quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Credibilidade dos EUA é a principal afetada pelo embate da dívida

Por Patrícia Campos Mello (Folha de S.Paulo, 17/10/2013)

O Partido Republicano dos Estados Unidos foi derrotado na novela da paralisação do governo e da elevação do limite do endividamento. A oposição pôs uma arma contra a cabeça do presidente Barack Obama e ameaçou conduzir o país para o calote, caso democratas não aceitassem reverter vários pontos da lei de reforma da saúde, a chamada "Obamacare".

A extorsão não funcionou, e os republicanos foram pressionados a recalcular a rota de forma humilhante ontem. Segundo pesquisa do Instituto Gallup feita entre 3 e 6 de outubro, mesmo antes do recuo, a popularidade do partido de oposição havia caído estrepitosamente: só 28% dos americanos viam favoravelmente o partido, diante de 38% em setembro.

Mas como admitiu ontem Jay Carney, o porta-voz da Casa Branca, não há vencedores no embate. Entre mortos e feridos, quase ninguém se salvou. A aprovação dos democratas está em 43%. E os Estados Unidos, como país, saíram com a credibilidade chamuscada.

É a segunda vez em pouco mais de dois anos que o governo americano chega perto de dar um calote. A pergunta geral é: será que dá para confiar em um país assim tão disfuncional, em que um partido pode tomar o outro como refém e ameaçar não pagar as contas?

A China tripudiou: pediu uma economia global "desamericanizada" para que "a comunidade internacional possa se proteger dos efeitos do turbilhão da política doméstica dos EUA". A agência de classificação de risco Fitch disse que "atitudes políticas temerárias podem aumentar o risco de um calote americano".

E o pior é que o acordo, aprovado no final da noite de ontem, apenas adia em alguns meses o próximo embate sobre a elevação do teto da dívida. Os americanos estão brincando com fogo.

Como disse o megainvestidor Warren Buffett, sobre a possibilidade de o teto da dívida não subir: "O mero fato de se cogitar a ideia [de um calote] é totalmente irresponsável, e deveria ser banido do arsenal dos dois partidos". E concluiu: "Credibilidade é como virgindade: pode ser preservada, mas não recuperada facilmente".

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