segunda-feira, 18 de julho de 2011

Dilma age rápido na crise de olho na classe média

Por Natuza Nery (Folha de S.Paulo, 18/07/2011)

Ao menos uma preocupação orientou o governo na crise no Ministério dos Transportes desde seu primeiro dia: a repercussão do escândalo na classe média. A presidente Dilma Rousseff viu dados de pesquisas internas de opinião, analisou o impacto do caso nesse estrato social e, em seguida, concluiu que "a linha (de ação) está boa". Interlocutores descreveram a cena, afirmando que a decisão de afastar rapidamente os suspeitos de irregularidade da pasta "pegou bem" entre os entrevistados com melhor remuneração, justamente a base social que Dilma quer pavimentar como ativo político neste mandato.

No primeiro dia da crise, a presidente determinou o afastamento de quatro servidores citados em reportagem da revista "Veja" como operadores de um esquema de corrupção no ministério, no Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) e na Valec, estatal de ferrovias. Quatro dias mais tarde, caía o então ministro Alfredo Nascimento. Aliados no Congresso protestaram contra o desligamento "apressado" de apadrinhados políticos, alegando ausência de provas para um rito sumário. Praticamente todos os suspeitos citados pela imprensa deixaram seus cargos em questão de horas.

Após a experiência "pedagógica" na crise que derrubou Antonio Palocci da Casa Civil, o Planalto decidiu agir rápido nos Transportes para não perder mais pontos com a classe média. Com Palocci, Dilma levou três semanas para sacramentar a demissão de seu auxiliar mais poderoso. A demora custou-lhe perda indiscutível de apoio nessa camada específica.

"Ficou muito claro para a população que ela deveria ter sido mais rápida. Acho que a postura atual, de demorar poucas horas, é um reflexo [da crise anterior]", afirmou Mauro Paulino, diretor do Datafolha. Tanto que a imagem de "indecisa" de Dilma pulou de 15% em março para 34% em junho. Ela também viu crescer sua avaliação negativa entre aqueles com remuneração superior a 10 salários mínimos -de 9%, em março, para 20% em junho. Nesse mesmo corte, 79% avaliaram que a crise envolvendo a Casa Civil foi prejudicial ao governo. "É muito clara a postura mais crítica da classe média do que na base da pirâmide social", disse Paulino.

Como houve lentidão para definir o destino de Palocci, Dilma decidiu ter pressa com Alfredo Nascimento e alguns de seus comandados.Nas palavras de um ministro, "Dilma quer mostrar a todos, mas sobretudo à classe média, que não tem contemplação com desvio ético". No passado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva era criticado por manter em sua equipe servidores acusados de cometer irregularidades. Como mantra, ele dizia que cabia ao acusador o ônus da prova.

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