segunda-feira, 29 de junho de 2009

Aplaudir, sim; "engolir", jamais

Por Murillo Victorazzo
Está bem, o Dunga ganhou mais um título. Que bom! Todo brasileiro está (ou deveria estar) feliz, afinal o mundo, de novo, nos olha com aquele semblante de "ih, lá vem eles de novo". Não dá para não se orgulhar quando lemos o debochado "Olé" manchetar: "Brasil es Brasil. El más grande!". Mas, sem querer ser chato, não custa lembrar: Copa das Confederações é Copa das Confederações; Copa do Mundo é Copa do Mundo.
Longe de ser pessimista ou parecer contariado com o sucesso do treinador brasileiro, o fato é que não se pode atribuir favoritismo ao Brasil na Copa de 2010 pelo título conquistado ontem. Claro, excetuando o favoritismo eterno e histórico que a seleção canarinho tem em qualquer competição. Fomos, somos e parece que sempre seremos o "celeiro" de jogadores do mundo! E o mundo reconhece isso.
O número de seleções de melhor nível e o grau de preparação deles em um Copa do Mundo são bem superiores ao notados no torneio vencido. O que não tira o mérito dos "Samba Boys", como os sul-africanos apelidaram nosso time. Também não se pode negar que a qualidade do jogo brasileiro melhorou - e muito,em alguns jogos, como contra a Itália. Já se nota padrão de jogo; já temos uma base que nos permite sonhar com uma boa Copa do Mundo ( ganhar é consequência e depende muito também dos imponderáveis do futebol).
É inegável que o Dunga "descobriu" alguns jogadores e soube incorporá-los bem ao seu esquema. Também é justo ressaltar que, se tem muitos defeitos, o nosso treinador tem uma grande virtude: é sério, brioso, o que nos parece garantir que "salto alto" não haverá em 2010. Mas, Dunga, por favor, presta atenção no Robinho. Será mesmo que ele é titular? O que está se passando com aquele que foi tido como potencial melhor jogador do mundo um dia? E a lateral esquerda? Melhoramos, mas futebol não é estático, é dinâmico. Muita estrada ainda temos para caminhar.
Tal progresso, porém, não é argumento para o Dunga, em um de seus típicos ataques de rancor, achando que é mais homem do que os outros, vangloriar-se de que fora perseguido, que a mídia não o entende. Todas as críticas- excetos, é claro, as pessoais, dogmáticas- sobre seu trabalho na seleção foram, quase sempre, justas. Ele não calou a crítica. Sua excessiva preocupação em "calar a crítica", por sinal, só demonstra insegurança, como se quisesse reafirmar para si mesmo que sempre estivera certo.
Na verdade, o que é "calar a crítica"? Enquanto a seleção jogava mal, criticava-se; quando joga bem, elogia-se. Estranho seria elogiar um time que passou boa parte dos jogos ano passado sem fazer gol, empatando com Bolívia e Colômbia em casa. Crítica não é dogma, faz-se em função do que se vê naquele momento. Não é (ou deve ser) cega nem rígida. Normal também é (ou era) a desconfiança com algúem que nunca treinara nem time de segunda divisão, imagina a seleção mais importante do futebol mundial.
Parabéns, Dunga, você, assim como a seleção, evoluiu nitidamente. Que continue, até 2010, nessa trajetória! Porém, espera-se uma evolução também na sua postura com a imprensa. Dê menos importância a ela, que não quer te derrubar por antipatia gratuita. Apenas avalia o seu trabalho. Desarme-se, pois isso só conspira contra você. Somente cria zonas de tensão com a mídia - não se esqueça, ela é o elo entre você e a população, não um ditador que, por mero sadismo, gosta de maltratar.
E, principalmente, saiba vencer! Não use as vitórias para destilar ódio, a la o "vocês vão ter que me engolir. Só irá facilitar o trabalho de ambos: o seu e o nosso. Até porque, não interessa o que o jornalista acha de sua pessoa, mas sim sua competência entre as quatro linhas. Aplaudiremos, se merecer, mas "engolí-lo", nunca.

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