quarta-feira, 29 de junho de 2011

“Difundir a imagem da seleção campeã mundial não é sacrifício nenhum”, diz assessor da CBV

Por Murillo Victorazzo (matéria produzida na faculdade, em 2004, revisada recentemente)

Nos últimos anos, o vôlei brasileiro ganhou inúmeros títulos expressivos. Entre a medalha de ouro nas Olimpíadas de Barcelona, em 1992, e o Campeonato Mundial, em 2002, cresceu e tirou do basquete o posto de segundo esporte mais querido entre os brasileiros. É nesse quadro que o jornalista Gilberto Pauletti, assessor de imprensa da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), trabalha para difundir cada vez mais a imagem da modalidade. “Nosso objetivo é tornar o vôlei um esporte de massa, apesar de já ser o segundo esporte mais praticado no Brasil”, revela esse gaúcho formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e com experiência nos mais diversos veículos de imprensa brasileira, da sua terra natal até Recife.

Apesar do Brasil ser um país cuja grande paixão nacional é o futebol, Pauletti conta que a CBV não tem somente um público-alvo. As crianças carentes merecem atenção especial. São elas o foco principal do projeto VivaVôlei, cujo objetivo é, através do esportes, introduzí-las na sociedade. Mas os praticantes amadores do esporte - principalmente os da terceira idade e os estudantes - também recebem cuidados, com a realização de competições. Isso é claro sem contar a “elite dos atletas”, representados pelas seleções adultas, juvenis e infanto-juvenis masculinas e femininas. “Trabalhar com as seleções adultas é o mais fácil, porque têm muito apelo. Difundir a imagem de uma seleção campeã mundial e Tri da Liga Mundial não é sacrifício nenhum”, brinca. Para atingir tal objetivo, explica, a CBV usa todos os tipos de mídia. “Mas é claro que usamos mais intensamente o noticiário de jornal e de TV”, ressalta.

Pauletti explica que ‘vender’o vôlei não significa promover somente as equipes de Bernardinho e José Roberto Guimarães e as competições principais. Afirma que o mais difícil, embora também muito prazeroso, é massificá-lo em áreas mais distantes. “Nossa prioridade é ser didático e dar muita atenção a esses locais”, diz. Como exemplos de dificuldades, cita os 12 campeonatos brasileiros de seleções juvenis e infanto-juvenis, divididas em Divisão Especial, Primeira e Segunda: “São torneios que se realizam em Mossoró, no Rio Grande do Norte, e Castanhal, no Pará, por exemplo. É um esforço muito grande”. A dimensão de seu trabalho é proporcional à popularidade que o esporte ganhou e ao tamanho do País. Fatores que, segundo ele, propicia erros e acertos de comunicação a todo o momento. “Divulgar a Liga Nacional deste ano, com 71 equipes e jogos até no Amapá é o nosso grande desafio atual. Nem sempre temos bons resultados”, admite.

Pauletti trabalhou no Zero Hora (RS), Jornal do Brasil, O Globo e Correio Brasiliense, além da sucursal da revista Veja em Recife. Em Brasília, integrou a assessoria de imprensa do Ministério do Meio Ambiente e, no Rio de Janeiro, a do Banco Nacional. Esta experiência nos dois lados da relação mídia e assessoria faz com que ele conheça bem como conquistar espaços nos jornais e revistas. Justamente por isto é crítico quando questionado sobre estes veículos.“Há oportunidades em que a imprensa ajuda muito. Em outras, é até irresponsável. Mas, sem ela, não temos como divulgar nosso trabalho. Até porque cada caso é um caso”, opina, revelando a melhor maneira de obter sucesso: “Temos que ser sinceros e didáticos sempre. Mas é claro que trabalhar com o vôlei ajuda. Não há rejeição como poderia acontecer com algum produto comercial”.


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segunda-feira, 27 de junho de 2011

Os teens querem ler

Por Murillo Victorazzo (matéria produzida na ISTOÉ, em 2003, mas não publicada)

Os livros voltados para o público adolescente estão entre os que fazem mais sucesso atualmente. Exemplos não faltam: “O Diário de Tati”, da atriz Heloisa Perissé, foi lançado em abril deste ano e já está em sua quarta edição. Foram vendidos oito mil exemplares e esta última edição vem com mais duas mil cópias. Lançado pela editora Objetiva, esteve entre as top ten na Bienal do Livro do Rio, realizada em maio. O livro foi o campeão de vendas na livraria Sodiler, ficando em segundo lugar na Siciliano e em terceiro na Livraria da Travessa.

Um outro grande sucesso para o jovens é “Angus, o primeiro guerreiro”, de Orlando Paes Filho. O livro, lançado em maio, é editado pela Arxjovem, selo jovem do grupo Siciliano criado em setembro de 2002. Com tiragem até agora de 25 mil exemplares, a obra saiu da editora com 20 mil vendidos e já está em sua segunda edição. "Angus" inclusive foi o livro mais vendido no estande da Siciliano na Bienal, com o triplo de vantagem sobre o segundo. Uma amostra do sucesso foi o fato de o autor ter autografado mais de 500 exemplares no evento. Outro produto da editora que vem fazendo sucesso é "Sou uma adolescente", de Núbia Roca, lançado em janeiro e com 5 mil vendidos.

A editora Melhoramentos é outra que apresenta na lista dos livros mais bem sucedidos os destinados a esta faixa etária . Lançados em novembro de 2002, "Coisas que todo garoto deve saber sobre garota", de Peter Corey, e " Coisas que toda garota deve saber sobre garoto", de Kara May já venderam cerca de 25e 26 mil respectivamente. Há três meses, estão entre os mais vendidos nas livrarias. A obra de May inclusive teve cerca de 1500 exemplares vendidos somente em dez dias de Bienal.

Outros títulos da editora, menos recentes, chamam a atenção quando se vê a quantidade vendida. "Coisas que toda garota deve saber", de Samanta Rugen, lançado em 1997, já chegou a casa dos mais de 300 mil exemplares. Este, os livros de Corey e May e "Coisas que todo garoto deve saber", de Antonio Carlos Vilela, formam a série "Garotos e Garotas".

Segundo dados do SNEL ( Sindicato Nacional dos Editores de Livro), em 2002, foram vendidos cerca de 6.3 milhões de livros juvenis e editados 1720 títulos. É o equivalente a 4% e 2% de participação no mercado de livros respectivamente. Em 2001, foram 2420 títulos e 8.1 milhões de exemplares. Comparados os dois anos, percentualmente, houve uma estabilidade: 2% dos livros vendidos foram para o público juvenil, o que mostra que a retração foi em todo o mercado de livros, devido provavelmente à situação econômica do país. Desses 1720 livros editados em 2002, foram 690 em primeira edição e 1030 de reedições. Em relação a exemplares, foram vendidos 3.2 milhões de lançamentos e 3.1 milhões de obras reeditadas.

Títulos de livros juvenis editados
2001                 2002
2420 (6%)*       1720 (4%)*

Exemplares de livros juvenis vendidos
2001                 2002
814000 (2%)*   630000 (2%)*
(*) em relação ao total do mercado de livros

sábado, 25 de junho de 2011

Made in USA, mas com jeitinho carioca

Por Murillo Victorazzo (matéria feita pela ISTOÉ, em 2003, mas não publicada)

Assim como no vôlei e no futebol de praia, as areias cariocas vêm sendo palco de outra “invenção”: o futebol americano. O crescimento da versão brasileira de uma das maiores paixões dos Estados Unidos é fácil de ser notada para quem freqüenta esses famosos cartões postais. Em 2000, quando foi disputado o primeiro Carioca Bowl, o campeonato estadual do esporte, só havia dois times e os jogos eram disputados na praia de Copacabana. Hoje, em seu quarto campeonato, são quase 400 atletas inscritos em oito times e se espalhou pelas praias de Botafogo, Ipanema e Barra.

"Se levarmos em conta que no ano passado tínhamos apenas quatro equipes e menos de cem praticantes, posso dizer que poucos esportes no País cresceram tanto quanto o nosso", acredita o jornalista Fernando Kallás, 24 anos, corner back do Gorilas e diretor de Comunicação da AFAB (Associação de Futebol Americano do Brasil), criada no início do ano.

Em abril deste ano, a NFL, Liga profissional norte americana, enviou uma de suas maiores estrelas, o tight end Tony Gonzales, do Kansas City Chiefs, para um evento na praia de Copacabana. Para Kallás, foi a “entrada no mapa mundial do esporte". A expansão do futebol americano despertou a atenção do Botafogo e do Fluminense. Há dois meses, o clube alvinegro assinou uma parceria com o Reptiles, dando seu nome e infra-estrutura à equipe, que treina na Praia de Botafogo. No mesmo caminho, semana passada, foi a vez do Tricolor se juntar ao ipanemense Gorilas.

 Com acesso ao departamento médico e academia de musculação, os atletas agora não precisam mais tirar de seus próprios bolsos o dinheiro para a preparação física e tornaram sócio-atleta dos tradicionais clubes de General Severiano e Laranjeiras. "Vimos que se tratava de um esporte que cresce e é praticado em um local lindo. Certamente vai valorizar a marca do clube", garante Renê Machado, superintendente de Desporto Amador do Fluminense. A expectativa agora é pelo primeiro clássico envolvendo os dois times, que será disputado dia 21 de setembro na praia de Ipanema. "Vai ser o grande momento do nosso campeonato", prevê o estudante de Análise de Sistemas Cateno Viglio Júnior, 21 anos, wide receiver e presidente do Botafogo Reptiles.

As regras da versão carioca são basicamente as mesmas da original. No entanto, sem dinheiro para comprar aqueles gigantescos uniformes com proteções e capacetes (seriam US$350 por atleta), algumas outras foram criadas para preservar a integridade física dos jogadores. "É proibido o contato do pescoço para cima, mas é inevitável que a gente apanhe e bata mais ", brinca Kallás, com dois tendões do ombro esquerdo contundido após uma pancada em um amistoso.

Mesmo desconhecido da maioria, o esporte chama atenção de quem anda pelos calçadões cariocas. "Na maioria das vezes as pessoas não entendem muito, mas acabam sentando nos quiosque para nos ver”, conta Cateno, na expectativa pelo aumento da torcida: “Vai ser curioso ver os botafoguenses nos jogos nos apoiando ”. Sobre por que terem escolhido jogar na praia, ele dá um motivo irrefutável: “Esporte amador precisa de divulgação. Sendo no Rio, nada melhor que na areia.”

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Lulismo seduz América Latina mas é difícil de copiar

Da Reuters/Brasil Online (23/06/2011)

Poucos dias depois de ser eleito presidente do Peru, Ollanta Humala viajou ao Brasil para aprender mais a respeito do sucesso do país na última década, e também para visitar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que inspirou o próprio Humala em sua trajetória da esquerda radical para o centro do espectro político. A vitória eleitoral de Humala foi mais um sinal da propagação internacional da receita adotada por Lula, que mistura políticas de mercado e programas sociais para os pobres, e que é vista como responsável por transformar o Brasil em uma potência econômica. É o chamado Consenso de Brasília, ou simplesmente lulismo.

O ex-sindicalista estabeleceu uma invejável fórmula eleitoral ao conseguir impressionantes avanços no combate à pobreza durante seus oito anos no poder, mas sem desagradar os banqueiros de Wall Street, e elevando o Brasil e seu grande mercado à mesma estatura de potências emergentes como China e Índia.

Em 2009, o esquerdista Mauricio Funes conquistou a presidência de El Salvador à frente de um partido formado por ex-guerrilheiros marxistas, ao convencer suficientes eleitores de classe média de que ele se inspirava mais em Lula do que no venezuelano Hugo Chávez. Na América do Sul, vários líderes trilharam o caminho do lulismo. O caso mais notável é o de José "Pepe" Mujica, ex-guerrilheiro eleito em 2009 para a presidência do Uruguai. O paraguaio Fernando Lugo também se esquivou de copiar políticas esquerdistas mais radicais desde sua eleição, em 2008.

Hoje em dia, citar Lula como modelo é uma manobra política inteligente para qualquer candidato esquerdista latino-americano desejoso de afastar uma imagem de radical junto ao eleitorado.  "O Brasil é a estrela guia, a referência para muitos governos como um exemplo de sucesso", disse Michael Shifter, presidente da entidade Diálogo Interamericano, de Washington.

Mas copiar a fórmula lulista pode ser mais fácil na teoria do que na prática - algo que Humala talvez perceba nos próximos meses. Os dois mandatos de Lula - que terminaram em 1o de janeiro, com a posse de sua apadrinhada Dilma Rousseff - foram construídos com base em uma longa transição do PT até o centro do espectro político, de um "boom" no preço global das commodities e do carisma pessoal do próprio Lula.

Já a adesão de Humala às políticas de centro-esquerda é bem posterior, e seu partido não tem a mesma força institucional do PT. O Peru, que vem de governos anteriores de centro-direita, alinhados com países como Chile, Colômbia e México, tem um orçamento público pequeno, o que limita sua capacidade de ajudar populações carentes em áreas pobres e/ou rurais.

"Qualquer emulação enfrentará sérias limitações", disse Matias Spektor, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro. "Isto posto, o que Humala parece estar fazendo é perceber que há uma mensagem para os partidos progressistas na região, de que você precisa de estabilidade financeira com algum grau de redistribuição (de renda). Não se trata de as pessoas irem às ruas combaterem a velha elite, trata-se de uma redistribuição em níveis mínimos."

O próprio Lula saudou a vitória de Humala como um passo adiante para a esquerda progressista na América Latina, na qual ele incluiu o socialista Chávez e seus principais discípulos - o boliviano Evo Morales e o equatoriano Rafael Correa.

Mas há uma clara e tradicional divisão entre o chavismo, com seu estilo radical e de embate frontal contra os EUA, e o lulismo, mais moderado. E ultimamente este vem se sobrepondo àquele. Nos países chavistas, a economia tem enfrentado dificuldades. A Venezuela tem sido incapaz de domar sua inflação na casa dos dois dígitos anuais, e seu crescimento econômico é oscilante. O setor privado encolheu, empresas nacionalizadas apresentam mau desempenho, e há frequente escassez de produtos básicos.

Chávez também vem perdendo o apoio entre cidadãos comuns da América Latina nos últimos anos por causa de políticas agressivas, como ao ameaçar o controle dos meios de comunicação, segundo Yehude Simon, um ex-esquerdista que atuou como primeiro-ministro no governo do conservador Alan García, atual presidente do Peru. "O Chávez de 2006 não é nada em comparação ao Chávez de 2011. Ele cometeu uma série de erros", disse ele. "Chávez pode ser muito amistoso e charmoso, mas às vezes é muito autoritário."

No Peru, Humala aproveitou-se repetidamente de táticas eleitorais de Lula, chegando inclusive a contratar dois experientes quadros do PT - Luis Favre e Valdemir Garreta - para ajudar no comando da sua campanha. Eles aconselharam Humala - derrotado por uma estreita margem na eleição de 2006, quando apresentou uma plataforma ultranacionalista que assustou investidores - a apresentar uma "carta ao povo peruano" em que se comprometia a combater a inflação e manter o equilíbrio fiscal.

Foi a mesma coisa que Lula fizera em 2002 na sua "Carta ao Povo Brasileiro", um marco na sua conversão da esquerda radical para o centro político, após três derrotas sucessivas na disputa para o Planalto. Humala também se propõe a copiar outro pilar do lulismo, as políticas de distribuição de renda que, no Brasil, ajudaram a tirar milhões de pessoas da pobreza e a criar uma vibrante classe média.

O futuro presidente peruano propôs taxar os lucros das grandes mineradoras para financiar um fundo que ajude os peruanos pobres, que são um terço da população. Críticos dizem, no entanto, que esse modelo só irá funcionar enquanto o preço das matérias-primas continuar elevado. "Humala vai precisar de muita habilidade para manter as empresas estrangeiras e peruanas investindo aqui, ao mesmo tempo em que gerencia as exigências das províncias por melhores programas sociais", disse Simon.

O Peru e outros países da região têm orçamentos federais muito menores que o do Brasil, o que limita a capacidade dos governos de copiar os enormes investimentos sociais da era Lula. As economias desses países também são bem menos diversificadas que a do Brasil, tornando-se assim mais vulneráveis a choques econômicos causados por uma queda no preço das commodities, por exemplo. Num cenário desses, eles podem ter dificuldades para manter os mercados financeiros e seus cidadãos satisfeitos ao mesmo tempo.

E, afinal de contas, pode ser a China comunista - já a principal parceira comercial do Brasil, e segunda maior do Peru - que irá determinar o sucesso do lulismo dentro e fora do Brasil. "Se a economia da China sofrer uma desaceleração, será um problema para Humala", disse Simon. "Grande parte da América Latina é dependente da China."

segunda-feira, 20 de junho de 2011

A arte de fazer um jornal diário

Por Murillo Victorazzo (resenha escrita ainda na faculdade, em 2003, revisada recentemente)

Ricardo Noblat passou, nos últimos 30 anos, por boa parte dos mais importantes órgãos de imprensa do País. Jornal do Brasil e as revistas Manchete e ISTOÉ são apenas alguns exemplos. Mas certamente foi como diretor do Correio Braziliense que o jornalista pode marcar o seu nome na imprensa brasileira. Em 1994, ao inovar graficamente e alterar a linha editorial do maior diário da capital federal, realizou a reforma mais radical em um jornal nacional nos últimos 40 anos. O resultado foi o aumento em 64% da circulação do Correio. É com tamanha bagagem que esse pernambucano de 52 anos escreveu A arte de fazer um jornal diário, da editora Contexto.

Entre diversos assuntos, são os detalhes da transformação que o jornal sofreu - e vem sofrendo - um dos pontos mais interessantes do livro. Afinal, “se o mundo está em contínuo movimento, por que os jornais devem permanecer parados?”, pergunta o autor. Para aqueles profissionais e estudantes da área que se incomodam com o conservadorismo da imprensa escrita, nada mais estimulante do que conhecer os “princípios gerais do Correio 2000”. Nesta parte da obra, Noblat compara item por item a filosofia de trabalho do jornal antes e depois da reformulação. Nada mais do que o ideal de jornalismo impresso desejado por ele.

O livro começa com o diálogo entre um jornalista e um leitor, no qual este faz perguntas difíceis de responder, mas que são a síntese da discussão que Noblat tenta levantar. Por que os jornais se parecem tanto? Quem compra jornais pensa como a maioria dos jornalistas? Por que os jornais têm tantas páginas se as pessoas têm cada vez menos tempo para ler? Quais os temas que interessam os leitores? O que fazer para atrair o jovem? A partir dessas indagações, Noblat, por meio de histórias vividas por ele ou amigos, dá uma verdadeira aula de jornalismo e faz um protesto veemente contra o modelo de jornal feito hoje em dia mesmo diante da queda de vendagem e de publicidade.

O desafio de enfrentar a televisão e a internet é a base para pensar o futuro da mídia impressa. “Os jornais morrerão, sinto dizer-lhes isso. Tal como existem hoje, tudo indica que morrerão. Só não me arrisco a dizer quando”, diz. Segundo Noblat, “a maioria das pessoas já soube o que aconteceu antes de abrir o jornal (...) Mas desconhece por que aconteceu. E não faz a menor idéia do que acontecerá depois.” Explicar a notícia e antecipar fatos seria então a chave do sucesso, assim como priorizar reportagens exclusivas, dar mais espaço para a interação com o leitor e atrair o público jovem e feminino

Polêmico, mas sem perder o humor, Noblat não esquece de questionar o trabalho de seus “coleguinhas”, desde a apuração até a edição. Põe em dúvida a legitimidade de determinadas maneiras de se conseguir informações, frisando que a ética sempre será prioridade na profissão, ensina a lidar com as fontes e sugere a melhor maneira de usar o off. Outro tabu que tenta quebrar é o rejuvenescimento da pauta. “O único meio possível de oferecer notícias que surpreendam o leitor é deixar quer os repórteres pautem o jornal de fora para dentro. Ou seja, da rua para a redação”, ensina. Embora ressalte que “não há receita para um bom texto jornalístico”, o livro dá dicas de como escrever bem: concisão, ordem direta, precisão, clareza e cuidado no uso dos adjetivos. Chavões e opiniões pessoais estão proibidos.

O sucesso de um texto depende fundamentalmente das primeiras linhas. Uma boa abertura é essencial. Para Noblat, no entanto, o lead tradicional já morreu. “Se até as mulheres para engravidar já não precisam conhecer os pais do futuro filho, por que para escrever ainda precisamos conhecer a fórmula do lead e respeitá-la?”, indaga, brincando. E acrescenta: “Se quisermos que o primeiro parágrafo de uma notícia continue atendendo pelo nome de lead, não brigarei por isso. Brigarei se teimarmos em redigi-lo do modo como o fazemos.”

Para provar que há inúmeras maneiras de se fazer um abertura fora do que acostumamos ver na grande maioria das matérias, o livro transcreve várias notícias publicadas em grandes veículos de comunicação com aberturas criativas. “O lead é inimigo do prazer que a leitura pode proporcionar. Porque inibe a imaginação e a criatividade dos jornalistas. E estimula a preguiça. Se as pessoas gostam de ouvir ou de ler histórias, como contá-las e escrevê-las com graça e esmero, se formos servos do lead?”, sentencia.

Entre críticas e ironias, extraem-se lições de como fazermos um jornalismo que talvez seja um tanto quanto idealista. No entanto, o que poderia ser mais um livro monótono de regras torna-se uma junção de ricas histórias com dicas, acertos, furos e sucessos. Ao final, dá-nos a sensação que estamos preparados para sermos melhores jornalistas.

Bao Chi, Bao Chi : um brasileiro na Guerra do Vietnã

Por Murillo Victorazzo (matéria escrita ainda na faculdade, em 2003, revisada recentemente)

Enquanto muitos fugiam da Guerra do Vietnã, Luis Edgar de Andrade foi, por vontade própria, ao encontro dela. Mas o que teria levado um jovem de cerca de 30 anos arriscar a vida como correspondente de guerra? Em entrevista a estudantes de jornalismo da UniverCidade, Edgar respondeu a esta e outras perguntas. “Eu achava que seria divertido para um jornalista ver a guerra”, explicou singelamente. Autor de Bao Chi, Bao Chi, romance que, misturando realidade com ficção, narra as dificuldades de um correspondente de guerra brasileiro naquela região, Edgar conquistou o público com sua simpatia e bom-humor. A obra, por sinal, já chama a atenção de cara por seu título. Significa “Não atirem, sou jornalista” em vietnamita, expressão constantemente usada pelos repórteres que se viam diante dos combatentes nativos.

A história gira em torno do repórter Miguel de Arruda que, ao perder o emprego, larga a namorada no Rio de Janeiro e parte para Saigon como free-lancer, a fim de cobrir a guerra. Ao chegar no Sudeste Asiático, apaixona-se por uma misteriosa brasileira que o acompanha na linha de frente. Ao longo do livro, numa mesa de bar, Miguel descreve sua adaptação à cultura e costumes do povo vietnamita, revelando os bastidores do conflito e o segredo de uma cobertura. Mostra ainda o ambiente de tensão, loucura, solidão e medo vivido pelos correspondentes.


Aos seus futuros colegas de profissão, Edgar explicou por que preferiu escrever um romance em vez de fazer um relato estritamente jornalístico de sua experiência no Vietnã: o antigo sonho de ser romancista falou mais alto. “O Fernando Sabino me disse uma vez que o jornalismo é muito bom para um futuro romancista”, contou, explicitando uma hierarquização em suas paixões. O autor revelou ainda ter escrito o texto na terceira pessoa para dar distanciamento e “transmitir emoção com fatos, não com palavras”. “Por causa da técnica de escrever na terceira pessoa, fui levado aos diálogos”, esclareceu.

Em tom de brincadeira, Edgar admitiu que a grande diferença entre ele e o protagonista do livro, é que este tinha mais mulheres e era mais inteligente. Ao relembrar a convivência com os soldados norte-americanos, lembrou que era possível notar a falta de motivação para lutar em uma guerra sem razão. “Essa foi uma das causas da derrota dos EUA”, garantiu.

Passar os dias lado a lado da tropa acabou levando o brasileiro a simpatizar com aqueles que antes rejeitava. Ao chegar ao Vietnã, com raiva da guerra e dos que a tinham, em sua visão, estimulado, Edgar planejava escrever um livro destilando críticas a eles. Mas, ao final da experiência, a sensação de estarem no mesmo barco acabou por criar certa empatia com os yankees. “Os correspondentes de guerra, inclusive, usavam farda rigorosamente igual aos dos combatentes”, observou ele, que, ao final da entrevista, confessou outro motivo que o levou à guerra: “Depois de muita psicanálise, percebi que transferia a raiva que tinha por várias coisas na época para o Vietnã”.

Sobre as diversas baixas entre jornalistas ocorridas no conflito, Edgar disse crer que muitas foram causadas pela falta de experiência militar: “Eu pelo menos tinha feito meu CPOR”.  Já para a mídia dos Estados Unidos, guardou elogios. Afirmou ter ela tido muita coragem na época, “apesar de alguns pecados”: “Em grande parte os EUA perderam a guerra por causa da cobertura da imprensa de lá, que colocou o conflito na cozinha dos americanos e mostrou a insanidade do ato”. A entrevista do veterano jornalista foi a incentivo que faltava para que os futuros profissionais se interessassem em ler o emocionante relato de um brasileiro que testemunhou o abalo pelo qual o mundo passou naquele inesquecível e turbulento ano de 1968.

domingo, 19 de junho de 2011

Uma ótima razão para ler

Por Murillo Victorazzo (resenha escrita em 2003, ainda na faculdade, revisada recentemente )

O marcante papel  de Samuel Wainer na imprensa brasileira é notório para todos os envolvidos na área. Entretanto, muitos dos que não conhecem em detalhes sua trajetória, ao lerem Minha Razão de Viver – Memórias de um repórter, se surpreenderão com o alcance de seu protagonismo - não só na história de nosso jornalismo como na de nossa política. “Eu teria a chance de ser, além de testemunha, um protagonista da Historia”, diz ele no livro, uma reunião das memórias ditadas pelo próprio em 53 fitas às vésperas de sua morte.

Repleto de confissões, ironias e críticas a diversas personalidades da política e dos meios de comunicação nacionais, o livro conta como um judeu pobre do bairro paulista do Bom Retiro se tornou dono-fundador de um dos maiores jornais do país nas décadas de 50 e 60, a Última Hora. Narra antes a evolução da brilhante carreira  de Wainer. Pela Diretrizes, revista que marcou época nos anos 40, ele foi o único jornalista brasileiro a cobrir o Tribunal de Nuremberg e a criação do Estado de Israel, em 1948. Histórias de reportagens suas com forte repercussão no Brasil e na Europa, como, por exemplo, as que fez sobre a ditadura de Francisco Franco na Espanha, também são esmiúçadas. 

Mas são os pormenores de sua amizade com os presidentes Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e João Goulart e a consequente aproximação do círculo íntimo do poder federal, o que mais chama a atenção. Extravasando sinceridade e sem falso moralismo, Wainer nos revela os bastidores da política, os motivos que o levaram a fundar seu jornal e os ideais que aí existiam. Com humildade, conta-nos as fases boas e ruins de sua vida profissional e pessoal - o “céu” e o “inferno”. Lembra detalhadamente não só os momentos em que foi bajulado por ser amigo do presidente e ter em mãos uma “arma” chamada Última Hora como também as crises financeiras, a acusação de falsidade ideológica que o levou a prisão em 1955, as humilhações sofridas e a venda do jornal.

Nas 282 paginas do livro, o leitor se depara com constantes autocríticas e confissões. Wainer, por exemplo, afirma que criação do semanário Flan foi um “erro político”. Mostra também arrependimento pela compra da então Rádio Club, embora tente se justificar alegando que “sempre foi um aventureiro, e um aventureiro é, por definição, um otimista”. Demostrando franqueza, admite que via e sabia de muito dos tráficos de influência existentes, dos negócios de “cartas marcadas” e das relações delicadas entre empreiteiros e os governos que apoiou (os dos seus três amigos). E surpreende ao revelar que sempre que algum negócio lhe beneficiava, o dinheiro era integralmente aplicado no jornal. “Nunca quis nada para mim”, diz.

O livro começa no encontro do jornalista com Getulio Vargas, recém-eleito presidente da Republica, em 1950. Os dois tinham se conhecido havia pouco mais de um ano. Segundo ele, em meio a uma viagem ao Rio Grande do Sul para fazer uma reportagem sobre trigo,  “pressentira " que o ex-ditador, exilado em sua fazenda, estava pronto para anunciar sua volta à vida política. É partir deste momento que a vida profissional de Wainer ganha novos contornos.  O mesmo político que o havia censurado na ditadura do Estado Novo se tornaria seu amigo intimo. Por todo o livro, o sentimento de amizade, afeto, respeito e admiração por Vargas está presente. “Éramos amigos e, eventualmente, cúmplices. Ele, às vezes, me comovia com preocupações paternais”, recorda-se.

Em outro trecho, diz: “A campanha (presidencial de 1950) me revelara Vargas por inteiro. Compreendi, entre outras coisas, que conhecera o primeiro líder burguês da Historia do Brasil a conseguir efetiva comunicação com o povo. As classes conservadoras não souberam captar tal fenômeno e por isso o mataram. Quando o país perdeu Getúlio, o capitalismo brasileiro perdeu seu grande defensor. Se hoje estivesse vivo, ainda estaria fazendo composições, aparando arestas, conciliando. Porque essa era a natureza de Getúlio Vargas”.

Dessa relação, surgiu a Última Hora. Sem medo de parecer um jornalista “vendido” ao governo, Wainer admite que a fundação do jornal tinha como objetivo dar sustentação ao governo Vargas. Era, para ele, um momento em que todos os outros meios de comunicação faziam questão de ignorar a existência daquela administração. “Ao chegar ao Palácio, constatei, espantado, que, além de mim, só um repórter da Agencia Nacional subira a serra (para cobrir a primeira reunião ministerial). Percebi que a imprensa decidira fechar o cerco a Vargas através da conspiração do silêncio”. Aliado ao desejo de ter o seu próprio jornal, o intuito era levar as ideias do getulismo às massas. “Estava evidente que a Útima Hora seria um jornal marcadamente político e favorável a Getúlio, embora pronto a criticar membros do governo”.

Mais desconcertante ainda é a confissão de que sempre escondeu, até nas sessões da CPI feita para devassar o jornal, ter havido realmente um pedido presidencial para que criasse o jornal. O pedido, entretanto, viera implicitamente em forma de pergunta: “Por que tu não fazes um jornal?”, indagou-lhe Vargas. As conseqüências desse triângulo Wainer-Última Hora-Vargas viriam a nortear a sua vida.

O ódio que Carlos Lacerda nutria por ele é outro ponto destacado em Minha Razão de Viver. Os duelos verbais travados violentamente através da Última Hora e da Tribuna da Imprensa são relembrados em tom nada arrependido, ainda que, no início, Wainer  pareça tentar entender as razões de uma amizade de juventude ter resultado em tamanha antipatia. Basta destacar que foi ele o autor do apelido pelo qual o líder udenista ficou notabilizado: "o corvo".

Segundo ele, o anti-getulismo de Lacerda fez com que a rivalidade se transformasse numa “guerra sem quartel, sem tréguas, sem limites”. O objetivo de seus inimigos - destruir a Última Hora - não seria alcançado sem que ele fosse destruído. Por isso, “as agressões pessoais não conheciam fronteiras”, diz, confessando, porém, que revidava agressivamente também. Lacerda, porém, não foi o único inimigo de Wainer. Assis Chateaubriand, que chegou a ser seu chefe, merece  “elogios” como gangster, ladrão e autoritário. A aliança entre seus desafetos, aliás, é tida por ele como o momento em que “o cerco começou a se fechar”. Ao ganhar o abrigo da TV Tupi de Chateaubriand, o udenista tornou-se um inimigo muito difícil de derrotar.

É, contudo ao recordar a acusação de não ser brasileiro que Wainer mais expõe seus sentimentos. Mesmo décadas depois é fácil notar a mágoa, a tristeza e o inconformismo com o fato: “...sucediam-se manchetes sempre agressivas: ‘CONFIRMADO: WAINER NASCEU NA BESSARABIA’; ‘AFINAL, PORQUE ELE QUER SER BRASILEIRO?’; ‘WAINER CHEGOU AO BRASIL COM DOIS ANOS.’ Assis Chateaubriand nessa campanha não poupou esforços para destruir-me.” Tal período, que culminou com sua prisão por falsidade ideológica em 1955, foi certamente um dos mais difíceis de sua vida. Na mesma época, em agosto de 1954, seu amigo e líder viria a se suicidar. A conjuntura negativa e seu forte impacto político  financeiro nos levam a antipatizar com a figura de Lacerda e seus aliados.

A tristeza é perceptível ainda no episódio da venda da Última Hora para um grupo de empreiteros, em 1972. A sua “razão de viver”, como ele chamava o jornal, já agonizava diante das dificuldades impostas pelo AI-5. Ele, que, após quatro anos de exílio em Paris, voltara em 1968, lamenta não poder sustentar mais aquilo que fora a realização de um sonho. Todos os seus ideais e pensamentos nacionalistas não tinham mais espaço para divulgação. Tudo estava nas mãos de pessoas que em nada representavam a linha editorial original de um jornal, que, de fato, foi revolucionário e pioneiro. Era, para ele, o fim de sua grande aventura, “o desfecho de um capitulo importantíssimo da historia do jornalismo brasileiro.”

Além das excitantes disputas políticas que narra, Wainer - acima de tudo, um excelente jornalista - deixa diversas mensagens para os profissionais e estudantes da área. Pelo livro, há frases que devem não ser esquecidas por quem pretende ter sucesso na carreira. “Um jornalista precisa viver na eterna expectativa de que pode viver situações que não ocorrem em outras profissões” e “quando se é correspondente de guerra, convém entender que o imponderável viaja permanentemente em nossa companhia, pronto para alterar planos e destinos” são alguns exemplos.

Wainer consegue agradar até aqueles que adoram de falar mal da imprensa. Em momentos de crítica à sua profissão, comenta que “a imprensa era tratada como uma parcela do Olimpo, fenômeno que, aliás, se manifesta ainda hoje e abrange também repórteres.”. “Quando um jornalista leva uma surra, o mundo vem abaixo. Mas a indignação e infinitamente menor se quem apanha é, por exemplo, um líder operário”, acrescenta acidamente.

Independentemente de posição ideológica, o livro é tão apaixonante e intenso quanto a vida do autor e o período da Historia vivido por ele. Crítico, autocrítico, sincero, realista, emotivo e idealista. É daqueles livros que, quando acabamos de ler, ficamos com a vontade de dizer “Quero mais”.

sábado, 11 de junho de 2011

Michel Temer é hoje o vice mais forte que o país já teve, diz acadêmico

Por Gilberto Scofield Jr (O Globo, 12/06/2011)

Para o professor de Ética e Filosofia Política da Universidade de São Paulo Renato Janine Ribeiro, o problema de articulação política da presidente Dilma não acabou. Ele diz que o vice-presidente Michel Temer - "o mais forte que o Brasil já teve" - fica mais poderoso diante de três mulheres (Dilma incluída) com perfis parecidos: pouco maleáveis para a tarefa de reunir interesses tão dispersos quanto os da base aliada, especialmente com o PT dividido.

O GLOBO - O que as mudanças no Ministério dizem sobre o futuro do governo Dilma?
Renato Janine Ribeiro - Apesar de a presidente ter se livrado de Palocci - que de ativo do governo virou um passivo -, os últimos movimentos políticos estão muito desencontrados para se garantir que a questão da falta de articulação política, subproduto da saída de Palocci, está resolvida. Tanto Ideli quanto Gleisi têm perfis parecidos com o de Dilma. As trajetórias delas mostram mulheres com pouca flexibilidade e pouca malícia para lidar com astros políticos tradicionais, que se movimentam de forma muito solta, o que não é bom para o governo. Nem a base aliada conhece a ministra Gleisi Hoffmann, e Ideli é criticada até no PT. Parece que a articulação política tem que ficar mesmo nas mãos de Dilma. Mas a deficiência central continua a mesma.

O GLOBO - Qual a deficiência central?
Ribeiro - A maior ameaça a Dilma não está na oposição, mas na figura de Michel Temer, o vice-presidente mais poderoso e influente que o Brasil já teve. Ele vem crescendo na capacidade de manter a coesão no saco de gatos que é o PMDB, principal base do governo no Congresso, satisfazendo seus líderes. Mesmo Sarney e Itamar, quando vices, eram inexpressivos, e talvez João Goulart tenha tido importância no tempo em que foi vice de JK. Mas com uma bancada parlamentar e um grupo de governadores do PMDB quantitativamente significativos, ainda que dispersos na busca de seus interesses, Temer se mostra um experiente articulador. Administrar a base é um ponto fraco do governo Dilma, com um agravante: não ouço a presidente tentando convencer a população sobre o que ela acha que são as prioridades do Brasil. É fundamental para neutralizar a pressão do Congresso.

O GLOBO - O governo tem um problema de comunicação?
RibeiroLula e Fernando Henrique, cada qual a seu modo, neutralizaram a dependência do Congresso ao conseguirem convencer diretamente a população da conveniência de suas políticas: no caso de FH, a estabilização econômica, a responsabilidade fiscal e o tamanho do Estado; e, no caso de Lula, a inclusão social com ganhos de renda e as vantagens do alinhamento Sul-Sul. Os dois eram capazes de fazer uma articulação política além do Parlamento, envolvendo sociedade e movimentos sociais e convencendo-os de que suas propostas eram úteis e convenientes ao país. É um trabalho de comunicação incrível. A atuação presidencial hoje é tanto política quanto midiática.

O GLOBO - A presidente não faz isso?
RibeiroEste é o problema dos chefes gestores, definição na qual se inclui o ex-candidato José Serra: alguém que faz as coisas acontecerem. É pouco porque não traz em si uma definição política. O risco do líder gerente é que ele abre um espaço de articulação política preenchido por terceiros. Como vem fazendo o Temer, que entrou em choque com Palocci desde o início do governo Dilma. O vice pode ser isolado, não demitido. Temer conseguiu reunir peemedebistas contra a Dilma na votação do Código Florestal e a favor do governo na votação do salário mínimo. Tudo fica pior num momento em que o próprio PT se encontra tão dividido.

O GLOBO - Qual seria a saída?
RibeiroA saída é Dilma assumir o papel de formuladora política e se sobrepor a um vice poderoso se dirigindo à sociedade. Nem chega a ser difícil diante de um governo de continuidade, mas todo mundo percebeu que muitos programas do governo Lula precisam de ajustes. Quando se percebe que um beneficiado do programa ProUni anda de carro importado, é ruim. Falta a presidente assumir um projeto de nova utopia. A discussão política hoje é fraca, voltada a um discurso de moralização que não se materializa.

O GLOBO - Qual a consequência disso?
Ribeiro - A consequência é que a persona política da presidente cedeu lugar à persona biológica quando se fala de Dilma Rousseff. Antes do escândalo Palocci, a discussão girava em torno da saúde da presidente. O tema é importante, mas não pode ser a grande discussão do país e só é assim, dado que a saúde dela vai bem, porque sua persona política não tem relevância.

O GLOBO - E como fica a oposição?
Ribeiro - Falar sobre fragilidade da oposição é pouco. Estão muito perdidos. O líder mais expressivo do PSDB, o senador Aécio Neves, não parece capaz de liderar uma bancada incapaz de aproveitar o momento em que o ex-presidente Fernando Henrique parece se aproximar dos jovens e insiste em alianças com setores conservadores de olho no eleitorado evangélico e carismático. Votou maciçamente por esta excrescência que é a reforma do Código Florestal, se afastando dos eleitores verdes.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Dilma agora tem um Planalto para chamar de seu

Do Blog do Fernado Rodrigues (UOL, 10/06/2011)

A presidente Dilma Rousseff tem agora dois ministros nomeados com sua inteira (e quase exclusiva) participação dentro do Palácio do Planalto. Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais), ambas escolhidas nesta semana, são diretamente devedoras de Dilma Rousseff.

Não que os outros mais de 30 ministros não o sejam. Mas todos os ocupantes de cadeiras na Esplanada foram colocados ali por meio de um processo híbrido, no final de 2010. O então presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, opinou a respeito de tudo.

Não foi propriamente uma tutela de Lula sobre Dilma, até porque a nova presidente eleita se dá muito bem com o antecessor. Mas é claro que as opiniões do petista histórico pesavam de maneira exacerbada.

Lula continua sendo o mais influente nome do governo Dilma, mas as trocas operadas nesta semana saíram, sobretudo, da cabeça da presidente atual. O antecessor foi consultado, aquiesceu, mas foi só.

Dilma Rousseff assim começa a ter uma equipe muito próxima a si e também sob seu inteiro controle. Pretende também fazer mais incursões pela política. Na prática, é o início real de seu mandato, que já está no 6º mês.

domingo, 5 de junho de 2011

Santos Dumont recebe homenagem a Stieglitz, o fotógrafo das nuvens

Por Murillo Victorazzo (release distribuído à imprensa)

Primeiro fotógrafo a ter acervo exposto em importantes museus, Alfred Stieglitz teve nas nuvens forte fonte de inspiração. Nada mais justo, então, que, 55 anos após sua morte, ele seja homenageado em um local que serve de elo entre o céu e o homem: o aeroporto. Entre os dias 16 e 30 de junho, será realizada no saguão do Santos Dumont a exposição Equivalente a Stieglitz.

Serão 24 fotógrafos brasileiros que apresentarão trabalhos cujo intuito é demonstrar a atualidade da obra do mestre, pioneiro na luta pelo reconhecimento da fotografia como arte criativa comparável à pintura. A mostra faz parte da programação oficial da FOTORIO 2011, encontro internacional de fotografia do Rio de Janeiro (http://www.fotorio.fot.br/).

O grupo reúne 12 novos talentos e 12 profissionais já consagrados na área: Marcos Bonisson, Renata Mazzini, Kitty Paranaguá, Viviane Angeleas, Cesar Barreto, Renato Índio do Brasil, Frederico Dalton, Marcos Dantas, Greice Rosa, Zeca Araujo, MT Ferraz, Patricia Gouvêa, Rodrigo Ambar, Angela Rolim, Gabriela Lima, Latorre, Mônica Mansur, Soledad Vinardell, Cesar Souza, Renan Cepeda, Marcia Mello, Eliana Aguiar e Leonardo Ramadinha, além de Marco Antonio Portela, também curador e idealizador da exposição.

O desafio proposto a cada um foi apresentar uma imagem-síntese inédita como releitura da produção de Stieglitz. Para tanto, juntando conceitos, emoções, e, principalmente, devaneios, os expositores se inspiraram especialmente na série Equivalents, sequência de imagens de nuvens feitas pelo artista entre 1925 e 1934.

Stieglitz, além de se deparar com as dificuldades técnicas do período para reproduzir em preto e branco o anil do céu, ainda buscava novos pontos de vista, enquadramentos e recortes. Procurava traçar vínculos entre imagens aparentemente dissociadas de emoções, como céus e nuvens, às sensações e sentimentos humanos. Para ele, toda nuvem traz em si a ideia de uma emoção humana. As nuvens, assim como a fotografia, trazem consigo certa visualidade que remete a outra coisa.

O local da exposição é, por isto, uma atração de feliz coincidência. “O homem que fotografava nuvens provoca artistas contemporâneos a produzir imagens quase um século depois. E essas imagens, sejam de nuvens ou não, mas que certamente vêm carregadas dos símbolos e significados que as nuvens ofertam, estarão expostas em território que conecta o homem com os céus - um aeroporto” ressalta Portela, mestre em Artes, professor de fotografia e coordenador da Galeria Meninos de Luz há três anos. A galeria é a primeira destinada à arte contemporânea em uma comunidade carente, a Favela do Pavão-Pavãozinho.

Todos os expositores têm em comum o fato de terem passado por cursos ou serem professores do Ateliê da Imagem, conceituada escola de imagem carioca. No Dia Internacional da Fotografia (19 de agosto), o Ateliê realizará, em um dos eventos denominados Sextas Livres, projeção das imagens da mostra. Em seguida, haverá debates sobre a atualidade e importância da fotografia de Stieglitz.

No site da exposição (http://www.equivalentes.com.br/) podem ser vistos resumos da carreira e os trabalhos dos profissionais envolvidos do evento.

Europeus vivem a inenarrável vontade de ser brasileiro

Por Maria da Paz Trefaut (Valor Online, 06/05/2011 )

Na confeitaria La Rose de Vergy, numa das ruas mais antigas de Dijon, capital da Borgonha, a jovem atendente pergunta: "Brasileira?" Diante da resposta afirmativa, é tomada por uma espécie de euforia. "Ai, me leva com você!" - exclama, fazendo graça, enquanto embala uma geleia de cassis, receita típica da culinária local. Na crista da onda, o Brasil parece surgir como um novo Eldorado na imaginação de muitos europeus. Além de fantasias óbvias, sem respaldo na realidade, é visível que ano após ano o país vem se tornando um destino de espectro mais amplo do que aquele que imperava como atrativo para o turista do samba e do futebol. Os números positivos da economia têm ajudado. Ainda mais se comparados ao momento pouco animador vivido pelos Estados Unidos e Europa.

O Brasil que cresce atrai negócios na área da gastronomia e desperta curiosidade pela sua cultura. Conhecer a Península de Maraú, na Bahia, por exemplo, foi uma das melhores experiências que o chef italiano Gennaro Espósito, duas estrelas no Guia Michelin, teve no verão deste ano. Hospedado durante uma semana no Kiaroa Eco-Luxury Resort, definiu sua estadia como "uma viagem de sabor", que o deixou "encantado" com a cozinha brasileira. Adorou o pão de queijo, as moquecas e, especialmente, as frutas.

Voltar faz parte de seus planos. Ainda mais depois que um paulistano, sócio da Cia Tradicional de Comércio, visitou seu restaurante La Torre Del Sarracino, na Costa Sorrentina. Ele tira o cartão de visita do bolso para se lembrar do nome do cliente (o empresário André Lima) e pergunta se a Pizzaria Bráz é conhecida em São Paulo. Nesse caso, pondera, vale a pena voltar até para experimentar a pizza. "Os ingredientes que eles compram na Itália são os melhores que há", informa.

Em Portugal, não faltam amostras do Brasil que seduz. Paula Brito Nunes, criadora da Paulinha em Cascais - Boutique da Comida, ganha a vida recuperando receitas tradicionais da doçaria portuguesa e fazendo salgadinhos brasileiros. Um dos fortes de seu cardápio são empadas de recheio variado (frango, camarão, arraia, vatapá, bobó) e bolinhos de aipim com galinha, que vende a € 2,5.

Nos 19 anos em que morou no Rio, ela trabalhou numa emissora de televisão e aprendeu a cozinhar com uma empregada doméstica baiana, a Aparecida. Ao retornar, os ensinamentos na cozinha valeram mais do que o vídeo como alternativa profissional. Mas apesar do retorno que tem, o negócio não parece atraente o suficiente a ponto de mantê-la enraizada na terra onde nasceu: "Se eu pudesse, voltava para o Brasil hoje mesmo. Quer saber qual é a única vantagem de morar em Portugal? A medicina aqui é gratuita e no Brasil custa uma fortuna".

No mundo da lusofonia, buscar dividendos nos países com boas taxas de crescimento é uma opção para os portugueses em crise. Angola tem crescimento mais alto do que o Brasil (7,8% estimado para este ano), mas a maioria prefere vir para cá. É o caso da empresa Essência do Vinho, com sede no Porto, que produz eventos enogastronômicos, é líder do segmento em Portugal e tem feito ações pontuais no Brasil e em Angola nos últimos anos.

Apesar de a ligação histórica com os dois países ser semelhante, os empresários Nuno Pires e Nuno Botelho, sócios da Essência do Vinho, escolheram São Paulo para estabelecer, ainda neste ano, uma empresa semelhante à que possuem em Portugal. A justificativa: "as enormes oportunidades que o mercado brasileiro oferece e o potencial de eventos de vinhos e gastronomia que há para explorar".

O segmento gastronômico de luxo brasileiro também é a nova meta da Mafyl, empresa que comercializa azeites, chás, doces, mel e outros produtos portugueses, que atua primordialmente no mercado externo. Com canais em lojas gourmets como a Harrods, em Londres, a marca desenvolve embalagens ultra sofisticadas, que mais parecem vidros de perfume, nas quais acondiciona produtos expressivos do terroir português escolhidos a dedo. A dona, Ana Sousa Filipe, explica que a crise portuguesa tem levado ao fechamento de boutiques de comida tradicionais e que o mercado externo é a esperança dela e de muitos outros comerciantes.

Mas esse Brasil, para o qual "todos querem vir", tem um atrativo que supera os índices econômicos favoráveis. Quem envereda por essa explicação é o chef-executivo do Hotel Sheraton de Lisboa, Leonel Pereira, que morou em Salvador e no Rio, entre 2001 e 2004. Para ele, embora os últimos anos do governo Lula tenham atraído investidores, o que faz seus conterrâneos virem para cá é o mesmo espírito aventureiro que os levou a cruzar os oceanos nos Séculos XV e XVI. E isso não tem nada a ver com a crise atual.

Se fosse contar o muito que aprendeu por estas bandas, Leonel diz que precisaria escrever um livro. Por isso, prefere resumir sua experiência dizendo que aqui aprendeu a ser feliz com pouco dinheiro. "Sim, feliz, porque a felicidade existe no Brasil!", enfatiza, dando vazão à sua veia lusitana. "Acredite, a minha readaptação foi bem difícil quando voltei. Todos os dias sentia falta do vosso 'bom dia' cheio de alegria, logo pela manhã. Essa simpatia e esse bom humor não existem aqui. Nós somos um pouco os argentinos da Europa!".

Os reis catalães (The Catalan kings)

Da The Economist (19/05/2011)*

Um debate popular entre os apaixonados pelo futebol é se o Barcelona - Barça para seus fãs - é o melhor time de futebol que o mundo já viu. É melhor do que o Santos da década de 1960 (a então casa de Pelé)? Ou o Milan da década de 1990? A resposta é gloriosamente incerta. Mas o Barça é sem dúvida a melhor equipe do mundo neste momento. É o adversário que os outros devem mirar. Considere as provas. O Barça venceu recentemente o seu velho rival, o Real Madrid, para ganhar o campeonato espanhol. Possui o melhor jogador do mundo, Lionel Messi. E vai para final da Liga dos Campeões, em Wembley, em 28 de maio, como o claro favorito (apesar de que seria tolice subestimar o Manchester United).

O Barça é também uma máquina de dinheiro. É, segundo a Deloitte, o número dois no campeonato mundial de maior bilheteria entre clubes de futebol, atrás do Real Madrid, com receitas de € 398 milhões (US$ 488 milhões), em 2009-10 (O Real ganhou € 439 milhões). O clube dobrou seu faturamento nos últimos quatro anos. No ano passado, o Barça assinou um contrato de patrocínio, por cinco anos, de no mínimo € 165 milhões com o Qatar Sports Investment, o que implicou colocar um logotipo comercial em suas camisas pela primeira vez. Barça e Real também têm a vantagem de que receberem uma quantia imensamente desproporcional das receitas de transmissão de televisão de La Liga, a Premier League espanhola. Dito isto, ninguém sabe o quão lucrativo é o Barça, nem como endividado.

Como é que um clube baseado em um dos locais mais sensíveis ao desemprego na Europa tornou-se o poder dominante no esporte mais popular do mundo? Uma resposta óbvia é que o Barça joga realmente como um time em um esporte que tem muitas prima- donnas. Mantém a bola em movimento, domina a posse e deixa seus adversários sob pressão constante. Mas há uma resposta menos óbvia e que tem implicações para além do campo de futebol. O Barça forneceu uma solução distinta para alguns dos problemas mais controversos da teoria da administração. Qual é o equilíbrio certo entre as estrelas e o resto do elenco? Você deve comprar o talento ou produzi-lo? Como você pode aproveitar o entusiasmo dos consumidores para promover sua marca? E como se combinam as vantagens de suas raízes locais com seu alcance global?

O Barça prioriza mais do que qualquer outro grande time a formação de seus próprios jogadores. Outros times de futebol frequentemente parecem as Nações Unidas. Entre os onze titulares do Arsenal, por exemplo, há, quase sempre, apenas dois britânicos. O Barça, pelo contrário, ainda é dominado por jogadores locais. O catalão é falado correntemente no vestiário. Oito dos principais jogadores da equipe são frutos de sua escola de futebol, La Masia. Isso inclui Messi, um argentino que se mudou para Barcelona ainda menino, e o treinador da equipe, Josep (Pep) Guardiola. La Masia é única entre as escolas de futebol. É uma escola que coloca ênfase tanto na formação do caráter como nas habilidades futebolísticas. Os alunos aprendem incansavelmente sobre a importância do espírito de equipe, do auto-sacrifício e da perseverança. Eles também são ensinados que o Barça é "mais que um clube": ela é a personificação do orgulho catalão, que manteve vivo o espírito da região durante os anos em que a Espanha sofria sob o regime fascista de Franco. Seus torcedores costumam exibir faixas que proclamam que "a Catalunha não é Espanha".

O Barça usou a idéia de que é "mais do que um clube" para cultivar um relacionamento de mútuo com seus fãs. É propriedade de seus próprios sócios (socis em catalão), que somam hoje 150 mil, em vez de acionistas ou magnatas estrangeiros. A gestão é de responsabilidade de uma assembléia formada por 2.500 sócios escolhidos aleatoriamente e os 600 membros mais antigos. O clube apóia vários esportes além do futebol e tem um museu popular em Barcelona.

O estilo de gestão do Barça é inspirado no pensamento de dois admirados teóricos. Boris Groysberg, da Harvard Business School, alertou que as empresas estão obcecadas demais com a contratação de estrelas, em vez de desenvolvimento de equipes. Ele realizou um estudo fascinante sobre bem sucedidos analistas de Wall Street, que passaram de uma empresa para outra. Descobriu que os analistas que trocaram de firma tiveram queda imediata em seus desempenhos. Parece que o sucesso dependia tanto de seus colaboradores como de seus talentos inatos. Jim Collins, autor de "Good to Great", argumenta que o segredo do sucesso a longo prazo das empresas encontra-se em cultivar um conjunto distinto de valores. Ainda que pese conversas sobre diversidade e globalização, isso significaria promovê-los de dentro para fora, valorizando as profundas raízes locais.

O Barça também abriu caminho na promoção da sua marca, um trabalho difícil na era da internet, quando a fofoca é abundante e a confiança, escassa. A proporção de marcas em cuja confiança dos consumidores caiu de 52% em 1997 para 22% em 2008, de acordo com a agência de publicidade Y & R. E as formas tradicionais de publicidade estão se tornando menos efetivas. Para combater o problema, algumas empresas tentam envolver os consumidores no desenvolvimento de suas marcas. A Lego, uma marca de brinquedos, convida Lego-cabeças para trabalhar com os seus designers na sua sede. O supermercado Asda convida seus clientes regulares para sugerir o que deve vender. Mas até agora ninguém foi tão longe como o Barça, que dá aos clientes uma intervenção direta nas grandes decisões.

O Barça também teve sua quota de erros. A tentativa da equipe de ampliar sua rede de recrutamento através da criação de uma academia de futebol na Argentina foi abandonada. Os tradicionalistas temem que ele esteja vendendo sua alma catalã em busca de acordos comerciais superficiais. E o futebol é um negócio imprevisível. A equipe passou por uma fase ruim no início de 2000. Outra queda poderia levar ao desaparecimento de seus volúveis fãs estrangeiros. Ou pior, mudar a sua lealdade para o Chelsea. Isso poderia causar a queda das receitas do Barça. Mas no momento o clube está no topo do mundo: um exemplo não só de proezas desportivas, mas de uma gestão inteligente.

*Tradução livre do blog