sábado, 11 de julho de 2009

Seis meses de Obama: sinais esperançosos de vanguarda

Por Murillo Victorazzo
Ele foi eleito, ano passado, presidente da maior potência mundial sob um desejo de mudança e a esperança de um novo modo de se fazer política como, não é arriscado dizer, nunca se viu. Por sua origem, pelo que representa na luta contra preconceitos e como símbolo do american dream e por suas idéias, contrastantes com os oito anos do fundamentalismo neoconservador de George W.Bush, a administração de Barack Obama, que completa quase seis meses, está sendo e continuará a ser monitorado por atentos e ansiosos olhos da opinião pública norte-americana e mundial. (foto: O Globo on line)
De certo, os mais idealistas, em algum grau, se decepcionarão com ele, posto que a realpolitik cobra um preço caro àqueles que nela entram. A expectativa é tão grande que qualquer degrau abaixo que ele descer será visto como frustração. No entanto, em que pese algumas indefinições práticas sobre o que será feito da economia norte-americana e da política externa daquele país, algumas sinalizações merecem aplausos.
Não surpreende que a popularidade de Obama internamente tenha tido alguma queda, como mostram as recentes pesquisas. Um governo é principalmente avaliado por sua condução na economia. E, neste aspecto, o ambicioso plano de reestruturação financeira e os estímulos fiscais demoraram, caso venham dar certo, a render frutos. Ademais, para a parcela mais à direita dos republicanos, qualquer intervenção estatal soa como sacrilégio à religião do livre-mercado.
No front externo, porém, é que aparecem algumas mudanças - ainda que algumas apenas retóricas ou incipientes - que parecem dar razão àqueles que veem Obama como, não só uma novidade, mas uma liderança de vanguarda de fato. Os "liberals" norte-americanos certamente estão angustiados com mudanças menos radicais ou lentas. Os "falcões", por outro lado, vendem o discurso que o democrata está baixando a guarda para os inimigos dos interesses nacionais dos Estados Unidos. É sempre assim: qualquer moderação propicia críticas provenientes de ambos os lados.
Não deixam de ser auspiciosas as mudanças de posições do novo governo democrata em três áreas. Aqui na América Latina, Obama, ao praticar a "política das mãos esticadas", parece complicar o discurso antiamericano de Chávez. Ao mostrar-se disposto ao diálogo, impede a velha retórica do "imperialismo", que o líder venezuelano ameaçou usar logo que o presidente hondurenho Manuel Zelaya foi deposto.
Chávez tentou acusar os Estados Unidos de participação no golpe, mas ao repudiá-lo com veemência, Obama chamou para si o papel de legítimo defensor da democracia. Principalmente, reconhecendo que os Estados Unidos "nem sempre estiveram do lado certo" na região. A recusa da secretária de Estado, Hillary Clinton, em receber o governo golpista e a valorização dada pelo país à OEA são emblemáticas. Tais posturas favorecem uma aproximação com os países da região que historicamente sempre foi zona de influência norte-americana.
Infelizmente alguns mais radicais não percebem que estender a mão não significa aliar-se ao inimigo. Ao contrário, retira dele a retórica do Davi contra o Golias unilateralista. Assim também é no delicado Oriente Médio. Ao discursar para os iranianos, sinalizando querer criar laços de diálogos, algo inimaginável antes, é um pequeno, porém esperançoso passo. De novo, complica a retórica de "vítima" do presidente iraniano. Quanto mais Obama mostrar-se multilateralista, mais obrigará Mahmoud Ahmadinejad a dar algum passo convergente.
Muito embora Ahmadinejad tenha acusado os Estados Unidos de fomentarem as manifestações contrárias a sua fraudulenta reeleição, foi nítida a cautela com que Obama atuou no caso. Evitou acusar a fraude, explicitando principalmente o temor pela escalada de violência e restrição aos direitos individuais do povo iraniano. Fica-se a imaginar a virulência complicadora que seria o discurso caso o neoconservadorismo ainda morasse na Casa Branca. Uma posição que só acirraria os ânimos na conturada relação entre os dois países e que favoreceria o iraniano.
Não há dúvida que uma atitude mais invasiva dos Estados Unidos ajudaria apenas Ahmadinejad a trazer para si uma parte do eleitorado oposicionista. Não esqueçamos que, até agora, não se pôs em dúvida o regime islâmico em si, e o dedo invasor do "imperialismo" mexeria com os brios nacionalistas e religiosos da população iraniana.
Por último, esta semana, outra sinalização de que um líder com pensamentos oxigenado, apesar das restrições que o arcabouço político interno dos Estados Unidos lhe põe, era fundamental nas discussões sobre meio-ambiente. Ao contrário de Bush, que sempre negou a gravidade da questão e a relegou a segundo plano, recusando-se a ratificar o Protocolo de Kyoto, Obama vem fazendo dela parte fudamental de sua agenda.
A lei enviada ao Congresso e aprovada na última semana de junho, que impõe metas na emissão de gases do efeito estufa, é uma vitória de Obama e de seu país. O objetivo é cortar as emissões (tendo como base o que foi registrado em 2005) em 17% até 2020, introduzir um sistema de comércio de créditos de carbono e forçar a mudança do uso de combustíveis fósseis para fontes renováveis.
Como não poderia deixar de ser, a direita republicana foi a principal opositora à lei, com o argumento retrógrado e ardiloso de que tirará empregos dos norte-americanos. Um raciocínio, no mínimo, raso, incapaz de ver alguns palmos à frente de seus olhos obtusos. Infelizmente, a vanguarda não é unânime nem mesmo no Partido Democrata, como mostra o apertado placar de votação entre os deputados.
Na última semana, Obama mostrou no campo externo igual viés. Legitimado pela atuação interna, ele fez com que a reunião do G-8 com o G-5, em Áquila, Itália, marcasse uma mudança significativa no papel representado pela maior potência do mundo. Refletindo seu discurso nas eleições de que a liderança norte-americana deve ser reconquistada pelo exemplo que dá e não pela imposição, Obama foi protagonista na busca por acordos sobre a mudança climática.
Ainda que os resultados tenham sido tímidos, até pela disfuncionalidade do G-8 na conjutura atual, a ausência forçada da China no meio das discussões e a falta de consenso entre os emergentes, o encontrou resultou em primeiros passos, tais como o comprometimento em evitar que a temperatura mundial se eleve em mais que 2ºC. Não se conseguiu acordos concretos sobre a meta de corte de emissão de gases estufas e a maneira como chegar a ela, a ponto da ONU considerá-los "insuficientes" e ONGs criticarem fortemente o resultado do encontro.
Uma situação que ratifica o consenso de que, sozinhos, por mais forte que sejam, hoje, os Estados Unidos não conseguem resolver os dilemas do mundo - mesmo com um presidente disposto a enfrentá-los. Não obstante, a atitude vanguardista de Obama é imprenscidível para os próximos passos, como o encontro da ONU em Copenhague, Dinamarca, em dezembro.
Ainda é cedo para se avaliar Obama. Algumas questões, como sua estratégia concreta para o Afeganistão e a questão palestina, estão em aberto. E a eficácia e o manejamento de sua política externa serão em muito influenciados pelas eleições legislativas de 2010. Mas as sinalizações são promissora. Pode-se dizer que mudanças não foram a nível esperado por alguns, mas se teria que ser muito maniqueísta para negar que já foram vistos alguns passos para esse caminho ainda não suficientemente nítido.

Um comentário:

  1. Olá,
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    Até mais...
    Abraços,

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