sábado, 1 de agosto de 2009

Crítica plausível, argumento enviesado

Por Murillo Victorazzo
Em meio à polêmica envolvendo a descoberta de armas suecas vendidas à Venezuela em mãos das Farcs, o acordo em construção que permitiria maior utilização de bases militares colombianas pelas Forças Armadas norte-americanas movimentou o noticiário internacional da semana. O chanceler Celso Amorim logo pediu esclarecimentos, no que foi sucedido em declarações conjuntas do presidente Lula e sua colega chilena Michelle Bachelet.

Alguns analistas preferiram ver nesse questionamento mais um sinal da suposta hegemonia do pensamento petista no Itamaraty. Seria uma retórica atrasada oriunda do antiamericanismo típico de partidos esquerdistas ou nacionalistas. Uma prova da parcialidade petista para com o "socialismo do século XXI" de Hugo Chávez. É certo que uma postura mais firme sobre as armas encontradas com narco-guerrilha colombiana seria desejável. E é inegável também as boas relações históricas do partido governista com o mandatário venezuelano.

No entanto, no tocante ao posicionamento em relação à Colômbia, sua origem e causa vão bem além das motivações ideológicas. A presença militar norte-americana na América do Sul sempre causou arrepios nos meios militares e diplomáticos brasileiros, qualquer que fosse o governo.

O forte viés pluralista, no sentido vatteliano, de que as relações internacionais são baseadas em power politics e um jogo de soma zero, norteou o pensamento nacionalista de que os Estados Unidos tenderiam, mais dia menos dia, a intervir na Amazônia. Um pensamento que, embora muitas vezes beire a paranoia, é também difundido em toda sociedade. E cujos fortalecimento e raízes encontram-se no insulamento e organicidade do Itamaraty, a partir da década de 50, e na ditadura militar das décadas de 60, 70 e 80.

Tal sentimento é tão enraizado que mesmo o governo Fernando Henrique, que implementou políticas mais liberais e iniciou uma reaproximação com os Estados Unidos, teve como uma das marcas de sua política externa manter a superpotência distante o máximo possível da região. Razão essa do ceticismo e da resistência de Cardoso ao Plano Colômbia (o que, para os norte-americanos, seria uma das razões da pouca eficácia do plano) e do apoio à suspeita reeleição do peruano Alberto Fujimori, em 2000. O Brasil, à época, liderou a campanha contra a resolução norte-americana na OEA que previa sanções ao Peru.
Causa estranheza, portanto, ouvir Rubem Barbosa, embaixador brasileiro em Washington durante a gestão FHC e hoje diretor da FIESP, dizer, no programa "Painel", da GloboNews, que o repúdio de Amorim era uma retórica simplista oriunda do "antiamericanismo ultrapassado" do assessor para assuntos internacionais do governo, Marco Aurélio Garcia. Um discurso que apenas teria como objetivo esconder as suspeitas contra o chavismo.
É mais um exemplo de como uma crítica que tem algumas razões de ser perdem a credibilidade quando justificadas enviesadamente, com simplismos - principalmente vindo de um diplomata de carreira com tanto prestígio. Será que só o PT partidarizou a política externa?

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