quarta-feira, 27 de abril de 2011

Dalila Vila Nova: Com ela, é no inhame!

Por Murillo Victorazzo (jornal O Beija-Flor, mar/2007)

É quase impossível alguém no mundo do samba não conhecer Dalila Vila Nova. Carioquíssima, como gosta de frisar, foi a mais laureada divulgadora de escolas de samba durante o tempo em que trabalhou na função. Com 50 troféus e 162 diplomas, passou por várias escolas - entre elas, a Beija-Flor -, tendo recebido da Mangueira o diploma de “Patrimônio do Samba”. Ao mesmo tempo, há 21 anos apresenta o programa “A Fina Flor do Samba”, no ar aos sábados, das 12 às 14 horas, na Rádio MEC. Embora apaixonada pelas escolas de samba, Dalila garante não hesitar quando pensa ser necessária a crítica. “Comigo é no inhame!”, costuma repetir em seu programa.

O Beija-Flor - Quando você começou a lidar com rádio?
Dalila Vila Nova – Foi com 11 anos, na Rádio Bandeirantes. Eu lia mensagens religiosas para crianças, num programa cristão apresentado peloWaldeck Magalhães, um famoso locutor da época. Ele me dizia que eu deveria ser radialista, porque tinha boa dicção e facilidade de expressão. Mas me casei, tive filhos e acabei deixando isso de lado. No entanto, todas as campanhas que fiz eram na base do microfone. Em 1979, morando na Ilha do Governador, fiz uma festança que paralisou o bairro. Quando o Paulo Amargoso, então presidente da União da Ilha, soube disso, logo me convidou para fazer a divulgação da escola. Como divulgadora, tinha que ir a todas as rádios. E ouvia sempre que poderia ser, ao invés de divulgadora, radialista. Mas as chances eram mínimas, pois já tinha 38 anos.

BF - Como foi então que surgiu “A Fina Flor do Samba”?
Dalila - Em 1985, o Adelzon (Alves) me convidou para fazer um teste na rádio MEC, que não tinha programa de samba. O diretor disse que não precisava fazer teste algum, porque já sabia quem eu era, e me chamou. Desde então, faço o “A Fina Flor do Samba”, primeiro lugar de audiência da MEC. Mas já comentei carnaval também nas rádios Tamoio e Nacional.

BF – Como é produzido o programa?
Dalila – Eu apresento e produzo, e o Kid é operador técnico. Toco e falo de samba, das escolas, as festas delas. Depois do carnaval até agosto, toco mais pagodes e abro, entre junho e julho, uma janela para o forró. Mas depois que saem os sambas-enredo, é só isso que toco. Porém, também critico...

BF - O quê, por exemplo?
Dalila – Relembro os sambas-enredo antigos, para mostrar aos atuais compositores o que era fazer samba. Luto para as escolas colocarem no máximo três compositores em cada samba. É inadmissível um comunicador ficar citando onze compositores! E os títulos que os carnavalescos estão colocando nos enredos..? Quase um verso! Não abro mão de criticar. Por isso digo no programa: “Comigo é no inhame!” (risos)

BF – Durante todos esses anos, junto com o programa, você continuou fazendo a divulgação de escolas...
Dalila - Claro! Depois da Ilha, trabalhei no Império Serrano, Mocidade, Império da Tijuca, Grande Rio e Beija-Flor. Infelizmente fiquei na Beija-flor apenas um ano, em 2001, porque estava me atrapalhando na rádio. Gravo todas às sextas-feiras de manha, e os ensaio da Beija-Flor são às quintas. Para não haver desentendimento com o Anízio e o Laíla, que foram excelentes comigo, resolvi sair. Mas foi uma passagem marcante

BF - São 21 anos de sucesso. É difícil fazer um programa de samba o ano todo?
Dalila – Nada! Eu queria fazer de segunda a sexta, mas não tem horário. A rádio nem tinha programa de samba antes, seria querer demais fazer a semana toda... A MEC era muito voltada para o erudito, agora que está mais popular.

BF - Mas, apaixonada pelo samba como você é, imagino que o contato com o carnaval tenha começado antes de começar a ser divulgadora...
Dalila – Começou, aos 17 anos, na Vila dos Marítimos, em Tomas Coelho, onde criei com 2 amigos um bloco. Era muito barulho, e moradores reclamavam, chamavam a polícia, que sentava o cassetete na gente. Uma vez me acertaram a cabeça, que sangrou muito. Não deu outra: meu pai me mandou parar. Fui presidente da Associação Marítima Atlética e Recreativa (AMAR), quando ajudei muito a Em Cima da Hora, que na época não tinha quadra coberta. Estou no samba há quase 50 anos, mas trabalhando nele, dirigindo, é desde 1979.

BF – Você considera o samba marginalizado na mídia?
Dalila – Marginalizado, eu não diria. Mas com certeza é muito mal explorado. Caberia a Liesa fazer algo. Se há notícias de esportes de meia em meia hora nas rádios, o samba poderia ter algo assim. Pelo menos do meio do ano até o carnaval. Quando comecei a divulgar, havia cerca de 32 programas. Isso fez com que eu ficasse conhecida no Brasil todo. Ia a todos os programas de fora do Rio. Hoje são tão poucos, que você pode querer ser um bom divulgador, mas seu trabalho não aparecerá.

BF - Por que esses programas estão diminuindo?
Dalila - Pode ser falta de patrocínio, mas, hoje, o pessoal do samba só quer saber da televisão. Se você convida um puxador, ou um carnavalesco, para ir ao programa, ele falha. Mas se a TV marca, ele vai com certeza. Eles, às vezes, não colaboram para mantermos o programa.

BF - Como você avalia o trabalho da divulgação das escolas?
Dalila - As escolas erraram ao tirar os divulgadores. Não há mais aquela pessoa que está sempre com o comunicador. É diferente do trabalho dos assessores de imprensa, que, às vezes, nem nos conhecem. Escola com divulgador tem seu samba tocado. O Beija-Flor, por exemplo, dá uma tremenda forca para a escola. É um trabalho excelente, com uma apresentação muito boa. É a melhor revista de samba no momento.

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