sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Repudiar Moro não é absolver Lula

Por Murillo Victorazzo

Bastou a Folha de São Paulo noticiar que o juiz Sérgio Moro, assim como seu colega Marcelo Brêtas, recebe o famigerado auxílio-moradia mesmo tendo casa própria onde trabalha, para o débil debate ideologizado sobre o jornal recrudescer. A surreal, paradoxal, esdrúxula pecha de "Foice de São Paulo" voltou a ser usada por direitistas, fãs de Bolsonaro ou MBL. Algo como rotular de sertão o mar.

Quem consegue fugir da análise binária e maniqueísta pode não cair na esparrela de que Lula é vítima da perseguição de Moro e mesmo assim criticar a imoralidade, ainda que possa ser legal, do acréscimo de quase R$ 4,5 mil reais em seu contracheque. Casos com gravidades bem diferentes, claro.

O erro do juiz não anula seu acerto na condenação de Lula, nem o equipara a ele. Moro e outros juízes não são super-heróis, nem crápulas. Apenas fizeram seus trabalhos, merecem aplausos, o que, porém, não lhes dá salvo conduto pra tudo, não os colocam acima do bem e do mal, "intocáveis". 

A imprensa tem o dever de informar; cada um chegue à sua própria conclusão. Os três poderes, com suas castas de privilegiados, são insensíveis à realidade nacional, e o momento pra tentarmos tirar a sujeira, de todos os tipos, de debaixo do tapete é agora. Reformar o Estado é imprescindível, mais do que urgente.

Com bom senso e sem "futebolizar" o debate, pode se conseguir. Mas muitos caem neste erro: quando é publicado algo negativo contra seus "mitos" (à esq. e à dir), saem logo dizendo que é "perseguição" da "mídia" ( a "golpista" x a "esquerdista") pra ajudar o adversário, como meros torcedores fanáticos. Pouco importa se antes também  já saiu algo contra seu antagonista. Têm, além de tudo, problema de memória. Uma ideia de jogo de soma zero que inviabiliza qualquer discussão séria. Isso que dá interpretarem já sugestionados e por julgarem os outros leitores por si próprio. 

Eleitoralmente, depois do resultado unânime no TRF, caso consiga recurso e saia candidato, quem tem que convencer ser inocente é Lula, nada importando a imoralidade do ato de Moro. Podem os petistas aproveitar o caso para tentar deslegitimar seu veredito à vontade. Collor foi "impichado" por um Congresso repleto de pilantras e nem por isso seu julgamento foi ilegítimo. 

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, diria o filósofo. Repudiar a atitude de Moro não é absolver Lula, assim como criticar Brêtas não é inocentar Sérgio Cabral. E quem não vê problema no noticiado sobre os magistrados precisa rever seus conceitos sobre ética.

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