sábado, 25 de junho de 2011

Made in USA, mas com jeitinho carioca

Por Murillo Victorazzo (matéria feita pela ISTOÉ, em 2003, mas não publicada)

Assim como no vôlei e no futebol de praia, as areias cariocas vêm sendo palco de outra “invenção”: o futebol americano. O crescimento da versão brasileira de uma das maiores paixões dos Estados Unidos é fácil de ser notada para quem freqüenta esses famosos cartões postais. Em 2000, quando foi disputado o primeiro Carioca Bowl, o campeonato estadual do esporte, só havia dois times e os jogos eram disputados na praia de Copacabana. Hoje, em seu quarto campeonato, são quase 400 atletas inscritos em oito times e se espalhou pelas praias de Botafogo, Ipanema e Barra.

"Se levarmos em conta que no ano passado tínhamos apenas quatro equipes e menos de cem praticantes, posso dizer que poucos esportes no País cresceram tanto quanto o nosso", acredita o jornalista Fernando Kallás, 24 anos, corner back do Gorilas e diretor de Comunicação da AFAB (Associação de Futebol Americano do Brasil), criada no início do ano.

Em abril deste ano, a NFL, Liga profissional norte americana, enviou uma de suas maiores estrelas, o tight end Tony Gonzales, do Kansas City Chiefs, para um evento na praia de Copacabana. Para Kallás, foi a “entrada no mapa mundial do esporte". A expansão do futebol americano despertou a atenção do Botafogo e do Fluminense. Há dois meses, o clube alvinegro assinou uma parceria com o Reptiles, dando seu nome e infra-estrutura à equipe, que treina na Praia de Botafogo. No mesmo caminho, semana passada, foi a vez do Tricolor se juntar ao ipanemense Gorilas.

 Com acesso ao departamento médico e academia de musculação, os atletas agora não precisam mais tirar de seus próprios bolsos o dinheiro para a preparação física e tornaram sócio-atleta dos tradicionais clubes de General Severiano e Laranjeiras. "Vimos que se tratava de um esporte que cresce e é praticado em um local lindo. Certamente vai valorizar a marca do clube", garante Renê Machado, superintendente de Desporto Amador do Fluminense. A expectativa agora é pelo primeiro clássico envolvendo os dois times, que será disputado dia 21 de setembro na praia de Ipanema. "Vai ser o grande momento do nosso campeonato", prevê o estudante de Análise de Sistemas Cateno Viglio Júnior, 21 anos, wide receiver e presidente do Botafogo Reptiles.

As regras da versão carioca são basicamente as mesmas da original. No entanto, sem dinheiro para comprar aqueles gigantescos uniformes com proteções e capacetes (seriam US$350 por atleta), algumas outras foram criadas para preservar a integridade física dos jogadores. "É proibido o contato do pescoço para cima, mas é inevitável que a gente apanhe e bata mais ", brinca Kallás, com dois tendões do ombro esquerdo contundido após uma pancada em um amistoso.

Mesmo desconhecido da maioria, o esporte chama atenção de quem anda pelos calçadões cariocas. "Na maioria das vezes as pessoas não entendem muito, mas acabam sentando nos quiosque para nos ver”, conta Cateno, na expectativa pelo aumento da torcida: “Vai ser curioso ver os botafoguenses nos jogos nos apoiando ”. Sobre por que terem escolhido jogar na praia, ele dá um motivo irrefutável: “Esporte amador precisa de divulgação. Sendo no Rio, nada melhor que na areia.”

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