quinta-feira, 20 de agosto de 2009

A nuvem 2010

Por Murillo Victorazzo
Ainda faltam 13 meses para as eleições presidenciais de 2010, mas, para quem lamentava que tudo caminhava modorrentamente para mais uma disputa entre PT e PSDB, novas e empolgantes incógnitas apareceram. Parece cada vez mais provável que o caráter plebiscitário do pleito desejado pelo presidente Lula não se concretizará. A provável candidatura da senadora Marina Silva (PV) deu novo ânimo para nomes como os do deputado Ciro Gomes (PSB) e do senador Cristovam Buarque (PDT), além da ex-senadora Heloisa Helena, que pareciam conformados com a polarização entre petistas e tucanos .
Para Lula, uma eleição baseada na aprovação ou não ao seu governo seria a melhor forma de transformar em votos para sua candidata, Dilma Roussef, sua popularidade de cerca de 70%. Estando do outro lado do ringue o governador paulista, José Serra, nome, segundo pesquisas qualitativas, fortemente vinculado ao governo de Fernando Henrique, o quadro, segundo Lula, seria favorável à petista. É forte a convicção no Planalto de que um remake do velho filme FHC x Lula, no tocante às realizações de seus governos, seria benéfica para o atual mandatário.
Ainda é cedo para traçarmos um quadro definitivo, já que a máxima de umas das maiores raposas políticas mineiras, o falecido governador Magalhães Pinto, de que política é como nuvem, a cada minuto muda-se seu desenho, é historicamente comprovada. No entanto, essa mexida no tabuleiro político reforçou o que muitos já desconfiavam: essa será uma longuíssima campanha eleitoral. Até que ponto a alta exposição destes nomes por mais de um ano poderá "envelhecer" suas candidaturas e em qual o peso será maior são perguntas que também demorarão ser respondidas.
Sem tomar partido de um ou outro partido, a inégavel, digamos numa expressão politicamente correta, pouca simpatia que alguns dos grandes órgãos de comunicação têm pelo atual governo fez com que a entrada da senadora acreana no PV ganhasse enorme destaque. Por sua trajétoria política brilhante, pela mulher guerreira e engajada que é, por ser um dos poucos nomes cujas integridade e ética ainda se pode admirar - pelo menos até que se prove o contrário - é tentador e compreensível tal empolgação.
No entanto, embora saída do PT, Marina não parece ter incorporado certos ideais mais liberais que tanto certos jornais idolatram (jornais também podem participar legitimamente de luta política, embora o ideal fosse que eles atussem de forma clara, explícita, como acontece nos Estados Unidos). Não parece ser uma estatista anacrônica, mas longe está de ter no altar o Deus Mercado. Do mesmo modo, continua a elogiar a política social do governo Lula e tem boas relações com movimentos sociais tão criticados por eles. Sobre pólítica econômica, Marina ainda é uma incógnita. Seria ela uma volta às velhas teses do PT pré-governo ou manteria o atual regime, que vem dando certo há 15 anos?
Diante desse quadro, parece justo supor que a brilhante Marina esteja sendo alçada ao céu por tais setores apenas para enfraquecer a candidatura governista, dividindo o eleitorado de esquerda. Mas a "inocente útil" pode surpreender, até porque muitos eleitores mais à esquerda de classe média, que, incomodados com os desvio éticos do PT, viam-se por gravidade caindo nos braços tucanos, tendem "esverdear". Com o agravante de que rótulos (alguns preconceituosos) como "analfabeto", "bêbado", "aparelhamento sindical" não colariam nela. Nada mais instigante do que saber como seria a relação de uma presidente Marina com estes jornais...Muitas formas ainda vai ter essa nuvem...

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