Por Murillo Victorazzo
Nunca trabalhei com Guilherme Marques nem o conhecia de fato, a não ser de vista. Mas alguns amigos tiveram essa oportunidade, e diante de seus desabafos hoje, não poderia escolher outro para ainda expressar, após tamanha comoção nas redes sociais o dia inteiro, o meu misto de incredulidade e pesar (sim, hoje chorar não foi força de expressão). Não mais como um desses milhões de brasileiros loucos por futebol, perplexos com a triste ironia que o destino reservou ao Chapecoense, a, como estampou o diário esportivo espanhol "As", "linda menina" que "apaixonou o Brasil", após o feito histórico de semana passada. Sobre esse meu lado, me tornaria repetitivo.
Aqui, agora, é o jornalista que fala mais alto, ainda me lembrando das palavras de Galvão Bueno no arrepiante encerramento da emocionante edição de hoje do JN: "Os jogadores sempre serão os protagonistas, mas é através dos jornalistas que essa paixão chega a vocês". Pois é, em um momento tão triste, paradoxalmente, por segundos, despertou em mim um sentimento bom, o do orgulho pela profissão.
Guilherme, além de tudo, começou na imprensa carnavalesca. Salgueirense (na foto, com o mestre Marcão), amava o samba e agora estava no esporte. Quem me conhece não terá dificuldades de encontrar nele gostos comuns aos meus e entender por que, dentre tantas, sua morte me tocou tanto mais.
Que Deus te proteja onde agora estiver, garoto. É em seu nome, mas com os outros vinte no coração - impossível não bater palmas para Vitorino Chermont, um dos melhores repórteres esportivos do país -, que encho o peito pra dizer o quanto é bom poder chamá-los de "coleguinhas".
A maior tragédia do futebol brasileiro ter vindo junto a maior do jornalismo deste país foi uma porrada forte demais. Porém, talvez faça sentido. Este dia 29/11 nos mostrou um outro lado, aquele com que ninguém gostaria de ter se deparado, de uma obviedade que até então só conseguia ver com satisfação: futebol e jornalismo são indissociáveis.
Na faculdade, um professor gostava de repetir a máxima de que, se o jornalista é notícia, é porque deu alguma merda. Tenho certeza que ele não imaginava o tamanho e o sentido da merda de hoje. Que merda. (foto: página oficial do Salgueiro)
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