Por Murillo Victorazzo
José "Pepe" Mujica foi o entrevistado do "Canal Livre", na Band, domingo passado. Em seu humilde sítio nos arredores de Montevidéu, o presidente do Uruguai recebeu os jornalistas Fernando Mitre, Ricardo Boechat e Fábio Pannunzio para uma hora de ótima conversa.
Conversa que, de tão boa, pareceu ter durado apenas cinco minutos. Deixou, de todo modo, uma certeza: Mujica é daquelas personalidades raras no mundo que explicam por que a História e a política são apaixonantes - por mais que a maioria de seus atores atuais faça parecer o contrário.
Concorde-se ou não com tudo que defende, o presidente uruguaio nos faz pensar, cativa, te prende em frente à televisão. Une vanguarda e simplicidade a bom humor, sem fugir de perguntas. Reflete antes de responder, sem platitudes ou frases decoradas. Prova que ser inteligente é muito diferente de ser pernóstico. E que idade avançada não é sinônimo de conservadorismo. Quem dera tantos jovens brasileiros tivessem a inquietude intelectual, a mente arejada, do "Viejo"...
Para o Brasil, Mujica pode ser a inspiração para uma esquerda moderna, sem os dogmas excessivos, as visões jurássicas sobre economia e com a coragem de avançar na implantação de políticas que reflitam as relações sociais atuais. Ainda que, neste quesito, tenha-se que dar o desconto da diferença de tamanho e de complexidade da sociedade que separam os dois países, como ele mesmo ressaltou. "O Uruguai é um país laico, muito laico", frisa.
Descrente do petismo, assustada com a repaginada à direita do PSDB e cética com o que se transformou o PPS (antigo PCB), o eleitorado centro-esquerdista é órfão de políticos assim. Mujica nos lembra que, entre o autoritarismo nacionalista chavista e o direitismo neoliberal, alinhado, muitas vezes, automaticamente aos EUA, há um vasto campo a explorar. Uma verdadeira e contemporânea social-democracia.
Como cidadão, invejo os uruguaios; como jornalista, invejei Mitre, Boechat e Pannunzio...
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