quarta-feira, 27 de abril de 2011

Róbson Aldir: “Cobrir o carnaval é minha válvula de escape”

Por Murillo Victorazzo (jornal O Beija-Flor, abr/2007)

Rodando pelo Rio de Janeiro com o “Amarelinho da Globo”, Róbson Aldir já viu de tudo - de cenas tristes a fatos pitorescos. Mas é cobrindo o desfile das escolas de samba que consegue aliviar as tensões do ano. “Amo cobrir minha cidade, mas o carnaval é meu prazer maior”, afirma ele, que confessa ter virado a casaca: “Nasci Beija-Flor e hoje sou Império Serrano. Mas a Beija-Flor continua com um lugar guardado no meu coração”.

O Beija-Flor - Como você começou a fazer o “Amarelinho da Globo”?
Róbson Aldir - Entrei na Rádio Globo como estagiário em 1991 e fui efetivado dois anos depois, já formado em jornalismo. Já fiz de tudo aqui: fui produtor, apurador, repórter. O “Amarelinho” sempre foi um tradicional produto nosso. Depois de um tempo desativado, ele recomeçou em 2003, quando me chamaram para assumi-lo. Somos dois repórteres: a Silvana Maciel, de manhã, e eu, de tarde. Nosso trabalho é a cobertura da cidade, sem uma pauta pré-estabelecida, o que faz com que nos deparemos o tempo todo com flagrantes.

BF - Essa imprevisibilidade deve ser muito instigante...
Aldir – Muito! Deparo-me a todo o momento com situações criticas. Já tive que ajudar uma mulher em trabalho de parto no meio da rua; fiquei no meio de tiroteio entre policiais e traficantes; uma bomba de gás lacrimogêneo explodiu do meu lado durante uma manifestação no Centro. Já passei por cada coisa que você nem imagina! Como fico circulando pela cidade, pego o fato na hora em acontece.

BF - Qual é a relação do “Amarelinho” com o carnaval?
Aldir - Amo cobrir minha cidade, mas o carnaval é meu prazer maior, minha válvula de escape. Adoro me deparar com o carnaval de rua, no período de pré-carnaval, e fazer a cobertura dos barracões o ano todo. Sempre de surpresa, sem hora marcada. Aliás os seguranças da Cidade do Samba não têm mais me deixado ter acesso se não tiver nada agendado. Isto anula minha característica! Nos dias dos desfiles, o “Amarelinho” fica focado na Sapucaí. O carro fica parado nos arredores, e os repórteres entram na Avenida ao vivo. É um trabalho sem amarras. Fico apenas com um microfone e uma escuta sem fios, solto na Avenida. É muito dinâmico!

BF - O samba tem o espaço merecido nos meios de comunicação?
Aldir - Prefiro só falar do rádio, que é o meu ramo. Ele é o veículo que mais dá espaço para o samba, com vários programas no ano todo. O jornal e TV só dão destaque no período do carnaval. Talvez o tratamento não esteja à altura porque os investidores não têm o rádio como um veículo fomentador de vendas, o que é um equívoco. O desfile hoje é fortemente estético e, como quem tem imagem é o jornal e a TV, o rádio ficou para trás. Mas isto é um erro, porque o rádio é mais dinâmico. Estamos sempre em cima do lance na transmissão do carnaval, descrevendo as imagens. A TV tem a dificuldade do cabo e o jornal só mostra no dia seguinte.

BF – Você pensa em ter um programa só seu voltado para o carnaval?
Aldir - Eu estou correndo atrás disso! Tenho um planejamento pronto para a Rádio 1180, a antiga Rádio Mundial. Falta o investidor. Quando conseguir, teremos um programa no Sistema Globo voltado exclusivamente para o carnaval. Essa é uma briga interna minha.

BF – Como você vê o trabalho de divulgação das escolas?
Aldir – Como em todos os segmentos no mundo, a relação entre divulgador e comunicador está sofrendo influência da internet. Sinto que o contato pessoal entre as duas partes funciona muito melhor, mas é inegável esse fato novo. Só o tempo dirá se isso é bom ou ruim.

BF - É verdade que você já foi um torcedor ferrenho da Beija-Flor?
Aldir - A maioria das pessoas não nasceu Beija-Flor; tornou-se depois de descobri-la. Mas comigo foi o contrário: nasci Beija-Flor e hoje sou Império Serrano. Minha família sempre acompanhou as escolas. Quando a Beija-Flor foi tricampeã em 1976/77/78, com aqueles carnavais revolucionários, minha avó passou a torcer pela escola, e eu a acompanhei. Eu ia com a camisa da escola para o desfile, colocava a bandeira na janela. Em 1982, porém, vi na Avenida o Império Serrano com Bum bum paticumbum purugundun. Aquilo foi tão forte para mim que virei a casaca. Mas a Beija-Flor continua com um lugar guardado no meu coração. Um dia, um primo reclamou comigo: “Poxa, sou Beija-Flor por sua causa, e você me diz que é Império Serrano!” (risos).

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