quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Uma nação à procura de esperança

Por Murillo Victorazzo
Não é preciso dizer que o sonho de consumo presidencial de todo flamenguista é o eterno ídolo maior Zico. O Galinho, porém, conhecedor dos bastidores rubro-negro e da forte possibilidade de se queimar entrando nessa barca, parece postegar o quanto possível esse que parece ser o seu inevitável destino. Dizem que Deus nos dá uma missão na vida. Na religião Flamengo, parece acontecer o oposto: os fiéis é que já deram ao Deus rubro-negro o carma de salvar a pátria rubro-negra, após quase duas décadas de descalabro estrutural, financeiro, moral e político.
Enquanto o Messias não vem, urge o aparecimento de um nome que dê os primeiros passos para o reerguimento do mais querido do Brasil. Sem deixar de ressaltar, porém, que, acima de pessoas, um novo modelo de gerenciamento profissional é necessário. Sem isso, nem o Galinho dará jeito.
Embora o provável seja que os conchavos rolem solto na Gávea até dezembro, mês das eleições no clube, e o número de candidatos diminuia, a escolha para o próximo triênio não deve fugir dos nomes colocados até aqui.
Na última terça-feira, dia 15, duas candidaturas foram lançadas: o atual presidente, Delair Drumbovisck, e a ex-vice-presidente de Esportes Olímpicos, a famosa ex-nadadora Patrícia Amorim. Dizem estar no páreo também o advogado Clóvis Sahione, o vice-presidente de Futebol da Era Kleber Leite, Plínio Serpa Pinto, e o publicitário João Henrique Areias.
Em meio a uma gigantesca crise, o Flamengo é hoje uma caricatura deformada da democracia. É a distorção do que deveria ser um clube com vida política democrática. Há muito cacique para pouco índio, com os primeiros sempre se articulando entre si, em meio a conchavos que permitem cada grupo ficar se alternando na presidência.
Cada grupo é liderado por um ou mais ex-presidentes que, querendo ou não, deixaram suas marcas no descalabro rubro-negros. Em maior ou menor grau, todos que passaram por lá, desde meados da década de 80 têm sua culpa. De George Helal a Marcio Braga - especialmente este, que ocupou o cargo por cinco vezes - passando por Luis Veloso, Kleber Leite e o famigerado Edmundo Santos Silva.
É esse o quadro que dá a qualquer rubro-negro verdadeiro um gosto de impotência e desesperança mesmo quando um processo eleitoral se inicia. Nomes antigos ou novos mas com fortes vínculos com responsáveis por tudo que se encontra na Gávea de ruim juntam-se a outros com prestígio profissional mas pouco inspirador de confiança.
Por seu passado de ótima atleta vestindo o manto sagrado nas piscinas, Patrícia despontaria como o nome mais palatável. Condição que se desfez um pouco após turbulenta passagem pela vice-presidência olímpica do clube e declarações sobre profissionalização da gestão esportiva “sem criação de empresa ou vender o clube”. Talvez não seja, mas parece discurso de quem tem medo de enfrentar sérios tabus de frente.
À primeira vista, Areias, com sua mentalidade mais moderna - fato provado em sua gestão mais profissional e inovadora no breve periódo como responsável pelo basquete bicampeão brasileiro e da Liga Sul-Americana - parece fugir do status quo dominante. É, contudo, até agora, um nome não suficientemente conhecido para a empolgar os rubro-negros mais ansiosos. E, pior, sua força eleitoral interna é aparentemente insuficiente para se tornar uma alternativa concretamente viável - talvez nem ao dia da eleição chegue. Sua história no Flamengo - como torcedor, frequentador ou atleta -, aliás, é parca.
De qualquer modo, ambos os nomes são, até aqui, os únicos que poderiam causar espasmos de oxigenação nos ares da Gávea. Não bastasse rezar para o padroeiro rubro-negro, Saõ Judas Tadeu, melhor também dar um pouco de atenção a São Tomé e ver para crer...

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