quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Não culpem a vítima

 Por Murillo Victorazzo

Uma das bases teórica do antissemitismo nazista talvez seja umas das primeiras “fake news” da História: os Protocolos dos Sábios de Sião, falso texto produzido no final do sec XIX por grupos ligados ao czar russo. No livro - distorções de um congresso religioso - haveria as provas do plano judeu de dominar o mundo.

Na Alemanha, foi publicado no final da I Guerra Mundial, momento em crescia o sentimento de humilhação entre os alemães. Entre seu leitores, Hitler, para quem o judaísmo, assim, seria o responsável pelos males do país:  tanto o capitalismo liberal ( “banqueiros”, “mídia”) como o socialismo/comunismo (além de Marx, Trotsky e outros dirigentes tinham ascendência judaica). 

Afirmar que a repercussão do caso Monark deveu-se porque “judeus têm muito poder” é, portanto, reverberar, de certa forma, o antissemitismo. Se chorumes sobre racismo (contra pretos) e homofobia ditos recentemente não tiveram o mesmo resultado, foi porque esse país não se olha no espelho, não quer desnaturalizar seus males estruturais, cujos sintomas imageticamente mais sutis ajudam os sofismas do preconceituoso e suas indignações seletivas. Diz mais sobre o Brasil como nação. 

Os alemães sentem e difundem a vergonha de seu passado. O nazismo, que perseguiu também outras minorias, é a política de desumanização de grupos raciais (vistos como ameaça ou inferioridade) mais escancarada do séc. XX mundial. Não culpem a vítima.

Nenhum comentário:

Postar um comentário