segunda-feira, 10 de abril de 2023

No Oriente Médio, clichês são inevitáveis

Por Murillo Victorazzo

Ramadã significa "calor intenso" em árabe. Foi sob as altíssimas temperaturas do deserto, típicas do nono mês do calendário lunar islâmico, que os versículos do Alcorão - "as palavras de Allah” - foram revelados a Maomé (Muhammad) através do arcanjo Gabriel enquanto o profeta meditava na caverna de Hirá, em Meca. Pessach, em hebraico, significa "passagem". No sentido bíblico, marca a libertação do povo judeu da escravidão infligida pelo Faraó egípcio. Segundo o Livro do Êxodo, foi quando os hebreus, conduzidos por Moisés, atravessaram o Mar Vermelho rumo a Canaã, a Terra Prometida.

O Ramadã é, por isso, o mês sagrado para o Islã, período no qual deve-se jejuar entre o nascer e o por do sol. Nenhuma ingestão é permitida, nem mesmo água, restrição dispensada para alguns, como crianças, doentes e gestantes. Entre as cinco rezas diárias de sempre, os muçulmanos buscam com o jejum “aproximar-se” de Deus, uma espécie de rito de purificação física e espiritual. Doações para instituições de caridade são incentivadas. Por ser baseado no ciclo da lua, o mês começa entre 10 e 12 dias antes que no ano anterior no calendário gregoriano, o utilizado oficialmente em grande parte do mundo. Iniciado no dia 23 de março, parte dele coincidiu este ano com a Pessach, a Páscoa judaica, celebrada desde quarta-feira, dia 5.

A festa dos judeus ocorre sempre durante a primeira lua cheia após o início da primavera no hemisfério norte, entre os dias 15 e 22 do mês hebraico de Nissan. Entre outros ritos, um jantar, o Séder, marca a primeira noite, durante a qual as famílias fazem a leitura do Hagadá, livro que narra a libertação. Na véspera, os primogênitos jejuam em agradecimento por seus antepassados terem sido poupados da praga que vitimou os primogênitos egípcios. São oito dias em que se proíbe alimentos a base de grãos fermentados (chamêtz), tradição que se explica pelo pão ázimo (sem fermento) que os antepassados tiveram que comer na apressada fuga do cativeiro.

Mas esses costumes, que remetem à paz, liberdade e empatia, não raramente são ofuscados pela realidade geopolítica. Na manhã do mesmo dia 5, policiais israelenses invadiram a mesquita de Al-Aqsa enquanto fiéis faziam a Itikaf, a vigília realizada durante o Ramadã. Localizada em uma colina de Jerusalem conhecida pelos muçulmanos como Al Haram al Sharif (o Nobre Santuário) ou Esplanada das Mesquitas, a mesquita fica próxima ao Domo da Rocha, imponente santuário declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, de onde, segundo a tradição islâmica, Maomé teria ascendido ao céu no ano de 620.

“Eles atacaram de forma selvagem as pessoas, mesmo sem saber se havia mulheres lá dentro. Restringem a liberdade de movimento. Estão prontos para uma nova onda de repressão contra os fiéis”, disse uma muçulmana à Rádio França Internacional (RFI). De acordo com a polícia, a incursão se deveu à presença de "jovens criminosos e agitadores mascarados" que lá ficaram entrincheirados "para perturbar a ordem pública". Entre pedaços de pau, pedras e fogos de artifício de um lado e bombas de gás lacrimogêneo e cassetetes de outro, as cenas de violência resultaram em 350 palestinos presos e 37 feridos.

A mesma colina é chamada pelos judeus de Monte do Templo (Har ha Bayit, em hebreu), onde, no mesmo terreno em que o califa Abd al-Malik construiu o Domo da Rocha, Abraão teria oferecido seu filho Isaque em sacrifício a Deus. Logo abaixo dela, encontra-se o Muro das Lamentações, os resquícios do que acreditam ter sido o Templo de Salomão, o primeiro templo judeu, construído há mais de três mil anos. O Monte é, por isso, o lugar mais sagrado para o Judaísmo, tão sagrado que praticamente todas suas correntes recomendam a seus fieis não rezarem lá até um novo templo ser construído, o que só ocorreria após a chegada do Messias. Anexado por Israel após a Guerra dos Seis Dias, em 1967, todo esse complexo tem seu acesso controlado pelas forças de segurança do país, embora seja atualmente administrado pela Jordânia, em acordo que prevê a permissão para visita e reza de muçulmanos a qualquer hora do dia e da noite.

O mais novo episódio da enésima temporada dessa infindável série teve origem com os rumores de que organizações nacionalistas judaicas se preparavam para sacrificar um cordeiro no Monte em celebração à Pessach. Um ritual bíblico segundo eles, mas proibido por autoridades israelenses e o Rabinato-Chefe. Para os muçulmanos, mais do que uma provocação, uma profanação à Esplanada já ocorrida outras vezes, quando o mesmo fim se repetira. Palestinos se anteciparam e, armados, redobraram a vigilância da região. Descobertos pela polícia, refugiaram-se na mesquita, logo invadida. Profanação dobrada. No outro dia, dois judeus ortodoxos foram vistos tentando entrar novamente na Esplanada com um cordeiro, "feito" orgulhosamente divulgado em suas redes sociais. Mais pancadaria. Outra invasão policial. Mais presos.

"Nosso desafio é marcar nossa presença, reafirmar a identidade de nossos lugares sagrados. Aqui, é a Esplanada das Mesquitas, não é o Monte do Templo como dizem os judeus. Todos os anos, durante o Ramadã, é a mesma luta. Especialmente quando os judeus comemoram seus feriados ao mesmo tempo”, afirmou também à RFI um idoso muçulmano. A Jordânia condenou o "ataque" e exigiu a retirada imediata das forças israelenses do local, em tese sob sua jurisdição, ao mesmo tempo que o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou sentir-se "consternado" com "a violência e as agressões" dos policiais. O presidente da Turquia, Recep Erdogran advertiu que "desrespeitar a mesquita de Al Aqsa é nossa linha vermelha". Em reunião extraordinária, a Liga Árabe alertou contra qualquer "provocação" que possa ferir "os sentimentos dos fiéis".

É um "crime sem precedentes", denunciou o Hamas. Além de convocarem os palestinos à irem em massa à mesquita, a organização terrorista sunita respondeu com foguetes lançados da Faixa de Gaza, território palestino controlado por eles, e do sul do Líbano, de onde partiram 34 artefatos. A maioria foi interceptada, mas seis atingiram Israel, deixando dois feridos e causando um incêndio. O Estado judeu não hesitou em contra-atacar e bombardeou as duas regiões na noite de quinta-feira, dia 6. 

As incursões atingiram túneis e fábricas de armas do Hamas em Gaza e uma pequena cidade ao sul do Líbano. Dois projéteis caíram em um campo de refugiados perto do local. Atentados na Cisjordânia e Tel Aviv acarretaram na morte de duas irmãs e um turista italiano, além de seis feridos graves. Um palestino foi morto por um policial em circunstâncias ainda incertas. O governo israelense ordenou a mobilização de reservistas da Força Aérea e convocou militares para o policiamento de ruas, enquanto três foguetes disparados da Síria atingiram o país e a Colina de Golã, território sírio ocupado desde 1967.

Ano passado, quando o Ramadã também coincidiu com a Pessach, confrontos na mesma mesquita terminaram em uma guerra de 11 dias entre Israel e Hamas. Este ano, porém, o cenário é ainda mais preocupante. Israel hoje tem o governo mais à direita de sua História. Réu por corrupção, Benjamin Netanyahu se aliou à radicais ultranacionalistas e ultraortodoxos religiosos para voltar ao poder em dezembro passado. Deu a eles pastas importantes, como a da Segurança Nacional, destinada a Itamar Ben-Gvir, um notório radical que, com discursos incendiários, defende a anexação total da Cisjordânia e tem em na parede de sua sala foto de Baruch Goldstein, extremista judeu condenado por, em 1994, matar 29 palestinos após abrir fogo em uma mesquita.

Goldstein era membro do movimento Kach, criado pelo rabino Mair Kahana, defensor de um Estado israelense teocrático onde não-judeus não teriam direitos políticos. Os inúmeros atos violentos contra árabes praticados pelo "kahanismo" durante as décadas de 80 e 90 levaram os Estados Unidos a considerá-lo uma organização terrorista. Ainda jovem, Ben-Gvir aproximou-se de Kahana. Condenado por racismo e incitação ao terror, foi proibido de servir às Forças Armadas. Pouco anos atrás, militantes do Sionismo Religioso, sua frente política, tentaram colocar bandeiras israelenses aos pés da mesquita de Al-Aqsa. No início do ano, apenas cinco dias após assumir o cargo, uma visita sua à Esplanada soou como provocação aos palestinos, merecendo críticas inclusive de Washington. À época, o Hamas respondeu: "Isso não ficará impune".

Israel está em turbulência desde que Netanyahu, incentivado por seus aliados radicais, propôs uma reforma judicial que dá ao Legislativo o poder de anular decisões da Suprema Corte, aumenta o peso do governo na comissão que define juízes, impede entidades da sociedade civil de recorrer à instância máxima da Justiça e fragiliza as "leis básicas" que norteiam os direitos humanos no país. O primeiro-ministro busca escapar da condenação, enquanto Ben-Gvir e seus semelhantes veem a Corte como maior obstáculo a suas ideias contra minorias - sejam os árabes ou o movimento GLBTQI+. 

Há 14 semanas, milhares de pessoas estão nas ruas contra o que consideram um "golpe judicial" que dilacera a democracia. Ex-chefes dos serviços de inteligência interna e externa ( Shin Bet e Mossad) repudiaram o projeto publicamente. Agências de ratings e empresários alertaram para a fuga de investimentos. Estudos do Banco Central projetam a perda de até 4% do PIB nacional caso a proposta seja aprovada e a reação da sociedade se aprofunde. A crise aumentou quando integrantes de grupos de elite das Forças Armadas aderiram aos protestos, negando-se a participar de operações militares. O ministro da Defesa, Yoav Galant, ciente da gravidade da situação, clamou pela suspenção do projeto, mas, em resposta, foi demitido por Netanyahu. A temperatura política aumentou, e uma greve-geral paralisou as principais cidades do país semana passada. Enfática, Casa Branca declarou que os "valores compartilhados pela relação entre Estados Unidos e Israel" estão ameaçados. 

Acuado, o premiê anunciou a suspensão da tramitação da reforma na Knesset ( o Parlamento israelense), até o fim do recesso legislativo, no final de maio. No entanto, além de não acabar com as manifestações, o recuo fez Ben-Gvir ameaçar pedir demissão, saída que derrubaria o Gabinete. Como barganha, o ministro obteve a promessa de criação de uma Força Nacional sob seu comando. Na prática, uma milícia oficializada para seus extremistas. É Ben-Gvir, com seu histórico e simpatizantes, quem comanda a polícia israelense, o que reforça a desconfiança e ira dos palestinos com a invasão à mesquita em pleno Ramadã. 

Foguetes partindo da Faixa de Gaza não surpreendem os israelenses, mas chamaram a atenção os 34 artefatos disparados do sul do Líbano. Ao contrário do ano passado, teme-se que o Hezbollah esteja envolvido. Movimento xiita que, além de partido político, é uma poderosa milícia que ocupa partes do país vizinho, o Hezbollah é visto por muitos como um Estado dentro do Estado libanês. Contra eles, Israel entrou em guerra em 2006, conflito iniciado após a morte de oito soldados e o sequestro de outros dois que patrulhavam a fronteira. Durou pouco mais de um mês, mas o saldo foi chocante: do lado libanês, 1.200 mortos, a grande maioria civis, e 900 mil desabrigados; entre os israelenses, pouco mais de 150 militares perderam suas vidas.    

A organização silenciou a respeito dos ataques, assumidos por grupos libaneses ligados ao sunita Hamas, mas é pouco crível que os xiitas não soubessem, dado o poder que têm na região de onde saíram os foguetes. Na véspera, o líder do Hamas, Ismail Haniyek, chegou a Beirute para se encontrar com o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, ocasião em que declararam buscar reforçar o "eixo de resistência", como se referem a grupos palestinos, libaneses, sírios e outro apoiados pelo Irã. Israel "está à beira de uma guerra civil. Eles vão se destruir sozinhos", profetizou Haniyek. 

Como, entre outros, Gallant e a Casa Branca advertiram, a cizânia domestica fragiliza externamente Israel. A falta de coesão interna incentiva esses grupos terroristas a testarem até que ponto militares continuarão mobilizados contra Netanyahu e em que medida a oposição legitimará suas respostas aos ataques. Por outro lado, surgiram preocupações acerca do interesse no fomento de uma guerra como saída para tirar o foco da reforma judicial. O conhecido senso comum do inimigo externo como unificador nacional em proveito do governante.

As cenas do último sábado, porém, enfraquecem a hipótese, pelo menos por enquanto. Em pleno feriado da Pessach e em clima de alerta após os atentados e foguete lançados, mais de 200 mil pessoas voltaram a se reunir em protesto contra Netanyahu. No retrato mais forte e simbólico da crise até agora, uma enorme faixa com o premiê caracterizado de Faraó foi estendida. Abaixo da imagem, os dizeres "Deixe meu povo ir". Por outro lado, Bibi, como o premiê é conhecido, sabe que um conflito contínuo com o Hezbollah ganharia proporções bem mais graves do que a troca de chumbo com o Hamas.

Treinado pelo Guarda Revolucionária do Irã, a unidade especial do regime dos aiatolás, o grupo xiita é muito mais forte do que o sunita; é a milícia terrorista mais poderosa do mundo, capaz de atingir Tel Aviv e outras cidades importantes do país com mísseis em maior quantidade e precisão. Um barril de pólvora com potencial de atrair não só os persas e sírios como afetar o relacionamento com outros países árabes, em um momento em que Netanyahu busca consolidar os Acordos de Abraão. Assinado em 2020, o tratado firmou laços diplomáticos com Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Sudão e Marrocos. Até então, apenas Jordânia e Egito reconheciam o Estado judeu. Rabat condenou "firmemente" a invasão da mesquita e pediu "respeito pelo estatuto jurídico, religioso e histórico" de Jerusalém e dos lugares sagrados. Cabe lembrar ainda que recentemente Arábia Saudita e Irã estabeleceram relações diplomáticas.

É bem verdade que uma guerra aberta tampouco seria conveniente para o Hezbollah. Neste momento, sua prioridade é garantir um nome apoiado por eles para a Presidência do Líbano, cargo destinado a um cristão maronita, segundo o acordo selado em 1943 que dá aos muçulmanos sunitas o posto de primeiro-ministro muçulmano e aos xiitas, a chefia do Legislativo. As três vertentes religiosas representam, cada uma, cerca de 25% da população, mas milícia não é bem vista entre os adeptos das outras duas e as minorias drusa e cristã ortodoxa. As consequências para uma economia já debilitada reforçaria essa imagem, emparedando seu Estado paralelo, flanco também para uma possível nova guerra civil. Um quadro que explica sua posição ambígua acerca dos ataques e a razão pela qual Israel não os acusou.

No último domingo, enquanto judeus rezavam a Birkat Kohanim no Muro das Lamentações, tradição realizada sempre entre a Pessach e a Sukkot (a Festa dos Tabernáculos), a imprensa israelense noticiava a montagem de barricadas palestinas no interior da mesquita de Al-Aqsa, informação negada pelos jordanianos. A distância entre os dois locais é de apenas 200 metros. Por hora, as forças de segurança decidiram não invadir o santuário muçulmano, mas um adolescente e uma britânica de origem israelense morreram nesta segunda-feira, dia 11. Ela, mãe das duas irmãs mortas no atentando de semana passada na Cisjordânia, em decorrência dos ferimentos sofridos; ele, assassinado por tropas israelense em um campo de refugiados nesse mesmo território ocupado. 

No mesmo dia, Netanyahu, em entrevista coletiva, anunciou a volta de Gallant ao Ministério da Defesa, acusou o governo anterior pelos foguetes recebidos e responsabilizou os manifestantes "pelo entendimento de nossos inimigos de que somos fracos". Bibi está emparedado. Cortes nos orçamentos de outras pastas já foram anunciados, com intuito de viabilizar a prometida Força Nacional de Ben-Gvir. Sua concretização, contudo, é politicamente difícil, dada a forte a rejeição no Shin Bet e por altos oficiais da polícia. O casamento com os Estados Unidos está abalado. Em tese, as negociações sobre a reforma judicial continuam, mas poucos são otimistas sobre consensos. 

Pesquisas revelam que, se as eleições fossem hoje, o Likud, partido do premiê, cairia para terceira posição, e a coalizão governista despencaria de 64 para 46 assentos, 15 a menos do que o necessário para a formação de um governo. Diante desse quadro, pode não ser vantajoso um acordo para oposição, caso ela vislumbre uma breve queda do Gabinete atual. Cancelar a reforma poderia ajudar na pacificação doméstica, fundamental para o enfrentamento com o inimigo externo. Netanyahu, porém, precisa de seus radicais para se manter no poder. “Netanyahu não quer guerra em um momento de embate com o ministro da Defesa, em meio à Pessach e sem pontes com a oposição, que não vê nele credibilidade. Mas membros importantes do seu governo querem, porque vivem do confronto”, afirma João Koatz Myragaia, morador de Tel Aviv e editor do site "Conexão Israel" e do podcast "Do lado esquerdo do muro". 

Em 2000, Ariel Sharon, líder do à época partido de oposição Likud liderou uma comitiva de parlamentares de direita à Esplanada das Mesquitas, ocasião em que afirmou que "o Monte do Templo está em nossas mãos e permanecerá em nossas mãos". Foi o estopim para a segunda Intifada palestina, cujo resultado foi mais de três mil palestinos e cerca de mil israelenses mortos. As sinalizações são as de que as feridas de uma guerra com o Hezbollah não serão reabertas. É mais provável a eclosão de uma terceira Intifada, mas cenários instáveis assim fogem muitas vezes à racionalidade.

Era previsível que a crise interna se entrelaçasse à política externa. Como vemos no Brasil, ainda que em níveis menos violentos, a instrumentalização radical da religião turva o debate e cinde o tecido social. O discurso de defesa de valores religiosos se reflete em práticas opostas. O bom jornalismo pede que se evite clichês, mas, na Questão Palestina, parafraseando aquele velho chavão, mais do que nunca e do que em qualquer lugar, os extremos se atraem. Uma retroalimentação danosa para a paz, seja lá o Deus em que você acredita.

Nenhum comentário:

Postar um comentário