seu discurso nas eleições de que a liderança norte-americana deve ser reconquistada pelo exemplo que dá e não pela imposição, Obama foi protagonista na busca por acordos sobre a mudança climática.
Ainda que os resultados tenham sido tímidos, até pela disfuncionalidade do G-8 na conjutura atual, a ausência forçada da China no meio das discussões e a falta de consenso entre os emergentes, o encontrou resultou em primeiros passos, tais como o comprometimento em evitar que a temperatura mundial se eleve em mais que 2ºC. Não se conseguiu acordos concretos sobre a meta de corte de emissão de gases estufas e a maneira como chegar a ela, a ponto da ONU considerá-los "insuficientes" e ONGs criticarem fortemente o resultado do encontro.
Uma situação que ratifica o consenso de que, sozinhos, por mais forte que sejam, hoje, os Estados Unidos não conseguem resolver os dilemas do mundo - mesmo com um presidente disposto a enfrentá-los. Não obstante, a atitude vanguardista de Obama é imprenscidível para os próximos passos, como o encontro da ONU em Copenhague, Dinamarca, em dezembro.
Ainda é cedo para se avaliar Obama. Algumas questões, como sua estratégia concreta para o Afeganistão e a questão palestina, estão em aberto. E a eficácia e o manejamento de sua política externa serão em muito influenciados pelas eleições legislativas de 2010. Mas as sinalizações são promissora. Pode-se dizer que mudanças não foram a nível esperado por alguns, mas se teria que ser muito maniqueísta para negar que já foram vistos alguns passos para esse caminho ainda não suficientemente nítido.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Imagem é tudo


Pode-se escrever linhas, caracteres, laudas sobre como as novas tecnologias têm sido poderosas armas contra ditadores ou proto-ditadores, qualquer que seja seu espectro ideológico. Mas um dos chavões mais tradicionais do jornalismo, aquele que diz que "uma imagem vale mais do que mil palavras", cabe perfeitamente no tocante à foto acima. (foto:internet)
Os que sonham com um mundo sem obscurantismo, dogmas, cerceamento dos direitos individuais, democracia adoram esse "ratinho". Não há ratoeira que dê conta dele, Ahmadinejad, Castro e Chávez! Fica-se a imaginar como os generais brasileiros lidariam com a internet...Mas, graças a Deus, hoje isso é apenas um exercício do contrafactual!

Dois anos do RIO 2007...Inesquecível!

Certamente ser repórter do site oficial dos Jogos Pan-Americanos RIO 2007 foi a experiência mais empolgante e marcante que tive no jornalismo esportivo. Ver de perto um evento histórico na minha cidade, conhecer outros amigos jornalistas, brasileiros e estrangeiros, sentir a adrenalina que era o corre-corre de cobrir um evento aqui, pegar o ônibus reservado para a imprensa e ir para outro local na cidade atrás de matéria, com um lap-top na mão...Tudo deixou um gosto de quero mais. Como integrante da imprensa do Comitê Organizador dos Jogos (CO-Rio), tinha que ser jornalista "chapa branca", mas, sem dúvida, foi o único - e mínimo - senão. (foto: O Globo on line)
Os Jogos foram abertos dia 13 de julho, no Maracanã. Boa parte da equipe do site http://www.rio2007.org.br/, porém, começou a trabalhar um mês antes. Eu iniciei uma semana antes. Segunda-feira, dia 9 de julho, já estava no Centro de Imprensa do RioCentro. Para relembrar, a primeira matéria que fiz, naquele dia:

Brasil quer aproveitar RIO 2007 para divulgar o badminton no país
Por Murillo Victorazzo
Os XV Jogos Pan-Americanos Rio 2007 serão a grande chance para o badminton brasileiro passar a ser mais conhecido no país. Conscientes das dificudades que terão nos Jogos, os treinadores das equipes masculina e feminina, Luis de França e Vera Mastrascusa, reconhecem que as grandes favoritas a medalhas são os Estados Unidos e oCanadá. E que Peru e Guatemala têm também boas chances de subirem ao pódio.

Nada, porém, que faça eles e seus oitos atletas - quatro homens e quatro mulheres - desanimarem. Todos garantem que será um incentivo e um privilégio inédito contar com uma torcida tão grande a seu favor e participar de um evento de alto nível. "A estrutura é de nível de campeonato mundial", elogia o atleta Paulo Scala, com a experiência de campeonatos mundiais e europeus disputados pela seleção da Suíça.

Filho de uma suíça e de um austríaco, ele morou cinco anos naquele país. Voltou ao Brasil para ser campeão brasileiro em 2003, 2005 e 2006. É atualmente o número um do ranking brasileiro. "Independente da torcida, só podemos pensar no jogo. Mas ter a torcida a nosso favor e nessa dimensão será uma coisa única", afirma. Seu companheiro de equipe Guilherme Kumasaka é outro que não nega o entusiasmo de participar dos Jogos. "Só na hora que vou saber o que sentirei, como será ter essa energia toda conosco. Nunca tive a experiência de um ginásio cheio a favor", conta.

Para Gilberto Nogueira, chefe da equipe brasileira, a repercussão dos Jogos no Brasil, por ser ele a sede do evento, será fundamental para divulgação do badminton no país. "Temos que aproveitar essa chance única. A imprensa tem muita força. Já será uma conquista termos dois minutos na televisão. Prefiro até que continuem chamando a peteca de volante, que é o nome oficial, para popularizar o esporte", brinca.

Ele ressalta que o esporte chegou ao Brasil em 1984 apenas. "A Confederação Brasileira foi criada somente em 1993", frisa. Paulo e Guilherme, assim como os demais seis jogadores, são atletas amadores. Paulo trabalha na Câmara de Comércio Brasil-Suiça, e Guilherme é arquiteto.

Segundo Luis de França, um dos motivos da equipe brasileira não ser favorita é o estágio de profissionalismo das demais seleções. "Das equipes médias e grandes, a brasileira é a única amadora. De qualquer modo, vamos joar para ganhar. Não há adversário imbatível", garante o treinador.

Sônia também reconhece que suas atletas estão em um nível abaixo das favoritas. "Estados Unidos e Canadá estão bem a frente dos outros. No feminino, ainda mais. As canadenses são muito fortes e experientes. Nas simples, as peruanas podem surpreender", afirma. Sobre até onde o Brasil pode ir, ela é enfática: "Vai depender do sorteio. Se cruzarmos logo com Canadá e EUA, fica difícil. Se não, podemos ter chances".

quinta-feira, 9 de julho de 2009

G5 e G8 chegam a acordo sobre metas climáticas e liberalização da economia

Do UOL Notícias (09/07/2009)
Líderes do G8 e do G5 entraram em acordo e estabeleceram metas climáticas e o prazo para concluir as negociações sobre a liberalização do comércio mundial até 2010. Pelo acordo, realizado no segundo dia do encontro de cúpula em L'Áquila, na Itália, os países terão que reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa em 80% até 2050 e, nesta mesma data, limitar o aquecimento global em até 2ºC acima dos níveis pré-industriais.
Índia e China, que integram o G5 ao lado de Brasil, México e África do Sul, resistiam em aceitar as propostas, mas cederam. Indonésia, Coreia do Sul, Austrália e Egito, que se associou ao G5, deram aval ao acordo, que deve orientar a conferência internacional do clima, marcada para o final do ano em Copenhague, na Dinamarca.
Os países, no entanto, não citaram medidas concretas para que as metas sejam alcançadas, nem anunciaram qualquer tipo de ajuda econômica para que países em desenvolvimento consigam alcançar os objetivos. Também não foram estabelecidos metas a curto prazo.
Com relação à liberalização da economia, os líderes do G8 e G5 comprometeram-se a resistir ao protecionismo e a definir até 2010 as negociações da Rodada de Doha, cujo propósito é eliminar direitos aduaneiros e reduzir os subsídios agrícolas nos países ricos.
Os países não chegaram a uma decisão sobre fixar prazos para que o Irã interrompa seu programa nuclear. Uma posição sobre esse assunto só será tomada na próxima Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Como é confortante ler análises inteligentes e racionais...

Por Murillo Victorazzo


Basta ler algumas opiniões de leitores em jornais e blogs para lamentar e ter certeza de que saber ler e ter nível superior não são, infelizmente, sinônimos de inteligência e racionalidade no entendimento de fatos complexos. Maniqueísmos, simplismos, ilações fantasiosas e teorias conspiratórias encontram nesses espaços terreno fértil. Conhecimentos superficiais e cegueira doutrinária misturam-se e resultam, quase sempre, em comentários dogmáticos e até pedantes, como se fossem eles os donos da verdade e as relações internacionais, algo tão simples de se entender.

Política por si só é um assunto que desperta paixões. No entanto, tal sentimento não deveria levar as pessoas a transformarem cegamente suas ideias em dogmas e radicalismo, como se o mundo fosse preto ou branco. Para direitistas radicais, "comuna" tem que ser preso e quem se posiciona contra o golpe em Honduras é "chavista". Preferem minimizar a posição da secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, da ONU, da OEA, e até da União Europeia, que tem com alguns de seus principais líderes os direitistas Nicolás Sarkozy e Silvio Berlusconi. É melhor para suas fé cegas afirmarem que ser contra o golpe é defender o famigerado Foro de São Paulo.
Para setores de uma esquerda binária, o golpe foi uma conspiração de uma elite que odeia o povo e desejava tirar Zelaya do poder por ele estar beneficiando os pobres e implantar o "socialismo do século XXI" - seja lá o que isso queira dizer. Não importa a ameaça que mudanças em certas cláusulas constitucionais levam a democracias representativas. Ou a contradição que é acreditar que, se for pela "justiça social", regimes autoritários valem a pena. Ainda creem na "ditadura do proletariado" como antídoto à "democracia burguesa".

A sensação de um déjà vu anacrônico é inevitável. Parece que, para alguns, não se passaram 40 anos. Naquela época justificava-se tamanha polarização. Afinal, era difícil o mundo não ser visto sob cores pretas ou brancas - na verdade, azuis ou vermelhas...E o Brasil pagou um preço muito caro por causa dessa polarização internacional e cegueira ideológica interna. Hoje, chega ser risível, por exemplo, adjetivar Lula de marxista. É dada exagerada importância ao falastrão e projeto de ditador Hugo Chávez É um elemento desestabilizado? Sim. Mas seu poder não chega a tanto, ainda mais com o preço do barril do petróleo longe dos exorbitantes U$$100,00.


Ao invés de tentarem entender as posições dos líderes mundiais nesta crise a partir de princípios e regras que regem a ordem internacional, do jogo pragmático que há também por trás dela e de como funcionam as instituições internacionais que a regulam, preferem colocar tudo no saco de gatos ideológico e generalista de direita x esquerda. Seus radicalismos não permitem ver que mesmo esses termos têm nuances diferenciações. Se elogiamos a postura do Brasil no tocante ao golpe em Honduras, chamam-nos de petistas e levantam a "defesa" de Cuba perseguida pelos "comunas" de nosso governo.
Como diria o "filósofo", uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Elogiar a postura correta nesse caso, que é o que está em debate, não significa concordar com as contradições do governo brasileiro. Repudiar o golpe não leva necessariamente a apoiar as tendências continuístas de Zelaya. Criticar a maneira como ele foi expulso do país não é a mesma coisa que acreditar que ele não deveria ser julgador por prováveis crimes de responsabilidade.
Já se chegou ao cúmulo de dizerem que Obama é contra o golpe por ser de esquerda...Qualquer um moderado e instruído sabe que ser de esquerda nos Estados Unidos nada tem a ver com ser chavista...Beira o sacrilégio intelectual! Por essas que reconforta ler artigos inteligentes que exprimem nosso cansaço de mentalidades tão obtusas. Mais uma vez, o professor Mauricio Santoro acerta na mosca:
A Democracia Equilibrista
Por Mauricio Santoro (http://todososfogos.blogspot.com/, 07/07/2009)
No fim de semana eu conversava com um amigo sobre como o golpe em Honduras e os conflitos envolvendo Chávez trazem de volta cenas do radicalismo ideológico da Guerra Fria. Enquanto caminhávamos, fomos abordados por um rapaz que tentou nos vender o que alardeou como “um jornal comunista”. Caímos na risada diante do inesperado “como queríamos demonstrar”. Anedotas à parte, vivemos outra época, uma que abre possibilidades mais interessantes. A crise hondurenha ilustra os avanços e limitações deste novo cenário.
Começando pelos pontos positivos:
- Rejeição internacional unânime ao golpe, com atuação rápida da Organização dos Estados Americanos e cooperação das organizações financeiras internacionais (Banco Mundial e BID), que suspenderam os créditos ao país.
- Mudança de atitude do governo dos Estados Unidos, que condenou os golpistas - ao contrário do que fizera, por exemplo, na Venezuela em 2002 - e empreendeu esforços para negociar uma solução. Ainda assim, Washington não foi tão longe quanto latino-americanos e alguns europeus, que retiraram embaixadores e preconizaram sanções.

Aspectos negativos:
- O isolamento internacional dos golpistas não interrompeu a violência. Ao toque de recolher se seguiram outras medidas repressivas, como prisões ilegais, censura e mortes em manifestações de rua.
- Presença de consideráveis bolsões autoritários na opinião pública da região, com jornais de prestígio nos EUA e na América Latina defendendo o golpe como alternativa ao chavismo. O argumento mostra como a lógica da Guerra Fria continua forte. Como é difícil a consolidação de valores democráticos!
- Contradições entre as posições dos membros da OEA: em defesa da democracia em Honduras, com a suspensão do governo golpista, mas ao mesmo tempo votando pelo retorno de Cuba à organização, cometendo práticas autoritárias em seus próprios países, ou relevando-as em nações fortes. O problema afeta a vários atores envolvidos na crise – o que vale para Tegucigalpa não se aplica a Havana, Teerã ou Xinjiang.

Os golpistas hondurenhos apostam no prolongamento das negociações com a comunidade internacional, visando a evitar sanções econômicas (o país depende das remessas de emigrantes e da exportação de banana, café e têxteis) e se manter no poder pelo tempo necessário para organizar novas eleições e impedir o retorno de Zelaya.
No início da crise, analistas apontaram que os acontecimentos seriam uma vitória de Chávez e da ALBA. Essa posição foi defendida por inimigos do chavismo, que a usavam para criticar as ações do governo Obama, que julgaram negligente e fraco. A meu ver, o resultado foi outro e o golpe hondurenho tem mostrado os limites do projeto da ALBA: até os partidários de Zelaya temem a associação com Chávez e a polarização que seu nome desperta.
As bravatas sobre intervenção militar em Honduras se esvaziaram depois da exibição aérea no aeroporto da capital. Para desatar o nó do conflito, a intermediação dos Estados Unidos se mostra decisiva, o que indica o acerto da moderação adotada por Obama.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

EUA e Rússia fecham acordo sobre redução de arsenal nuclear

Da Agência Estado (06/07/2009)
Os presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama, e da Rússia, Dmitri Medvedev, assinaram nesta segunda-feira, 6, uma declaração conjunta por meio da qual prometem buscar um novo acordo de redução de seus arsenais nucleares em substituição ao START, de 1991, anunciou a Casa Branca. Ao mesmo tempo, a Rússia autorizou nesta segunda-feira o uso de seu espaço aéreo para o trânsito de tropas e armas dos Estados Unidos com destino ao Afeganistão, diz uma nota sobre os acordos selados nesta segunda, durante a primeira visita oficial de Obama à Rússia.
Os acordos militares e uma série de outro convênios foram anunciados depois de Obama e Medvedev se reunirem por cerca de quatro horas no Kremlin na tarde desta segunda-feira. A meta do futuro acordo referente aos arsenais atômicos estratégicos será reduzir o número de ogivas nucleares mantidas pelos dois países a algo entre 1.500 e 1.675.
"Os presidentes assinaram uma declaração conjunta de entendimento para um acordo para suceder o START por meio do qual ambas as partes se atenham a um tratado com força de lei para reduzir os arsenais nucleares", diz a nota da Casa Branca. "Um acordo sucessor do START sustenta diretamente os objetivos delineados pelo presidente (Obama) durante seu discurso em Praga e demonstrará a liderança de Estados Unidos e Rússia na implementação do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP)", prossegue o documento.
O START e o chamado Tratado de Moscou, ambos atualmente em vigor, limitam os arsenais atômicos estratégicos dos dois países a 2.200 ogivas. A validade do START expira em dezembro. Os dois líderes assinaram também outros sete acordos, entre eles um pelo qual Rússia permitirá a passagem por seu território de mantimentos para as tropas americanas no Afeganistão. Também decidiram trabalhar na cooperação contra a proliferação nuclear e na criação de uma comissão bilateral que será responsável por coordenar as medidas dos dois países em âmbitos como o combate ao terrorismo e ao narcotráfico, e a energia e o meio ambiente.
Medvedev sugeriu a criação de um escudo antimísseis capaz de proteger todos os países do mundo. A proposta foi uma resposta à declaração de Obama sobre a disposição dos EUA de colaborar com a Rússia na instalação de um escudo antimísseis contra possíveis ataques de outros países. "O número de ameaças, inclusive as relacionadas a mísseis balísticos e de médio alcance, infelizmente não diminui. Cresce e todos devemos pensar na configuração que poderia ter um sistema antimíssil global", declarou Medvedev.

Neste sentido, destacou o acordo entre as partes de examinarem juntas os armamentos ofensivos e defensivos de que dispõem. "Chegamos a um acordo sobre o nível máximo tanto para (mísseis) portadores como ogivas. Também combinamos que os armamentos ofensivos e defensivos de ambas as partes serão examinados em conjunto", disse o presidente russo.

O plano americano de instalar um escudo antimísseis na Europa, disse Medvedev, "é um tema bastante complicado para as conversas" de agora. Porém, as partes deram um "passo adiante" nesta segunda-feira, ao constatarem a "relação recíproca entre armamentos ofensivos e defensivos". "Até pouco tempo atrás, as divergências nestas questões eram totais", ressaltou o chefe de Estado russo, para quem o novo enfoque permite "avanços na aproximação de ambas as posições".

Foi dada a largada para o carnaval 2010. E o grande dia é domingo!

Por Murillo Victorazzo

Já diz a expressão popular que malandro - no bom sentido - não para, dá um tempo. Assim também são as escolas de samba. Os que não acompanham o carnaval carioca com mais afinco pode pensar elas só funcionam entre janeiro e fevereiro. Puro engano. Na verdade, recesso mesmo costuma haver apenas entre março e abril. Depois, começa tudo de novo: escolha de enredo, distribuição de sinopses para as alas de compositores, lançamentos de protótipos e escolhas de samba-enredo. Quando se vê, já estamos em outubro, e o ritmo começa a engrenar nos barracões. Isso sem falar dos trabalhos sociais que muitas delas desenvolvem, shows, parcerias etc.

No último dia 30, a Liga Independente das Escolas de Samba (LIESA) já realizou, na Cidade do Samba, o sorteio da ordem dos desfiles das escolas do Grupo Especial do próximo carnaval. Ficou decidido que no domingo, 14 de fevereiro, se apresentarão: União da Ilha do Governador, Imperatriz Leopoldinense, Unidos da Tijuca, Viradouro, Salgueiro e Beija-Flor de Nilópolis. Na segunda-feira é a vez de: Mocidade Independente, Porto da Pedra, Portela, Grande Rio, Vila Isabel e Mangueira. (foto: O Dia na Folia)
Para manter o equilíbrio entre os dois dias de desfiles, as escolas são divididas em pares e, dentro desses, sorteiam-se os dias. Posteriormente, faz-se o sorteio da ordem de apresentação. O regulamento prevê que, após o sorteio, as agremiações têm 10 minutos para negociarem uma troca de posição, dentro do dia previamente sorteado. Dessa vez, apenas Vila Isabel e Porto da Pedra acordaram suas posições.
Também já é previsto que a campeã do Grupo de Acesso do ano anterior (neste ano, a União da Ilha) abre o domingo de carnaval e a penúltima colocada do Grupo Especial (Mocidade Independente), a segunda-feira. Além disso, o plenário da LIESA já havia decidido que Beija-Flor e Mangueira encerrariam os desfiles, ficando para ser definido o dia.
Salgueirense desde criança, trabalhei três anos na assessoria de imprensa da Beija-Flor de Nilópolis, fazendo também o jornal mensal da escola. Apesar das dificuldades que é trabalhar nesse ramo, foi impossível não aprender a gostar das pessoas que realmente fazem aquela agremiação. Hoje não tem como ser diferente: confesso, é estranho, mas tenho duas escolas de coração! Sorte minha que são justamente as duas que se revezaram na primeira e segunda colocação nos dois últimos carnavais.
É lamentável que ainda permaneça no imaginário de alguns a visão de que essas agremiações são apenas divertimento, amadorismo ou até antro de malandragem, no pior sentido da palavra (não que não exista, mas assim como em vários outros setores de nossa sociedade). Elas empregam milhares de pessoas, geram dinheiro e dão imensurável autoestima àquelas pessoas. Ainda estão longe de serem exemplos de empresas profissionais, é verdade, mas progressivamente são vistos projetos melhor gerenciados.
Mais triste ainda é ver pessoas que nada conhecem do ramo querendo ditar regras casuisticamente, sem conhecer o passado do espetáculo. De qualquer modo, pelo sorteado, em 2010, é no domingo que o coração vai falar mais alto, numa estranha mistura de azul, vermelho e branco...Salve Nilópolis! Salve Salgueiro!


sábado, 4 de julho de 2009

2010: duelo de tratores

Por Murillo Victorazzo
Caso tenha sido exatamente como noticiado pela grande imprensa, a demissão do secretário-executivo do Ministério da Integração Regional, Luis Antonio Eira, terá sido o sinal mais claro do quão complicado é a personalidade da ministra da Casa Civil, Dilma Roussef. Não é novidade que sua relação com assessores ou correligionários sempre foi delicado, devido ao seu pavio extremamente curto. E que moderação verbal nunca foi uma de suas virtudes. No entanto, até então, nada havia causado constrangimentos maiores com aliados, a ponto do número dois de um ministério deixar o cargo em protesto contra o modo com que foi tratado.
Como "gerente" do governo, seu temperamento já complicava o relacionamento com a bancada governista e a burocracia. Agora, contudo, as consequências vão além. Se não bastasse sua total falta de carisma e retórica tecnicista e modorrenta, seu modo de ser, que resvala num certo autoritarismo, antipatia e grosseria, muito provavelmente será mais um senão em sua candidatura à Presidência da República.
Se já havia dificuldades em conquistar o apoio de todo o PMDB a ela, esse caso só vem a complicar a costura da aliança. Mais uma vez, caberá ao presidente Lula colocá-la nas costas e minimizar a situação. Em um momento de crise política no Senado, com o PT se estranhando com o presidente da Casa, José Sarney, qualquer faísca pode tornar-se um incêndio.
No entanto, tais características não se encontram apenas na candidata governista. Historicamente, o governador de São Paulo, José Serra, sempre foi tido como um "trator". Igualmente sem muito carisma e pouco afeito a amabilidades, ele também coleciona inimizades por seu estilo centralizador e seu modo áspero de fazer política.
Simpatia e docilidade serão palavras ausentes no dicionário eleitoral brasileiro do próximo ano, caso a personalidade de seus protagonistas imperem. Após eleições em que foram marcantes o carisma e o sorriso cativante de Luis Inácio Lula da Silva, a fleugma intelectual de Fernando Henrique ou até a insossa sobriedade de Geraldo Alckimim, 2010 parece que será uma disputa para se escolher qual elefante sabe andar melhor em uma cristaleira. Sorte nossa, pelo menos, que ter tais características não significa necessariamente apreciar golpes baixos em uma campanha.
De qualquer modo, a certeza é que teremos uma campanha presidencial bem diferente das vistas desde a redemocratização, no tocante ao potencial de cativar os corações do eleitorado. Exceto pela figura de Lula como cabo eleitoral, parece que os candidatos terão que conquistar votos somente pela razão e pelo que representam. Se depender de simpatia e simbolismo, Dilma e Serra competirão para saber quem consegue maquiar-se melhor. Para o quadro ficar completo, só falta Ciro Gomes e sua "sutileza" entrarem no jogo...

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Mengão de roupa nova

Do site LANCENET (01/07/2009)
O Flamengo revelou nesta quarta-feira os seus novos uniformes, que serão fornecidos pela Olympikus, empresa que fechou parceria até o fim de 2013 com o clube. A cerimônia divulgou o resultado da pesquisa na internet que elegeria o número de Adriano. O Imperador usará a camisa 9. Para fazer suspense, o atacante entrou com uma camisa com a interrogação nas costas, mas logo a tirou para exibir o número 9. Ibson desfilou com a nova camisa branca. O goleiro Bruno apresentou os modelos que usará durante os jogos. Marcelinho Duda apresentaram as camisas de basquete do Flamengo. (foto: Lancenet)
O novo patrocinador deve investir cerca de R$ 170 milhões durante o período de contrato com o Flamengo A parceria teve início em maio de 2008, quando o departamento de marketing do clube colocou as três interrogações no uniforme enquanto não lançava seu modelo da Olymipkus.
O Flamengo rompeu com a Nike de forma unilateral. No entanto, a Nike buscou seus direitos na Justiça e fez valer o cumprimento de seu vínculo até o fim. O Flamengo terá alguns benefícios a mais com o convênio com a Olympikus. O clube terá lojas temáticas em estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Além disso, um museu do clube será lançado na Gávea. A ideia é o que a inauguração seja feita no dia 15 de novembro, dia do aniversário rubro-negro.
O site da Olympikus transmitiu ao vivo a apresentação dos uniformes, que foi liderada pelo cantor Gabriel O Pensador. A cerimônia não contou com a presença do presidente Marcio Braga, que voltou a sentir-se mal e ganhou mais 30 dias de licença.

Mais polêmica: PEC dos Jornalistas é apresentada

Da Redação do site Comunique-se (01/07/2009)
A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que institui a obrigatoriedade do diploma de Jornalismo para o exercício da profissão será apresentada à Mesa Diretora do Senado nesta quarta-feira (01/07), às 18h. O senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), autor da proposta, conseguiu o apoio de 50 dos 81 parlamentares. O mínimo exigido para a apresentação da PEC é de 27 assinaturas.
Após a apresentação, a PEC dos Jornalistas, como a proposta está sendo chamada, será encaminhada para a Comissão de Constituição e Justiça. Caso seja aprovada, ela volta para o Plenário para votação em dois turnos. “A minha intenção não é a de confrontar o STF, mas sim a de buscar uma solução de consenso, que valorize o jornalismo profissional”, defende Valadares, fazendo referência à decisão do Supremo Tribunal Federal, que derrubou a exigência da formação superior para o exercício do Jornalismo.
A PEC acrescenta o artigo 220-A à Constituição, tornando o exercício da profissão de jornalista privativo do portador de diploma de curso superior em Comunicação Social, com habilitação em jornalismo. A proposta abre duas exceções para a atividade jornalística sem a graduação na área. O colaborador, que, “sem relação de emprego, produz trabalho de natureza técnica, científica ou cultural”; e o jornalista provisionado, que já possui registro profissional regular.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Mengão é bicampeão brasileiro de basquete. A tríplice coroa é nossa!

No domingo 28 de junho, o Mengão sagrou-se bicampeão brasileiro de basquete ao vencer o Brasília por 76 a 68, fechando a série em 3x2. Em se tratando de Flamengo, não poderia ser diferente: a HSBC Arena, em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio, estava lotada, com mais de 15 mil pagantes. O grande cestinha da partida, claro, foi Marcelinho, com 27 pontos. Somos os primeiros campeões do Novo Basquete Brasil (NBB), primeira liga profissional do esporte no país. Pelo visto, nossa sina é criar vices, seja lá em que esporte for: Vasco, Botafogo e agora Brasília!!!
Parabéns, Chupeta, Marcelinho, Duda, Baby e demais!Este time enche de orgulho a nação rubro-negra: tetracampeão estadual, bicampeão brasileiro e campeão da Liga Sul-Americana. Faturamos a tríplice coroa! "É meu maior prazer, vê-lo brilhar, seja na terra, seja no mar. Vencer, vencer, vencer, uma vez Flamengo, Flamengo até morrer". (foto: site oficial da Liga Nacional de Basquete - LNB)

Quando o maniqueísmo turva um debate

Por Murillo Victorazzo
Quando alguns radicais de direita vão perceber que a oposição unânime da comunidade internacional ao golpe em Honduras não tem nada a ver com defender Manuel Zelaya ou Hugo Chavez? A mente fundamentalista desses setores os impede de ver que o que se deplora são os métodos usados. E que abortar um mandato presidencial durante a madrugada, abruptamente, sem ritos processuais e direito de defesa, como previsto em qualquer Estado de Direito, apenas transforma um possível transgressor em vítima!
Não se trata de ser esquedista ou direitista, mas apenas evitar que se abram precedentes! A oposição hondurenha perdeu a legitimidade e a chance de se mostrar sincera defensora da democracia. Os dois lados perderam a razão, pois a institucionalidade deveria vir acima de tudo. Até mesmo ladrões comuns não podem ter suas casas arrombadas sem mandato judicial, durante a madrugada, muito menos por militares mascarados.
Obrigar um presidente - por pior que seja - a assinar sua renúncia e a sair de seu país não é defender a "ordem" ou a "Constituição". O resultado está aí: um pequeno país pobre isolado no mundo, unindo contra si Uribe e Chaves, Sarkozy e Morales, Berlusconi e Lula, Obama e Corrêa.
Excelente artigo de Mírian Leitão (O GLOBO, 02/07/2009) resume o caso:
Os neogolpes
As Américas fizeram tudo certo no caso de Honduras. Isolaram o governo golpista e exigiram a volta do presidente Zelaya ao poder. Inclusive os Estados Unidos. É fundamental derrotar o golpe, mas a crise de Honduras ilumina outros dilemas da democracia na América Latina. Há dificuldade em aceitar a alternância no poder; o caudilhismo tenta sobreviver; não há renovação da política.
O mais importante no caso de Honduras foi que, numa região assolada pelo golpismo, a resposta dos países e das instituições foi firme, granítica. Os Estados Unidos, que apoiaram os golpes na década de 70, e o governo Bush, que apoiou a tentativa de golpe contra Hugo Chávez, em 2002, ficaram no passado. Barack Obama alterou a rota da política externa e mudou o pêndulo. Em Tegucigalpa, os jornais admitiam já na segunda-feira que o autoproclamado governo de Honduras estava isolado.
O adiamento da volta de Zelaya abre espaço para uma solução negociada. O jornal hondurenho “El Heraldo” divulgou ontem nota das Forças Armadas dizendo que apenas cumpriram ordens judiciais. A operação desmonte do golpe incluiu a interrupção das atividades militares americanas na base que têm no país e a suspensão de empréstimos de organismos multilaterais a Honduras. Foi geral a reação aos golpistas. Um final feliz para esse tumulto só será completo se incluir um recuo de Manuel Zelaya da sua intenção de não cumprir o determinado pela Suprema Corte.
Há duas formas de conspirar contra a democracia. Uma é a tosca quartelada, própria dos anos 60, e que voltou a acontecer. A outra é fingir jogar o jogo democrático e ir dilapidando seus fundamentos como a independência dos poderes, a liberdade de imprensa, a alternância no poder. Mesmo que isso seja feito com plebiscitos, é conspiração contra a ordem democrática. Hugo Chávez representa esse segundo tipo de risco.
Evo Morales, Hugo Chávez, Rafael Correa, Álvaro Uribe, Fernando Lugo são atores novos da política latino-americana e chegaram ao poder pelo voto. Morales representa grupos que sempre estiveram marginalizados e precisam estar representados; Uribe enfrentou o problema da violência e do terrorismo e teve um desempenho inegável. Lugo representou uma força partidária nova no Paraguai. Chávez tentou entrar na política invadindo com um tanque o Palácio Miraflores, em 1991. Nunca foi um democrata. Depois de eleito conspira diariamente contra a democracia.
Os cinco poderiam representar uma renovação do poder, mas em menor ou maior grau caíram em tentação. Ou de mudar as regras para ficar no poder, ou de reproduzir os padrões viciados da velha política. O Brasil está fugindo do primeiro risco, mas não do segundo. Aqui, velhos políticos têm uma indesejável sobrevida, e o governo do PT, que prometeu ser uma renovação ética, aprofundou os vícios dos velhos métodos de fazer política e financiar campanhas. O PT levou ao paroxismo o aparelhamento da máquina pública.
Os jovens que chegam na política não representam necessariamente renovação. Alguns jovens que conquistam mandatos o fazem escalando ou manipulando movimentos sociais. Veja-se o caso do PCdoB que produziu caras novas para a política brasileira. Todos escalaram a UNE onde não há transparência na forma de escolha das lideranças, representatividade do movimento estudantil, nem pluralismo. Em vez de representar os estudantes, passou a ser centro de formação de candidatos do partido. Pela direita, jovens na idade conquistaram mandatos como se fossem capitanias hereditárias. São os filhos da oligarquia.
O derretimento da reputação dos políticos no Brasil é uma sombra que ameaça o futuro da democracia no país. O sistema político não tem sido capaz de dar uma resposta à altura do desafio. Reformas políticas são apresentadas como maravilhas curativas quando não passam de fórmulas para garantir o poder a quem já o tem. O país está precisando de mais do que a queda do presidente do Senado. Ela é bem-vinda, mas a conciliação com a opinião pública exige algo mais sólido.
A América Latina viu nos últimos anos uma forma insidiosa de ameaçar a democracia: as decisões autoritárias tomadas supostamente em nome do povo. Foi assim que Evo Morales fez uma constituinte a portas fechadas; que Chávez fecha emissoras de TV, estatiza empresas, arma milícias e se eterniza no poder. Zelaya seguia o mesmo modelo de fazer na marra o que a Suprema Corte rejeitara. Errou e foi redimido pelo golpe que, de tão obsoleto e absurdo, fez com que governos diferentes montassem um cerco de proteção ao mandato dele. Zelaya errará de novo se achar que foi respaldado na sua intenção de desrespeitar a Suprema Corte.
A melhor solução para Honduras será os dois lados se submeterem à Constituição do país. Isso criará anticorpos contra as velhas quarteladas e as novas manipulações institucionais. O desfecho do caso de Tegucigalpa vai além de Honduras. Ele pode mandar um recado aos velhos golpistas de que não tentem de novo, em país algum, algo parecido; e aos seguidores de Chávez de que a neoditadura também não é aceitável na região.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Mírense en el pasado, Cristina e Néstor!

O kirchnerismo parece estar com os dias contatos. Que os argentinos saibam fazer uma transição dentro da institucionalidade. Faltam dois anos para a sucessão na Casa Rosada. Os passados remoto recente devem servir de lição. Aprendam com nosotros, hermanos! A seguir sintético e elucidativo texto do jornalista e cientista político Mauricio Santoro, (http://www.todososfogos.blogspot.com/, 30/06/2009), meu professor no MBA de Relações Internacionais da FGV:
A Derrota dos Kirchner

As eleições legislativas da Argentina, ocorridas no domingo, marcaram a derrota dos Kirchner. O bloco político liderado pelo casal perdeu nas principais regiões do país e até em sua base tradicional em Santa Cruz. Com os resultados, dissolve-se a frágil maioria que tinham no Congresso, e pela primeira vez um governo peronista terá que lidar com um parlamento dominado pela oposição. Não é bom augúrio para os dois anos de presidência que restam a Cristina Kirchner, num cenário de turbulências econômicas, políticas e até epidemias de saúde pública – a gripe suína matou mais na Argentina do que em todos os demais países sul-americanos somados.
A oposição conservadora do Unión-Pro venceu na província de Buenos Aires com o empresário colombiano Francisco de Narváez. Dissidente do peronismo, ele se aliou ao prefeito portenho, Mauricio Macri, e concorreu com o slogan da “mudança” (veja o vídeo de campanha, abaixo, com a cortesia de sempre de Dom Patrício Iglesias). Conseguiu chegar num apertado primeiro lugar na província que historicamente é a base peronista. Lembra um pouco o que ocorreu em 2005, quando os Kirchner desbancaram os antigos caciques locais, o casal Duhalde.
A Unión-Pro também venceu na capital, o segundo maior colégio eleitoral do país – a cidade de Buenos Aires é um distrito eleitoral separado da província. Isso não surpreende, pois tradicionalmente o eleitorado portenho vota contrariamente ao governo federal. A oposição de centro-esquerda se saiu muito bem em Buenos Aires, com destaque para o Projeto Sul, novo movimento liderado pelo cineasta Fernando Solanas, que chegou em segundo lugar. Sua plataforma é um apelo nacionalista pela retomada do controle estatal sobre os recursos naturais da Argentina. Em terceiro ficou a veterana líder anti-corrupção, Elisa Carrió, pela coalizão Acordo Cívico-Social.
Em outras províncias importantes, como Córdoba, Santa Fé e Mendoza, o governo também sofreu derrotas graves, com freqüência chegando em terceiro ou quarto lugar entre os diversos candidatos. Foi uma claríssima mensagem de repúdio do eleitorado aos problemas dos governos dos Kirchner: autoritarismo, intransigência, conflitos políticos, má gestão da economia, manipulação dos índices oficiais de inflação. O clima pré-eleição foi tenso. Acompanhei por amigos argentinos e páginas do Facebook o receio de fraudes massivas. A votação foi calma, com poucos incidentes, mas os boatos mostram a intensidade da crise política no país.
Os jornais especulam sobre uma iminente reforma ministerial no governo Cristina. É difícil imaginar uma volta por cima dos Kirchner, diante de resultados eleitorais tão arrasadores. Nestor já renunciou à presidência do partido peronista. O que se coloca como necessidade primordial é a construção de um acordo de governabilidade, para evitar uma paralisia do processo de decisões do Estado que poderia gerar graves problemas na conjuntura da crise econômica. Precedentes como os das presidências de Alfonsín e De La Rua devem estar na cabeça de muitos cidadãos argentinos neste momento.

Honduras - Devolvam o poder a Zelaya!

Excelente comentário de Ricardo Noblat sobre o golpe militar em Honduras. Passou da hora de analisar-se política internacional sem maniqueísmos polarizantes e superficiais. O caso extrapola "chavismos" e "anti-chavismos" com que alguns mais paranoicos e radicais insisitem em simplificá-lo. Desta vez governos de todas as linhagem, OEA e ONU alinharam-se na mesma posição, com razão! Invoque-se a cláusula democrática da OEA, a fim de que evitemos abrir precedentes. Tal posição nada tem a ver com legitimar pretensões continuístas de Manuel Zelaya. Explica-se:
Por Ricardo Noblat (Blog do Noblat, O GLOBO on line, 01/07/2009)
Um regime que se pretende democrático há de dispor de mecanismos capazes de superar crises institucionais, dispensado o apelo às Forças Armadas - salvo em raros casos de convulsão popular ou de ameaça externa.Ou faltam tais mecanismos ao regime de Honduras ou eles foram deixados de lado quando o Exército, atendendo a uma decisão da Justiça, prendeu em casa no último domingo o presidente Manuel Zelaya e o deportou em seguida para a Costa Rica.
Zelaya planejava realizar naquele dia uma consulta popular sobre o direito de disputar um novo mandato. A Constituição hondurenha não prevê reeleição. Pelo contrário. O veto à reeleição é considerada uma cláusula pétrea. Que não pode ser revogada nem mesmo por dois terços dos votos do Congresso. O mandato presidencial é de quatro anos.
O Congresso foi contra a consulta. O equivalente ao nosso Supremo Tribunal Federal proibiu a consulta.Zelaya demitiu o ministro do Exército. Os ministros da Marinha e da Aeronáutica se demitiram. As cédulas e urnas para a consulta foram providenciadas por Hugo Chávez, presidente da Venezuela, a pedido de Zelaya. E o presidente hondurenho anunciou que promoveria a consulta por cima de pau e pedra.
Congresso e Justiça poderiam simplesmente ter declarado inválidos os resultados da consulta. E processado Zelaya por desrespeito à lei. E o retirado do poder, respeitado todos os ritos.
Ao ter a casa invadida por tropas e ser despejado de pijama na Costa Rica algumas horas depois, Zelaya passou da condição de alvo de um possível impeachment à de quem fora vítima de um golpe. Ganhou a solidariedade internacional. Promete desembarcar amanhã em Honduras onde poderá ser preso de imediato. Pesam contra ele 18 acusações.
Há um "ímpasse" difícil de ser contornado.("Ímpasse" é um impasse grave, segundo estabeleceu um vereador de Fortaleza ao discursar na Câmara Municipal nos idos de 60.)Mas o que manda o bom senso é que se devolva o poder a Zelaya, um presidente legitimamente eleito. E que depois ele seja processado se a Justiça assim o decidir.