segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Um universo antes do Big Bang?

Por Murillo Victorazzo (matéria produzida mas não publicada na ISTOÉ,2003)

Quem passou pela Urca, zona sul do Rio de Janeiro, na semana que passou, pôde ver centenas de estrangeiros com crachás no peito andando pelas ruas do bairro. Ao contrário do que vem logo à cabeça, não eram meros turistas querendo conhecer o Pão de Açúcar. Eram cientistas, físicos e astrônomos, de todos os cantos do mundo, que vieram ao Brasil para participar do X Encontro Marcel Grossman de Relatividade Geral.

 Cerca de 400 congressistas de 73 países, incluindo japoneses, norte-americanos e brasileiros, se dividiram em palestras nos auditórios do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) para um dos mais importantes eventos internacionais sobre cosmologia - ciência que estuda a origem e evolução do universo. Realizado trienalmente, essa foi a primeira vez que o Encontro aconteceu no Brasil.

Jovens ou de cabelos brancos, vestindo de roupas sociais a camisetas e até sandálias, além de inseparáveis óculos na grande maioria, os “professores Pardais” estiveram por seis dias discutindo, em inglês, os novos estudos sobre o Big Bang. A falta de ostentação, que muitas vezes caracteriza os grandes Congressos mundiais, não impediu que novas idéias sobre o início do universo fossem apresentadas.

O físico Mário Novello, responsável pelo Comitê brasileiro do Encontro e diretor do CBPF, conta que a grande novidade seria o questionamento se o Big Bang foi realmente o começo de tudo. “Até a década de 70 e 80, não se discutia o que deu origem ao Big Bang. Ele foi o momento de condensação de tudo que existe no universo, mas não foi o ponto zero”, afirma, explicando que os cosmólogos estão se dedicando a fazer cenários teóricos que descrevam esse momento.

Ao contrário da teoria do Big Bang, que diz que volume do universo no início teria sido zero, o novo modelo apresentado por físicos como Novello mostra, em linhas gerais, que, antes de haver um universo que se expandiu com o passar do tempo, houve algum tipo de colapso. “Por que colapsou? Por que parou de colapsar e começou a expandir? Essas são as grandes questões que temos que estudar”, diz Novello.

O físico ressalta que é difícil descrever para um público leigo os resultados recém descobertos. O motivo seria as estruturas pouco convencionais dos corpos envolvidos. “Na cosmologia, você teve uma revolução tão fantástica que os cientistas fizeram com que suas teorias matemáticas fossem muito além do que a gente pode descrever na nossa linguagem convencional”.

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