quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Dois pesos e duas medidas?

Por Murillo Victorazzo

Chama a atenção como a edição impressa de O Globo desta quarta-feira, 10/11, ignorou completamente o discurso do chanceler britânico, Wlliam Hague, na Canning House, em Londres. Segundo informou o site da BBC Brasil na véspera, Hague afirmou que "continuará a pedir por uma reforma na ONU, incluindo a expansão do Conselho de Segurança com o Brasil como membro permanente".

A notícia foi reproduzida no Globo Online, mas, pela lógica jornalística, deveria ganhar espaço na versão impressa do jornal, principalmente por ter sido um dia após o presidente norte-americano, Barack Obama, em discurso na Índia, defender a inclusão daquele país no Conselho. A nova postura dos Estados Unidos, essa sim, mereceu amplo destaque, até com chamada de capa.

Ainda que conheçamos a diferença de peso político-econômico entre os dois países anglo-saxões e os interesses comerciais em jogo, os britânicos também têm poder de veto. E parecem, agora, dispostos a se juntar à França na defesa da candidatura brasileira. Expõr a visão do novo governo do Reino Unido seria uma ótima oportunidade para ressaltar contrapontos em uma questão tão complexa e importante para as relações internacionais atuais.

A fala de Obama foi logo interpretada pelo Globo, em editorial e na coluna de Merval Pereira, como grande revés para o Brasil, sinal do "fracasso" da "diplomacia companheira". Seria justo e esclarecedor, para o bem de suas qualidade, credibilidade e isenção, que o Globo também informasse e comentasse o discurso do chanceler britânico. Segundo Hague, a presença do Brasil como membro permanente do Conselho seria uma questão de "legitimidade e equilíbrio" mundial de poder.

Se a posição de Obama foi rotulada como sinal de fracasso da política externa do governo Lula, a afirmação de Hague, por este raciocínio prosaico, não deveria ser interpretada como o outro lado da moeda: o de uma "vitória" do Itamaraty? Ou o jornal estaria usando dois pesos e duas medidas? É uma pena que as análises internacionais de boa parte dos jornais brasileiros estejam impregnadas pelas disputas políticas internas...

ATUALIZAÇÃO: O jornal, enfim, em sua edição impressa de quinta-feira, 11/11, publicou uma matéria de pé de página sobre o discurso do chanceler britânico. Tomara que o atraso de 48 horas tenha sido por problemas técnicos...Aguarda-se os comentários...

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