sábado, 21 de fevereiro de 2015

O carnaval e o eterno chororô

Mais um carnaval passou e, como sempre, os "chororôs" sobre o resultado do desfile das escolas de samba pautaram as redes sociais. Quanto mais equilibrados, como tem sido progressivamente, mais as reclamações se intensificarão. Seria, contudo, bom que muitos dos que agora vêm destilar críticas ao resultado acompanhassem as escolas durante todo o ano, lessem regulamento e procurassem entende-lo. Sem falar nos que acham que pela TV se consegue ter noção do que de fato se passou.

A competição entre as agremiações não é de quem tem a alegoria mais bonita ou emociona mais. É de quem erra menos; é principalmente de chão, é técnico, é organização, é canto. São nove quesitos, muitos dos quais duvido que essas pessoas saibam analisar. Será que leram sinopses? Sabem avaliar casal de MS/PB? Se uma bateria veio afinada, em consonância com o samba cantado? E comissões de frente? Conseguem discernir se uma escola cantou em harmonia ? Ou se algum carro e fantasia veio mal acabado? Parece óbvio ser mais agradável assistir a irreverência ou "inovações", mas não é isto, talvez infelizmente, que ganha carnaval. Está errado? Mude-se o regulamento. 

Também seria bom que deixassem de lado antipatias prévias ou paixonites. Como salgueirense, chateado com mais um vice-campeonato, poderia chorar hipocritamente sobre a polêmica de uma ditadura vencer, ou dizer que a Beija-Flor foi "monótona". Mas sei que a escola soube abordar um continente sem enaltecer ninguém, nenhum governo, apenas o negro e suas raízes, através de um lindo samba, evoluindo e cantando como quase nenhuma. Praticamente não errou. É isto que conta no momento em que os jurados dão as notas. Compara-se o que a escola disse, por escrito, pretender contar com o que - e como - foi desenvolvido na prática. 

Os critérios de financiamento do carnaval devem, sim, ser revistos, mas não apenas este, a começar pela contravenção. Dinheiro sujo? É pouco honesto se dizer indignado um torcedor da Mocidade, que enalteceu a volta da grana do bicho dos Andrade, ou o portelense que, no passado, tantos títulos levou com a ajuda da coerção do lendário Natal, ou o da Vila, que faturou título patrocinada por Hugo Chaves, e mesmo o da minha escola, que, durante anos, sobreviveu às custas da família Garcia, entre tantos outros.

Pode-se ou não gostar do desenvolvimento de certos enredos, pode-se gostar ou não de determinada escola, de não achá-la, em seu gosto, a que mais merecia ganhar. Porém, misturar alhos com bugalhos, não. Havia quatro escolas prontas para serem campeãs. Lamentavelmente, na hora H, a Portela errou demais. A sensação é de que ela perdeu para ela mesmo. Não por acaso, antes do desfile, portelenses e nilopolitanos eram vistos como os principais favoritos.

No entanto, apesar dos erros, a azul-e-branco de Madureira acordou e viu que camisa, como no futebol, não garante boas notas há tempos. Nos últimos dois anos, apesar de erros fez desfiles dignos, à altura do seu nome. E a Mangueira? Quando reaprenderá a desfilar? Sai presidente, entra presidente, os erros continuam. Relevando o azar da chuva, se não fosse o belo samba e o casal de MS/PB, o desastre poderia ser maior. Mas se preferirem continuar, sem autocrítica, no discurso da perseguição, do favorecimento e blá blá blá....

É claro que algumas notas não são compreensíveis - o que, aliás, sempre acontecerá, devido a subjetividade inerente ao regulamento. Entretanto, no conjunto, os "absurdos" se contrabalançaram. Partir para teorias sobre beneficiamento à escola nilopolitana seria injusto e contraditório. Basta lembrar do que aconteceu com ela no carnaval passado, quando muitos asseguravam que, com um enredo em homenagem a Boni, a Rede Globo forçaria o título para ela. Nem entre as Campeãs voltou. Surpreendente mesmo apenas o terceiro e nono lugares da Grande Rio -que retirou a Portela das quatro primeiras - e União da Ilha.

Tenho absoluta convicção de que meu Salgueiro fez carnaval para ser campeão - surpreendentemente até, depois de tanto ceticismo com o enredo e o samba (que faturou 30 pontos inesperadamente). Isso só me deixa mais orgulhoso de ser salgueirense. Antes do carnaval, celebraria o vice-campeonato com fogos, mas, depois do que vi na Avenida, ficou um "gosto de quero mais". Paciência. Pois feliz é quem tem o Salgueiro no coração!  No meio de tanto equilíbrio, de tantas escolas grandes, estar nas Campeãs seguidamente desde 2008, sendo um título e quatro vices, é para as gigantes.

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