terça-feira, 26 de abril de 2011

Abi Rihan: 50 anos falando e tocando samba de qualidade

Por Murillo Victorazzo e Walter Honorato (jornal O Beija-Flor, fev/2007)

Foi no estúdio do “Alô Rio”, na Rádio MEC, que Hilton Abi Rihan recebeu a equipe de O Beija-Flor. Por quase três horas, enquanto apresentava seu programa - no ar de segunda à sexta das 14 às 17hs -, recordou seus quase 50 anos de rádio, analisou a situação atual do samba e do carnaval carioca, além de falar sobre a Beija-Flor, sua escola de coração. Idealizador e editor da revista “Beija-flor, uma escola de vida”, Abi Rihan passou por diversas emissoras e, por muito tempo, cobriu e comentou os desfiles para TVs e rádios. Durante a entrevista, sambas de cantores como Jamelão e Roberto Ribeiro e até o samba-enredo da azul-e-branco de 1981 foram tocados, numa mostra da qualidade do samba tocado em seu programa.

O Beija-Flor - Conte-nos um pouco de sua vida no rádio. Como ele surgiu na sua vida?
Hilton Abi Rihan - Surgiu na minha cidade natal, Mimoso do Sul, no Espírito Santo. Tinha uns 15 anos e fazia serviços com alto falante. Em 1958, fiz um teste na Rádio Difusora da cidade e passei. Mas queria ir para o Rio de janeiro para trabalhar. Procurei então um deputado para o qual tinha feito campanha, e ele me deu uma carta. Vim para cá, mas demorei seis meses para conseguir fazer um teste e passar na Rádio Continental. Um dia, os dois âncoras que fariam a cobertura da apuração das eleições faltaram, e a rádio me chamou para substituí-los. O chefe da reportagem gostou de mim e pediu minha transferência para o Departamento de Jornalismo. Ser repórter era o que eu mais queria! Aí minha vida começou a dar certo. Só nunca tive talento pra ganhar dinheiro, para trabalhar sempre tive. Depois trabalhei nas TVs Continental, Tupi e Rio, onde fui repórter do primeiro telejornal a cores. Dirigi mais tarde o rádiojornalismo da Rádio Nacional e, dez anos depois fui para a Rádio Globo, na qual, com Washington Rodrigues, apresentei o “Show da Madrugada”. Tínhamos uma liderança absoluta de audiência, maior que todas as outras emissoras juntas. Desde 2000 estou na Rádio Mec.

BF - E como começou seu envolvimento com o samba?
Abi Rihan – Desde que passei para a reportagem da Continental, fazia cobertura de do carnaval, dos desfiles. Os sambas ficavam na minha mente, sentia-me bem ouvindo aqueles sambas enredo. Os caras pesquisavam aquelas histórias sem nunca terem ido a uma faculdade! Eles sabiam mais que muito doutor! Isso me fascinava. Na Continental fiz meu primeiro programa específico de samba, o “Conversa de Bamba. Mas antes já tinha feito, na mesma rádio, o “Frente Ampla”, que tocava muito samba. Na Nacional, comandei por quase uma década o "Chamada Geral", que dava apoio ao sambista;

BF – Como aconteceu sua aproximação com a Beija-Flor?
Abi Rihan - Sou amigo do Anízio há mais de 30 anos. Mas vou se sincero, já fui Mangueira, freqüentava muito a escola. Com o tempo, porém, fiquei amigo do Nélson Abrão David, então presidente da Beija-Flor. Ele era um sujeito fora de série, um cara com quem conversava muito. Ele levava lápis, cadernos com o emblema da escola para eu sortear no programa, e falava muito sobre os projetos da Beija-Flor. Tornei-me também amigo do Anízio, e fui me empolgando com a escola, observando todo seu trabalho social. Sete anos atrás, levei o projeto da revista “Beija-Flor, uma escola de vida” para o Anízio, que logo aprovou. A revista é feita também pelos jornalistas Ricardo da Fonseca e Miro Lopes. Hoje sou um autêntico torcedor da escola, virei a casaca...

BF – Qual sua avaliação das transmissões dos desfiles das escolas?
Abi Rihan - Eu peguei todos os tipos de cobertura. No início, várias emissoras faziam suas próprias transmissões. As rádios tinham um poder muito maior, até porque todas iam cobrir. Os discos de sambas de enredo batiam os do Roberto Carlos! Hoje o CD é bem produzido, mas não vende como antes. Hoje tudo é mais organizado. A cobertura da Globo é impecável, o Aloísio Legey é competentíssimo, mas antes havia aquele calor, aquela briga de quem fazia a melhor cobertura.

BF - E o tratamento que a mídia dá ao samba durante o ano?
Abi Rihan - Infelizmente a mídia dá um espaço ruim para o samba. Ou melhor, para algo que dizem que é samba, mas não é. Você liga a televisão e só vê “Tchan”, Carla Perez... Isso não tem nada a ver com samba! As FMs também são responsáveis por essa situação, pois tocam qualquer coisa. Eles querem induzir o público, que acaba aceitando. Mas acho que o samba está respirando outra vez. Há poucos dias, lançaram um CD do selo Rádio Mec, o “MPB de raiz”, produzido pelo Adelzon Alves. É um disco fabuloso, com artistas novos. Não é porque estou aqui, mas a Rádio MEC é considerada de excelência em termos de musica brasileira qualidade. Espero que surjam mais festivais de sambas de quadra, que os sambas-enredo melhorem cada vez mais e o CD venda mais.

BF – Como é produzido o “Alô Rio”?
Abi Rihan - Há três anos produzo e apresento o programa. Temos quadros voltados para o lado cultural, o resgate. Há quadros como o “Conversa de bamba”, no qual conversamos com sambistas; o “Enredo que deu samba e o samba que deu pé”, falando de sambas enredo; o “Túnel do Tempo”, com sambas antigos. Para realizar o programa, temos uma excelente equipe: o Amauri, o Ademar e o Kaká, que são o coordenador e programadores; uma equipe de reportagem, que é do Jornalismo da rádio; o Eduardo, que é produtor, e a Lídia Costa.

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