segunda-feira, 24 de outubro de 2011

"O Brasil Vai Chegar Lá"

Por Bruno Borges (Blog Os Capitalismos, 26/09/2011)*

Um dos grandes chavões que ouço repetidamente é a ideia de que o Brasil “nunca vai chegar lá”. Geralmente a frase vem acompanhada por explicações que tentam “qualificar” a afirmativa com alguma pseudo-teoria. Entre elas, posso citar algumas: “no Brasil só tem corrupto” ou “fomos colonizados por portugueses” ou “o Brasil tem muitos partidos políticos”, entre outras pérolas. No fim das contas, as pessoas que dizem isso estão certas, mas certamente não pelos motivos que acreditam ser verdadeiros.

Em dias em que estou de bom humor, peço às pessoas que me expliquem melhor o que querem dizer. Nunca consegui mais do que olhares perdidos. No entanto, o que mais gostaria de saber é o que “chegar lá” significa. Talvez se soubesse melhor do que estamos falando pudéssemos decidir sobre caminhos para atingir essa meta. Mas nunca fui muito adiante na minha empreitada e suponho por que.

Tenho pra mim que isso é decorrente de um enorme déficit democrático que ainda não conseguimos superar. Apesar dos 25 anos de democracia consolidada, uma boa parte das pessoas ainda acha que a democracia funciona (e deve funcionar) no piloto-automático: basta votar de vez em quando, esperar resultados e reclamar dos políticos que, em algum momento, como num passe de mágica, o Brasil se transformará de maneira tão radical que não nos reconheceremos mais: seremos a Suécia com praias.

Enfim, esperamos tanto da democracia que quando não conseguimos rapidamente atingir um determinado tipo-ideal, nos desesperamos e achamos que nunca dará certo. Esse imediatismo e essa impaciência se prestam a salvacionismos de várias espécies e ao mesmo tempo escondem e empobrecem as soluções de verdade.

Eu costumo dizer o seguinte: as pessoas em todo o mundo estão insatisfeitas com a democracia. Mas o paradoxal é que a democracia é feita exatamente para isso! A democracia está longe de ser um sistema acabado — ela é um sistema em construção permanente. É como se tivéssemos um canteiro de obras que não acaba nunca. O que precisamos entender é que não existe “a obra acabada”. Nunca vamos chegar lá. E isso é bom.

Quando pararmos de pensar em termos absolutos e entendermos melhor o pragmatismo da política, viveremos a democracia de um modo muito mais realista e verdadeiro (“vamos acabar com a corrupção” se transformar por exemplo em “vamos monitorar constantemente aqueles que usam verbas públicas para que a corrupção diminua”, um objetivo bem mais viável). Seremos mais céticos, mas seremos mais vigilantes, seremos menos idealistas, mas seremos mais ativos.

“Chegar lá” não é importante. O importante é sempre andar. E pra frente.

*Bruno Borges é doutor em Ciência Política, professor da PUC-Rio

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