quinta-feira, 25 de junho de 2009

O Maracanã é da criança Beija-Flor

Por Murillo Victorazzo (matéria publicada no jornal O Beija-Flor, setembro/2006)

“Ah, ah, uh, uh, o Maraca é nosso!” Foi assim, cantando o tradicional grito de guerra das torcidas cariocas, que 40 crianças entre 6 e 14 anos do projeto O Sonho de Um Beija-Flor chegaram ao estádio do Maracanã para ver a partida Flamengo x Internacional, no dia 2 de setembro. A euforia era mais do que justificada, afinal era a primeira vez que assistiriam a um jogo no maior e mais famoso estádio do mundo.
Acompanhadas de nove professores do projeto, a garotada - todas praticantes de futebol e futsal, na quadra da Beija-Flor - não conteve a animação desde a saída do ônibus, em Nilópolis. Logo que chegaram ao estádio, elas se juntaram a 80 crianças do núcleo de Niterói do Instituto Canhotinha de Ouro e, perfiladas, caminharam até a entrada das cadeiras amarelas. Assim que viram aquele gramado como tantas histórias e tradição, foi inevitável surgir em cada uma delas um largo sorriso e um brilho nos olhos . “Caracas!”, vibrou uma; “Olha como é lindo!”, disse outra, cutucando o amigo.
A grande maioria estava ainda mais empolgada por ter também a chance de ver o jogo do seu clube do coração, o Flamengo. Demonstrando conhecerem o elenco rubro-negro, elas, no embalo da torcida, gritavam o nome de cada um dos jogadores que surgiam no gramado. Cantavam o hino e as músicas de incentivo ao time, sem, é claro, perder a chance de apupar e vaiar o time rival. “Sempre tive o sonho de conhecer o Maracanã. Não imaginava que fosse tão grande e bonito”, revelou Walace dos Santos, 11 anos.
Estudante da 5ª série do Educandário Abrão David e aluno de futsal do projeto, Walace não tirava os olhos do campo. Parecia se transportar para lá, idealizando um futuro: “Tenho o sonho de um dia jogar no Maracanã pelo Flamengo”.

Partilhando do mesmo desejo de Walace, Vítor Hugo Pires, 7 anos, não parou quieto desde o momento em que chegou à arquibancada. “Não imaginava conhecer o Maracanã tão cedo. Quero ser atacante e jogar nesse gramadão um dia”, revelou ele, que está na 2ª série do CENEC, em Nilópolis, e três vezes por semana faz aula de futebol no campo da Beija-Flor.
O tamanho do gramado, aliás, era uma das coisas que mais chamavam a atenção da garotada. “É muito bonito! Pela televisão parece ser bem menor”, disse Saint Clair Eugênio Coelho, 7 anos, também aluno de futebol.
Estudante da Escola Municipal Ribeiro Gonçalves, em Nilópolis, Saint Clair se mostrava bem mais calmo do que os outros. Mas a concentração com que assistia ao jogo revela todo o seu encanto com o que via. Em comum com grande parte de seus colegas, o sonho de fazer uma carreira de sucesso no futebol profissional: “Gostaria de ser jogador do Flamengo”.

A cada chance de gol perdida, o tradicional grito de “Uh!” seguido de “Mengo!” era inevitável. Todos, de tão ambientados ao estádio, já pareciam antigos freqüentadores do local. Alguns, no entanto, não deixavam de se surpreender com os gritos e xingamentos de alguns torcedores mais exaltados.
Para alegria geral, o Flamengo fez o primeiro gol ainda no primeiro tempo, o suficiente para os pequenos flamenguistas saírem pulando de uma cadeira para outra. Nada que preocupasse seus professores. “Eles são calmos e obedientes. Nós escolhemos como critério para vir ao Maracanã a assiduidade e o comportamento nas aulas”, explicou o Vítor Bernardes dos Santos, instrutor de futebol de campo.
Além de supervisioná-los, os professores faziam questão de comentar lances da partida com eles. “Queremos mostrar como acontece na prática, no futebol profissional, o que lhes ensinamos. Nas próximas aulas, vamos bater um papo sobre o que vimos aqui ”, acrescentou Vítor.

No segundo tempo, porém, o Internacional virou o jogo, com dois gols de pênaltis em cinco minutos. O suficiente para, junto com o natural cansaço, fazer a garotada diminuir a euforia. Foi então a vez da minoria não-flamenguista se revelar e começar a provocar seus colegas.
Fim de jogo, e a alegria de conhecer o Maracanã só não era maior por causa do placar final. Perguntado se havia gostado da visita, Walace resumiu o sentimento de todos – ou quase todos: “Mais ou menos. Adorei, mas poderia ter sido melhor.” Independentemente da frustração pelo resultado, mais uma semente da paixão pelo esporte foi plantada. Mais um golaço da Beija-Flor!

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