segunda-feira, 12 de maio de 2014

Flamengo: só de quem muito se espera vem a decepção

Por Murillo Victorazzo

Não, a demissão de Jayme de Almeida não foi apenas mais um exemplo de algo rotineiro no futebol brasileiro. Não bastasse colocar um jogador sem condições de jogo em campo, gastar mal o pouco dinheiro que tem (um elenco mediano custar R$ 9 milhões é um escárnio), contratando Carlos Eduardo, Erazo, Elano, entre outros, a diretoria do Flamengo, agora, apunhalou pelas costas um homem que é a cara do clube. Alguém que tem, este sim, a chamada "pele rubro-negra", além de personalidade e caráter raros no futebol.

Pode-se criticar escalações, padrões táticos. Mas lembremos que Jayme deu ao Flamengo dois títulos em seis meses. Mudar treinador faz parte, concorde-se ou não. Porém, ser ele o último a saber foi, em um termo direto e sucinto, a mais pura cafajestagem. Pecado que se tornou mais grave por ter vindo, estranhamente, acompanhado da informação de que Ney Franco já teria sido escolhido seu sucessor.

No fim da tarde, mais de seis horas depois do vazamento da notícia, o máximo de satisfação que os dirigentes deram a seus torcedores foi uma breve nota oficial.  Em meio a meia dúzia de blá blá blá sobre "nova fase", "projetos novos", anunciava apenas a saída do treinador

Dar a cara em entrevistas para explicar-se não é definitivamente característica destes "profissionais". Quando dão, mostram uma visão de mundo que nada tem a ver com um clube de massa. O mínimo que se espera é ver dirigentes em coletivas após momentos como este ou a bizarra eliminação da Libertadores.

Ficou a sensação de que primeiro se fechou com Ney, para depois avisar o demitido. O oposto do que manda a ética e o profissionalismo: demitir oficialmente antes o funcionário, comunicá-lo, para depois contratar outro, ainda que sondagens possam ocorrer simultaneamente.

Encontrado pela Rádio Tupi no fim da noite, depois do estrago e de ter ficado a tarde toda incomunicável, o vice de futebol, Wallin Vasconcelos, disse que não. Garantiu que a cúpula decidiu dispensar o treinador após da derrota do Fla x Flu, mas esperavam um nome bom no mercado aparecer - e apareceu com o pedido de demissão de Ney ao Vitória, convenientemente algumas horas depois.

Difícil acreditar, mas, caso verdadeira, a declaração transparece outro erro:  sinaliza que contrataram o primeiro que viram livre, sem nenhum critério, sem definição de que tipo de treinador desejam, seu perfil. Tudo às pressas...

Sem desmerecer os avanços no equacionamento das dívidas e o fim de loucuras em contratações de impacto, ainda dominam, na gestão do futebol, o amadorismo, a ingratidão e a falta de respeito ao outro e de convicção no que se pretende. Tudo que os propalados "executivos da iniciativa privada, eficientes e sérios" diziam combater nas famigeradas administrações passadas.

São, por sinal, os membros dessas administrações, responsáveis diretos pela dramática situação financeira do clube e líderes da oposição atual, os que certamente aproveitarão o caso para fazer barulho e se cacifar na política interna do "Mais querido". Dar-lhes munição será o pior efeito colateral das lambanças de Bandeira de Melo e cia.

Tudo está confuso no Departamento de Futebol do clube. Desde o ano passado, são erros atrás de erros, dos tipos inimagináveis para a diretoria atual. De quem nada se espera, não vem decepção. Exige-se mais dos que podem - ou dizem poder - mais. Tomara o futuro, o longo-prazo, traga-nos de volta o respeito por ela.

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