quarta-feira, 25 de março de 2020

Um pronunciamento deplorável. Uma aposta dobrada

Por Murillo Victorazzo

Qualquer pessoas com o mínimo de racionalidade sabe dos riscos de uma longa paralisia na economia nacional, inclusive também para vidas de muitas pessoas. Até quando manter a "quarentena" é o dilema de governantes do mundo inteiro - todos, à esquerda ou à direita, em consenso sobre o isolamento total nestas duas ou três primeira semanas, momento, segundo ESPECIALISTAS, fundamental para evitar o colapso dos sistemas de saúde. Mas o pronunciamento de Bolsonaro foi tudo menos um chamado à nação sobre como lidar com o futuro. 

Bolsonaro apenas estimulou o "liberou geral já", desautorizando na prática seu próprio ministro da Saúde. Somente mostrou seu caráter cínico, divisivo e vitimista, acusando outros (suas cortinas de fumaça de sempre) de disseminar histeria, quando OMS e ONU alertam sobre o potencial risco de uma pandemia que já obrigou o COI adiar em um ano um evento do tamanho das Olimpíadas! 

Fez ainda comparações e indagações falaciosas; atacou governadores - em contraste com declarações pela manhã e ontem ( nesta quarta, tem reunião agendada com os do Sudeste...); provocou indiretamente um médico respeitado de forma gratuita, descontextualizando sua fala. Teve tempo até para deduções sem sentido sobre sua saúde, voltando a usar termos irresponsáveis como "resfriadinho". Incrivelmente nada sobre como o Estado ajudará empresas e trabalhadores a mitigar a situação - e olha que há medidas em discussão, boas ou não, suficientes ou não, que poderiam ser citadas.

Tudo oposto ao visto nos pronunciamentos de líderes mundiais, que sabem serenar ânimos sem minimizar riscos e agredir adversários em CADEIA NACIONAL de TV. Os que, no passado, isto fizeram já estavam nas cordas do ringue, é bom ele recordar. Um discurso de deputado do baixo clero, não de chefe de Estado.

O "homem comum", "apolítico", é um animal essencialmente político - e da pior espécie. Entre atos aparentemente insanos, incapacidade de se expressar, visão tosca de mundo e frases chocantes, Bolsonaro calcula egocentricamente seus atos: sem o confronto, teorias da conspiração, ataque a instituições e alvos como obsessão, não sobrevive. Todos estão errados, são imorais e esquerdistas, e o "sistema" quer derrubá-lo. 

É impossível o diálogo com um presidente assim. Dobrou a aposta. E age desta forma porque sabe que entre 25 e 30% da população (suficiente para ir ao segundo turno em 2022) sempre baixarão bovinamente a cabeça, vendo comunismo em todos os cantos e perguntando: "E o PT"?

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