quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Tristes coincidências

Por Murillo Victorazzo

Há 103 anos, surgiu na Itália um movimento fortemente personalista. Nutriam ódio visceral a tudo que entendiam como socialismo e alvejavam não apenas a “classe política” mas todas as instituições civis - responsáveis, segundo eles, pela decadência moral da nação. Defendiam a ideia de um povo-uno, a partir da qual consideravam “antipatrióticos”, por “dividirem o país”, dissensos entre grupos e classes sociais. Seu partido era seu país…

Para eles, seu idolatrado líder - tido como carismático, antissistema e dono de discursos diretos e incendiários - não se resumia a um representante, mas a propria encarnação desse povo. “Il Duce ha sempre ragione” (O ‘Duce’ tem sempre razão), afirmavam pinturas nos muros de cidades italianas. Exaltavam as armas, o militarismo e a virilidade masculina. Instrumentalizaram boa parte das forças de segurança. Pouco mais de uma década depois, ganharam no Brasil uma variante tropicalizada e com forte viés cristão: o integralismo, cujo lema era “Deus, Pátria e Família”.

Mais do que o ineditismo de ser o primeiro movimento de massas à direita, entraram para a História por ter como principal modus operandi a naturalização da violência política: primeiro como linguagem, depois como prática. São fatos reais, não opiniões. Lembrou algo? Haja coincidências…