sábado, 13 de novembro de 2010

A noiva socialista e o noivo mineiro

Por Murillo Victorazzo

Em sua edição especial sobre a eleição de Dilma Rousseff, a revista Carta Capital traz uma entrevista com o governador reeleito de Pernambuco, Eduardo Campos, que nos indica um cenário para 2014 com boas chances de se realizar. Campos deixa clara suas boas relações com o ex-governador mineiro Aécio Neves e não se furtar de criticar a ala paulista do PSDB. Presidente do PSB, parece sugerir que passa por Aécio a estratégia do partido para 2014.

"Muitas vezes, São Paulo exporta diferenças que não são a realidade política nacional", afirma o governador ao ser perguntado sobre se haveria afinidades com os tucanos não paulistas. Mais do que uma constatação que nos remete às afirmações de políticos e cientistas políticos de que a luta PT x PSDB seria menos por grandes diferenças ideológicas do que por uma rivalidade paulista vendida para o país, a frase é uma sutil defesa da liderança de Aécio dentro no PSDB.

Quanto mais Aécio se cacifar no PSDB, mais poder de barganha o PSB terá no governo Dilma. Afinal, com seis governadores, a sigla continuará a ser, agora ainda mais, um aliado necessário e desejado pelo PT. Caso Aécio venha a ser indicado como candidato a presidente pelo PSDB nas próximas eleições, não será surpresa se os socialistas romperem com Dilma ao final do governo para se coligarem com os tucanos.

A vice-presidência em uma chapa com o PSDB cairia bem para Campos ou Ciro Gomes - outro político do partido que não nega a afinidade com Aécio. Ainda mais se levarmos em conta que os dois socialistas são do Nordeste, uma região problemática para os tucanos. Governando Perambuco, Ceará, Paraíba e Piauí, o PSB seria a noiva perfeita para eles.

Ao dizer que "o PSB tem as portas abertas para pessoas como Aécio",  Campos levanta outra hipótese, essa menos provável: o ex-governador de Minas deixaria o ninho tucano para se juntar- por mais ideologicamente estranho que possa parecer  - às hostes socialistas. A saída do mineiro do PSDB foi bancada pela Carta Capital em matéria de capa refutada veementemente por ele. A revista, porém, dizia que Aécio pretendia formar um novo partido.

A tese da candidatura própria já foi levantada no PSB este ano por Ciro e causou desgaste entre integrantes da legenda e o PT. Com o reforço muscular ganho em votos pelo partido nestas eleições e com tal carta na manga, seria inevitável o fim do casamento entre petistas e socialistas. Uma união que percorreu todas as eleições presidenciais de 1989 para cá, exceto o primeiro turno de 2002. Naquele ano, os socialistas lançaram Anthony Garotinho e apoiaram Lula apenas no segundo turno.

É um tanto precipitado prever cenários para daqui a quatro anos. De todo modo, nesses próximos quatro anos, casamentos políticos estarão à prova. E parecem claros quais serão alguns dos noivos e noivas protagonistas. Neste triângulo "amoroso", é certo que um deles vem de Minas, e uma delas tem grinalda vermelha e amarela.

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