sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

O meme como política externa

Por Murillo Victorazzo

Em 2010, no auge da imagem externa positiva do Brasil, então "potência emergente", Lula, aproveitando-se do bom relacionamento com Ahmadinejad, obteve, em conjunto com o líder turco, um esboço de acordo nuclear com o Irã. Segundo o Itamaraty, os EUA haviam estimulado a mediação brasileira. 

No Brasil, o acordo foi recebido com um misto de menosprezo, ceticismo e reprovação por oposição - entre eles os hoje governistas - e maioria da "grande imprensa" - todos críticos às boas relações de Lula com o autocrata persa e à política externa "megalomaníaca" (capa da Veja) de Celso Amorim. No exterior, Obama e seus aliados ocidentais ignoraram a proposta e impuseram sanções ao Irã. Falaram mais alto obviamente os recursos de poder norte-americano e europeus. 

Mas o bolsonarismo, que critica Maduro e se via como “defensor do Ocidente”, agora acha o máximo seu mito ser recebido pelo autocrata russo (aliado de Venezuela e Irã) e tenta difundir que o Brasil - independente de quem esteja no Planalto- tem condições de ter, sozinho, papel decisivo em algum conflito envolvendo potências, no caso a crise ucraniana e o SUPOSTO recuo de Putin. 

Para insinuar ideia tão estapafúrdia, usa seu tradicional modus operandi: a linguagem ambígua por natureza do "meme". Joga na rede, se colar entre os adestrados e desinformados, beleza. Caso contrário, o cínico diz que era apenas "zoação".

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