terça-feira, 15 de setembro de 2009

Made in Brasil

Por Murillo Victorazzo
Depois de oito meses no ar, a novela "Caminho das Índias" chegou ao fim no dia 11, tendo seu último capítulo obtido um share de 85%. Em outras palavras, de cada 100 televisores ligados, 85 estavam sintonizados na novela de Glória Perez. Mais um sucesso desta brilhante novelista, que, em suas obras, consegue, quase sempre, unir prestação de serviço, humor e interessantes pesquisas sobre culturas poucos conhecidas. Foi assim com os muçulmanos de "O Clone", os ciganos de "Explode Coração" e agora os indianos.
Três dias depois, estreou "Viver a Vida", mais uma novela do renomado Manuel Carlos. Rei de textos nos quais a emoção, a simplicidade e as relações humanas imperam, Maneco tratará novamente de situações cotidianas ou mais verossímeis do que as vistas na maioria dos demais autores. Foi assim com "Por Amor", "Laços de Família", "Mulheres Apaixonadas ", "Páginas da Vida", entre outras.
Em seus trabalhos, a marca são os diálogos que nos causam identificação com muito de nossas vidas sociais, familiares e profissionais, sustentados por uma direção que segue o mesmo tom. Retrato perfeito foi a cena do primeiro capítulo em que os protagonistas José Mayer e Taís Araújo, a Helena da vez, se conhecem, dando início ao romance condutor da novela. Sem closes impactantes e congelados ou trilhas sonoras românticas, a troca de olhares fluiu sem "sinos tocarem".
É digno de aplausos como os novelistas globais conseguiram, no decorrer do tempo, imprimir suas marcas. Quem assiste um pouco que seja a novelas consegue perceber facilmente de quem é aquela que está no ar. Lembremos também a bela estreia, ano passado, de João Emanuel Carneiro no horário nobre, com "A Favorita", novelão típico, com suspense, vilã maquiavélica e situações até certo ponto non sense.
Seja Glória Peres, Maneco, Gilberto Braga, com seu glamour entremeado a tramóias pesadas, ou Aguinaldo Silva, com seu realismo mágico ou, ultimamente, tramas de origens jornalísticas sobre a situação carioca, o know how brasileiro na produção deste gênero é de dar orgulho.
Descontando características inevitáveis a qualquer novela, a diversidade de estilo é certamente um dos motivos que nos levam a ser, junto com o México, os principais exportadores deste tipo de dramaturgia. (Sem medo de parecer patriotada, é inegável também nossa superioridade sobre os mexicanos no quesito sobriedade e moderação. Drama é uma coisa, dramalhão é outra.)
É de se lamentar, no entanto, que, apesar de tudo, setores da sociedade ainda vejam a novela como subproduto. Aquela velha frase generalista "não gosto de novela" exprime um preconceito igual ao da época em que homens não podiam chorar. Suas mentalidades rasas os impedem de entender que se trata apenas de mais um tipo de dramaturgia, como são as peças de teatro, os filme e os seriados. Nem melhor, nem pior, apenas diferente.
Do mesmo modo que esses gêneros, há novelas boas e novelas ruins. A diferença é que é uma produto cultural de massa e tipicamente brasileiro. E isso incomoda tanto alguns que confundem simplicidade com simplismo, ter cultura com ser pernóstico, acadêmico com academicismo ou sofrem de um patético colonialismo cultural.

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