segunda-feira, 25 de abril de 2011

Miro Ribeiro: 30 anos cobrindo carnaval

Por Murillo Victorazzo (jornal O Beija-Flor, ago/2006)

Muitos podem achar que escola de samba só é notícia na época de carnaval. Pura mentira! E para mostrar que o samba tem que ter espaço no ano todo, alguns radialistas lutam para informar, de janeiro a dezembro, os seus ouvintes sobre o que acontece nas agremiações. Para homenagear esses abnegados, O Beija-Flor entrevista Miro Ribeiro, radialista que apresenta o programa “Vai dar samba” todos os sábados, na rádio 94FM, das 8 às 10 horas. Primeiro negro a apresentar um programa de televisão, na TV Tupi, Miro passou por várias emissoras de rádio, onde passou a viver de perto os bastidores do carnaval. Desde então já são cerca de 30 anos cobrindo as escolas de samba. “Nunca falta notícia sobre carnaval. O que há é um certo preconceito, que só acaba quando os figurões querem aparecer na mídia, nos desfiles”, dispara.

O Beija-Flor - Fale um pouco da sua carreira como radialista.
Miro Ribeiro – Sou formado em Jornalismo. Ainda na faculdade, em 1974, comecei a fazer rádio, na Rádio Metropolitana. Carlos Lima, um grande nome do jornalismo esportivo, da TV Tupi, era meu professor. Ele fez uma prova de seleção para trabalhar com ele e passei. Fiquei cinco anos como produtor e apresentador do programa “Operação Esporte”. Só sai de lá quando a Tupi faliu. Fui então participar da formação da TV Manchete, mas quando ela entrou no ar levei uma “pernada” e sai (risos). Fui repórter, redator e chefe de jornalismo da Rádio Tamoio.Trabalhei também na Rádio Bandeirantes, Globo. Há 11 anos, estou na Roquete Pinto 94FM, onde sou diretor de jornalismo. E há sete anos apresento o programa “Vai dar samba”. Fui chamado também para fazer o “Carnaval do Povão”, na CNT, substituindo o Jorge Perlingeiro quando ele não pode apresentar.

BF - Como você entrou no mundo do samba?
Miro – Sempre gostei muito de samba, carnaval. Mas minha experiência se resumia, quando jovem, ao blocos, em Piedade. Não tinha participação direta em escolas de samba. Comecei a vivenciar as escolas no jornalismo, cobrindo-as. Além disto, fui locutor da quadra da São Clemente na década de 80. São 30 anos falando de escola de samba!

BF - O que levou a 94FM criar o “Vai dar samba”, um programa dedicado ao samba ano todo?
Miro – A gente percebeu que havia uma enorme necessidade de falar das escolas de samba durante 365 dias. Não somente no carnaval. Havia outros programas em outras rádios que falavam de samba, mas o nosso é dedicado especificamente às escolas de samba. Cobrimos todos os grupos, não somente a Liesa. Temos a pretensão de antecipar o que acontece nas escolas. Criamos quadros para resgatar nomes que eternizaram os desfiles, sambas-enredos antigos. Discutimos, por exemplo, a importância de um determinado samba-enredo para aquele momento. Entrevistamos personalidades para lembrarem momentos inesquecíveis de seus desfiles e contarem situações inusitadas na Sapucaí. Temos um cantinho para as velhas-guardas. Além de informar como as escolas estão construindo seus desfiles.

BF - Quais são as maiores dificuldades para se fazer um programa dedicado às escolas de samba durante o ano inteiro?
Miro – A dificuldade é por parte de quem não quer fazer. Assim que acaba o carnaval, já existe notícia. Já na quarta-feira de cinzas começa o troca-troca de carnavalescos, diretores, comentários sobre possíveis enredos. Mas as pessoas não acreditam que há assunto o tempo todo. Aqui é a capital internacional do samba! Você vê os comerciais da Bahia falando sobre o carnaval ano todo. Temos que valorizar o nosso potencial. Basta os empresários da mídia e os responsáveis pelas emissoras se voltarem para isso. Mas parece que há um preconceito ainda com o sambista. Este preconceito só acaba quando estes figurões querem aparecer na mídia no desfile, na época do carnaval. Notícia não falta, é só as emissoras abrirem espaço.

BF - Para conseguir fazer um programa assim é preciso ter uma equipe...
Miro – Claro! Nós temos uma equipe para buscar a notícia. O Miguel Ângelo é o nosso representante na Liesa. O Edson Jorge está direto na Associação das Escolas de Samba, se informando sobre as escolas dos outros grupos. E o Arnaldo Lima percorre todas as escolas. No nosso programa não há o “eu acho”. Procuramos entrevistar sempre o presidente ou o carnavalesco da escola para evitar especulações. É um programa com a espinha dorsal jornalística, mas bem humorado! Estamos abertos a todas as escolas e blocos para divulgação. E de graça! Se alguém cobrar para divulgar aqui, pode chamar a polícia! (risos)

BF - Como é o seu relacionamento com o os presidentes das escolas e da Liesa?
Miro – Nós temos passagem livre nas escolas. Lidar com escola de samba o ano todo nos dá credibilidade. Os dirigentes gostam de falar conosco. Chegamos a ponto de dispensar as assessorias de imprensa. Muitas vezes ligamos direto para eles. Eles sabem que no fundo trabalhamos para as suas escolas.

BF - Como você se relaciona com a Beija-Flor? Aliás, o que mais lhe chama atenção na escola?
Miro – Para começar, o Anízio me disse uma vez que adora o número 94. É um bom começo!(risos) Sempre fui muito bem recebido na Beija-Flor. Tenho um contato muito fácil com a escola. Faço questão de enaltecer no programa como a família Abrão David impulsionou a escola. Devagarinho, a escola veio para ficar. Ela tem nomes que são sinônimos de samba, como o Neguinho, a Selmynha e, claro, o Laíla. Há na Beija-Flor uma coerência naquilo que faz. Fico impressionado quando vou aos ensaios, em Nilópolis. Aquilo é mágico, tribal. Toda escola sempre está cantando o samba com muita ordem, disciplina.

Nenhum comentário:

Postar um comentário