segunda-feira, 9 de março de 2015

Racionalidade, por favor

Por Murillo Victorazzo

Como alguém que sonha com uma social-democracia de verdade no país e por isso já votou no PT e no PSDB, que tem nojo dessa direita representada por certos articulistas de Globo e Veja e das viúvas de 64, que teme os extremismos de direita e esquerda, que já foi rotulado de petista por reconhecer méritos no governo Lula, e de tucano por aplaudir avanços na Era FHC - e criticá-los em seus vários defeitos -, acho que tenho a isenção pra dizer: a imbecilização do debate político chegou ao ponto de agora ficarem em rede social discutindo se na sua vizinhança houve ou não panelaço, como se só o fato de em vários locais ter hoje acontecido não provasse que algo está errado, que Dilma está no canto do ringue. 

Apelar (ou se limitar a) para a batida luta de classe é, além de tudo, miopia, basta ver a queda vertiginosa de popularidade da presidente e os 51 milhões de votos da oposição. Quisera o Brasil ter tanto rico assim. Assim como é desprezível usar de palavras vulgares para se referir à presidente da República. Nem mesmo no mensalão houve o que está havendo no país agora. Se o governo ( e seus defensores apaixonados) achar que só os ricos/classe média alta estão insatisfeitos com o cenário político-econômico, meio caminho andado para seu nocaute terá sido percorrido. 

É fato que os que sempre tiveram rejeição prévia, ideológica, ao PT usam o momento como catarse. O ladrão do outro é pior que o meu ladrão. Indignação seletiva há infelizmente. É fato que dá nojo a hipocrisia de políticos do PSDB e aliados falando em ética, ou do cinismo de gente que defende épocas sombrias, quando a falta de liberdade de imprensa, do MP, e a fragilidade da PF impediam o acesso a informações e consequentemente qualquer investigação. 

Acho patético ver gente agora compartilhando discursos "indignados"de tucanos e demistas com rabo preso direta ou indiretamente, ou pessoas tentando ideologizar a ladroagem. É cara de pau ou falta de memória. Corrupção não tem limite tolerável. Quando muito, quem roubou 5 não tem moral para falar de quem roubou 7, 8, 10,ou 20. A população alheia a interesses partidários, ricos ou pobres, tem. É preciso muito fígado para aturar uma galera que desconhece nossa história "cagar regra". 

Mas é inegável que Dilma seja incompetente, que ela pratica o oposto do que defendeu na campanha eleitoral, que os avanços sociais ocorridos nas últimas décadas correm risco por sua visão equivocada de política econômica e inabilidade política, que o "petrolão" é grave demais e bate na sua porta. Isto não significa, por enquanto pelo menos, defender impeachment, instrumento jurídico sério e custoso ao país, onde se precisa ter provas concretas do dolo criminal ( incompetência não é requisito) do chefe de governo.

Há muita gente brincando (por desconhecimento ou ardil) com isto. Há muita gente, em ambos os lados, que parece não entender o que é democracia. Protestar, mais que válido, é obrigação. Dilma está acuada, antes de tudo, por culpa sua e de seu partido, não de terceiros. O quadro é lamentavelmente sério. Racionalidade, por favor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário