terça-feira, 4 de agosto de 2009

A volta de um "morto" mais vivo do que o desejável

Por Murillo Victorazzo
Na ânsia de voltar aos holofotes, mirando no governo de Alagoas em 2010, Fernando Collor fez-nos, ontem, lembrar o velho candidato de 1989 e o desprezível presidente que destilava ódio em suas palavras e olhares contra os adversários. Aproveitou o estado de putrefação do Senado para, em defesa do senador José Sarney, aquele que, 20 anos atrás, chamou de ladrão, tendo feito-o com alvo central de sua candidatura, tentar intimidar o senador Pedro Simon.

Quem assistiu pela TV Senado a todo o discurso de Simon assustou-se com a agressividade do ex-presidente com seu colega de Casa. Em momento algum, Simon xingou, acusou ou criticou-o. Apenas relembrava que o controverso Renan Calheiros participou da montagem de sua candidatura e de seu governo, assim como fez parte das bases de FHC e Lula. Uma citação histórica para ironizar o apego de Calheiros aos governos. Um fato inegável para quem foi líder do governo Collor, ministro da Justiça de FHC e figura central na relação do PMDB com o governo Lula
Em reação desproporcional, Collor, com seu típico e nauseante olhar, verbalizou expressões pouco respeitosas apenas para aproveitar a chance de aparecer e de usar sua retórica batida de que foi vítima de "perseguição" da imprensa e de certos setores etc. Mandou Simon "engolir" e "digerir" suas palavras e, como fazem as raposas políticas, "ameaçou" revelar situações constrangedoras ao gaúcho. Quando estimulado por Simon a dizê-las, afirmou que não era o momento. Que as faria se continuasse a mencionar seu nome.
Numa prova de que seu objetivo maior é ganhar visibilidade em sua tentativa de se passar por vítima de conspiração 17 anos atrás, gastou quase todo seu segundo aparte atacando a revista "Veja" e seus jornalistas, peças que iniciaram as acusações que desembocariam em seu impeachment. Repetindo a velha cantilena, acusou a "mídia" de querer "apear" Sarney da Presidência do Senado, do mesmo modo que fizera com ele. Fica-se imaginar como ele reagiria a quem de fato o criticasse. Ou se alguém o mandasse "engolir" algo!
Ao eleito senador, em 2006, Collor dissera ter mudado. Teria aprendido a ser mais maleável e menos virulento. Contudo, parece que sua natureza falou mais alto, quando mais conveniente foi. O pior é que, infelizmente, há uma parcela da sociedade que aprecia políticos assim: que confundem autoridade com autoritarismo. Que pensam que parecerem ou se acharem ser mais homem que os outros é sinal de capacidade de comando.
Ainda mais grave é alguns dizerem que Collor é "bandido pequeno" perto do que se vê no governo atual. E que, portanto, seria um injustiçado. Não é porque há assassinos soltos por aí que vamos inocentar os presos. Devemos lamentar e protestar as supostas acusações sobre o governo atual não votando nos que o sustenta - mas não recuperando aqueles que já foram testados e reprovados.
O contexto atual é propício à banalização e à relativização de políticos condenados - política ou criminalmente. Um maniqueísmo pró-Collor seria certamente uma de suas piores consequências para a democracia do país.

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