terça-feira, 21 de agosto de 2012

Marola ou ressaca vermelha?

Por Murillo Victorazzo

A pouco mais de 40 dias das eleições municipais, a campanha entra, nesta semana, em sua fase mais visível: o horário eleitoral gratuito em rádio e televisão. É a partir de agora que os candidatos ganharão mais visibilidade, com os embates entre eles esquentando. Porém, ainda que muita água vá rolar até dia 7 de outubro, uma certeza já se tem: o prefeito Eduardo Paes (PMDB) larga de um patamar extremamente vantajoso, com grandes possibilidades de vencer sem a necessidade de segundo turno. 

Segundo a última pesquisa do Ibope, caso o pleito acontecesse hoje, Paes seria reeleito em primeiro turno, com 47% dos votos. Nada que surpreenda, em se tratando de uma administração bem avaliada pela população: 41% consideram seu governo ótimo/bom; 38%, regular; e 19%, ruim/péssima Em seguida, bem distante, encontra-se o deputado estadual Marcelo Freixo, do minúsculo porém combativo e ideológico PSOL, com 12%. A seguir, ainda mais longe, vêm os deputados federais Rodrigo Maia (DEM) e Otavio Leite (PSDB), com 5% e 3% respectivamente.

Além do favoritismo do atual prefeito, outras duas tendências são bem claras. Freixo surge desde já como o novo queridinho das classes médias e altas ( com exceção possivelmente de seus setores mais conservadores), destacando como a principal -e talvez única- esperança de surpresa no pleito. E o ex-prefeito César Maia e o ex-governador Anthony Garotinho correm sérios riscos de protagonizarem enorme fiasco eleitoral com a chapa composta por seus filhos. 

Com a imagem de político ético, progressista e forte opositor do governo Cabral na Alerj, características ressaltadas com seu papel à frente da CPI das milícias, Freixo tem muitas semelhança com Fernando Gabeira - embora este tenha, nos últimos anos, caminhado rápido demais para o centro. Seus eleitorados têm, não por coincidência, o mesmo perfil médio: força na Zona Sul e Grande Tijuca e entre os de escolaridade mais alta.

O socialista tem outras vantagens em potenciais perante o verde. A essa época, em 2008, Gabeira tinha menos intenções de votos do que ele agora. Com quatro pontos percentuais a mais do que mês passado, Freixo inicia aparentemente a fase televisa em condições mais promissoras. Tem, além disso, ótimas chances de atrair o eleitorado petista descontente com a aliança com Paes, algo que Gabeira não conseguiu, devido a sua aproximação com tucanos e demistas.  No primeiro turno daquela eleição, o PT apresentou candidato próprio, o deputado Alessandro Molon.

Caso a chance de segundo turno entre Freixo e o prefeito se torne mais concreta, a crise latente no PT carioca virá à tona. É bem provável que, neste caso, muitos dos petistas que ainda aceitam engolir Paes ou os que, como Molon, negam-se a fazer campanha para o prefeito mas não declararam, por hora, voto em outro candidato, juntem-se aos dissidentes do partido que já se bandearam para o PSOL. Petista histórico, Chico Buarque, por exemplo, já foi para lá. (foto acima)

Por outro lado, a favor de Paes diga-se que ele, antes de iniciar o período televiso de 2008, também tinha menos intenções de voto do que hoje - quase a metade! Para se ter melhor noção, o resultado do primeiro turno foi 28% x 22% a seu favor, contra Gabeira. Quatro anos depois, com a força das máquinas municipal, estadual e federal, um governo com boa aprovação e um enorme arco de quase 20 partidos a seu favor, o que lhe dá disparado o maior tempo de televisão, sua largada é mais do que promissora.

Seu favoritismo fica mais evidente quando se olha para os outros candidatos oposicionistas. Embora com mais tempo de televisão que o socialista, Maia sofre com o maior índice de rejeição: 32% afirmam que nunca votariam no filho de Cesar. Para quem parte de apenas 5% (mesmo número da pesquisa anterior), é um horizonte desalentador. Segundo o jornalista Fernando Molica, de O Dia, o núcleo de sua campanha sentiu o baque após a divulgação da pesquisa. Apesar das dificuldades conhecidas perante Paes, não imaginavam que Freixo se consolidaria tão rápida e nitidamente na vice-liderança. Depressão e constrangimento, conta Molica, seriam as palavras mais usadas no QG demista.

A candidatura do jovem Maia nasceu problemática. A baixa votação de Cesar na eleição para o Senado, em 2010, demonstrou o tanto que seu grupo está desgastado entre os eleitores cariocas depois de 12 anos no Executivo municipal. A lembrança de seu último mandado causa arrepios em quase toda a população. Junto ao filme queimado do pai, Rodrigo carrega consigo na chapa a deputada Clarissa Garotinho, cujo sobrenome é ainda mais nauseante para boa parte do eleitorado - especialmente, os que, nas últimas duas décadas, despejaram votos em Cesar. 

A arriscada coligação DEM-PR foi costurada mirando em 2014, quando Garotinho pai tentará voltar ao Palácio da Guanabara. Seu desejo é ter Cesar como vice, num inversão da chapa atual. Na eleição estadual, com o interior e Baixada votando, a estratégia tem bem mais chances de dar certo. Mas, na capital, a união de dois sobrenomes desgastados, somada à repulsa por aliança de tão desiguais e ex-figadais adversários, é uma cruz pesada demais para um político sem traquejo retórico. 

Não se deve subestimar os conhecimentos sobre pesquisas e  marketing político de Cesar. Com o início do horário eleitoral, Maia deve apresentar algum crescimento. Mas o mais provável é que a ascensão seja mínima. Salvo um fantástico programa de TV que mitigue tais adversidades, nada mais do que isso se notará. Nos ditos formadores de opinião, Freixo leva vantagem; entre os mais pobres, Paes reúne mais ferramenta de sedução.

Cesar sabe que o terreno está minado para seu grupo. Sua candidatura à Câmara dos Vereadores, no fundo, é um confissão subliminar de seus limites atuais. Pretende ser o vereador mais votado da cidade para, como o líder da provável oposição, voltar aos holofotes com mais frequência. Assim, daqui a dois anos, tentaria voos maiores, seja novamente o Senado ou, como sonha Garotinho, a vice-governadoria.

Com 3% de intenções de votos, Leite deposita também suas esperanças  na televisão. Espera que a aparição de figurões tucanos como o ex-presidente Fernando Henrique, e os ex-governadores José Serra e Aécio Neves turbine sua candidatura. Pouco provável. A fraqueza do PSDB carioca é mais do que reconhecida. 

Exceto o período no qual o ex-brizolista Marcelo Alencar transferiu seu prestígio ao partido, chegando ao Guanabara (1995-1998), raramente um tucano na cabeça de chapa alcançou dois dígitos na cidade e no estado do Rio. Isso sem contar que até mesmo os presidenciáveis da legenda costumam ter nelas um de seus calcanhares de Aquiles. Nem Fernando Henrique escapou. Serra, só para recordar, ficou em terceiro lugar entre os cariocas, em 2010.

Freixo tem alguns difíceis obstáculos a ultrapassar: o pouco tempo de televisão e o eleitorado das regiões mais carentes da cidade, ainda indiferente a seu nome. Paes sabe que a figura do empresário Fernando Cavendish e a patética foto dos guardanapos na cabeça em Paris, episódios que mancharam a imagem de Cabral, podem também lhe atingir. Certamente o crescimento do PSOL, em grande parte, já é efeito da lambança. A dúvida é se ela se disseminará pelas classes menos escolarizadas. Ao mesmo tempo, Maia terá dificuldade em usar o escândalo estando ao lado de Garotinho. É complicado pregar ética tendo a Cidade da Música e uma vice com tal sobrenome à sua sombra. 

As tendências estão nítidas. Resta agora elucidar algumas incógnitas. Só assim saberemos  se a onda vermelha de Freixo será apenas uma marola ou tomará a proporção suficiente para causar uma bela ressaca nas praias peemedebistas.



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