sexta-feira, 29 de julho de 2011

Conquistas de Zapatero foram ofuscadas pela crise

Por Priscila Guilayn (O Globo On, 29/07/2011)

O presidente do governo que antecipou na sexta-feira as eleições gerais , reduzindo em quatro meses seu segundo mandato, não é o mesmo José Luis Rodríguez Zapatero que encerrou o primeiro governo em 2007. As mudanças no Código Civil que permitiram o casamento entre homossexuais e a adoção; a Lei de Igualdade, que contribuiu para diminuir as diferenças entre mulheres e homens; a nova Lei de Divórcio, eliminado a necessidade prévia de separação e a lei sobre o aborto, impondo prazos para evitar a interrupção de gestações em fase avançada, foram recebidas com entusiasmo por um grande setor da sociedade. Mas os sucessos do autor das medidas sociais acabou ofuscado pela grave crise econômica. "Em 2008, houve o erro que fez com que esta segunda legislatura se arrastasse até agora: Zapatero não reconheceu as verdadeiras dimensões da crise. Este erro fez todo mundo esquecer do seu primeiro mandato", opina o cientista político Oriol Bartolomeus, da Universidade Autônoma de Barcelona.

À assustadora taxa de desemprego, que neste mês caiu de 21,29% para 20,89%, uniram-se medidas de ajuste fiscal (em maio do ano passado) - na contramão do que Zapatero vinha pregando no governo anterior. Para o analista Fernando Harto de Vera, da Universidade Complutense, Zapatero também foi vítima de um ciclo: "Seu primeiro mandato foi uma legislatura política, no melhor sentido da palavra, progressista, de esquerda. Já o segundo, foi uma legislatura econômica, no pior sentido da palavra. Zapatero perdeu gás, em parte pela crise, mas também pelo próprio ciclo da democracia que, ao esgotar as energias reformistas, acaba sucumbindo ao pior que há em seu interior: ser conservador".

Seguindo as exigências de Bruxelas, a Espanha deveria reduzir o déficit público (naquele momento previsto para fechar o ano em 9,4%) a 3% do PIB até 2013 - de acordo com o Pacto de Estabilidade da União Europeia. Para perseguir a meta, o governo anunciou o congelamento das aposentadorias, o corte de 5% do salário de todos os funcionários públicos, a eliminação do "cheque-bebê" (um subsídio de 2.500 por nascimento), entre outras medidas nada populares. Naquele momento, Zapatero passou a ser criticado por dizer-se de esquerda e atuar como se fosse de direita.

Um elemento que acabou por colocar em evidência o descontentamento social não só com o Partido Socialista, mas com toda a classe política, foi o surgimento do Movimento 15-M (15 de março), uma semana antes das eleições municipais e regionais. Acampados em praças de toda a Espanha, os chamados "indignados" fizeram, aos poucos, sua lista de reivindicações - embora com pouca precisão. "Quando Alfredo Pérez Rubalcaba apresentou sua candidatura, parecia oferecer um "new deal" político. Falava de reformas do sistema eleitoral e constitucional, e de novas vias de participação politica. Parecia querer atender às demandas do Movimento 15-M, mandando um recado para eles e para os que os apoiam. Mas o que pesa para os cidadãos, muito mais do que essas reformas, é o impacto da crise econômica no Estado de bem-estar social", afirma Alfredo Retortillo, da Universidade do País Basco.

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