quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Prêmio destaca o Rio como melhor destino da América do Sul (Amo muito tudo isso!)

Da Agência O Globo (11/11/2009)

O World Travel Award, um dos mais importantes prêmios do setor de turismo do mundo, considerou o Rio como o melhor destino da América do Sul. A premiação, que aconteceu no último sábado, em Londres, considerou ainda a Praia de Ipanema como a melhor de todo o continente sul-americano. Na lista de 27 categorias de destaque na América do Sul, o Brasil aparece em outras 11 categorias, incluindo o melhor South hotel (Copacabana Palace).

domingo, 25 de outubro de 2009

Sobre as diferenças que igualam governo e oposição

Por Josias de Souza (http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/ )
Como distinguir um oposicionista de um governista, no Brasil? No passado longínquo, era fácil. O governo vestia farda. No passado recente, também era simples. A oposição usava barba. Só mais recentemente a barba foi aparada e perdeu o significado ideológico.

Pelas companhias? Impossível. O líder do governo –qualquer governo— é o Romero Jucá. A governabilidade está sempre nas mãos do PMDB. Pelo discurso? Não dá. Todo mundo é a favor da felicidade, dos investimentos sociais e da estabilidade econômica. Todos contra a corrupção, o câncer e o chope quente.

Também não adianta recorrer a testes pseudocientíficos. Experimente atirar um governista e um oposicionista num tanque com água. A massa de ambos vai se deslocar no líquido de modo semelhante no líquido. Os dois vão espernear do mesmo jeito.

Graças a essa indistinção, soaram estranhas as críticas feitas pela oposição, nesta quinta (22), à entrevista que Lula deu ao repórter Kennedy Alencar. A certa altura da conversa, instado a comentar o laxismo ético da coalizão política que o cerca, Lula disse: "Se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão".

Rodrigo Maia (RJ), presidente do DEM, disse que Lula conduz “um governo pragmático que, para garantir sua sustentação, faz aliança até com o pior traidor". Presidente do PPS, Roberto Freire (PE) ecoou Maia: "A comparação com Jesus Cristo e Judas, para quem é católico como ele e cristão, como boa parte da população brasileira, é uma violência...”

Violência “...para justificar todas as bandalheiras e traições que permitiu que se fizesse em seu governo”. Vice-líder do PSDB, Álvaro Dias também subiu no caixote: "Há uma relação de promiscuidade entre o presidente e os partidos que o apóiam”.

Beleza. O diabo é que FHC, assim como Lula, também se entregara, com despudor inaudito, às relações partidárias hetedodoxas. Nascido de uma dissidência supostamente ética, o PSDB contribuiu decisivamente para o esfarelamento moral que toma o país de assalto.

Nem nos seus piores pesadelos, os brasileiros esclarecidos supunham que FHC e suas alianças exóticas produziriam cenas como aquelas de abril de 2000. Uma imagem na qual ACM e Jader aparecem se xingando de ladrão no plenário do Senado. Àquela altura, os dois eram aliados de cinco anos do tucanato.

Do mesmo modo, a esquerda dita socialista jamais imaginara que Lula, seu melhor representante, fosse presidir uma aliança como a atual. Uma coligação que dá prontuário novo a Jader. E que santifica de Renan (ex-ministro de FHC), a Sarney, passando por Collor.

De duas uma: ou FHC e Lula não estiveram à altura das suas oportunidades ou os tempos não estiveram à altura dos dois. Nesse ambiente, caberia ao eleitor distinguir o Cristo do Judas. Mas 20 anos de democracia não conseguiram produzir no Brasil o eleitorado consciente. Por ora, o brasileiro frequenta o enredo da peça no papel de bobo necessário à preservação da pantomima.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O que explica Rio-2016? A vocação inata do Brasil para a felicidade

Por Juan Arias (El País, 14/10/2009)
O fato de o Rio de Janeiro ter ganhado a disputa para hospedar os Jogos Olímpicos de 2016, deixando para trás cidades de grande prestígio como Madri, Chicago e Tóquio, já foi analisado de todas as formas. Tudo foi dito. Que a América do Sul já merecia uma Olimpíada. E é verdade. Que o Brasil é hoje a potência econômica emergente da região. Também é verdade, assim como que boa parte da vitória se deveu à enorme popularidade mundial do carismático ex-metalúrgico e hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E com ele a atuação do deus do futebol, Pelé, e do mago carioca Paulo Coelho, que soube ganhar a simpatia das mulheres dos delegados do Comitê Olímpico Internacional (COI), as quais convidou para jantar em um restaurante em Copenhague, em um clima de felicidade brasileira. Ou terão sido só as imagens das belezas únicas da mágica cidade carioca? Também, mas não só.
Existe outro elemento pouco destacado, que é a vocação inata do Brasil e dos brasileiros para a felicidade, que acaba se irradiando internacionalmente, contagiando o mundo. Se houvesse sido feita uma pesquisa nacional, teria aparecido que nesse dia 100% dos brasileiros se sentiram felizes quando o presidente do COI abriu o envelope e apareceu Rio de Janeiro como vencedora da competição para realizar os Jogos Olímpicos de 2016. Os brasileiros, que gozam de uma formidável coesão nacional, estão sempre abertos para acolher qualquer motivo para ser felizes. E abrigar os jogos lhes causou orgulho e felicidade. E não escondem isso - outra característica do brasileiro.
Em minha primeira entrevista com a atriz de cinema e teatro Fernanda Montenegro, quando cheguei ao Brasil, há dez anos, ela me disse algo que nunca esqueci e que mais tarde pude tocar com a mão: "A diferença entre um europeu e um brasileiro é que o brasileiro não se envergonha de dizer que é feliz, e o europeu, sim".
Qualquer um que passa pelo Brasil, por turismo ou trabalho, sente-se rapidamente capturado pela cordialidade, a exuberância afetiva, o acolhimento alegre de sua gente, do norte ao sul do país. "É que com os brasileiros não se pode brigar, porque sorriem até quando você fica nervoso", me disse um correspondente argentino. É verdade. A vocação do brasileiro é mais para a paz, a amizade, o entendimento mútuo, o desejo de agradar, do que para a guerra ou a disputa. E então, o que acontece com a violência que mata no Brasil mais que em outros países? Não é uma violência brasileira, mas produzida pelo câncer do tráfico de drogas.
A melhor arma do brasileiro continua sendo o sorriso. O catedrático de estética da Universidade do Rio Isaías Latuf foi indagado em plena na rua em Buenos Aires se era brasileiro. "Como percebeu?", ele perguntou. E a resposta foi: "Por seu sorriso".
Segundo uma pesquisa realizada em 2008 em 120 países pelo Instituto Gallup e apresentado pela Fundação Getúlio Vargas, a felicidade do brasileiro é superior a seu PIB. O jovem brasileiro aparece com uma avaliação da felicidade superior à média mundial. O estudo revela que os jovens brasileiros entre 15 e 29 anos apresentam maior esperança de ser felizes nos próximos cinco anos do que os jovens do resto do mundo. E essa esperança de felicidade alcança 9,29%.
Os psicólogos tentaram analisar esses dados. Como é possível que os jovens de um país que aparece somente no 52º lugar no índice mundial de renda se sintam os mais felizes do planeta? O psicólogo Dionisio Benaszewski atribui isso ao fato de que, segundo a mesma pesquisa, os jovens brasileiros valorizam mais a felicidade do que o trabalho ou o dinheiro. Se há algo que de fato eu constatei no Brasil é que a maioria dos cidadãos, até os mais pobres, não vivem para trabalhar; trabalham para viver e para viver felizes. É quase impossível conseguir que alguém queira trabalhar em um domingo, mesmo ganhando o dobro. Costumam dizer: "Ah, não, domingo não dá".
Segundo Benaszewski, existe outro elemento gerador de felicidade no Brasil, que é causado pelas boas relações existentes entre membros da família e entre vizinhos. Aqui a rede de solidariedade, sobretudo entre os mais pobres, é formidável. Um exemplo disso são as favelas do Rio, que entre elas se chamam de "comunidades". E o são. O elemento afeto nas relações e o afã por ajudar-se mutuamente nas adversidades, ou de desfrutar os momentos felizes, são proverbiais.
Costuma-se dizer que os brasileiros sabem tirar felicidade até das pedras. Eles a buscam na alegria e na tristeza. No dia em que o Rio ganhou como sede dos Jogos Olímpicos, um casal de jovens brasileiros entrevistado em Madri por um repórter do programa de Iñaki Gabilondo disse algo mais ou menos assim: "Não fiquem tristes. Venham para o Rio, que é uma cidade maravilhosa, que se sentirão felizes". Pensei que, se tivesse sido o contrário, se Madri tivesse ganhado e o Rio, perdido, a jovem também teria se consolado de alguma forma, dizendo que estava feliz na maravilhosa cidade de Madri.
Assim são os brasileiros. São mergulhadores no mar da felicidade e, como não escondem isso, acabam contagiando os outros. Sem dúvida esse contágio também teve a ver na hora da votação em Copenhague.

Maradona e seu "divino" baixo nível

Por Murillo Victorazzo
Bastou o árbitro apitar o final do jogo e pronto: Diego Maradona e jogadores saíram comemorando com um misto de alegria, alívio e - principalmente - amargura e rancor. Abraçados em uma roda em frente a torcida argentina que fora a Montevideo ver sua seleção garantir a QUARTA vaga sul-americana para a Copa do Mundo de 2010 ao vencer o Uruguai por 1 a 0, "el pibe d'oro" e seus atletas destilaram um corolário de palavrões e palavras de baixo calão. O alvo? A imprensa, claro. "Chupem", "mamem" para lá, "p... periodistas, la p...que los parió" para cá...
Ah, a imprensa, essa grande culpada dos males do mundo, que torce contra sempre seu país - seja aqui ou na vizinhança...Um corvo cuja alegria é transformar sadicamente as figuras públicas em carniças...Antes fosse assim, pois saberíamos onde cortar nossos males...(alguns podem não entender, então é bom frisar que isso foi uma ironia!)
Afinal de contas, a seleção argentina queria o quê? Que a imprensa elogiasse as suas atuações ridículas? Quase foram eliminados, mesmo estando em disputa quatro vagas! Esse time presenteou sua torcida com atuações bizarras contra timecos que estão anos-luz da tradição alvi-celeste de futebol. A verdade é que o time de Maradona não fez nada mais do que sua obrigação.
Seria estranho e digno de repúdio que "los periodistas" elogiassem um time que só apanhava - principalmente por ter em seu elenco ótimos e bons jogadores! O papel da imprensa espotiva é críticar quando jogam mal e elogiar quando jogam bem. É simples, mas algumas personalidades são tão megalomaníacas que não aceitam uma sílaba de crítica.
É verdade que alguns jornalistas, em certos casos, atravessam o sinal e levam para o pessoal. Contudo, em se tratando de Maradona, um Deus na Argentina, é impensável ter havido isso. Houve apenas (fortes, sim) críticas, mas merecidas a um treinador que convocou 80 jogadores em sete jogos e quase entra para história por nao ter classificado seu país para uma Copa do Mundo.
Parece que "el Diós" porteño, como, por sua genialidade, poucas vezes foi merecedor de críticas DENTRO das quatro linhas, pensava que era imune a elas. Levou demais ao pé da letra o status de "Deus".
Nesse aspecto, ponto para nosso ex-treinador Carlos Alberto Parreira, que em 1994, depois de ter apanhado muito mais do que qualquer treinador, soube vencer. Parreira comemorou, sem precisar verberar desaforos. A taça em sua mão já dizia tudo. E ninguém mais do que ele sabia os jornalistas que tinham exagerado nas críticas.
Deve ter ficado marcado tais nomes internamente na cabeça e coração de Parreira, que sabia que os outros - tanto jornalistas que criticaram merecidamente e no tom certo, como, principalmente, a torcida - não mereciam assistir a cenas patéticas de amargura e/ou falta de educação. Admite-se até alguns desabafos na hora da adrenalina alta, mas baixaria só mostra o tipo de pessoa que são os que a externa.
Lendo os jornais argentinos de hoje, poucos fazem elogios à qualidade do jogo de ontem; apenas comemoram a classificação. A sensação de alívio está estampada nas capas dos jornais de nossos "hermanos". Ficar fora da Copa seria um tiro do coração da , outrora, gigantesca autoestima argentina (já não bastasse a decadência sócio-política e econômica...). Nenhuma incoerência, até agora, a ponto de elogiarem Maradona como um novo mago da estratégia.
Baixaria como a de ontem nem o Dunga em seus momentos mais ranzinzas. E sabe por quê? Porque uma coisa é desabafar, ser amargurado, ainda que se lamente essa postura; outra é ser mal educado e de baixo nível. Em uma coletiva mandar "chupar" os que estão à sua frente TRABALHANDO? E com milhões de pessoas assistindo!
Se não têm equilíbrio emocional para aguentar a pressão que é ser treinador ou jogador de seleções com camisas fortes, como Argentina e Brasil - e que Maradona, quase sempre, demonstrava ter como jogador -, que joguem a toalha. Querem ter dinheiro, fama e idolatria e ainda serem imunes a críticas? Tudo está no kit de seus empregos - tanto os louros como as pedras.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O futuro do Mercosul

Por Mauricio Santoro (http://todososfogos.blogspot.com/)
Na semana passada retornei ao Iuperj, minha alma mater, para assistir a uma palestra do embaixador da Argentina no Brasil. O tema era o futuro do Mercosul. O diplomata fez a comparação tradicional com a União Européia, lamentando que o bloco do Cone Sul não tenha mecanismos supranacionais para a resolução de conflitos. Suas observações me lembraram os debates que tive no governo federal, em particular com os colegas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e da recém-criada área internacional do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas.
O Mercosul não foi criado para ter uma estrutura institucional semelhante à da União Européia, porque isso não interessa ao Brasil. O país desfruta de um peso econômico na América do Sul muito maior do que as potências do Velho Mundo – Alemanha, França, Reino Unido - têm na Europa. O receio histórico da política externa brasileira é a formação de uma coalizão de vizinhos que possa vetar suas posições. Por isso o Mercosul funciona por meio de decisões baseadas em consensos e não em votos de maioria ou regras supranacionais. Não há qualquer indício de que esse mecanismo seja alterado no curto ou médio prazo.
Segundo ponto: quando o Mercosul foi criado, há quase 20 anos, o mundo era muito diferente. O Brasil enfrentava a crise da dívida e a ameaça da hiperinflação. A criação de um bloco regional foi uma solução de compromisso entre as correntes liberais e nacionalistas da elite política, que enxergavam a Tarifa Externa Comum (TEC) do processo de integração como um meio termo entre a abertura ao mercado internacional e o protecionismo à indústria brasileira. Com valor médio de de 11,52%, ela é elevada para os padrões da OMC.
De lá para cá o país se integrou melhor à economia global, controlou o aumento de preços e assinou acordos de livre comércio com toda a América do Sul, além de um ensaio com Israel e tratados de preferências comerciais com países da África austral e com a Índia. Será que ainda interessa para o Brasil conduzir negociações externas sob o fardo da TEC e da necessidade de posições comuns com Argentina, Uruguai, Paraguai e quiçá Venezuela? Não seria melhor mecanismos mais flexíveis? É uma questão em aberto.
Outro fator importante é a mudança no equilíbrio de poder dentro da América do Sul. Em linhas gerais, a ascensão de potências médias como Venezuela, Colômbia e, em anos recentes, o Peru. O Mercosul ficou pequeno para tratar de diversas questões importantes para a região, em particular as crises de segurança da região andina. Nesse sentido, a União das Nações Sul-Americanas é um fórum mais relevante. O discurso oficial brasileiro jura de pé juntos que ela só se desenvolverá a partir de um Mercosul forte, mas acho que ninguém acredita muito nisso na chancelaria...
O embaixador argentino mencionou em sua palestra o risco de uma corrida armamentista na região e lembrou que seu país não é mais visto como uma ameça para o Brasil, destacando que as preocupações brasileiras agora se concentram na Amazônia. Tem razão, mas esqueceu de mencionar o Atlântico Sul e os receios com energia e cidadãos expatriados no Paraguai e na Bolívia. Ironicamente, o projeto de desenvolvimento do submarino nuclear foi muito influenciado pelo fiasco da Marinha argentina na Guerra das Malvinas, quando a força naval ficou praticamente paralisada pela ação de embarcações britânicas desse tipo.
Dito de outro modo, muitas decisões importantes da política externa e de defesa do Brasil nada tem a ver com o Mercosul e dizem respeito ao novo status internacional do país no resto da América do Sul e nos fóruns globais. É hora de um debate sobre o novo papel do bloco na diplomacia brasileira.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Uma luz no fim do túnel rubro-negro? A conferir...

Por Murillo Victorazzo
Foi postado aqui no blog algumas semanas atrás um artigo no qual se ressaltava a angústia do torcedor rubro-negro com a falta de perspectivas em relação às eleições no clube em dezembro. Zico, nosso Messias, não vem - é fato. Porém, no decorrer dos últmos dias, após sete candidaturas se inscreverem oficialmente para a disputa do pleito, pôde-se conhecer melhor a chapa formado por João Henrique Areias.
Se, por um lado, a falta de uma história ativa na Gávea possa ser um ponto contra sua candidatura, por outro, sua falta de ligações mais duradouras com os diversos grupos que dilapidaram o patrimônio do clube o ajuda a fortalecer sua campanha. No entanto, mais do que isso chama atenção em sua plataforma. Sua trajetória profissional e seus companheiros de chapa parecem, pelo menos, ser um sopro de renovação na visão de gerenciamento de um clube.
Areias é diretor-presidente da Sportlink Marketing Esportivo. Foi um dos fundadores do Clube dos 13, tendo sido seu primeiro diretor de maketing, em 1987, época que a entidade parecia mesmo vir para mudar os rumos do futebol brasileiro. Recordemos o sucesso de marketing, público e renda que foi a Copa União daquele, vencida aliás pelo próprio Flamengo (o tetracampeonato brasileiro do time). Também por meio da Sportlink, ele viabilizou o retorno do ídolo Sávio ao Flamengo em 2006.
Recentemente, Areias foi o principal responsável pelo sucesso do Fla-Basquete. Ao assumir a vice-presidência de Esportes Olímpicos, conseguiu, no seu breve período no cargo, viabilizar patrocínios que não só evitaram o término do projeto como possibilitaram a formação do excelente time de basquete masculino que conquistou o bicampeonato do Brasileiro e Liga Sul-Americana entre 2008 e este ano.
Ao seu lado, como candidato à presidência da Assembléia Geral, está Humberto Motta, ex-presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro, ex vice-presidente da Brascan, ex-presidente dos Correios e atualmente está na presidência da Duty Free Dufry, empresa que comanda as lojas nos aeroportos do país. Nas últimas eleições, Motta chegou a ser lançado pré-candidato a presidente pelo mesmo grupo de associados que desejava um nome de visão empresarial sério e fora do status quo das últimas décadas. Desistiu, porém, por falta de viabilidade eleitoral.
A chapa tem como candidato à presidência do Conselho de Administração Cláudio Pracownik. Atual presidente do grupo de consultoria financeira Ágora, Cláudio teve breve passagem na vice-presidência de Marketing durante a curta gestão de Hélio Ferraz.
Colocar a mão no fogo por alguém é sempre perigoso; que dirá por um nome que não teve, até hoje, maior visibilidade pública. Dois meses de campanha, até dia 7 de dezembro, ademais, ajudarão a ter uma noção melhor sobre como seria João Henrique Areias presidente do clube mais popular do país - com seus gigantescos potencial e passivo.
É justo lembrar também que, no quesito renovação e respeitabilidade, há também a chapa de Pedro Ferrer, o Pedrinho do Basquete, atleta por décadas do esporte no clube, com 50 anos de Flamengo - como sócio, atleta e torcedor. No entanto, a chapa Areias, à primeira vista, parece ter maior capacidade de unir ética com know how em gestão profissional e marketing esportivo. Os nomes que a nação rubro-negra não quer, todos sabemos. A conferir qual ela merece e qual os sócios desejarão...




sábado, 3 de outubro de 2009

RIO 2016 - Cidade Maravilhosa e Olímpica


A minha praia, agora, é uma praia olímpica. Rio, nós merecemos.
Amo muito tudo isso!

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Diplomacia não é Fla X Flu

Por Murillo Victorazzo
Parece que misturar duas situações distintas, embora relacionadas entre si, é algo bem tentador nas discussões sobre a crise diplomática em Honduras. Para mim, está bem claro que houve lá um golpe. E o golpe se fez pelo método truculento de expulsar um cidadão hondurenho do seu país, algo proibido também pela Constituição, e pela ausência de direito de defesa.
Não sou advogado, mas se a "prisão", feita numa madrugada, por militares mascarados que, após invadirem o palácio presidencial, mantiveram o acusado sob fuzil e de pijama até sua deportação, foi "preventiva", o mínimo exigido para um Estado democrático de Direito, seria que ele ficasse preso no país, com direito de se defender dos supostos crimes.
Quase não há dúvidas de que Zelaya infringiu alguns preceitos constitucionais. No entanto, o rito processual ilegal e imoral deslegitimou seu afastamento do cargo, a ponto de nenhum país e organismo internacional reconhecer o governo de Micheletti. Estados Unidos e Venezuela, enfim, ficaram no mesmo lado.
Soa, aliás, muito presunçoso afirmar que o mundo se iludiu ao ver um presidente de pijamas preso, e que por isso, somente pela imagem, sem "saber direito" o que se passava, condenou a deposição. Quer dizer então que determinadas pessoas aqui são mais bem informadas que todas as diplomacias e órgãos? A Assembléia Geral da ONU por unanimidade repudiou o golpe! A matéria do UOL Notícias reproduzida no post abaixo sobre a "legalidade" do governo interino nos faz entender a postura da OEA, ONU e países.
Outra coisa é o ato de abrigar Zelaya, esse sim algo merecedor de debate, com especialistas da área de Relações Internacionais e Direito Internacional não chegando a um consenso. A revista ISTOÉ dessa semana traz matéria de capa bem moderada para analisar o fato, com opiniões de especialistas pró e contra o ato brasileiro.
Com a humildade de quem é apenas recém pós-graduado em Relações Internacionais, sem ter a eloquência da certeza, parece que Brasil deu uma derrapada desnecessária e perigosa na sua posição, até então - aí sim - seguramente certa, de liderar o repúdio ao golpe.
Era de se esperar que a imprensa brasileira se baseasse num certo tipo de disputa entre "chavismo" e "anti-chavismo". É lamentável, porém, que importantes órgãos tenham nesse foco parado, sem analisar o conflito profundamente. Tal superficialidade faz aparentar que apenas Brasil, Venezuela, Bolívia, Equador condenaram o golpe e pedem a volta de Zelaya ao poder. O governo Micheletti não é reconhecido por nenhum ator do cenário internacional!
Seja qual for o motivo - interesses políticos internos, ideologias extremas opostas e/ou incompetência editorial - é, por isto, triste e angustiante o papel de certos colunistas e editores. Fica um maniqueísmo no qual quem é contra o golpe só pode ser chavista. Lembra a época da ditadura, quando os que lutavam ou protestavam contra o regime eram logo tachados pelos militares de comunista. (aliás, ainda hoje lê-se e ouve-se isso). Num mundo bipolar, prosaica polarização era, de certo modo, como boa vontade, até compreensível.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Governo de Honduras é golpista e não interino, dizem especialistas

Por Maurício Savarese (UOL Notícias, 28/09/2009)
A falta de devido processo legal, a inexistência de apoio da comunidade internacional e a origem em um levante para remover um chefe de Estado legitimamente eleito só permitem chamar o governo de Honduras de golpista, não de interino, afirmam especialistas consultados pelo UOL Notícias. A atual administração do país centro-americano acusa o presidente deposto, Manuel Zelaya, de tentar violar a Constituição para buscar a renovação de seu mandato presidencial.
A administração liderada por Roberto Micheletti afirma que Zelaya está sujeito a ser preso se deixar a Embaixada do Brasil por ter violado a 4ª Cláusula da Constituição hondurenha, segundo a qual tentativas de mudar a Carta implicam perda imediata do cargo público. Os golpistas acusam o presidente deposto de abuso de poder e de traição à pátria.
Para os analistas, ainda que Zelaya tenha tentado promover um referendo para mudar a Constituição hondurenha, nada nela prevê que o mandatário seria expulso do país, o que reforça os contornos de golpe de Estado na ação promovida pelo grupo de Micheletti. Além disso, dizem eles, pesa contra o regime de Tegucigalpa a ausência de reconhecimento não apenas por outros países, mas também pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Organização dos Estados Americanos (OEA).
Os especialistas ouvidos foram unânimes ao considerar que chamar o governo de Micheletti de interino seria uma concessão a uma gestão com traços autoritários - inclusive com suspensão de direitos constitucionais e censura à imprensa - e que carece de respaldo globalmente. Nenhum governo do mundo até o momento reconheceu o regime estabelecido em Tegucigalpa após a deposição de Zelaya, que desde a semana passada está abrigado na Embaixada do Brasil na capital do país.
"Honduras faz parte da Convenção Americana dos Direitos Humanos e ali está claro que em todo processo legal deve haver direito ao contraditório. Mesmo uma pessoa acusada de um crime tem o direito de defesa. Isso não foi observado e diante de uma suposta violação decidiu-se simplesmente tirar o presidente do país e instituir outro regime. Isso permite dizer que há lá um governo golpista", afirmou Pedro Dallari, professor de Direito Internacional da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).
Especialista em questões latino-americanas, o venezuelano Rafael Villa diz que a administração de Micheletti não pode ser chamada de ditadura porque mal acabou de se instalar no poder, mas afirma que se trata de um governo golpista, que também pode ser chamado de regime de fato. "A linha divisória entre governo de fato e governo golpista não existe. Ambos emergem fora das regras estabelecidas e que dão legitimidade. Ambos supõem governo fora de legalidade e carentes de legitimidade. É esse o caso de Honduras", afirmou.
O professor da USP diz que a falta de reconhecimento internacional é um grande elemento que reforça o caráter golpista do grupo hondurenho. Ele lembrou a situação do Haiti, que afastou o então presidente Jean-Bertrand Aristide em meio a uma revolta popular e o isolou na África do Sul, em 2004. Depois de chegar ao continente africano, ele alegou que não tinha renunciado e que os Estados Unidos o tinham sequestrado.
"No caso do Haiti houve uma espécie de acordo entre países da comunidade internacional, um reconhecimento da situação de fato que se deu contra Aristide. Enquanto no caso do governo golpista de Honduras, em maior ou menor intensidade há apenas condenação. Tanto é que o governo golpista está desamparado nessa crise e está tomando medidas que reforçam esse caráter, como impedir a entrada de diplomatas da Organização dos Estados Americanos (OEA). Não é possível chamar de interino um governo que não aceita organizações internacionais", disse.
Para Gilberto Safatli, professor das Faculdades Rio Branco e da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o momento decisivo para o regime de Micheletti ganhar a alcunha de golpista é o sequestro de Zelaya e sua retirada do país. "Qualquer legitimidade foi perdida aí. Se o presidente estava aprontando e havia uma previsão institucional de que poderia perder o cargo se tentasse violar a Carta Magna, poderia haver alguma legitimação. Mas o que aconteceu não foi isso, foi uma remoção forçosa do poder. Isso só pode ter o nome de golpe de Estado", afirmou.
Além disso, diz o professor, se a Constituição hondurenha previsse todos esses passos - incluindo a expulsão de Zelaya do país - haveria mais justificativa para o afastamento de Zelaya do poder. Como isso não existe no texto, a ordem institucional de Honduras foi rompida. "Na Turquia a Constituição prevê que se um partido muçulmano chegar ao poder e quiser aplicar algo da sharia [lei islâmica] pode ser removido. Isso aconteceu em 1997, os militares governaram um ano até chegarem as eleições. O movimento que aos nossos olhos ocidentais se assemelha a um golpe foi considerado legítimo, porque a ordem institucional foi mantida. Não foi o caso de Honduras", completou.

sábado, 19 de setembro de 2009

Anfíbios" transitam entre petistas e tucanos

Por Marcio Aithda (Folha de São Paulo, 20/09/2009)
Quanto mais próxima a disputa eleitoral de 2010, mais acirrada se torna a rivalidade entre petistas e tucanos pela hegemonia política do país.No meio dessa guerra, um grupo de políticos e economistas equilibra-se entre a fidelidade ao presidente Lula e a proximidade do governador José Serra, virtual candidato tucano à Presidência.
Como anfíbios, transitam de um círculo de confiança a outro com desenvoltura, na maioria das vezes com o conhecimento dos dois líderes políticos.Fazem parte desse grupo, entre outros, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, o deputado federal petista Antonio Palocci e o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Luciano Coutinho, além do economista Luiz Gonzaga Belluzzo e do advogado petista Sigmaringa Seixas.
Na maioria dos casos, essa habilidade resulta de relações antigas de amizade. Em outros, de necessidades recentes. Jobim é o expoente máximo desse grupo. Ele e Serra dividiram um apartamento em Brasília por seis anos, nos anos 80. O governador de São Paulo é seu padrinho de casamento. As conversas entre Serra e Jobim vão da crise aérea ao modelo de exploração das reservas do pré-sal -a relação entre ambos foi determinante para que o governo desistisse de incluir no projeto sobre o tema a redistribuição geográfica dos royalties.
Consultado pela Folha, Jobim enviou a seguinte resposta: "Eu não misturo política com relações pessoais. Serra é um grande amigo. É um hábito sul-americano misturar política com relações pessoais. Pois eu tanto converso com Lula como janto com Serra".
Se Jobim é o anfíbio mais tradicional, Palocci é o mais novo integrante desse grupo. Ele se aproximou de Serra quando, ministro da Fazenda, cercou-se de pessoas mais alinhadas ao viés técnico tucano que ao instinto político petista. Mas só ingressou mesmo no rol de confidentes de Serra no último ano, durante o esforço que fez para se livrar da acusação de orquestrar a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa.
Serra e Palocci conversam regularmente sobre os mais variados assuntos, do cenário eleitoral ao "excesso" de gastos públicos, passando pelo papel dos bancos públicos. Dessas conversas, por exemplo, Serra tirou a impressão, relatada posteriormente a correligionários, de que Palocci não será candidato à Presidência nem ao governo de São Paulo. Serra teria encorajado Palocci a voltar ao governo, talvez para o Ministério das Relações Institucionais, ocupado até a semana passada por José Múcio Monteiro, indicado para o Tribunal de Contas da União. Seria uma maneira, segundo o governador, de impedir um processo de deterioração administrativa, comum a governos em final de mandato. Reticente, Palocci disse estar propenso a buscar a reeleição.
Ex-tucano, o petista Sigmaringa Seixas é o anfíbio mais discreto. Lula o recebe para consultas relacionadas a nomeações de tribunais e ao Ministério da Justiça. Muitas vezes, a pedido do presidente, Seixas testa a reação dos tucanos a decisões que o governo pretende tomar.Seixas disse à Folha não ver nenhuma contradição entre ser tão próximo de Lula como de Serra, ao menos no campo da amizade, mas não da fidelidade política. "Não é motivo de preocupação. A capacidade de relacionar-me com ambos é usada para o bem do país."
Já a ligação entre Serra, Belluzzo e Coutinho data dos anos 70, quando os três foram expoentes da safra de economistas desenvolvimentistas que prosperou na Unicamp e consolidou uma das principais escolas do pensamento econômico brasileiro. Eles são críticos da política monetária tocada pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e partilham de opiniões semelhantes sobre o papel do Estado na crise.
Belluzzo tornou-se um dos mais próximos colaboradores econômicos de Lula, mas não perdeu a intimidade com Serra, com quem assiste regularmente aos jogos do Palmeiras, clube que Belluzzo hoje preside.Em mais de uma ocasião, Belluzzo conversou com Lula ao celular estando, no estádio do Parque Antártica, a alguns metros do governador paulista.
Para o cientista político Fábio Wanderley Reis, professor emérito da UFMG, os anfíbios não são apenas produto de amizade antiga ou de alguma tradição brasileira à conciliação permanente.Eles refletiriam também a convicção social-democrata que une o PSDB à vertente do próprio governo Lula."A trajetória do governo Lula é de moderação e de realismo", disse ele. "Não há muita diferença entre isso e o compromisso fundamental do PSDB."

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Uma nação à procura de esperança

Por Murillo Victorazzo
Não é preciso dizer que o sonho de consumo presidencial de todo flamenguista é o eterno ídolo maior Zico. O Galinho, porém, conhecedor dos bastidores rubro-negro e da forte possibilidade de se queimar entrando nessa barca, parece postegar o quanto possível esse que parece ser o seu inevitável destino. Dizem que Deus nos dá uma missão na vida. Na religião Flamengo, parece acontecer o oposto: os fiéis é que já deram ao Deus rubro-negro o carma de salvar a pátria rubro-negra, após quase duas décadas de descalabro estrutural, financeiro, moral e político.
Enquanto o Messias não vem, urge o aparecimento de um nome que dê os primeiros passos para o reerguimento do mais querido do Brasil. Sem deixar de ressaltar, porém, que, acima de pessoas, um novo modelo de gerenciamento profissional é necessário. Sem isso, nem o Galinho dará jeito.
Embora o provável seja que os conchavos rolem solto na Gávea até dezembro, mês das eleições no clube, e o número de candidatos diminuia, a escolha para o próximo triênio não deve fugir dos nomes colocados até aqui.
Na última terça-feira, dia 15, duas candidaturas foram lançadas: o atual presidente, Delair Drumbovisck, e a ex-vice-presidente de Esportes Olímpicos, a famosa ex-nadadora Patrícia Amorim. Dizem estar no páreo também o advogado Clóvis Sahione, o vice-presidente de Futebol da Era Kleber Leite, Plínio Serpa Pinto, e o publicitário João Henrique Areias.
Em meio a uma gigantesca crise, o Flamengo é hoje uma caricatura deformada da democracia. É a distorção do que deveria ser um clube com vida política democrática. Há muito cacique para pouco índio, com os primeiros sempre se articulando entre si, em meio a conchavos que permitem cada grupo ficar se alternando na presidência.
Cada grupo é liderado por um ou mais ex-presidentes que, querendo ou não, deixaram suas marcas no descalabro rubro-negros. Em maior ou menor grau, todos que passaram por lá, desde meados da década de 80 têm sua culpa. De George Helal a Marcio Braga - especialmente este, que ocupou o cargo por cinco vezes - passando por Luis Veloso, Kleber Leite e o famigerado Edmundo Santos Silva.
É esse o quadro que dá a qualquer rubro-negro verdadeiro um gosto de impotência e desesperança mesmo quando um processo eleitoral se inicia. Nomes antigos ou novos mas com fortes vínculos com responsáveis por tudo que se encontra na Gávea de ruim juntam-se a outros com prestígio profissional mas pouco inspirador de confiança.
Por seu passado de ótima atleta vestindo o manto sagrado nas piscinas, Patrícia despontaria como o nome mais palatável. Condição que se desfez um pouco após turbulenta passagem pela vice-presidência olímpica do clube e declarações sobre profissionalização da gestão esportiva “sem criação de empresa ou vender o clube”. Talvez não seja, mas parece discurso de quem tem medo de enfrentar sérios tabus de frente.
À primeira vista, Areias, com sua mentalidade mais moderna - fato provado em sua gestão mais profissional e inovadora no breve periódo como responsável pelo basquete bicampeão brasileiro e da Liga Sul-Americana - parece fugir do status quo dominante. É, contudo, até agora, um nome não suficientemente conhecido para a empolgar os rubro-negros mais ansiosos. E, pior, sua força eleitoral interna é aparentemente insuficiente para se tornar uma alternativa concretamente viável - talvez nem ao dia da eleição chegue. Sua história no Flamengo - como torcedor, frequentador ou atleta -, aliás, é parca.
De qualquer modo, ambos os nomes são, até aqui, os únicos que poderiam causar espasmos de oxigenação nos ares da Gávea. Não bastasse rezar para o padroeiro rubro-negro, Saõ Judas Tadeu, melhor também dar um pouco de atenção a São Tomé e ver para crer...

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Made in Brasil

Por Murillo Victorazzo
Depois de oito meses no ar, a novela "Caminho das Índias" chegou ao fim no dia 11, tendo seu último capítulo obtido um share de 85%. Em outras palavras, de cada 100 televisores ligados, 85 estavam sintonizados na novela de Glória Perez. Mais um sucesso desta brilhante novelista, que, em suas obras, consegue, quase sempre, unir prestação de serviço, humor e interessantes pesquisas sobre culturas poucos conhecidas. Foi assim com os muçulmanos de "O Clone", os ciganos de "Explode Coração" e agora os indianos.
Três dias depois, estreou "Viver a Vida", mais uma novela do renomado Manuel Carlos. Rei de textos nos quais a emoção, a simplicidade e as relações humanas imperam, Maneco tratará novamente de situações cotidianas ou mais verossímeis do que as vistas na maioria dos demais autores. Foi assim com "Por Amor", "Laços de Família", "Mulheres Apaixonadas ", "Páginas da Vida", entre outras.
Em seus trabalhos, a marca são os diálogos que nos causam identificação com muito de nossas vidas sociais, familiares e profissionais, sustentados por uma direção que segue o mesmo tom. Retrato perfeito foi a cena do primeiro capítulo em que os protagonistas José Mayer e Taís Araújo, a Helena da vez, se conhecem, dando início ao romance condutor da novela. Sem closes impactantes e congelados ou trilhas sonoras românticas, a troca de olhares fluiu sem "sinos tocarem".
É digno de aplausos como os novelistas globais conseguiram, no decorrer do tempo, imprimir suas marcas. Quem assiste um pouco que seja a novelas consegue perceber facilmente de quem é aquela que está no ar. Lembremos também a bela estreia, ano passado, de João Emanuel Carneiro no horário nobre, com "A Favorita", novelão típico, com suspense, vilã maquiavélica e situações até certo ponto non sense.
Seja Glória Peres, Maneco, Gilberto Braga, com seu glamour entremeado a tramóias pesadas, ou Aguinaldo Silva, com seu realismo mágico ou, ultimamente, tramas de origens jornalísticas sobre a situação carioca, o know how brasileiro na produção deste gênero é de dar orgulho.
Descontando características inevitáveis a qualquer novela, a diversidade de estilo é certamente um dos motivos que nos levam a ser, junto com o México, os principais exportadores deste tipo de dramaturgia. (Sem medo de parecer patriotada, é inegável também nossa superioridade sobre os mexicanos no quesito sobriedade e moderação. Drama é uma coisa, dramalhão é outra.)
É de se lamentar, no entanto, que, apesar de tudo, setores da sociedade ainda vejam a novela como subproduto. Aquela velha frase generalista "não gosto de novela" exprime um preconceito igual ao da época em que homens não podiam chorar. Suas mentalidades rasas os impedem de entender que se trata apenas de mais um tipo de dramaturgia, como são as peças de teatro, os filme e os seriados. Nem melhor, nem pior, apenas diferente.
Do mesmo modo que esses gêneros, há novelas boas e novelas ruins. A diferença é que é uma produto cultural de massa e tipicamente brasileiro. E isso incomoda tanto alguns que confundem simplicidade com simplismo, ter cultura com ser pernóstico, acadêmico com academicismo ou sofrem de um patético colonialismo cultural.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Moscou lança campanha para restaurar os valores soviéticos

Por Rodrigo Fernández (El País, 02/09/2009)
Moscou - A Rússia costuma aceitar muito mal as críticas, e pior ainda agora que recuperou seu papel de potência e seu orgulho de grande Estado - e que portanto o patriotismo, ou simplesmente o nacionalismo, está no auge. Isso faz com que os governantes russos tentem justificar todos os momentos de sua história, tenham ou não razão. Daí o surgimento, por ordem do presidente Dimitri Medvedev, de uma comissão para impedir o que o Kremlin considera tergiversações da história. Daí também que os dirigentes russos se irritem quando alguém compara o comunismo da época stalinista ao nazismo alemão, apesar de Joseph Stalin ter matado mais pessoas que Adolf Hitler.
Essa atitude, segundo alguns especialistas, simboliza os planos do Kremlin para restaurar os valores soviéticos. A defesa exagerada do que é russo às vezes leva Moscou a tentar justificar o injustificável. Chega-se ao extremo de que o serviço federal de espionagem exterior publique documentos secretos que teoricamente demonstram que havia motivos para elogiar Stalin por assinar em 1939 o pacto Molotov-Ribbentrop - pelo qual a Alemanha e a Rússia dividiram a Polônia, e Moscou obteve luz verde para se apoderar dos países bálticos -, porque era "a única medida acessível de autodefesa". Especialistas como Alexandr Shubin argumentam que se trata de uma mentira, pois em 1939 a Alemanha não pensava em atacar a União Soviética.
Outro exemplo é o documentário transmitido pela televisão estatal há alguns dias, no âmbito do 70º aniversário da invasão da Polônia pela Alemanha, no qual se afirmava que Varsóvia tinha se aliado com Hitler para atacar a União Soviética. Esse programa de televisão foi objeto de uma queixa formal por parte do governo polonês. Um livro escolar que será estudado na Rússia neste semestre também se enquadra na tendência de encobrir os crimes de Stalin.
Nesta mesma semana Medvedev voltou a protestar durante uma entrevista na televisão pelo fato de que "os países da Europa literalmente puseram em um mesmo nível e tornaram a Alemanha fascista e a União Soviética, na mesma medida, responsáveis pela Segunda Guerra Mundial". "Mas isso é simplesmente uma cínica mentira", ressaltou. Para Medvedev, trata-se de determinar "quem começou a guerra, quem matava e quem salvava gente, milhões de vidas, quem em última instância salvou a Europa".
A Rússia não entende que não se trata de justificar Hitler. Na Alemanha, a ideologia nazista foi condenada e proibida e se pediu perdão pelos crimes cometidos. Na Rússia, a ideologia stalinista não foi condenada nem proibida pelo regime Putin-Medvedev - mais ainda, alguns veem hoje um ressurgimento de Stalin - e os governantes russos não gostam de admitir os numerosos crimes que foram cometidos nessa época, incluindo os milhões de soviéticos que morreram.
Se é difícil pedir perdão pelo que Stalin fez a seu próprio povo, mais ainda é falar do que ele fez a outros: a invasão da Polônia - incluindo o negro episódio do massacre de Katyn (a execução de 20 mil soldados poloneses que tinham caído prisioneiros do exército soviético) - e a deportação para a Sibéria de milhares de habitantes dos países bálticos.
Segundo o especialista Shubin, o problema está "na mudança produzida na opinião pública como resposta ao anticomunismo primitivo" da época de Boris Ieltsin. Essa reação foi multiplicada graças à nova exaltação do Estado, e o resultado foi que se tornaram muito populares as idéias obscurantistas que o regime de Stalin divulgava. Por isso alguns temem que em breve a figura do ditador esteja definitivamente reabilitada.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A nova cara do Itamaraty

Por Mauricio Santoro (http://www.todososfogos.blogspot.com/)
O Globo deste domingo trouxe uma reportagem que me deixou muito alegre: “A Nova Cara do Itamaraty: mudanças democratizam acesso ao Instituto Rio Branco e formam nova geração de diplomatas.” Quase todos os citados na matéria foram meus alunos ou são meus amigos. Bem, a fronteira entre as duas categorias nunca é clara para mim... Até 2004, os concursos públicos para a carreira de diplomata ofereciam apenas 30 vagas por ano, e a preparação dos candidatos em geral se dava por meio de um circuito restrito de professores particulares.
O governo Lula ampliou a oferta para 100 vagas anuais e houve uma multiplicação de cursos especializados, inclusive aquele no qual leciono desde sua criação, o Clio, que se tornou o que mais aprova na disputa. O resultado foi uma mudança no perfil dos novos diplomatas. Até recentemente, eram principalmente homens formados em direito e oriundos do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.
Agora há maior diversidade regional, muita variedade em termos de formação profissional, uma presença cada vez mais intensa das mulheres e a incorporação de pessoas com histórias de vida fora do padrão habitual de classe média e alta. Muitas delas chegaram ao Itamaraty por meio do programa de ação afirmativa desenvolvido pelo ministério. Em minha opinião é o melhor que existe no país e vários de meus melhores estudantes no curso conseguiram estudar por conta dele.
Acompanhei seus esforços com admiração e não raro presenciei sacrifícios consideráveis. Esses alunos há muito são motivo de orgulho para mim, agora começam a ser também para o país. É bom ver a valorização de suas trajetórias pela imprensa, que até então havia publicado reportagens muito preconceituosas sobre a nova geração de diplomatas, caluniando-a como pouco qualificada.
Torço para que uma chancelaria mais representativa das condições sociais do Brasil resulte também em uma política externa mais sensível aos temas da democracia e dos direitos humanos, que têm sido lacunas signficativas em muitas das iniciativas recentes de nossa agenda diplomática, numa discrepância com a ação internacional de países próximos, como Argentina e Chile.
Faço votos para que a nova geração de diplomatas seja mais aberta ao diálogo com outros funcionários governamentais, algo que nem sempre é regra numa chanceleria ainda muito insulada diante de outros órgãos públicos. Situação que não é mais sustentável à medida em que o Brasil participa mais ativamente de várias questões internacionais, e os temas globais se tornam mais entrelaçados com as políticas públicas.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

A nuvem 2010

Por Murillo Victorazzo
Ainda faltam 13 meses para as eleições presidenciais de 2010, mas, para quem lamentava que tudo caminhava modorrentamente para mais uma disputa entre PT e PSDB, novas e empolgantes incógnitas apareceram. Parece cada vez mais provável que o caráter plebiscitário do pleito desejado pelo presidente Lula não se concretizará. A provável candidatura da senadora Marina Silva (PV) deu novo ânimo para nomes como os do deputado Ciro Gomes (PSB) e do senador Cristovam Buarque (PDT), além da ex-senadora Heloisa Helena, que pareciam conformados com a polarização entre petistas e tucanos .
Para Lula, uma eleição baseada na aprovação ou não ao seu governo seria a melhor forma de transformar em votos para sua candidata, Dilma Roussef, sua popularidade de cerca de 70%. Estando do outro lado do ringue o governador paulista, José Serra, nome, segundo pesquisas qualitativas, fortemente vinculado ao governo de Fernando Henrique, o quadro, segundo Lula, seria favorável à petista. É forte a convicção no Planalto de que um remake do velho filme FHC x Lula, no tocante às realizações de seus governos, seria benéfica para o atual mandatário.
Ainda é cedo para traçarmos um quadro definitivo, já que a máxima de umas das maiores raposas políticas mineiras, o falecido governador Magalhães Pinto, de que política é como nuvem, a cada minuto muda-se seu desenho, é historicamente comprovada. No entanto, essa mexida no tabuleiro político reforçou o que muitos já desconfiavam: essa será uma longuíssima campanha eleitoral. Até que ponto a alta exposição destes nomes por mais de um ano poderá "envelhecer" suas candidaturas e em qual o peso será maior são perguntas que também demorarão ser respondidas.
Sem tomar partido de um ou outro partido, a inégavel, digamos numa expressão politicamente correta, pouca simpatia que alguns dos grandes órgãos de comunicação têm pelo atual governo fez com que a entrada da senadora acreana no PV ganhasse enorme destaque. Por sua trajétoria política brilhante, pela mulher guerreira e engajada que é, por ser um dos poucos nomes cujas integridade e ética ainda se pode admirar - pelo menos até que se prove o contrário - é tentador e compreensível tal empolgação.
No entanto, embora saída do PT, Marina não parece ter incorporado certos ideais mais liberais que tanto certos jornais idolatram (jornais também podem participar legitimamente de luta política, embora o ideal fosse que eles atussem de forma clara, explícita, como acontece nos Estados Unidos). Não parece ser uma estatista anacrônica, mas longe está de ter no altar o Deus Mercado. Do mesmo modo, continua a elogiar a política social do governo Lula e tem boas relações com movimentos sociais tão criticados por eles. Sobre pólítica econômica, Marina ainda é uma incógnita. Seria ela uma volta às velhas teses do PT pré-governo ou manteria o atual regime, que vem dando certo há 15 anos?
Diante desse quadro, parece justo supor que a brilhante Marina esteja sendo alçada ao céu por tais setores apenas para enfraquecer a candidatura governista, dividindo o eleitorado de esquerda. Mas a "inocente útil" pode surpreender, até porque muitos eleitores mais à esquerda de classe média, que, incomodados com os desvio éticos do PT, viam-se por gravidade caindo nos braços tucanos, tendem "esverdear". Com o agravante de que rótulos (alguns preconceituosos) como "analfabeto", "bêbado", "aparelhamento sindical" não colariam nela. Nada mais instigante do que saber como seria a relação de uma presidente Marina com estes jornais...Muitas formas ainda vai ter essa nuvem...

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

O sujo falando do mal-lavado

Por Murillo Victorazzo

Na semana passada, os procuradores federais que movem ação de improbidade administrativa contra a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius , do PSDB, e outras oito pessoas envolvidas na fraude milionária do Detran (Departamento de Trânsito do Estado), classificaram o grupo como uma "quadrilha criminosa" na ação remetida à 3a Vara de Justiça de Santa Maria. O grupo teria desviado, entre 2003 e 2007, cerca de R$44 milhões dos cofres públicos.

Em se tratando de um dos governadores mais importantes do PSDB, maior partido de oposição ao governo Lula, seria engraçado se não fosse trágico a semelhança com o termo utilizado pelo ex-procurador-geral da República Antônio Fernando de Souza na denúncia feita ao Supremo Tribunal Federal (STF), em 2007, sobre o mensalão petista. O procurador considerou o ex-ministro José Dirceu chefe de uma "poderosa organização criminosa" que envolvia 40 pessoas.

O STF aceitou a denúncia. Não se sabe ainda qual será o resultado da ação gaúcha. No caso do mensalão, o mandatário maior não foi citado; no esquema tucano dos pampas, a acusação bateu na cadeira principal do Palácio Piratini. De qualquer modo, às vésperas das eleições de 2010, os dois principais partidos do país se nivelam por baixo quando o assunto é ética.

Se não bastasse as semelhanças de políticas de governo, e alguns casos nebulosos da Era FHC, agora eles convergem ainda mais na arena da podridão. Eis o principal motivo por que alguns setores anseiam por uma terceira candidatura, oxigenada e que permita alguma esperança, que rompa com a polaridade Dilma - Serra.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

A volta de um "morto" mais vivo do que o desejável

Por Murillo Victorazzo
Na ânsia de voltar aos holofotes, mirando no governo de Alagoas em 2010, Fernando Collor fez-nos, ontem, lembrar o velho candidato de 1989 e o desprezível presidente que destilava ódio em suas palavras e olhares contra os adversários. Aproveitou o estado de putrefação do Senado para, em defesa do senador José Sarney, aquele que, 20 anos atrás, chamou de ladrão, tendo feito-o com alvo central de sua candidatura, tentar intimidar o senador Pedro Simon.

Quem assistiu pela TV Senado a todo o discurso de Simon assustou-se com a agressividade do ex-presidente com seu colega de Casa. Em momento algum, Simon xingou, acusou ou criticou-o. Apenas relembrava que o controverso Renan Calheiros participou da montagem de sua candidatura e de seu governo, assim como fez parte das bases de FHC e Lula. Uma citação histórica para ironizar o apego de Calheiros aos governos. Um fato inegável para quem foi líder do governo Collor, ministro da Justiça de FHC e figura central na relação do PMDB com o governo Lula
Em reação desproporcional, Collor, com seu típico e nauseante olhar, verbalizou expressões pouco respeitosas apenas para aproveitar a chance de aparecer e de usar sua retórica batida de que foi vítima de "perseguição" da imprensa e de certos setores etc. Mandou Simon "engolir" e "digerir" suas palavras e, como fazem as raposas políticas, "ameaçou" revelar situações constrangedoras ao gaúcho. Quando estimulado por Simon a dizê-las, afirmou que não era o momento. Que as faria se continuasse a mencionar seu nome.
Numa prova de que seu objetivo maior é ganhar visibilidade em sua tentativa de se passar por vítima de conspiração 17 anos atrás, gastou quase todo seu segundo aparte atacando a revista "Veja" e seus jornalistas, peças que iniciaram as acusações que desembocariam em seu impeachment. Repetindo a velha cantilena, acusou a "mídia" de querer "apear" Sarney da Presidência do Senado, do mesmo modo que fizera com ele. Fica-se imaginar como ele reagiria a quem de fato o criticasse. Ou se alguém o mandasse "engolir" algo!
Ao eleito senador, em 2006, Collor dissera ter mudado. Teria aprendido a ser mais maleável e menos virulento. Contudo, parece que sua natureza falou mais alto, quando mais conveniente foi. O pior é que, infelizmente, há uma parcela da sociedade que aprecia políticos assim: que confundem autoridade com autoritarismo. Que pensam que parecerem ou se acharem ser mais homem que os outros é sinal de capacidade de comando.
Ainda mais grave é alguns dizerem que Collor é "bandido pequeno" perto do que se vê no governo atual. E que, portanto, seria um injustiçado. Não é porque há assassinos soltos por aí que vamos inocentar os presos. Devemos lamentar e protestar as supostas acusações sobre o governo atual não votando nos que o sustenta - mas não recuperando aqueles que já foram testados e reprovados.
O contexto atual é propício à banalização e à relativização de políticos condenados - política ou criminalmente. Um maniqueísmo pró-Collor seria certamente uma de suas piores consequências para a democracia do país.

sábado, 1 de agosto de 2009

Crítica plausível, argumento enviesado

Por Murillo Victorazzo
Em meio à polêmica envolvendo a descoberta de armas suecas vendidas à Venezuela em mãos das Farcs, o acordo em construção que permitiria maior utilização de bases militares colombianas pelas Forças Armadas norte-americanas movimentou o noticiário internacional da semana. O chanceler Celso Amorim logo pediu esclarecimentos, no que foi sucedido em declarações conjuntas do presidente Lula e sua colega chilena Michelle Bachelet.

Alguns analistas preferiram ver nesse questionamento mais um sinal da suposta hegemonia do pensamento petista no Itamaraty. Seria uma retórica atrasada oriunda do antiamericanismo típico de partidos esquerdistas ou nacionalistas. Uma prova da parcialidade petista para com o "socialismo do século XXI" de Hugo Chávez. É certo que uma postura mais firme sobre as armas encontradas com narco-guerrilha colombiana seria desejável. E é inegável também as boas relações históricas do partido governista com o mandatário venezuelano.

No entanto, no tocante ao posicionamento em relação à Colômbia, sua origem e causa vão bem além das motivações ideológicas. A presença militar norte-americana na América do Sul sempre causou arrepios nos meios militares e diplomáticos brasileiros, qualquer que fosse o governo.

O forte viés pluralista, no sentido vatteliano, de que as relações internacionais são baseadas em power politics e um jogo de soma zero, norteou o pensamento nacionalista de que os Estados Unidos tenderiam, mais dia menos dia, a intervir na Amazônia. Um pensamento que, embora muitas vezes beire a paranoia, é também difundido em toda sociedade. E cujos fortalecimento e raízes encontram-se no insulamento e organicidade do Itamaraty, a partir da década de 50, e na ditadura militar das décadas de 60, 70 e 80.

Tal sentimento é tão enraizado que mesmo o governo Fernando Henrique, que implementou políticas mais liberais e iniciou uma reaproximação com os Estados Unidos, teve como uma das marcas de sua política externa manter a superpotência distante o máximo possível da região. Razão essa do ceticismo e da resistência de Cardoso ao Plano Colômbia (o que, para os norte-americanos, seria uma das razões da pouca eficácia do plano) e do apoio à suspeita reeleição do peruano Alberto Fujimori, em 2000. O Brasil, à época, liderou a campanha contra a resolução norte-americana na OEA que previa sanções ao Peru.
Causa estranheza, portanto, ouvir Rubem Barbosa, embaixador brasileiro em Washington durante a gestão FHC e hoje diretor da FIESP, dizer, no programa "Painel", da GloboNews, que o repúdio de Amorim era uma retórica simplista oriunda do "antiamericanismo ultrapassado" do assessor para assuntos internacionais do governo, Marco Aurélio Garcia. Um discurso que apenas teria como objetivo esconder as suspeitas contra o chavismo.
É mais um exemplo de como uma crítica que tem algumas razões de ser perdem a credibilidade quando justificadas enviesadamente, com simplismos - principalmente vindo de um diplomata de carreira com tanto prestígio. Será que só o PT partidarizou a política externa?

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Com emoção e saudades, o fim de um tabu

Por Murillo Victorazzo
Crises crônicas, turbulência eleitoral, diretoria e técnico recém-saídos e uma sequência de quatro jogos sem vencer. Nesse cenário, o Flamengo partira para mais uma partida. Dessa vez em um campo no qual nunca vencera em jogos oficiais, a Vila Belmiro do Santos, cujo treinador, o renomado Wanderley Luxemburgo, faria apenas seu segundo jogo pelo clube
Não bastasse tais dificuldades, o jogo tinha outro simbolismo: era a milésima partida do time em Campeonatos Brasileiros, sendo o rubro-negro o primeiro time a chegar a esse feito. Se sempre fora difícil jogar na casa santista, mais ainda seria no jogo de ontem, em que pese as fragilidades do anfitrião.
Figura querida e admirada por todos no clube - seja atletas, funcionários ou torcida -, tanto por sua personalidade como pelo seu invejável currículo como jogador, Andrade recebeu a ingrata incumbência de dirigir interinamente o time diante desse turbilhão.
Ótimo volante dos anos 80, prata da casa rubro-negra, participou do maior time da história flamenguista, tendo sido campeão mundial e da Libertadores, em 1981. Dos seus cinco títulos de campeão brasileiro, quatro, 1980, 82,83,87, foram vestindo o manto mais querido do país (um foi, com perdão da má palavra, pelo rival Vasco, em 1989. Pecado perdoado!). É, ao lado de Zinho, o jogador que mais vezes venceu a competição mais importante do país.
No time de 1987, Andrade foi companheiro e amigo de Zé Carlos, goleiro que, se não está entre os melhores da história, também se destacava por sua simpatia e profissionalismo, sendo muito respeitado na Gávea. Zé Grandão, como era chamado, ganhou também a Copa do Brasil de 1990 pelo clube. Quis o destino, infelizmente, que um câncer o levasse, aos 47 anos, justamente numa semana tão tumultuada para seu time e seu amigo.
Andrade e o Flamengo, assim, entraram na Vila Belmiro de luto e pressionados. Após um primeiro tempo equilibrado, o Santos abriu o placar aos 21 minutos do segundo tempo. Mas Adriano empatou aos 32 e, aos 42, o jogador santista Pará fez contra, sacramentando uma histórica e importante vitória.
De virada, o Flamengo ganhava não só três pontos como alguns dias de tranquilidade. Como é marca do Flamengo, é na dificuldade e perante o ceticismo que as vitórias vêm. Andrade, no final, não segurou o choro ao lembrar de seu amigo Zé Grandão e dedicou-lhe a vitória. Um gesto que expressou o quão humano é, em meio a um futebol cada vez mais mecânico e mercantilizado. E uma vitória que deixou clara a estrela de um campeão.
De um campeão só? Provavelmente não. É claro que futebol é técnica e tática, mas, há momentos em que dá para acreditar em algo que extrapola a razão. Se, como já disseram, por mais cartesiano que seja, todo brasileiro tem uma pitada de candomblé, não se poderia duvidar que as mãos do campeão Zé Carlos, que salvaram o Mengo em diversas ocasiões, ajudou a levar, dessa vez lá de cima, seu amigo, seu clube e sua torcida a quebrarem um incômodo tabu e amenizar a crise.
O choro de um verdadeiro rubro-negro como Andrade, a lembrança de Zé Grandão e a vitória suada provavelmente levaram outros muitos flamenguista às lágrimas. Lágrimas de uma nação que, por alguns minutos, lembrou, nostalgicamente, de uma década e de um time inesquecíveis. E que, angustiada, espera a volta de melhores dias. Obrigado, Andrade! Obrigado, Zé Carlos!

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Quando o fotojornalismo diz tudo...

E agora, José? Como diria Raul Gil, "pega o seu banquinho e saia de mansinho"...
(foto: Roberto Stuckert Filho/ O Globo)


Por dentro do judô brasileiro e cubano

Tive o prazer de cobrir inúmeras provas do judô, com ou sem atletas brasileiros, durante o RIO 2007. Embora nunca a tenha praticado, sempre admirei essa tradicional luta de origem japonesa. Nos Jogos, assisitindo de perto, com atenção, e em entrevistas e papos informais com os judocas, acabei por conhecer melhor as nuances e escolas do judô. Exatos dois anos atrás fiz, então, uma pequena matéria pelo site http://www.rio2007.org.br/, sobre as escolas brasileiras e cubanas do esporte.
RIO 2007 mostra forca do judô cubano e brasileiro
Por Murillo Victorazzo
As competições de judô do XV Jogos Pan-americanos Rio 2007 se encerraram neste domingo, no Pavilhão 4A do Complexo do Rio Centro. Após 12 provas, Cuba foi o pais que mais conquistou vitórias, com cinco medalhas de ouro, seguidos dos donos da casa, o Brasil, com quatro. Já os Estados Unidos levaram subiram ao lugar mais alto do pódio três vezes. No total, cubanos e brasileiros viram suas bandeiras serem hasteadas, cada um, 13 vezes e os americanos, seis. Tais resultados mostram que as escolas cubana e brasileira de judô dominas atualmente as Américas.

Para a medalhista de ouro cubana na categoria ate 48 kg, Yanet Bermoy, o segredo do sucesso de Cuba é muito treinamento e disciplina. Yanet acrescenta que o judô para os cubanos serve também para extravasar as dificuldades do dia a dia. "Nós treinamos muito todos os dias. Perseguimos sempre nossos objetivos. Além disso, o judô é um meio de esquecermos os problemas do lado de fora", conta ela.

O brio e a forca física dos cubanos são outros diferenciais levantados pelos adversários. A medalhista de prata brasileira Daniela Polzin, também da categoria ate 48 kg, conta que a maior virtude do judô de Cuba é a fibra com que lutam. "Elas são muito aguerridas. Lutam com muita pegada e atacam toda hora. Hoje, para nós, brasileiros, não há mais dificuldade técnica, mas ainda esbarramos no aspecto físico", explica Daniela.

Opinião semelhante tem o argentino Miguel Albarracin, campeão da categoria ate 60kg. Usando como exemplo os atletas que subiram ao pódio com ele, o cubano Yosmani Pike, prata, e o brasileiro Alexandre Lee, bronze, Miguel ressalta a forca mental e física dos atletas de Cuba. "Pike, por exemplo, tem uma resistência física muito forte. Lee é muito técnico, com muitos deslocamentos que resultam em pontos", afirma Miguel.

Polzin, no entanto, faz questão de frisar que a escola brasileira é eclética, com atletas de diversos estilos - seja o japonês, com um judô mais limpo, ou do leste europeu, com mais pegada. "Conseguimos mesclar as escolas. Os judocas brasileiros estão se adaptando a todos os tipos ", diz ela, admitindo a disputa com Cuba para ser o melhor judô do continente: "Já tem um tempo que os cubanos são os nossos grandes rivais no dojô".

O treinador da equipe masculina de judô de Cuba, Justo Barreto, faz coro com a brasileira. Ele considera os judocas brasileiros os mais difíceis de vencer: "Os brasileiros têm uma ótima escola. Creio que, junto com Cuba, é o melhor judô das Américas".

A americana Jeanette Rodriguez, bronze na mesma categoria que Daniela e Yanet, concorda com os cubanos e brasileiros, mas assegura que o judô americano está crescendo, como podem mostrar os resultados do RIO 2007. "Temos pesquisado as escolas de outros paises, como Cuba e Brasil. Nosso nível técnico, nossa maneira de pegar, tem melhorado a cada ano, com mais competições e treinamento. O judô como um todo esta crescendo nos Estados Unidos", assegura Jeanette.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Democracia pode parecer piada. Mas não é. Que o digam os americanos

Por Murillo Victorazzo
Não são poucos os que, ao irem a Nova York, já viram na Times Square, no centro de Manhatan, aquele "Naked Cowboy" com seu violão tirando fotos com turistas. Vestido com chapéu e botas brancas, usando apenas uma cueca, Robert Burck tornou-se uma figura turística da cidade. Já chegou, inclusive, a sair em fotos e filmes pelo mundo todo. Nesta terça-feira, 21, segundo o site UOL Tablóide, o cowboy loirão, de 38 anos, anunciou sua candidatura à Prefeitura da "Big Apple".
No Brasil, muitos políticos ou candidatos entraram para história por seus exotismos. Uma candidatura similar a essa, por sinal, motivaria muitos a dizerem: "Este país não é sério, mesmo". Por sua origem, seus vestuários ou formação, boa parcela da sociedade os vê como sinal da avacalhação da política nacional. Seria uma triste especificidade nossa. Não é.
Um país como os Estados Unidos, cujo um dos presidentes mais marcantes e populares era um ator de segunda categoria de Hollywood, tal anúncio não chega a ser visto como escárnio. Tida como exemplo de democracia historicamente estável, o Tio Sam sabe que qualquer cidadão tem o direito de se candidatar ao cargo que desejar.

Para ser um bom político, não é necessário ser um gerente. Liderança, sensibilidade política e capacidade de se cercar por bons auxiliares não são necessariamente adquirida nos bancos universitários. Nem vocabulários e ternos bonitos significam competência.
O "Naked Cowboy", certamente, não será levado a sério nem é páreo em uma disputa cujo favorito é o atual prefeito,  o milionário Michael Bloomberg. Tampouco aqui se pretende considerá-lo assim. Certamente será motivo de piadas. E piadas fazem bem à política, o que é bem diferente de levar a política como piada.

Provavelmente, porém, os norte-americanos não o verão como sinal de uma suposta decadência de sua democracia. Salvo os donos de mentalidade obtusa, achincalarão o candidato, mas não o regime e suas instituições. O complexo de vira-latas não tem espaço por lá. Eles entendem melhor a essência da democracia - com seus defeitos e virtudes. Sabem que, como dizia Winston Churchill, a democracia é o pior dos regimes, exceto os outros.




domingo, 19 de julho de 2009

Nas calçadas, a cultura popular

Estava ainda na sucursal Rio da revista ISTOÉ quando ganhava força uma agradável moda de se homenagear personalidades de nossa cultura popular com estátuas nas calçadas e praças do Rio de Janeiro. Fugia ao cansativo busto formal em pedestais e às figuras militares e políticas. Sugeri, por isso, uma matéria sobre esse assunto, que saiu na edição nº1777, de 22/10/03. Desde então, mais personalidades, como o jornalista Zózimo Barroso do Amaral, entre outros, ficaram eternizado de modo semelhante. Que bom que se arejou a cabeça dos responsáveis pela cidade, que notaram que uma nação se faz, antes de tudo, por sua cultura. (foto: ISTOÉ on line)
Eles merecem
Por Murillo Victorazzo
Uma concepção diferente das tradicionais estátuas para cultuar personalidades em praça pública está virando moda no Rio de Janeiro. Os ídolos são retratados com expressões descontraídas e situações reais, muitas vezes em tamanho natural. Os pedestais foram praticamente excluídos. No lugar de figuras militares e aristocráticas, entram os senhores da cultura popular brasileira.
O pioneirismo é de Noel Rosa, que desde 1996 pode ser visto bebendo cerveja e fumando em uma mesa de bar no boulevard 28 de Setembro, evidentemente em Vila Isabel. Pixinguinha chegou ao centro do Rio em 1997 e, no ano passado, Carlos Drummond de Andrade se incorporou à paisagem de Copacabana.
Nos próximos meses chegará a vez de Braguinha ser eternizado. A escultura de bronze de um dos maiores autores de marchinhas de Carnaval está pronta, com 600 quilos e 2,20 m de altura. Ela reproduza simpatia do artista, mostrando-o andando, de braços abertos e saudando o povo. Ficará na avenida Princesa Isabel, perto da praiade Copacabana, que o compositor, hoje com 97 anos, apresentouao mundo como “princesinha do mar”.
Para aumentar a galeria de homenageados, até o fim do ano o Morro da Mangueira ganhará uma estátua de Cartola, com 500 quilos e a mesma altura de Braguinha. O fundador da mais tradicional escola de samba carioca estará para sempre sentado em uma pedra que representa o morro. “Resgatar ícones dessa envergadura por meio das artes plásticas é criar empatia com a massa”, afirma o artista plástico Otto Dumovich, que esculpiu Cartola e Braguinha. Ele também é o autor da réplica de Pixinguinha instalada na travessa do Ouvidor.
Inaugurada para celebrar o centenário de nascimento do compositor, a obra que retrata o autor de Carinhoso tocando saxofone é uma exceção entre as outras de Dumovich por estar num pedestal.
O artista plástico paraibano Joás Pereira, que esculpiu a estátua de Noel Rosa, retratou em dezembro do ano passado o escritor Otto Lara Resende em pé, lendo ao lado de uma mesa, no largo que leva seu nome no bairro do Jardim Botânico. Dois meses antes, como parte dos festejos pelo centenário de nascimento de Carlos Drummond de Andrade, o artista plástico mineiro Leo Santana fixou a réplica em tamanho natural do poeta em um banco no trecho da praia que ele costumava frequentar.
A moda das estátuas também chegou a Búzios, na região dos Lagos. Para inaugurar a recuperação da orla central do balneário mais badalado do País, na praia da Armação, há pouco mais de dois anos foi instalada uma réplica da atriz Brigitte Bardot. A partir de uma foto da época em que a estrela pisou em Búzios, nos anos 60, a escultora Cristina Motta, a pedido da prefeitura, reproduziu um dos maiores símbolos sexuais da história do cinema. “A estátua tornou-se um marco para a cidade. Nada mais justo, pois foi ela quem tornou Búzios famosa no mundo”, diz Isac Tillinger, secretário municipal de Turismo.

Guanabara: beleza e poluição

Em junho de 2003 colaborei em uma matéria sobre desastres ambientais na revista ISTOÉ (edição nº1757). Assinada pela repórter Darlene Menconi, a matéria mostrava a gravidade dos despejos de lixos tóxicos no rio Tietê e outros lugares, problema que afetava a vida de cinco milhões de brasileiros.
Meu box chamava a atenção para o polêmico Programa de Despoluição da Baía da Guanabara, projeto que até então não havia se concretizado, tendo sido alvo até de CPI na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Lamentável que seis anos depois, quase nada mudou. E com um agravante: parece que tanto o programa quanto as denúncias foram apagados com o tempo.
Paisagem mutante na baía de Guanabara
Por Murillo Victorazzo
No verão de 2000, o Rio de Janeiro assistiu, impotente, ao seu pior desastre ambiental. Um vazamento na refinaria Duque de Caxias, da Petrobras, lançou nas águas da Baía de Guanabara, o maior cartão-postal da cidade, 1,3 mil toneladas de óleo combustível. A mancha negra atingiu áreas de proteção ambiental, matou animais e peixes.
Não foi o único acidente. Nas águas da Baía de Guanabara são despejadas, todos os anos, cinco mil toneladas de óleo e 465 toneladas diárias de carga orgânica doméstica, o equivalente a um estádio do Maracanã repleto. As 55 indústrias fluminenses, os terminais de combustível, os postos de gasolina, os estaleiros e os navios agravam a dose de poluentes.
Por conta desse volume, a despoluição da baía é o mais ambicioso projeto de recuperação ambiental do País. Começou nos anos 90, com recursos nacionais e de organismos americanos e japoneses. Seu objetivo era reduzir para um décimo a carga orgânica industrial jogada na baía e cortar pela metade o esgoto lançado. A previsão era concluir em cinco anos a primeira fase da obra, construindo linhas de esgotos na rua e estações de tratamento. Nove anos se passaram, gastaram-se US$ 800 milhões (R$ 2,4 bilhões) e falta cumprir um terço das metas.
A previsão de término da despoluição agora passou para o final de 2004. Estima-se que as águas da Guanabara já consumiram quase R$ 13 bilhões ao longo dos últimos anos. Pelos atrasos e denúncias de irregularidades, a despoluição virou alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembléia Legislativa do Rio. O programa de despoluição também será analisado pela força-tarefa criada no Ministério Público Federal para apurar e remediar os danos provocados ao meio ambiente e aos recursos hídricos do Rio de Janeiro.

Heroína colombiana (a boa)

O RIO 2007 propiciou-me conhecer melhor esportes pouco difundidos no Brasil e atletas que, embora tenham pouca visibilidade, chamaram-me a atenção pela garra e volta por cima. A ciclista colombiana Maria Luiza Calle foi uma delas. Tive contato com ela no Velódromo do Rio, dia 17/07, após sua vitória na prova de perseguição individual:
Depois do susto em Atenas 2004, ciclista colombiana prossegue em sua volta por cima
Por Murillo Victorazzo (www.rio2007.org.com.br)
Aos 38 anos, a ciclista Maria Luiza Calle Willians é uma das mais respeitadas atletas da Colômbia. Nesta terça-feira, seu prestígio certamente deve ter aumentado. Ratificando seu favoritismo na prova de perseguição individual feminina do RIO 2007, ela, além de levar o bicampeonato, quebrou o recorde pan-americano.
Após a vitória, Maria Luiza era a imagem da satisfação consigo mesma. E não é para menos. Este ano, ela já havia sido medalha de bronze na mesma prova na Copa do Mundo de Los Angeles, e prata na prova de scratch, no Mundial de Palma de Mallorca, Espanha. Em 2006, levou o ouros na prova do scratch no Mundial, em Bordeaux, França, e a prata na perseguição individual na Copa do Mundo de Los Angeles, ambas em 2006.
Mas a carreira dela, nos últimos anos, não foi só alegria. Após levar o bronze na prova de corrida por pontos nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004, Maria teve sua medalha retirada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), acusada de doping. Em outubro de 2005, ela reconquistou o bronze ao conseguir mostrar que era inocente. O remédio tomado, segundo ela, era para dor-de-cabeca. "Senti muita tristeza, principalmente por não poder fazer nada naquele momento. Mas a verdade apareceu e o ouro no RIO 2007 é o prosseguimento da minha volta por cima", diz Maria Luiza.
Um sinal da popularidade da atleta na Colômbia foi o telefonema do presidente Álvaro Uribe, durante a entrevista coletiva após a entrega da medalha. "Ele me deu parabéns por estar dando esta felicidade ao nosso país e disse que os colombianos estão me esperando de braços abertos", contou.
Com 18 anos e em seus primeiros Jogos, a medalhista de bronze da prova, Dalila Rodriguez, é outra que admira Maria Luiza ."É uma honra poder subir ao pódio com ela. Maria é um exemplo", diz a cubana.
Casada e formada em administração de empresas agropecuárias, Maria Luiza treina ciclismo há dez anos no Velódromo Martin Emilio Rodrigues, de Medellin, sua cidade natal. Ela conta que começou a praticar o esporte incentivada pelo pai. "Eu e meu pai gostávamos de correr de bicicleta. Ele me estimulou, e eu comecei a levar a sério", diz. O semblante sereno na conquista do ouro é o mesmo que teve no momento angustiante por qual passou.
Quem confirma esta característica da ciclista é Jose Julian Velasquez, seu treinador, presente em todas essas conquistas e no susto do suposto doping."Maria Luiza é muito tranqüila. E foi com a tranquilidade de quem tinha certeza de que não havia feito nada errado que ela lutou até recuperar sua medalha olímpica", conta ele, revelando o segredo do sucesso da colombiana: "Ela é muito profissional e ama o ciclismo, além de ter uma força mental e física impressionante".

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Vácuo no jornalismo brasileiro

Muito já se discutiu e muito ainda se discutirá a respeito do fim da obrigatoriedade do diploma para exercício do jornalismo. Há justiças e injustiças no debate, porém uma coisa é inegável: do jeito que o STF lida com o assunto, a classe jornalística encontra-se em um vácuo júridico. Parece que os nobres ministros não perceberam a importância do que decidiram, com reflexos não apenas na vida dos milhares de jornalistas ou estudantes do curso, mas da imprensa em si, que, afinal de contas, é tida como o "Quarto Poder".

Decisão do STF causa indefinição sobre registro profissional de jornalistas

Por Daniella Dolme (do site Última Instância, 15/07/2009)

Há quase um mês, o STF (Supremo Tribunal Federal) acabou definitivamente com a obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão. No entanto, acabou criando uma indefinição que ainda não foi esclarecida: se o registro profissional no Ministério do Trabalho, o Mtb, ainda é necessário.

De acordo com a assessoria de imprensa do Ministério do Trabalho, a decisão dos ministros ainda está sendo analisada para que se verifiquem os possíveis desdobramentos que ela irá acarretar ao registro —como ele será empregado e quais serão as mudanças. Enquanto isso, não haverá um pronunciamento oficial a respeito do assunto.

Como a decisão do Supremo ainda não foi publicada no Diário Oficial, não existe comunicado do Ministério do Trabalho sobre o assunto. O Ministério do Trabalho informa que, desde a decisão do Supremo, os profissionais que possuem diploma conseguem o registro. Mas, os que não são formados e eventualmente solicitarem o Mtb, terão o pedido suspenso enquanto aguarda-se a definição sobre qual diretriz será seguida.

A assessoria de imprensa do STF informou que ainda não tem data prevista para que a decisão seja publicada. Os votos dos ministros serão publicados no site do Supremo, assim que forem entregues. Até agora, somente dois foram encaminhados: do ministro Cezar Peluso e de Carlos Ayres Britto.

Para o advogado João Piza, especialista em direito público e ex-presidente da seccional paulista da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), com o novo entendimento votado no Supremo não é preciso comprovar “absolutamente nada” para ser um profissional da imprensa. “Passou na rua, quer ser jornalista, a rigor não há nem a exigência de qualquer curso superior, aliás, nem de curso primário”, enfatiza.

Entretanto, para a advogada cível do jornal Folha de S.Paulo, Taís Gasparian, a decisão, na prática, não vai alterar o cenário atual. Segundo ela, há dois anos e meio já estava sendo levada em conta uma liminar que permitiu a contratação de jornalistas que não tenham diploma e, portanto, o Mtb já não era exigido.

Sendo assim, Taís afirma que fica a critério da empresa contratante decidir a exigência do diploma ou não para selecionar o profissional que fará parte da equipe. “Para você exercer o cargo de administração de empresas, você não precisa ser necessariamente administrador, você pode ser advogado, médico, pode ser o que for. Depende do que interessa para a empresa que está contratando”, exemplifica a advogada.

Procurado pela reportagem de Última Instância, o advogado do jornal O Estado de S. Paulo, Manoel Alceu, preferiu não se pronunciar a respeito do assunto enquanto não sair o acórdão e não forem definidas, em reuniões internas, o posicionamento do veículo.

Alvo de críticas e elogios, a decisão do Supremo ainda gera dúvidas e incertezas para os profissionais que já atuam na área e para os estudantes prestes a ingressar no mercado de trabalho. O advogado e mestre em filosofia do direito João Ibaixe Jr classifica a não exigência do diploma como uma “lacuna do direito”. “É quando uma determinada norma não trata de um determinado problema social e fica um espaço vazio, um vácuo, como, por exemplo, ocorreu também com a revogação da Lei de Imprensa e agora nessa questão do diploma”, explica.

Já o advogado João Piza, que defendeu a obrigatoriedade do diploma no Supremo, analisa que a decisão vem em desfavor da profissão de jornalista. “Ela confunde liberdade profissional e liberdade de imprensa com pré-requisito de conhecimento técnico para exercício profissional”, diz.

Para ele, que fez a sustentação oral na Corte pela Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), o único benefício restringe-se aos donos de empresas de telecomunicações, que agora não precisarão “negociar e pagar salários de um profissional preparado especificamente para exercer a profissão de jornalista”.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Vive la France: uma relação que dá samba?

Por Murillo Victorazzo
Presente às cerimônias comemorativas dos 22o da Queda da Bastilha, em Paris, o ministro da Defesa, Nélson Jobim deu mostras do intuito do governo brasileiro de realmente aprofundar as ditas relações estratégicas com a França. A preferência dada à sua indústria bélica no prometido processo de modernização das Forças Armadas brasileiras é o sinal mais concreto dessa política. Primeiro, os quatro submarinos para a Marinha; depois, ao que tudo indica, como Jobim deixa crer na matéria abaixo, os 36 caças para a FAB.
Por outro lado, também a França, pelo menos na retórica, mostra-se bastante interessada nessa relação. Tem sido ela o país europeu que mais parece convergir com os anseios da diplomacia brasileira. Em entrevista ao Globo, no último domingo, o embaixador francês no Brasil, Antoine Pouillieute, repetiu o apoio dado pelo presidente Nicolás Sarkozy à candidatura brasileira a uma vaga permantente no Conselho de Segurança da ONU.
Sarkozy, por sinal, foi o mais incisivo membro do G-8 a defender uma participação mais ativa dos países emergentes nas grandes discussões sobre o mundo. Destaque para a declaração conjunta dele com o presidente Lula, semana passada, defendendo uma rápida institucionalização do G-14, uma espécie de fusão do G-8 (Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, França, Canadá, Itália, Japão e Rússia) com o G-5 (Brasil, China, Índia, México e África do Sul) mais o Egito.
Emblemáticas também são a declaração de Poullieute de que "a Amazônia não é um problema mundial", ressaltando a soberania brasileira nessa questão (não esqueçamos que o assunto é de interesse direto da França, que tem território na região, a Guiana Francesa), e a vinda do líder francês a Brasília para participar das cerimônias do 7 de setembro. É esse pano de fundo que nos leva a matéria abaixo:
Jobim sinaliza vantagem da França em disputa por caças
Por Ana Carolina Dani (Folha de São Paulo, 14/07/2009)
O ministro da Defesa, Nelson Jobim disse ontem, em Paris, que o critério da transferência de tecnologia será fundamental para decidir o país que vai vencer a concorrência para a aquisição pelo Brasil de 36 caças do projeto FX-2. Jobim deu a entender que, por este aspecto, a França teria uma posição privilegiada nas discussões.
"Há uma disposição política do governo francês para a transferência de tecnologia. É uma decisão política tanto do presidente Nicolas Sarkozy quanto do presidente Lula. Existe disposição total dos franceses em caminhar nesse sentido", disse em entrevista na residência do embaixador do Brasil na França, José Maurício Bustani.
Segundo Jobim, a disposição da França em compartilhar tecnologia foi decisiva para a assinatura dos contratos de compra de quatro submarinos do tipo Scorpène, um de propulsão nuclear e 51 helicópteros militares que serão fabricados no Brasil.O ministro está em Paris para discutir com autoridades francesas a parceria estratégica entre Brasil e França na área de defesa, firmada no ano passado durante visita de Sarkozy ao Brasil.
Jobim também vai conhecer a linha de montagem do Rafale e voar em um modelo do caça francês, construído pela empresa Dassault, que está na disputa do projeto FX-2. Suécia e EUA também estão na concorrência.Segundo Jobim, a decisão final deve ser divulgada em agosto ou setembro, após análise do laudo que está sendo concluído pela FAB (Força Aérea Brasileira).
Sobre uma possível vantagem do candidato francês, ele disse não ter nenhum "a priori" sobre o assunto, mas concluiu dizendo que "o único país do mundo que tem tecnologia própria para avião, para submarinos de propulsão nuclear e com capacidade de transmissão é a França".

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Talese e Di Franco: lições de Mestres

Em artigo no "Globo", jornalista Carlos Alberto Di Franco, diretor do Master em Jornalismo e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, aproveita as provocativas declarações do papa do new journalism, ícone do jornalismo literário - ou da "literatura da realidade", como prefere -, Gay Talese, em sua visita ao Brasil, a respeito do jornalismo impresso atual, para colocar o dedo na ferida sobre que tipo de jornalismo os meios impressos deveriam praticar diante das novas tecnologias. É para ser posto em destaque em todas as redações e salas de aula das faculdades de comunicação:
A magia do jornalismo
Por Carlos Alberto Di Franco (artigo publicado em O Globo, 13/07/2009)
Gay Talese, um dos fundadores do New Journalism (novo jornalismo), uma maneira de descrever a realidade com o cuidado e o talento de quem escreve um romance, foi a grande estrela da Festa Literária Internacional de Paraty. Sua crítica da mídia pode parecer radical e ultrapassada. Mas não é. Na verdade, Talese é um enamorado do jornalismo de qualidade. E a boa informação, independentemente da plataforma, reclama talento, rigor e paixão. Segundo Talese, a crise do jornalismo está intimamente relacionada com o declínio da reportagem clássica.
“Acho que o jornalismo e não o Times, está sendo ameaçado pela internet”, disse Talese à revista Época. “E o principal motivo é que a internet faz o trabalho de um jornalista parecer fácil. Quando você liga o laptop em sua cozinha, ou em qualquer lugar, tem a sensação de que está conectado com o mundo. Em Pequim, Barcelona ou Nova York…Todos estão olhando para uma tela de alguns centímetros. Pensam que são jornalistas, mas estão ali sentados, e não na rua. O mundo deles está dentro de uma sala, a cabeça está numa pequena tela, e esse é o seu universo. Quando querem saber algo, perguntam ao Google. Estão comprometidos apenas com as perguntas que fazem. Não se chocam acidentalmente com nada que estimule a pensar ou a imaginar. Às vezes em nossa profissão, você não precisa fazer perguntas. Basta ir às ruas e olhar as pessoas. É aí que você descobre a vida como ela realmente é vivida.”
A crítica de Talese, algo precipitada e injusta com o jornalismo digital, é um diagnóstico certeiro da crise do jornalismo impresso. Os jornais perdem leitores em todo o mundo. Multiplicam-se as tentativas de interpretação do fenômeno. Seminários, encontros e relatórios, no exterior e aqui, procuram, incessantemente, bodes expiatórios. Televisão e internet são, de longe, os principais vilões. Será? É evidente que a juventude de hoje lê muito menos. No entanto, como explicar o estrondoso sucesso editorial do épico “O Senhor dos Anéis” e das aventuras de Harry Potter? Os jovens não consomem jornais, mas não se privam da leitura de obras alentadas.
O recado é muito claro: a juventude não se entusiasma com o produto que estamos oferecendo. O problema, portanto, está em nós, na nossa incapacidade de dialogar com o jovem real. Mas não é só a juventude que foge dos jornais. A chamada elite, classes A e B, também tem aumentado a fileira dos desencantados. Será inviável conquistar toda essa gente para o mágico mundo da cultura impressa? Creio que não. O que falta, estou certo, é realismo e qualidade.
Os jornais, equivocadamente, pensam que são meio de comunicação de massa. E não são. Daí derivam erros fatais: a inútil imitação da televisão, a incapacidade para dialogar com a geração dos blogs e dos videogames e o alinhamento acrítico com os modismos politicamente corretos. Esqueceram que os diários de sucesso são aqueles que sabem que o seu público, independentemente da faixa etária, é constituído por uma elite numerosa, mas cada vez mais órfã de produtos de qualidade.
Num momento de ênfase no didatismo e na prestação de serviços - estratégias úteis e necessárias-, defendo a urgente necessidade de complicar as pautas. O leitor que precisamos conquistar não quer o que pode conseguir na TV ou na internet. Ele quer qualidade informativa: o texto elegante, a matéria aprofundada, a análise que o ajude, efetivamente, a tomar decisões.
A receita de Talese demanda forte qualificação profissional. “A minha concepção de jornalismo sempre foi a mesma. É descobrir as histórias que valem a pena ser contadas. O que é fora dos padrões e, portanto, desconhecido. E apresentar essa história de uma forma que nenhum blogueiro faz. A notícia tem de ser escrita como ficção, algo para ser lido com prazer. Jornalistas têm de escrever tão bem quanto romancistas”. Eis um magnífico roteiro e um formidável desafio para a conquista de novos leitores: garra, elegância, rigor, relevância.
O nosso problema, ao menos no Brasil, não é de falta de mercado, mas de incapacidade de conquistar uma multidão de novos leitores. Ninguém resiste à matéria inteligente e criativa. Em minhas experiências de consultoria, aqui e lá fora, tenho visto uma florada de novos leitores em terreno aparentemente árido e pedregoso. O problema não está na concorrência dos outros meios, embora ela exista e não pode ser subestimada, mas na nossa incapacidade de surpreender e emocionar o leitor.
Os jornais, prisioneiros das regras ditadas pelo marketing, estão parecidos, previsíveis e, conseqüentemente, chatos. A revalorização da reportagem e o revigoramento do jornalismo analítico devem estar entre as prioridades estratégicas. É preciso seduzir o leitor com matérias que rompam com a monotonia do jornalismo declaratório. Menos Brasil oficial e mais vida. Menos aspas e mais apuração. Menos frivolidade e mais consistência.
Além disso, os leitores estão cansados do baixo-astral da imprensa brasileira. A ótica jornalística é, e deve ser, fiscalizadora. Mas é preciso reservar espaço para a boa notícia. Ela também existe. E vende jornal. O leitor que aplaude a denúncia verdadeira é o mesmo que se irrita com o catastrofismo que domina muitas de nossas pautas.
Perdemos a capacidade de sonhar e a coragem de investir em pautas criativas. É hora de proceder às oportunas retificações de rumo. Há espaço, e muito, para o jornalismo de qualidade. Basta cuidar do conteúdo. E redescobrir uma verdade constantemente reiterada pelo jornalista Ruy Mesquita: o bom jornalismo é “sempre artesanato.”