quarta-feira, 9 de maio de 2012

O adversário de Obama: Mitt Romney entre o Tea Party e os democratas

Por Maurício Santoro (Todos os Fogos o Fogo, 25/04/2012)

As primárias do Partido Republicano para escolher seu candidato à Presidência dos Estados Unidos arrastaram-se por cerca de um ano e foram lideradas por 11 pessoas diferentes. Com a desistência do ex-senador Rick Santorum no dia 10 de abril, a vitória sofrida e tardia deverá ser do empresário e ex-governador de Massachussets, Mitt Romney, cujas posições políticas moderadas foram ridicularizadas pelas alas conservadoras do partido, ouriçadas pelo fenômeno do Tea Party. À frente de um partido fragmentado, Romney tem a difícil tarefa de vencer Barack Obama na disputa pela Casa Branca. As pesquisas dão de 7 a 10 pontos percentuais de vantagem para o presidente, apesar da persistência da crise econômica.

Romney representa a corrente centrista dos republicanos, tradicional na Costa Leste dos Estados Unidos. Seu pai seguia a mesma linha política e governou o estado do Michigan, nos Grandes Lagos. A família pertence há várias gerações à Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, uma denominação protestante que surgiu na década de 1820. Conhecidos como mormóns, os fiéis seguem os ensinamentos de seu profeta Joseph Smith Jr, abstêm-se do álcool e realizam intenso trabalho missionário – o próprio Romney exerceu essa função na França.

Há cerca de 6 milhões de mórmons nos Estados Unidos, mas a igreja é vista com desconfiança por muitos americanos – um terço da população sequer sabe que os mórmons são cristãos! A maioria de seus rituais são fechados a forasteiros, seus adeptos praticaram a poligamia até 1890 e envolveram-se em conflitos armados com as autoridades no século XIX.

Além de precisar superar os preconceitos provocados por sua fé religiosa, Romney enfrenta a rejeição de seu próprio partido. A eleição de Obama provocou uma forte reação das bases sociais republicanas, o chamado movimento “Tea Party” – o nome é uma referência à “festa do chá de Boston”, uma rebelião anti-impostos e controle governamental nos anos finais da colonização britânica. Por tabela, um símbolo da liberdade econômica frente ao autoritarismo do Estado.

A principal bandeira do movimento do chá é o repúdio ao aumento da ação governamental, como os pacotes de ajuda ao setor financeiro e à indústria automobilística e há muitas referências à importância dos valores religiosos, e na oposição ao direitor ao aborto ou ao casamento de homosseuxais. As características demográficas do grupo são claras: o membro típico é um homem branco de meia idade e situado na alta classe média.

Contudo, a rejeição a Obama passa também pelo desencanto com os republicanos, em especial pelo governo George W. Bush, encarado com desgosto pelo mau desempenho e pela disparada na dívida pública. Os integrantes do Tea Party querem se livrar dos democratas, mas antes buscam o controle do partido republicano, que esperam reanimar com sua agenda ideológica.

Suas simpatias estão com políticos como a ex-governadora do Alasca, Sarah Palin, a deputada Michelle Bachman, o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Newt Gingrich e o ex-senador Santorum. Romney é considerado um adversário do movimento porque quando era governador implementou um programa de saúde pública bastante parecido ao que foi implementado por Obama no nível nacional.

O Tea Party saiu-se bem nas eleições legislativas de 2010, com muitas declarações de apoio de deputados e senadores republicanos. Porém, o movimento sofreu sério desgaste nos conflitos envolvendo a elevação do teto da dívida pública dos Estados Unidos. Sua intransigência em aceitar acordos foi reprovada pela maioria dos eleitores, acostumados a compromissos com relação a esse tema.

Além disso, os pré-candidatos presidenciais simpáticos ao Tea Party saíram-se mal nas primárias presidenciais, demonstrando dificuldade de converter os slogans radicais do grupo em propostas de políticas públicas atraentes para os eleitores moderados que são fundamentais na conquista da Casa Branca. O dilema republicano é difícil: conciliar o fervor ideológico das bases com o centrismo necessário para ganhar uma eleição majoritária.

As primárias foram marcadas por uma campanha agressiva, repleta de ataques pessoais e com poucos debates significativos sobre propostas políticas. Romney se beneficiou das divisões ideológicas e regionais entre os conservadores. Aqueles que favorecem valores religiosos na política não gostam do libertário Ron Paul, apóstolo da liberdade máxima do indíviduo. Os que preferem abordagens mais tradicionais fragmentaram seu apoio no Sul a Gingrich (natural do estado da Geórgia) enquanto Santorum saiu-se melhor no Meio Oeste.

Gingrich foi muito enfraquecido por escândalos sexuais envolvendo adultérios e divórcios tumultuados e Santorum cometeu gafes célebres, como afirmar que havia demasiados americanos estudando em universidades. Ele desistiu da disputa quando ficou claro que perderia as primárias na Pensilvânia, estado que representou no Senado.

Com a renúncia de Santorum, o espaço está aberto para Romney vencer a indicação do partido para concorrer à presidência. Ele precisará de um candidato a vice que satisfaça ou menos aplaque os conservadores, mas tem que tomar cuidado para que não repita o desempenho catastrófico de Sarah Palin ou outros extremistas.

Para enfrentar Obama, a estratégia de Romney será focar seu discurso na crise econômica e se apresentar como um empresário e empreendedor dinâmico, que entende na prática como funciona a geração de empregos. Mas como um milionário do setor financeiro, acusado de sonagar impostos, o candidato republicano terá um caminho espinhoso pela frente, pois os movimentos de ocupação de praças e outros espaços urbanos conseguiram colocar com força na agenda de discussões os temas da desigualdade e da responsabilidade fiscal dos mais ricos.

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