terça-feira, 26 de abril de 2011

João Estevam: credibilidade e experiência na hora de falar de carnaval

Por Murillo Victorazzo (jornal O Beija-Flor, jan/2007)

Há uma antiga discussão no futebol sobre se comentarista que nunca foi jogador tem credibilidade para fazer críticas. Se polêmica semelhante existir no mundo do samba, João Estevam Tavares Amaral não tem com que se preocupar. Ele tem autoridade suficiente para falar sobre carnaval no seu “Domingo de Bamba” – programa veiculado na Rádio 94FM aos domingos, das 20 às 22hs. Aos 40 anos, esse carioca de Ramos, jornalista há 17 anos, além falar de carnaval o ano todo nas rádios, é um campeão de samba-enredo. Em 1995 e 1999, assinou os sambas que levaram a Imperatriz Leopoldinense aos dois títulos. “Procuro ouvir o programa com muito senso crítico, característica fundamental num comunicador. Conheço a alma do sambista, e, por isso, procuro me colocar no lugar dele como ouvinte”, revela João Estevam.

O Beija-Flor - Além de jornalista, você é compositor de samba-enredo, tendo vencido duas vezes na Imperatriz, em 1995 e 1999. E é hoje também diretor-geral da União da Ilha. Quem veio primeiro: o jornalista ou o sambista??
João Estevam - Ainda garoto, já freqüentava os ensaios e desfilava na Imperatriz Leopoldinense, escola do bairro onde me criei. Sempre gostei de carnaval. No colégio, já percebia que gostava de escrever. Assim que entrei na faculdade de jornalismo, em 1984, comecei, como estagiário da Rádio Carioca, a cobrir o carnaval na Rio Branco. Formei-me em 1989, e comecei a compor sambas na Imperatriz. Perdi muitos, até que, em 1995, ganhei com Mais vale um jegue que me carregue, que camelo que me derrube...lá no Ceará. Valeu a pena esperar, porque escola ganhou o campeonato naquele ano. Repetimos a façanha em 1999, com Theatrumn Rerum Naturalis Brasilie. Agora, como diretor-geral da União da Ilha, estamos, com uma visão empresarial, trabalhando para levantar a escola.

BF - São mais de vinte anos trabalhando em rádio então...
Estevam - Exato. Passei pelas Rádios Tupi, Continental, Metropolitana, Carioca, 107FM e pela TV Rio, atuando também em outras áreas além do carnaval. Fui repórter da Cidinha Campos, da Patrulha da Cidade, cobri muito a área policial. Há seis anos, estou na 94FM, com o “Domingo de Bamba”. Hoje, no entanto, sou também empresário do ramo do entretenimento. Graças a Deus, tenho esse outro trabalho, meu próprio negócio, porque infelizmente o rádio dá muito pouco dinheiro. O rádio, para mim, é mais um lazer; faço por prazer.

BF - Como surgiu e como é produzido o “Domingo de Bamba”?
Estevam – Eu achava que havia uma necessidade de se falar mais sobre o carnaval durante o ano todo. Tinha certeza de que o samba precisava ser mais divulgado e que havia público para isso. O programa é aos domingos, das 20 às 22 horas, e tem como produtor o Rafael Azevedo. Somos uma equipe de 14 pessoas, entre repórteres, comentaristas, apuradores. E posso assegurar que somos uma família. Fazemos entrevistas, comentários e reportagens sobre o carnaval. Tenho um estúdio próprio, na Penha, onde edito as matérias. Na entressafra, no meio do ano, a gente toca muitos sambas-enredo antigos. Passamos o ano todo falando e tocando carnaval.

BF – O fato de ter sido compositor da Imperatriz fez com que, em algum momento, pusessem em dúvida sua imparcialidade como jornalista?
Estevam - De jeito nenhum!Nunca atrapalhou em nada. Todos sabem que é puro profissionalismo. Hoje sou diretor-geral da Ilha e nem por isso perdi minha isenção. Ser compositor só me abriu as portas nas escolas. Ajuda na minha respeitabilidade e credibilidade. Procuro ouvir o programa com muito senso crítico, característica fundamental num comunicador. Conheço a alma do sambista, e, por isso, procuro me colocar no lugar dele como ouvinte.

BF – O que você pensa do trabalho de divulgação das escolas de samba?
Estevam - Na sua maioria, é bom. É claro que depende muito da cabeça da diretoria. Se ela tiver uma mentalidade amadora, vai ser um trabalho amador. Mas entendo a dificuldade de algumas escolas. Por isso, o programa não fica esperando a notícia chegar. Temos uma equipe que entende as dificuldades e corre atrás da informação. No caso da Beija-Flor, por exemplo, o Miro (Lopes, assessor de imprensa) nos passa sempre notícias. Temos um contato excelente. Só tenho a reclamar do espaço físico destinado à imprensa na quadra. A 94FM sempre cobre as finais da escola, e é a Selmynha SorrisoZ quem tem que nos ceder o camarote dela. Pela grandeza da Beija-Flor, ela tem todas as condições de criar um espaço maior para os jornalistas trabalharem com mais tranqüilidade.

BF – Na posição de sambista e jornalista, como você vê o espaço dado ao samba na mídia?
Estevam – Melhorou bastante nos últimos anos. O surgimento de sites, blogs possibilitou um maior espaço. Os jornais estão se abrindo mais para as escolas. Não é o ideal, mas não tem jeito. Ainda bem que temos pessoas como o Robertinho do Rio, Alpa Luis, Miro Ribeiro, esses guerreiros obstinados, pessoas que não querem nada em troca. Aplausos para eles!

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