quarta-feira, 22 de março de 2023

Seriedade, por favor

Murillo Victorazzo

Por sua atuação e escolhas, Sergio Moro, independente do que pensemos sobre ele, tornou-se adversário das duas maiores forças populares desse país: o petismo e o bolsonarismo. Esmagado entre elas, apequenou-se eleitoralmente, a ponto de lhe restar tentar uma vaga no Senado no Paraná. Eleito a duras penas, em uma campanha em que, para vencer, não hesitou em Alvaro Dias, até então não apenas seu aliado como figura essencial em sua entrada no mundo partidário. Chegou a tentar atrelá-lo ao PT, pasmem. O diretório local do partido de Bolsonaro hoje tenta sua cassação no TRE.

Moro preferiu o discurso ético seletivo no segundo turno ao apoiar Bolsonaro, mesmo após acusá-lo de aparelhamento da PF e obstrução às investigações contra seus filhos - razão, como afirmara, de sua saída do ministério. Bolsonaro que ajudou a fechar o caixão da Lava-Jato com, em outras situações, sua escolha para PGR e desmobilização de sua base raiz em articulações no Congresso. Flavio, por sinal, beneficiou-se de decisões do STF sobre a operação. Ok, é do jogo político optar pelo que lhe é mais conveniente. Mesmo negando, ele é um político. Inegável, porém, que iniciara o mandato legislativo como uma figura secundária. Até que hoje a PF revelou um esquema do PCC para matá-lo.

Em outras palavras, a PF subordinada ao “comunista” que almejaria ocupar o Estado - e “defensor de bandido” - Flávio Dino tirou Moro da margem do debate público. Deu-lhe visibilidade perdida e ajudou a rememorar o papel de “xerifão” que o ex-juiz busca, agora, até com razão, vitimizado. No mínimo, deveriam aplaudir a não interferência. Mas o bolsonarismo tem a cara de pau de, na leviandade mais repugnante, tentar associar o plano ao PT. E a evidência seria a rancorosa declaração de Lula sobre sua vontade, quando preso, de “foder Moro” dada ontem. Um estranho caso de confissão pública de um crime. Que timing!

Baixarias sem sentido assim não surpreendem vindo de políticos, ainda mais desse grupo ideológico. Nem de militantes dispostos a, por ardil ou adestramento, reverberar. Dos outros espera-se o mínimo de discernimento e responsabilidade. Bora debater políticas públicas - e com seriedade? Ou só são capazes do pânico moral e da deslegitimação do adversário?

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