sábado, 27 de junho de 2015

O amor sempre vence

Por Murillo Victorazzo

Dois anos depois de o STF reconhecer o casamento gay no Brasil e após vários outros país o legalizarem, a Suprema Corte dos EUA declarou inconstitucional qualquer tentativa de proibição nos 14 estados do país que não o reconhecem (e projetos que pudessem resultar em recuos nos que legalizaram).

 Diante da influência cultural que o Tio Sam exerce no mundo - bem visível na repercussão do feito nas redes sociais -, uma decisão que merece aplausos de pé. 

Infelizmente algo tão óbvio - a igualdade de diretos; a noção de que, em sua vida privada, cada um divide o que quer com quem quiser; a separação completa entre preceitos religiosos e civis - ainda cria celeumas. Feliz seria o mundo se conquistas assim, de já existentes e compreendidas, não precisassem ser notícia. 

Porém, não deixa de ser um gigantesco alento, ainda mais em um dia em que o fundamentalismo religioso deu as caras novamente na Europa, África e Ásia. 

Quando nos fechamos em "mundinhos" sócio-culturais, deixamos de conhecer o outro e o definimos apenas por estereótipos. Preconceito e radicalismo andam lado a lado com a ignorância. 

Por aqui, torçamos que algum dia o Congresso avalize em lei a decisão do nosso Judiciário, que tem se mostrado mais antenado com as transformações sociais do que nossos parlamentares. Infelizmente, vendo o espetáculo grotesco que a nojenta bancada religiosa, aliada a uma direita conservadora viúva de anos sombrios, vem oferecendo no Legislativo e casos de intolerância religiosa nas ruas, fica difícil se animar.

 Mas sejamos otimistas. Porque Deus é amor, e, no final, "love wins" sempre.


Homofobia não é só crime, é ridículo

Obrigado, Violino!

Por Murillo Victorazzo

As segundas-feiras sempre trazem consigo um pouco de melancolia. Esta melancolia só aumenta quando a gente lê que um ídolo morreu.

Craque dentro de campo, com a elegância do toque de um violino, não por acaso seu apelido, e técnico vitorioso - ser duas vezes campeão brasileiro (fora estaduais e Mercosul), pegando times desacreditados e levando-os ao topo, é para poucos -, sempre pelo seu time de coração, do qual era cria legítima e nunca se distanciou até seus últimos dias, Carlinhos merece muito mais que um minuto de silêncio e a já existente estátua. Merece a gratidão e carinho eternos de todo rubro-negro de verdade, aquele que conhece e valoriza a história do Mais Querido.

 Eu, que tantas vezes, até ele ficar doente, vi aquele senhor simples, franzino, de fala mansa, indo a pé para a Gávea ou tomando humildemente seu chopp nos bares ao redor do clube e, sempre que podia, fazia questão de cumprimentá-lo e agradecê-lo, pensando comigo mesmo como ele podia ser tão diferente de vários "professores" engomados, presunçosos, bravateiros, mal-educados, nervosinhos à beira do campo, supervalorizados, muitos dos quais sem os troféus que ele conquistara, só posso novamente dizer: Valeu, Carlinhos! Obrigado do fundo do coração.

 Marcar seu nome na história do seu clube amado, para qualquer um, deve ser motivo de enorme orgulho. Quando este clube é o Flamengo, a maior torcida do país, o sentimento torna-se indescritível, privilégio de um seletíssimo grupo. Grupo liderado por um certo Artur Antunes Coimbra, aquele menino que, ao você se aposentar dos gramados,  a ele entregou suas chuteiras. Além de tudo, você tinha dons premonitórios. Que Deus te receba como quem fez a alegria de cerca de 40 milhões de brasileiros merece.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Militares dão força à visita de Dilma aos EUA

Por Matias Spektor (Folha de S.Paulo, 11/06/2015)

A cooperação militar entre o Brasil e os Estados Unidos é estreita há muitos anos. Nos governos do PT, só cresceu. Do Haiti ao golfo da Guiné, da fábrica da Embraer em Jacksonville à compra americana de 20 Super Tucanos para uso no Afeganistão, os militares dos dois países ficaram mais próximos que em qualquer momento desde a Segunda Guerra mundial.

Lula e Dilma patrocinaram isso com dinheiro novo. O BNDES levou crédito barato a start-ups da indústria da defesa e a empreiteiras que usaram a oportunidade para entrar no negócio militar. O processo foi facilitado com aumentos sistemáticos do orçamento da Defesa e com a Estratégia de Defesa Nacional (2009) e o Livro Branco (2012), peças desenhadas para iniciar o longo e árduo processo de racionalizar o gasto das três forças.

Nos EUA, a transformação foi vista como oportunidade grande o suficiente para justificar uma revisão da política restritiva de venda de tecnologias sensíveis. Juntos, os dois países estabeleceram quatro diálogos formalizados sobre o tema e negociaram dois acordos para facilitar seu comércio.

O coroamento desse esforço seria uma compra gigantesca de caças da Boeing. O escândalo da espionagem, há dois anos, jogou tudo a perder. O Brasil decidiu comprar caças suecos, não americanos, e suspender os diálogos recém-criados. Fora do radar, porém, houve pragmatismo e acomodação de ambas as partes.

As Marinhas dos dois países mantiveram a cooperação e, em algumas áreas, a aumentaram. Continuaram as reuniões de planejamento, os programas de treinamento conjunto, e o Brasil comprou dos EUA mísseis antinavio. Manteve-se ainda a parceria contra a pirataria na costa da África, onde americanos combatem o terrorismo e brasileiros, a rota da coca escoada pelo porto de Santos.

Agora, esse investimento renderá frutos concretos para Dilma. No fim do mês, antes de ela encontrar Obama na Casa Branca, seu ministro da Defesa passará quase quatro dias na capital americana. Tudo indica que ele levará na mala um acordo bilateral de defesa já ratificado pelo Congresso Nacional. Mostrará ainda que o outro lá tramita em regime de urgência.

O ministro anunciará a retomada dos diálogos oficiais e aparecerá em Washington com representantes da indústria brasileira de defesa. Existe a possibilidade de os americanos comprarem uma dúzia de Super Tucanos para sua operação no Líbano. A maior dificuldade, claro, é dinheiro. O ajuste fiscal brasileiro reduziu o orçamento militar, ao passo que o ajuste americano fez o mesmo com o Comando do Sul, responsável pela relação com a América Latina.

A mensagem central, porém, ficará clara. O Brasil está aberto a negócios porque tem interesses concretos na área. E a relação estratégica avançará porque, apesar das diferenças e da retórica, na Amazônia e no Atlântico Sul os dois países mantêm uma bateria de objetivos comuns.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Às vezes, o futebol cansa

Por Murillo Victorazzo

Quem bancou Anderson Pico no lugar do pouco menos medíocre João Paulo? Quem avalizou a chegada do inútil Pará, quando estimulava a ida de Léo Moura? Quem pediu Bressan? Quem estava há quase um ano no comando e, sem perder ninguém de impacto ( e com a aquisição de Cirino), conseguiu regredir o padrão tático e técnico de um time limitado mas "menos pior" do que o visto em campo - até no bizarro Carioquinha?

Aquele que, desde a pré-temporada, planejando o ano junto com a diretoria, se dizia satisfeito com o "projeto" deles; garantia que esse mesmo time era capaz de chegar à Libertadores; mas, demitido, saiu sem fazer autocrítica alguma. Preferiu apenas atacar, afirmando que seus ex-chefes nada sabiam de futebol (não que isto aparentemente não seja verdade). Um treinador que há anos nada ganha de relevo, nem mesmo deixa sua marca de forma positiva em clube algum. Vive do seu passado glorioso. 

Como "castigo", não demorou para ser contratado pelo bicampeão brasileiro, dono de um elenco superior ao do ex-time, contra o qual, ironicamente, estreará. Para o técnico responsável pelas duas taças, demitido por uma eliminação na Libertadores e um início ruim no Brasileirão, em meio à reformulação do grupo de jogadores, sobraram apenas lágrimas na despedida. Às vezes, o futebol me cansa.