quinta-feira, 9 de setembro de 2021

O blefe mal dado de Bolsonaro

 Murillo Victorazzo

Se havia alguma dúvida de que as manifestações do dia 7 não saíram como imaginadas por Bolsonaro, o patético e cínico recuo de hoje é a prova cabal. Bolsonaro imaginava algo muito maior, ainda que tenham sidos grandes. Planejou durante meses, com suporte logístico de setores com muito dinheiro, algo que lhe desse a "foto" de um apoio amplamente majoritário da população, capaz de lhe dar legitimidade para, a médio-prazo, tentar colocar em prática seus desejos de romper freios institucionais - em especial quando outubro de 2022 chegar. 
 
Mas, por mais que bolsonaristas choraminguem, a base ideológica e social do presidente ( diferente de aprovação ao governo) HOJE se encontra reduzida a cerca de 1/4 dos brasileiros. Uma minoria nada desprezível, impressionantemente mobilizada, mas cujas imagens são suficientes apenas para mostrar que está vivo politicamente. Não para sustentar suas ameaças.
 
Toda jogada política arriscada tem ônus e bônus.  Bolsonaro ficou no meio do caminho, só com o ônus. O PIB reagiu: setores produtivos exigiram o desbloqueio de estradas, o mercado financeiro gritou, e por consequência, a hipótese impeachment voltou à cena. Acuado e sabendo ainda que os rabos presos seu e de seus filhos avançam na Justiça, teve que dar meia volta.
 
Como farsa, até nisto lembra Jânio Quadros. Aquele outro "outsider" de direta, eleito tendo como símbolo de campanha uma vassourinha anticorrupção, deixou o país boquiaberto com seu pedido de renúncia 60 anos atrás. Imaginava um clamor popular que fizesse o Congresso recusar seu pedido e lhe dar mais poderes. Não teve respaldo. Ao populista de hoje, só restou emitir carta de desculpa escrita por Michel Temer - padrinho de Alexandre de Moraes.
 
O peixe morre pela boca. Bolsonaro está mais refém do que nunca do Centrão. Mas nem Poliana acredita que, desta vez, ele se moderará. Não é a primeira vez que se desdiz. O recuo, na verdade, é apenas um freio de arrumação, contando com contextos mais favoráveis. Sabe, ademais, que, por mais que tenha deixado muitos de sua base atônitos, decepcionados e constrangidos, terá inevitavelmente os votos deles em uma eleição.

 Enquanto isto, continuará a seguir o manual do populista do século XXI: friccionar, esgarçar por dentro e aos poucos, as instituições. E ver no que dá.

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