A competição entre as agremiações não é de quem tem a alegoria mais bonita ou emociona mais. É de quem erra menos; é principalmente de chão, é técnico, é organização, é canto. São nove quesitos, muitos dos quais duvido que essas pessoas saibam analisar. Será que leram sinopses? Sabem avaliar casal de MS/PB? Se uma bateria veio afinada, em consonância com o samba cantado? E comissões de frente? Conseguem discernir se uma escola cantou em harmonia ? Ou se algum carro e fantasia veio mal acabado? Parece óbvio ser mais agradável assistir a irreverência ou "inovações", mas não é isto, talvez infelizmente, que ganha carnaval. Está errado? Mude-se o regulamento.
Também seria bom que deixassem de lado antipatias prévias ou paixonites. Como salgueirense, chateado com mais um vice-campeonato, poderia chorar hipocritamente sobre a polêmica de uma ditadura vencer, ou dizer que a Beija-Flor foi "monótona". Mas sei que a escola soube abordar um continente sem enaltecer ninguém, nenhum governo, apenas o negro e suas raízes, através de um lindo samba, evoluindo e cantando como quase nenhuma. Praticamente não errou. É isto que conta no momento em que os jurados dão as notas. Compara-se o que a escola disse, por escrito, pretender contar com o que - e como - foi desenvolvido na prática.
Os critérios de financiamento do carnaval devem, sim, ser revistos, mas não apenas este, a começar pela contravenção. Dinheiro sujo? É pouco honesto se dizer indignado um torcedor da Mocidade, que enalteceu a volta da grana do bicho dos Andrade, ou o portelense que, no passado, tantos títulos levou com a ajuda da coerção do lendário Natal, ou o da Vila, que faturou título patrocinada por Hugo Chaves, e mesmo o da minha escola, que, durante anos, sobreviveu às custas da família Garcia, entre tantos outros.
Pode-se ou não gostar do desenvolvimento de certos enredos, pode-se gostar ou não de determinada escola, de não achá-la, em seu gosto, a que mais merecia ganhar. Porém, misturar alhos com bugalhos, não. Havia quatro escolas prontas para serem campeãs. Lamentavelmente, na hora H, a Portela errou demais. A sensação é de que ela perdeu para ela mesmo. Não por acaso, antes do desfile, portelenses e nilopolitanos eram vistos como os principais favoritos.
No entanto, apesar dos erros, a azul-e-branco de Madureira acordou e viu que camisa, como no futebol, não garante boas notas há tempos. Nos últimos dois anos, apesar de erros fez desfiles dignos, à altura do seu nome. E a Mangueira? Quando reaprenderá a desfilar? Sai presidente, entra presidente, os erros continuam. Relevando o azar da chuva, se não fosse o belo samba e o casal de MS/PB, o desastre poderia ser maior. Mas se preferirem continuar, sem autocrítica, no discurso da perseguição, do favorecimento e blá blá blá....
É claro que algumas notas não são compreensíveis - o que, aliás, sempre acontecerá, devido a subjetividade inerente ao regulamento. Entretanto, no conjunto, os "absurdos" se contrabalançaram. Partir para teorias sobre beneficiamento à escola nilopolitana seria injusto e contraditório. Basta lembrar do que aconteceu com ela no carnaval passado, quando muitos asseguravam que, com um enredo em homenagem a Boni, a Rede Globo forçaria o título para ela. Nem entre as Campeãs voltou. Surpreendente mesmo apenas o terceiro e nono lugares da Grande Rio -que retirou a Portela das quatro primeiras - e União da Ilha.
Tenho absoluta convicção de que meu Salgueiro fez carnaval para ser campeão - surpreendentemente até, depois de tanto ceticismo com o enredo e o samba (que faturou 30 pontos inesperadamente). Isso só me deixa mais orgulhoso de ser salgueirense. Antes do carnaval, celebraria o vice-campeonato com fogos, mas, depois do que vi na Avenida, ficou um "gosto de quero mais". Paciência. Pois feliz é quem tem o Salgueiro no coração! No meio de tanto equilíbrio, de tantas escolas grandes, estar nas Campeãs seguidamente desde 2008, sendo um título e quatro vices, é para as gigantes.
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